{Capítulo Revisado e Editado Dia 23/12/2019}

Point of View Jonathan Morgenstern

Ela é tão bonita dormindo, seu sono é sereno, sua respiração é calma, seu peito sobe e desce de acordo com sua respiração, sua boca entre aberta, seus cílios longos, fios de cabelo em seu rosto. Eu poderia contar cada sarda que há em seu delicado rosto enquanto ela dorme. Eu adoro quando ela cora quando você a elogia, quando ela fica com vergonha, ela fica extremamente fofa corada. Ela é fofa, ela é linda, ela é delicada. Ela é tudo de bom, ela é boa, carinhosa, doce, gentil, faz tudo pelas pessoas que ama, põe a própria vida em risco se for pra salvar a de outro. Ela é boa demais, boa demais para mim.

Olha só o que eu já causei em sua vida: ela quase morreu tentando me salvar, foi presa pela Clave, me salvou de ser atingido e morrer. Eu sou um desastre em sua vida, eu fiz ela sofrer tanto e mesmo assim ainda estou com ela. Eu sou tão egoísta a ponto de ainda estar com ela, mas eu a amo, amo ao ponto de faze-la sofrer, de fazê-la deixar as pessoas que ama só para ficar comigo, ficar ao meu lado. Sou egoísta ao ponto de fazê-la escolher entre mim e as pessoas que ama. Sou egoísta ao ponto de não a deixar ir, de não deixar ela ser feliz. Mas ela é tudo pra mim. Ela é o meu mundo, ela faz parte da minha vida, ela é uma droga que eu não posso viver sem, sem ela eu entro em abstinência. Ela é tudo para mim, sem ela eu não vivo mais, eu faço tudo por ela. Quero sempre ver o seu sorriso que é capaz de fazer a pessoa mais fria sorrir, o sorriso dela me faz sorrir, eu quero sempre ver ela sorrindo, de vê-la feliz.

Ela é minha, somente minha.

Ela tem tanto poder sobre mim que nem faz ideia. Ela me deixa calmo, sua voz me faz ficar em paz.

Não sou capaz de deixa-la ir. Quando acordar o primeiro rosto que quero ver é o dela, posso ficar à noite inteira acordado apenas olhando ela dormir, sou capaz de fazer tudo pra vê-la feliz, eu sou louco por ela.

Já é quase meio-dia e eu estou olhando-a dormir, estou olhando-a a um bom tempo. Eu acordei antes do sol nascer, tive um pesadelo e não consegui mais dormir, foi tão terrível o que eu sonhei...

“Não sei onde estou, mas sei que estou sob o gelo, ele está todo rachado, ele é fino, parece que a qualquer passo que eu der ele se quebrará.

Está tudo branco. Neblina, ela está por todo lado. Não vejo nada além do gelo que estou em cima e branco, é tudo branco, silencioso e frio.

Medo, é isso que estou sentindo no momento. Nada além do medo.

— Jonathan! — Uma voz extremamente familiar me chama. A pessoa parece estar com medo, sua voz demonstra isso.

Silêncio.

— Jonathan! — chama novamente.

Eu dou um passo para frente, o que faz o gelo se rachar. Paro ao ver que a cada passo que eu der o gelo se rachará mais e se logo se quebrará.

— Por favor, Jonathan, me ajude! — súplica.

Não sei de onde vem.

Eu olho em todas as direções e tudo que vejo é a neblina, nada além disso, neblina.

Dou mais um passo à frente, e mais uma vez o gelo se racha, então eu paro, não posso arriscar.

A neblina começa a sumir, ela some sem mais nem menos. Logo eu posso notar uma silhueta ao longe. Cabelos ruivos, baixinha, olhos esmeraldas, cada vez a sua imagem vai ficando mais nítida e logo posso ver de quem se trata. Clary. Lá está ela, a voz que me chama em meio de tudo isso. O medo em seu rosto é notável. Mas ela se mantém calma.

