Já era a hora prima, todos só conseguiram dormir após a morte de Frost. Algumas criadas passaram a noite em claro embalsamando o corpo da cryomancer para o enterro. Enquanto isso Bonnie montava todo o relatório do óbito. Quando terminou mandou para os arquivos das Forças Especiais, apenas para uma consulta caso fosse necessário.

Sub zero estava na biblioteca, encostado ao parapeito de uma das janelas do lugar, olhava o sol que apontava no horizonte. Sabia que agora o caminho estava livre para que ele pudesse casar com Kitana, sem nenhum empecilho, mas sentia certa culpa por não ter se importado como deveria para com Frost e tentado ajuda-la a curar de seus devaneios. Agora era tarde demais, a cryomancer já havia partido rumo ao desconhecido. Restava apenas a memória de que ela conseguira salvar a aldeia Lin kuei de uma terrível enxurrada, morrera com honra. Seus pensamentos foram interrompidos por uma criada:

— Grão-mestre.

Ele se virou com um olhar ainda pesaroso e perguntou:

— O que deseja?

— Acabamos de embalsamar o corpo de Frost e... descobrimos algo que deveria saber.

— Por que eu deveria?

— Pois conforme a tradição, o símbolo colocado no caixão tem uma pequena alteração.

— Me diga o que descobriram.

— Ela morreu intacta, grão-mestre.

— Intacta?

— Sim, virgem. Ela nunca deitou com nenhum homem.

Sub zero ficou um pouco pensativo sobre isso, em seguida perguntou:

— Posso vê-la antes de coloca-la no caixão.

— Sim, grão-mestre, ela está no quarto.

Kuai foi junto com a criada até o quarto de Frost, ao entrar viu a defunta deitada com um vestido de seda branco com um laço na cintura azul cobalto. Suas mãos estavam entrelaçadas, os cabelos longos se espalhavam em seu colo e a cabeça direcionada para o alto. Ele a contemplou rapidamente e disse em voz baixa:

— Como eu queria que as coisas fossem diferentes.

Ouviu-se um barulho na maçaneta e a porta se abriu, era Kitana. Sub zero logo a fitou, a princesa o abraçou, se afastou e disse:

— Não sabia que você ficaria tão... entristecido com a morte dela.

— Está com ciúmes?

— Como posso ficar com ciúmes? De uma defunta? Claro que não... só acho estranho você ter ficado tão comovido com a morte dela, ela nos fez tão mau...

— Kitana, por mais pecados que ela tenha cometido ela foi uma Lin kuei. Pertenceu ao meu clã e infelizmente não dei atenção assistencial de que ela precisava, nem ao menos chamei um profissional para trata-la, mas agora é tarde.

Kitana se sentiu desconfortável diante da situação. Havia perdoado Frost antes dela partir, mas agora estava vomitando todos os erros que outrora havia perdoado, na frente de seu corpo frio. A princesa disse:

— Fui infeliz nas minhas palavras... peço perdão...

Sub zero beijou a fronte da amada e disse:

— Não se preocupe.

***

O enterro de Frost foi algo muito simples e rápido.

Aos poucos todos foram deixando o túmulo, restou apenas Harumi e Johnny próximo a lápide. A japonesa estava compenetrada em seus pensamentos e olhava um ponto fixo entre as árvores, depois começou a olhar a chave que Frost havia lhe dado antes de morrer. Intrigado o ator perguntou:

— Takeda comentou sobre a chave que você segura.

Harumi esboçou um sorriso e disse:

— Pensei mesmo que ele ia comentar com alguém.

Johnny se abaixou onde Harumi estava e perguntou:

— Me desculpe perguntar, mas o que tem essa chave tem de tão especial?

— Descobrirei isso hoje.

Olhou de relance a lápide de pedra que havia sido feita em memória de Frost e foi em direção ao palácio deixando Johnny para trás. Ele foi em direção ao jardim ocidental do palácio, onde estava Sonya e sua filha conversando.

Harumi chegou logo no quarto que pertencia à falecida, mexeu na fechadura e a porta estava aberta. Foi logo em direção à escrivaninha, encontrou a gaveta que tinha uma pequena fechadura e introduziu a chave. Ao sentir que estava aberta, a puxou logo e encontrou o diário da cryomancer, havia dentro um papel dobrado, ela desdobrou e viu que era uma carta, direcionada a ela. Eis o conteúdo do manuscrito:

Cara Harumi,

Serei breve nesse escrito, mas quero deixar claro tudo o que você deveria saber desde o início. Antes de tudo, quero te pedir perdão por tudo o que fiz de errado contra sua família. Tantas oportunidades me foram dadas, mas não soube aproveitar e eis me aqui condenada.

Fiquei alguns meses na Exoterra, como bem sabes, e ouvi muitas coisas... coisas terríveis, que as vezes cerrava meus ouvidos com as mãos para não ouvir. Eu não fui tão má quanto parecia. Tanya sempre esteve aliada a Mileena e seu exército e não poupou esforços em tentar ganhar o coração de Hanzo, o sonho dela sempre foi destruir você e seu filho pequeno. Ah e o filho que ela espera não é do Hanzo, é do Rain. O hydromancer sempre fora apaixonado por ela, a edeniana se entregou a ele pois devia muito a ele e acabou engravidando. Ela está usando essa gravidez para prender o seu marido.

Sei que minha morte é certa e é provável que já tenha me unido a terra quando você ler essa carta. Espero de coração que não deixe Hanzo perecer nas mãos dessa serpente. Ele a ama com todas as forças da alma.

Confesso que durante os meus últimos dias aqui, Kenshi e Takeda tentavam ler minha mente para ver se descobriam algo, mas sempre os bloqueei, pois sabia que você deveria saber isso por primeiro.

Não mate o amor que você tem por Hasashi, ele te ama muito.

Te desejo toda felicidade do mundo!

Frost

Harumi já estava em lágrimas ao terminar de ler a carta. Queria logo encontrar o seu amado. Com a carta em mãos foi correndo procurar Sonya e se deparou com Takeda desesperado conversando com Sonya e Johnny. Sem hesitar, a japonesa foi ao encontro dos três, vendo as feições atemorizadas dos presentes e perguntou logo:

— O que está havendo?

Sonya voltou-se para Harumi, pousou a mão no ombro dela e disse:

— Kenshi e Takeda foram fazer uma visita corriqueira a Hanzo... Algumas criadas disseram que desde a noite passada ele não sai do quarto... Quando os dois tentam descobrir se Hanzo está vivo por telepatia eles sentem um bloqueio... a porta está trancada...temo o pior.

— O que?

— Que ele tenha cometido Hara Kiri... pelo casamento dele com Tanya estar muito perto.

— Não – gritou Harumi – preciso vê-lo! Eu sei de tudo agora.

— Vamos – disse Johnny a chamando – temos uma cabine de tele transporte, te levaremos até lá.

Sem hesitar a japonesa acompanhou o ator.

Agora o seu temor era em saber da verdade tarde demais e perder o amor da sua vida para sempre.