Águas Passadas

capítulo vinte e oito


A chuva estava cada vez mais forte, uma parte do vilarejo Lin kuei estava começando a ficar coberto pela água. Um destacamento de cinco ninjas estava no povoado a procura de Frost, mas a visibilidade naquele momento era mínima, a chuva formava uma espécie de névoa que cobria quase todo o local. Eles resolveram se abrigar em um lugar coberto onde havia uma loja de artesanatos, a dona da loja chegou correndo e vendo que os ninjas do grão-mestre estavam ali, boa coisa não estava acontecendo, além daquela chuva forte. Perguntou logo:

— Houve alguma coisa, rapazes?

Um deles respondeu:

— Você viu a Frost? Uma moça de cabelos e pele branca... passar por aqui ou em algum lugar próximo.

— Bem... eu ouvi um pessoal comentando que uma garota está tentando desobstruir o canal. Parece que entrou uns galhos no duto, por isso está fazendo todo esse estrago no vilarejo.

Os ninjas se entreolharam e um disse:

— Temos que ir lá, pode ser ela.

Eles agradeceram a senhora e foram em direção ao canal. Ela acenou para eles e disse:

— Boa sorte, meninos!

Toda encharcada, com fino vestido de cetim azul claro, maquiagem borrada, a febre já tomando conta do seu corpo, Frost tentava tirar um enorme galho que estava preso junto a tubulação, a doença a deixara fraca, estava por desfalecer, mas não queria desistir de desentupir o canal. Os cabelos encharcados às vezes tomava-lhe a visão, mas ela não desistia. Ouvia algumas vozes masculinas a chamar pelo seu nome, mas continuava o seu trabalho, ignorando-as. A vista ficou um pouco turva, mas a cryomancer dizia para si mesmo: “Eu vou tirar isso daqui nem que seja a última coisa que eu faça em minha vida.”.

Aos poucos o galho foi se soltando, ela tomou um impulso e puxou, com as ultimas forças que restavam. Ao ver a água saindo com força e o galho fora do curso do canal deu um sorriso leve e desfaleceu sobre os galhos.

Um dos ninjas que estava próximo a avistou, apontou em direção a Frost e gritou aos outros:

— Eu a achei!

Eles foram ao encontro da cryomancer que havia perdido os sentidos. Um deles vendo a situação em que se encontrava colocou a mão na nuca dela e disse:

— Ela ainda vive.

Contemplaram o feito da moça e um deles estupefato disse:

— Ela evitou que o vilarejo fosse destruído pela enchente.

Outro falou:

— Levamo-la ao grão-mestre.

Em seguida pegou o corpo magro da cryomancer e, junto com os outros, foram em direção ao palácio.

***

A chuva havia diminuído a intensidade, Sub zero sentado com os cotovelos apoiados na mesa e as mãos na cabeça. Pela primeira vez estava preocupado com Frost, sentia que a morte dela se aproximava e reconheceu que todo aquele tempo a tratou erroneamente. Ele nunca parava para ouvi-la e entender o motivo de seus devaneios. Por mais que, por diversas vezes, ela tentava seduzi-lo Sub zero não parava para tentar entender por que ela tinha tal comportamento.

Ouviu-se uma gritaria no jardim, de onde Sub zero estava dava para ver o que estava acontecendo, ele foi logo à varanda e viu Frost chegando desmaiada nos braços de um dos ninjas.

Enquanto descia as escadas, Sub zero pediu a Sonya, via celular, que trouxessem a equipe médica para socorrer Frost. Chegando lá ordenou que a levassem para o quarto dela. Enquanto a levavam Kitana foi ao encontro do grão-mestre que acompanhava com o olhar a cryomancer ser transportada para o quarto. O olhar de pesar que Sub zero carregava era impossível de disfarçar, perguntou Kitana:

— Você acha que ela vai suportar?

— Não sei, Kitana. Só a médica irá dizer, já pedi para que viesse examiná-la. Mas... não dou muita esperança.

Kitana abraçou a cintura do grão-mestre e pousou a cabeça em seu ombro. Ele pousou as mãos no antebraço dela e fechou os olhos. Ela disse:

— Não sei o que dizer, Kuai... sinto pena dela. Foi condenada por suas próprias loucuras.

***

Frost estava deitada em sua cama, coberta com um edredom de linho e algodão. Bonnie acabara de medir sua temperatura e naquele momento examinava os seus batimentos cardíacos. A cryomancer abriu os olhos vagarosamente e ao ver a médica sorriu e perguntou com voz débil:

— E então doutora? Como estou?

Bonnie guardou o estetoscópio na bolsa e disse com a voz um pouco embargada:

— Foi uma loucura você ter ido até o vilarejo e desentupir o canal, nesse estado...

— Bonnie, eu precisava fazer isso. Pelo menos eles estão a salvo.

A doutora respirou fundo, olhou-a piedosamente e falou:

— Agora descanse.

Em seguida pegou sua bolsa e saiu do quarto. Frost olhou em direção ao alto e disse em voz baixa:

— Acho que estou pronta.

Bonnie foi para o grande salão e chegando lá Sonya e Sub zero foram ao seu encontro. A doutora disse:

— Não vou mentir para vocês... Ela já está em seus últimos momentos de vida. Se quiserem chamem os outros para uma possível... despedida.

***

Harumi estava em seu quarto velando Satoshi que dormia no berço. Olhava para o filho, observava cada traço do rosto, a anatomia das mãos e dos pés, via que tudo lembrava Hanzo. Ela não conseguira eliminar aquele homem do seu coração, a cada dia que passava o amava mais. Recordava de cada beijo, de cada toque de seu amado.

Queria que tudo aquilo que estava vivendo fosse um pesadelo, desejava tê-lo ali naquele momento para dizer o quanto o amava e se afagar em seus braços. Mas se sentia derrotada naquela batalha de corações, de amores despedaçados. O que lhe restava agora era apenas ir para uma terra distante com seu filho a procura de uma vida nova e quiçá um novo amor.

Seus pensamentos foram interrompidos por leves batidas na porta. Ela foi atender e era Kitana. Harumi a fez entrar logo perguntou:

— E então? Encontraram a Frost?

— Sim... parece que piorou mais, não tem muito tempo...

As duas se sentaram num sofá de dois lugares que havia próximo ao berço. Harumi perguntou:

— Será que... Frost sabe de alguma coisa sobre o filho da Tanya? Se é mesmo do Hanzo?

— Isso você terá que falar com ela.

— Caramba! Ela está morrendo e eu aqui... preocupada com os meus problemas.

— Harumi, acho que é a única chance de você saber se Tanya está enganando Hanzo ou não.