Forço para enxergar melhor e logo vejo que a muitas rachaduras há sua volta. Dou um passo à frente para chegar mais perto dela e o gelo racha, a rachadura se estende até onde ela está, tudo só piora, as rachaduras pioram, então eu paro, hesito por um momento e logo dou três passos tentando chegar mais perto.

— Pare! — ela faz um gesto para eu parar. — Você não está vendo? A cada passo que você dá o gelo se racha e isso me atinge. — Ela fala me mostrando as rachaduras.

— Venha até mim, Clary — peço a ela.

Ela hesita por um momento e logo dá um passo em minha direção. O som do gelo rachando a cada passo que ela é alto.

Ela caminha com cuidado até mim, passos cuidadosos, mas mesmo assim o gelo continua rachando. Ela não para de andar, cada vez mais próxima. Não posso esperar, dou um passo à frente para chegar mais perto.

O gelo se racha.

Eu não paro, só quero estar com ela. Ela está assustada e isso está nítido em sua face.

Mais um passo.

Estamos mais próximos, apenas mais alguns passos, apenas isso...

O gelo se racha mais ainda, ele está fino e a qualquer momento pode se quebrar.

— E-eu não vou conseguir — diz com lágrimas nos olhos.

— Você consegue. — Dou um sorriso de apoio — Apenas dê mais alguns passos.

— Ele vai quebrar e eu vou cair, Jonathan. Você não vê isso? —fala apontando para o gelo.

— Pode vir, eu prometo que nada vai acontecer pequena. Eu vou cuidar de você — prometo.

Ela hesita mais uma vez, mas depois dá um passo em minha direção.

O gelo se racha mais ainda.

Ela não esconde o medo que está sentindo.

Ela está mais próxima.

Eu estendo a mão para ela é dou um sorriso encorajador em sua direção. Ela estende a mão para pegar na minha e é aí que tudo desmorona, ou quebra.

O gelo quebrou.

Parece estar tudo em câmera lenta, o gelo aos seus pés se quebra e ela cai na água congelante. Eu, em um ato desesperado, tento pegar a sua mão, mas foi em vão, ela caiu. Seu grito de desespero ecoou pelo lugar me deixando desesperado.

Me jogo de joelhos em volta do buraco que se formou no gelo. A procuro, qualquer sinal dela, porém não a acho. Olho ao redor tentando a achar, a água está forte, ele a levou. Procuro desesperado por qualquer sinal dela e não a acho.

Me levanto e a procuro. O gelo não está mais fino, ele está grosso, o buraco que estava ali quando ela caiu sumiu, como se nunca tivesse existido. Meu desespero aumenta ainda mais. Olho pros meus pés e vejo algo ruivo debaixo do gelo, é ela, ela está aqui, debaixo do gelo. Me jogo de joelhos sem me importa e começo a bater no gelo com esperança de conseguir o quebrar. Tento, tento e tento, mas parece que meus socos no gelo não adiantam em nada. Soco com mais força, começo a ver o meu próprio sangue, o gelo não se quebra, nem uma rachadura é vista. A Clary não se move na água, não se debate, eu sei que a água está fria, tudo estar frio.

Ela está morta.

Eu não paro de socar o gelo. Soco, soco e soco, mas nada adianta. Minha visão está embaçada pelas lágrimas que estão em meus olhos, elas não param de cair. Paro de socar o gelo e fecho os olhos por um segundo, apenas um segundo eu os fechei, e quando eu os abro, ela sumiu.

Ela sumiu, não está mais na água. Olho ao redor desesperado tentando a achar.

— CLARY! — grito com todas as minhas forças.

Eu a perdi.

Falei que ia cuidar dela e a deixei cair. Agora ela pode estar morta por minha causa.

Desabo em lágrimas.

Como pude deixar isso acontecer? Eu jurei que nunca a deixaria, que nada de mal aconteceria a ela e falhei.

EU FALHEI COM ELA!

— Por sua causa eu cai! Você falou que tudo ia ficar bem e me deixou cair, me deixou morrer. É tudo culpa sua — sussurrou em meu ouvido e sinto um frio na espinha.

