Águas Passadas

capítulo vinte e sete


Era à tardinha, Kitana estava na biblioteca sentada em uma poltrona almofadada lendo um romance medieval. A leitura estava cativante não permitindo que ela percebesse a chegada do grão-mestre, ele pousou as mãos gélidas nos ombros da princesa, esta de ímpeto olhou para o lado e quase o agrediu. Ele tirou rapidamente as mãos antes de ser agredido com o livro. Ela disse:

— Que susto você me deu!

— Perdão, não sabia que estava tão entretida na leitura.

Kuai aproximou-se dela e a beijou nos lábios. Depois a olhou e disse

— Senti tanto a sua falta.

Enquanto acariciava a sua barba Kitana disse

— Também senti, meu amor! Não parava de pensar em você um só minuto.

— Preciso te dar algo.

Kitana intrigada perguntou:

— O que?

O grão-mestre pegou uma caixinha de veludo azul escuro de seu bolso, ajoelhou-se respeitosamente frente à princesa, abriu a caixinha que havia duas alianças ouro fino, apresentou a ela e perguntou:

— Quer se casar comigo?

Veio um misto de sentimentos no coração da princesa, a sua língua travou e suas pernas ficaram fracas. Olhou piedosamente para o cryomancer e algumas lágrimas deslizaram pelo seu rosto, algumas caindo no tapete em que pisava. Segurava o livro com força contra o corpo e suas mãos se enrijeceram. O grão-mestre percebeu que Kitana ficou nervosa com a situação e perguntou:

— Está tudo bem?

Kitana havia se lembrado do infeliz noivado com Rain, tinha sido uma desventura e sofrera muito com traições, brigas e até mesmo agressões. A princesa não sabia, mas carregava esse trauma. Ela disse a Sub zero:

— Não... não sei se devo... aceitar tal pedido.

— O que nos impede agora? Frost era a pedra que existia em nosso caminho, mas não é mais agora. Preciso saber o que ainda falta para concretizarmos a nossa união. Acaso o seu coração foi roubado por outrem?

— Nunca, Kuai! Mas preciso lhe contar o que ainda afligi o meu coração e que me deixa em tal indecisão de aceitar tão nobre pedido.

— Diga-me o que é.

Kuai se ergueu e indicou um sofá de dois lugares que estava próximo de onde estavam. Ele foi à frente e ela o acompanhou. Os dois se sentaram. Kitana disse:

— Antes de mesmo do torneio, quando eu era mais jovem, meu pai adotivo, Shao Khan, me prometeu em casamento com Rain, que na época era um príncipe. Fomos noivos por certo tempo, tempo esse que foi muito doloroso. Primeiro por não amá-lo verdadeiramente, sem contar as traições e algumas agressões também.

— Ele te agredia? Mas como eram tais agressões?

— A maioria eram verbais, sempre me mostrei forte diante delas, mas no meu quarto eu chorava calada. Eu sabia de todas as traições dele, pois Jade me contava sempre que via.

— E você já... bem... me perdoe por tal pergunta.

— Nunca me deitei com ele, Rain nunca foi digno que eu me entregasse a ele. Até que Shao Khan viu sua arrogância e o expulsou do castelo e do exercito em que ele fazia parte.

O grão-mestre segurou as mãos da princesa com firmeza e disse:

— E você acha que sou capaz de fazer tudo isso com você?

— Você sempre foi tão... doce e amoroso comigo. Jamais pensaria isso de você é que... ficou um pouco marcado e...

Ele segurou o rosto da princesa e disse:

— Eu não sou o Rain. Amo-te com todas as minhas forças e... o meu amor por você só aumentou nesse tempo em que esteve ausente. Seria torturante ao meu coração ser abandonado por ti. Sei que um noivado é algo mais sério, um compromisso mais forte, mas é isso que quero com você, pelo resto de minha existência.

Kitana deu um sorriso e deixou os lábios do grão-mestre tocarem os seus apaixonadamente. Aquilo simbolizava um sim. Em seguida Kuai pegou a mão direita da amada e colocou a aliança no dedo anelar, Kitanafez o mesmo na mão dele. Depois se abraçaram.

***

Frost se sentia bem e vendo que a porta estava aberta saiu de seu quarto.

Andando pelo corredor começou a sentir a brisa da tarde que há algum tempo não sentia. Foi em direção ao jardim e, encostada em uma mureta podia ver ao longe Harumi brincando com Satoshi, como se estivesse dançando com ele. De vez em quando a cryomancer esboçava um sorriso e algumas tímidas lágrimas caiam de seus olhos pensando que não poderia ter a sorte de ser mãe.