— Me desculpa! Por favor, me perdoe — imploro em lágrimas.

— Olha só o que você me causou. — Uma mão aparece do meu lado apontando para algo, ou melhor, alguém logo a frente.

Me levanto e, hesitando um pouco, caminho em direção onde a mão apontava. Logo vejo alguém deitado no gelo, a pessoa está toda molhada, seus cabelos molhados, sua roupa. A pessoa está pálida, parece um papel de tão branco. A cor do cabelo se destaca, é ruivo, está mais escuro por que está molhado. É a Clary, a minha Clary. Me aproximo e me ajoelho ao lado de seu corpo sem vida. Toco em seu rosto pálido e ela está tão gelada, seus lábios estão roxos, igual a ponta de seus dedos. Não contenho as lágrimas que ameaçam cair, as deixo cair.

— Me desculpe — peço em lágrimas. — Me desculpa. Eu falhei, falhei com você, meu amor.

Pego seu corpo frio e sem vida e a coloco em meu colo. A abraço e choro, aperto ela contra o meu corpo.

Sem vida, é assim que ela está.

Morta, por minha causa.

Eu falei pra ela confiar em mim, eu sorri pra ela falando que tudo ia ficar bem, mas não ficou. Ela confiou em mim, confiou em mim e ela morreu, morreu confiando em mim.

Falhei, eu falhei com ela.

Tudo que eu toco eu destruo."

Depois desse pesadelo não consegui mais dormir. Apenas fiquei a observando dormir.

Eu não posso falhar com ela, eu posso falhar com o mundo, mas não com ela. Mas não posso deixá-la ir, não posso. Eu vou cuidar dela, vou fazê-la feliz.

Eu acaricio sua bochecha. Passo a mão em seus cabelos ruivos alaranjados, passo o dedo em seus lábios, e volto a acariciar sua bochecha. Me inclino e dou um beijo em seus lábios e logo um sorriso aparece em seu rosto.

— Bom dia — desejo a ela.

— Bom dia. — Ela fala com a voz rouca pelo fato de ter acordado agora.

Ela abre os olhos e olha nos meus. Fico observando cada parte de seu rosto, seu lindo rosto.

— O que foi? — ela pergunta.

— Nada, só estou apreciando a sua beleza, meu amor — digo com um sorriso.

Ela cora com as minhas palavras e eu sorrio mais ainda.

— Eu já disse que você fica linda corada? — pergunto.

Ela nega com a cabeça.

— Você fica linda corada.

— Eu não acho. Eu fico parecendo um tomate e isso não é legal — diz rindo.

— Sempre que eu puder vou fazer você ficar corada — digo.

— Não — nega.

— Sim.

— Não.

— Sim.

— Chato.

— Linda — digo e logo ela cora.

— Para de dizer isso — pede sem graça.

— Só estou dizendo a verdade, meu amor. — Ela cora mais ainda.

Ela afunda a cara no travesseiro. Ela se levanta da cama.

— Nããão, fica mais um pouco — peço manhoso.

— Não. Isso que dá ficar me fazendo ficar corada. — Ela diz com um sorriso.

— Chata.

— Gostoso. — Ela pisca pra mim.

— Eu sei — digo convencido.

— Convencido. — Ela revira os olhos.

Ela vai até o banheiro, logo o barulho do chuveiro ligado é ouvido. Enquanto ela toma banho eu fico pensando em tudo que aconteceu: eu raptei ela, ouvia ela dizer que nunca me amaria, que eu era louco, e depois ela me amou, me amou ao ponto de morrer por mim. O amor é inacreditável.

Você não escolhe quem amar, você pode se apaixonar por qualquer pessoa, olhe só por quem eu me apaixonei: pela minha irmã. A vida é uma caixinha de surpresas. A vida é uma montanha russa, faça o ingresso valer a pena, viva a vida intensamente, ame como nunca amou. O meu ingresso está valendo a pena, se eu pudesse voltar no tempo, eu faria tudo novamente, sem mudar nada.

Quem nunca viu a tristeza, nunca reconhecerá a felicidade.

— 1 milhão pelos seus pensamentos. — A voz da Clary me desperta dos meus pensamentos.

— Eu estava pensando em tudo que aconteceu desde que eu te sequestrei. — Olho pra ela e vejo que está apenas de toalha e de cabelos molhados. — Você dizia que nunca me amaria.

— E eu acabei amando você. — Ela me deu um sorriso.

— Será que um dia nós iremos ser felizes? — perguntei mais para mim.

— Já não somos felizes? — indaga.

— Sim, mas eu digo ser feliz de ter uma família, de viver em paz sem ter ninguém atrás da gente. Entende?

— Sim, eu entendo e me faço a mesma pergunta. Só o tempo nos mostrará a resposta — falou olhando para o horizonte.

— Nossa, que... poético — digo rindo.

— Um dia, nós dois estaremos sentados no sofá assistindo um filme com os nossos filhos. E quando esse dia chegar, nós estaremos felizes.

— Nossos filhos serão lindos — falei levantado e a puxando pela cintura.

— Claro, vão puxar toda a beleza da mãe — se gabou. Ela deu uma piscada pra mim.

— Da mãe? Você não quer dizer do pai? Porque eu sou o mais bonito — digo convencido.

— Como você mesmo disse: eu sou linda. — Ela colocou as mãos em volta do meu pescoço.

— E você é mesmo, meu amor.

Me aproximei do rosto dela e dei um beijo apaixonado nela. Nossas línguas dançavam em sincronia. Nosso beijo é cheio de desejo e saudade. Saudade de um mês separados. Eu a amo, ela me ama, nos amamos. Nosso beijo foi parado pela falta de ar.

— Eu estou com fome. — Ela disse fazendo uma carinha.

— Já é quase meio-dia, vou na cozinha fazer um almoço.

— Eu amo a sua comida — admite. Ela começa a procurar uma roupa para vestir.

— Claro, você nem sabe cozinhar — digo observado ela.

— Mentira! Eu sei cozinhar sim. — Ela pegou uma camisa minha e colocou.

— Clary, meu amor, você tentou fritar um ovo e quase colocou fogo na cozinha — rio ao recordar isso.

— A culpa não foi minha — se defende. — Agora vai lá, vai cozinhar pra mim, meu amor — deu ênfase em "meu amor".

— Folgada. — Eu mostrei língua pra ela.

— É como dizem: quem dá a língua pede beijo.

Ela se aproximou de mim e me deu um beijo. Logo ela se soltou e foi correndo pra cozinha. Ri com a atitude dela.

Como eu amo essa garota.

Saio do quarto e fui para a cozinha. Logo encontro ela sentada em um banquinho em frente da bancada da cozinha.

— Então, o que você vai fazer para gente comer? — ela perguntou me olhando.

— O que você quer comer? — perguntei a ela.

— Me surpreenda — disse com um sorriso.

Depois do que ela disse, eu fui preparar um macarrão à bolonhesa. Demorou um pouco mas ficou pronto. Ela ficou o tempo inteiro me vendo cozinhar e às vezes ajudava, ela fez uma salada para acompanhar.

— Sabe, você cozinha muito bem. — Ela disse enquanto colocava mais uma garfada na boca.

— Eu sei — digo convencido.

— Nunca mais te elogio. — Revirou os olhos.

— A sua salada também está boa — falei a ela.

— Eu sei — deu um sorriso.

— Nunca mais te elogio. — Revirei os olhos imitando-a.

— Ei! Minha voz não é assim — protestou.

— É quase isso.

Depois nós rimos mais, terminamos de comer e ela lavou a louça, já que eu praticamente fiz toda comida sozinho. Depois disso nós dois fomos assistir um filme na tevê. Ela se sentou no meio das minhas pernas enquanto eu a abraçava.

— Eu te amo tanto. — Ela disse se virando pra mim.

— Eu te amo mais. — Disse lhe dando um beijo. Logo voltamos a atenção para o filme que passava.