Uma criada aproximou-se de Frost tocando em seu ombro, ela virou e perguntou:

— O que deseja?

— Há visita para a senhorita no grande salão.

— Quem é?

— É a futura esposa do mestre Hasashi. Pode me acompanhar?

Frost assentiu e foi com ela. Chegando ao salão Tanya a olhou com piedade, voltando depois o olhar para a criada disse:

— Pode ir.

A criada se retirou. A edeniana aproximou-se de Frost que estava imóvel e fez questão de não mostrar nenhum sentimento com a antiga aliada. Tanya disse:

— Você está com o aspecto bem melhor do da ultima vez que te vi. Estão cuidando bem de você. Já se curou?

Frost encarou-a e com um olhar frio disse:

— Não tenho muito tempo de vida. Eles estão cuidando para que eu dure um pouco mais, mas isso não me poupará da morte eminente.

— Meus sinceros pêsames, floquinho de gelo.

— Diga logo o que quer e vá embora.

— Vim lhe propor um acordo. Acho que você durará para ver o Plano Terreno em ruínas, isso se colaborar conosco.

— Como? Você quer que eu me alie a vocês e destruir aqueles que me acolheram de volta? Que estão cuidando de mim mesmo eu sem merecer? Você me traiu, Tanya. E a vida lhe cobrará por ter me abandonado quando mais precisei.

— Eu só preciso de um favor seu.

— Não farei nada para você e nem para Mileena e seu exercito. Não vou trair o povo que me quer tão bem. Quero morrer com honra, já que só fiz tolices em minha vida.

Nisso Kitana estava chegando, cumprimentou Tanya cordialmente e perguntou

— O que veio procurar aqui?

— Só... vim ver como Frost está. Mas já estou de saída.

— E o bebê? É para quando?

— Para o final do mês. Bem, eu já vou indo e... fico feliz por Frost estar bem.

Dizendo isso Tanya se foi.

Kitana voltou-se para a cryomancer e perguntou:

— Está tudo bem mesmo?

— Sim, Kitana.

— Percebi que você estava um pouco incomodada com a visita dela. Houve algo...

— Não se preocupe princesa. No tempo certo você saberá.

Frost percebeu algo brilhando na mão de Kitana e percebeu que era uma aliança. Sentiu um pesar em seu coração, engoliu seco e respirou fundo. Sorriu timidamente e disse:

— Com licença, futura senhora Liang.

Em seguida saiu correndo pelo corredor indo ao seu quarto. Kitana olhou a aliança de ouro em seu dedo e sentiu em seu coração certa compaixão para com a condenada.

***

Passaram-se alguns dias. Uma chuva torrencial caia na região do Lin Kuei. Sub zero estava almoçando junto com Kitana em um dos terraços do palacete. Kitana disse

— Preciso lhe fazer uma pergunta.

— Pode falar.

— É sobre a Frost. Você nunca me falou de sua relação com ela. Por quê?

O grão-mestre respirou fundo, bebeu um gole de suco de laranja e replicou.

— Não vejo necessidade de você saber muito sobre o que houve entre mim e ela. Você já sabe o fundamental, ela sempre quis algo a mais comigo, mas vejo-a apenas como uma aprendiz quiçá amiga. Nada, além disso. Por quê? Ela disse algo a você que...

— É claro que não. Conversamos um pouco... ela me contou um pouco da vida dela... uma história bem infeliz, eu achei.

— Me conte.

Os dois foram interrompidos por dois ninjas Lin kuei que chegaram à sua presença, logo o grão-mestre perguntou:

— O que houve?

— O povoado está prestes a se alagar. O canal está obstruído e os que moram a beira dele já sofrem com a enchente.

Harumi também chegou e disse:

— Sub zero, Frost não está em lugar nenhum. Alguns criados disseram que logo que ela soube da enchente saiu correndo em direção ao povoado e não conseguiram impedi-la.

— Nessa chuva? – disse Kitana assustada – pelos cálculos a febre logo virá nela, já estamos no terceiro dia desde a ultima febre.

Sub zero ordenou aos ninjas:

— Vão atrás dela e a procurem no canal. Tragam-me já!

Os ninjas, de prontidão, foram.

Harumi disse com voz pesarosa:

— Penso que ela quer mesmo ter uma morte honrada, para compensar os seus crimes.