Águas Passadas

capítulo trinta e dois


Kenshi estava sentado no chão próximo a porta de entrada do palacete do Shirai Ryu. Estava com a cabeça encostada na parede tentando pensar em alguma coisa para saber como Hanzo estava dentro daquele quarto. Seus pensamentos se calaram quando ouviu alguns passos vindo em sua direção, ele sentia que era seu filho, Johnny e Harumi. De prontidão se levantou, Takeda preocupado perguntou:

— Conseguiu algo, pai?

— Estou pensando em alguma ideia, mas nada ocorre em minha mente.

Harumi sentiu sua tensão aumentar, lembrou-se de Tanya e perguntou:

— E onde Tanya está?

— Segundo uma criada – disse Kenshi – a última vez que a viram foi na noite passada conversando com Hasashi, depois subiu para o primeiro andar e não foi mais vista.

A japonesa colocou a mão na testa e começou a pensar na possibilidade de seu grande amor já estar morto, tentava afastar esses pensamentos de sua mente, mas não conseguia. Foi tomada por uma grande comoção. Pediu licença aos demais e foi em direção ao jardim. Kenshi a acompanhou, ele pôde ler seus pensamentos e não podia deixar que ela ficasse daquela maneira.

Harumi encostou-se no tronco de uma nogueira e chorou. O espadachim se aproximou dela, pousou a mão no ombro dela e disse:

— Você não pode nutrir esses pensamentos.

— Eu não consigo Kenshi.

— Vá até a porta do quarto dele. Chame o seu nome. Quem sabe você tem que salvá-lo?

— Tenho medo de encontra-lo...

— Tente, Harumi. Não o deixe partir assim, se é isso mesmo que ele decidiu fazer.

Harumi foi sozinha até o quarto. Subiu as escadas em extrema aflição, seu coração quase saltava pela boca, suas mãos estavam frias e as lágrimas ainda desciam pelo seu rosto. Ao chegar à porta começou a gritar pelo nome do amado:

— Hanzo! Hanzo!

Não houve resposta. Ela tentou de novo:

— Por favor, abra a porta! Sou eu! Meu amor abra a porta!

Sem êxito e nenhuma resposta seu coração se desesperou. Começou a bater na porta com força e aos prantos suplicava para que aquela porta fosse aberta.

Os rapazes podiam ouvir os gritos angustiados de Harumi. Takeda perguntou ao pai:

— Não deveríamos ir até lá?

— Melhor não. Eles tem que resolver esse problema sozinhos. É um caso que envolve o amor dos dois. Tenho fé que isso se resolverá logo.

Harumi lembrou que carregava uma arma em sua bolsa tiracolo. Abriu logo a bolsa e tirou o revolver, olhou-o e disse:

— Quero ver essa porta não abrir.

Olhou a arma para ver se estava carregada e estava, achou um silenciador que Sonya havia lhe dado e colocou no cano do revólver. Tomou certa distância da porta mirou na fechadura, engatilhou e atirou. Seu coração estremeceu ao ver a porta aberta, pensava em ver o pior. Respirou fundo e ainda segurando a arma caminhou em direção à porta, abriu a porta um pouco mais para conseguir entrar e viu seu marido ajoelhado, de olhos fechados em transe pronto para traspassar uma katana em seu próprio estomago.

Harumi não teve dúvidas, aproximou-se do marido, pegou no cabo da katana e a empurrou fazendo-a cair no chão. Hanzo abriu os olhos e perguntou:

— O que está acontecendo? Estou sonhando?

— Não! Isso é real!

— Harumi, o que...

A japonesa não deixou Hanzo terminar de falar depositando um beijo apaixonado no marido. Depois se separaram e ela perguntou:

— Por que você faria isso?

— Não conseguiria viver sem você... A morte seria o melhor para mim.

Ela acariciava a barba de Hanzo em lágrimas e disse:

— Eu descobri a verdade. O filho que Tanya espera não é seu...

— Como assim?

— Frost escreveu uma carta para mim contando toda a verdade. Você não precisa mais casar com Tanya.

Hanzo sorriu para a esposa e as lágrimas desciam pelo seu rosto, essas lágrimas eram de felicidade. Ele disse:

— Meu coração está tão alegre, meu amor. Agora nada irá no separar.

Em seguida deu um beijo apaixonado em sua esposa. Naquele leito entregaram-se de corpo e alma a um amor que nem a morte havia o terminado.

Os criados serviam Kenshi, Johnny e Takeda com um jantar simples. Takeda estava preocupado com aquele silêncio, de vez em quando olhava para a escada para ver se não descia ninguém. Ele ameaçou em subir as escadas quando foi impedido pelo seu pai:

— Filho, onde você pensa que vai?

— Vou ver o que houve com Harumi. Ela está demorando.

— Acho que eles estão conversando – disse Johnny dando uma piscada.

Takeda logo entendeu o que o ator queria dizer e se sentiu envergonhado. Em seguida os três caíram na gargalhada fazendo lágrimas caírem.

***

Sub zero admirava o céu estrelado de uma das varandas do seu palácio, ainda estava se recuperando do funeral que participara há umas horas atrás e temia ter que participar de mais um evento fúnebre. Estava preocupado por Hanzo ter feito algum disparate.

Sentiu um leve perfume de rosas no ar, ao se virar viu Kitana que o observava sorrindo. Ele retribuiu o sorriso dela com outro e perguntou:

— Do que ri?

— Só de te admirar meu coração se enche de alegria em saber que em breve estaremos casados.

Os dois se abraçaram e deram um beijo apaixonado. De repente ouviram como que alguém pigarreando, eles logo se separaram e riram quando viu Sonya os observando. A general disse sorrindo:

— Peço perdão por interromper vocês, mas eu precisava dar essa notícia.

— Diga general! – disse Kitana em tom de entusiasmo.

— Johnny acabou de me ligar e disse que Hanzo e Harumi se reconciliaram. Johnny, Kenshi e Takeda já estão retornando.

— Harumi com certeza passará a noite no Shirai Ryu – disse Kuai sorrindo. Sonya afirmou com a cabeça.

— Posso dormir no quarto de Harumi essa noite com Satoshi?

— Acho que Harumi não acharia ruim – disse a general.

O pequeno Satoshi já se aproximava dos dois anos de idade, se apegara muito a Kitana e a chamava sempre como “Tana”. Ele estava brincando um pequeno playground doado pelas F.E. no jardim oriental do palácio. A princesa o observava brincar enquanto o grão-mestre estava ao seu lado, logo que o pequeno a viu gritou com os braços para cima:

— Tana!

Kitana se abaixou, o abraçou e disse:

— Hoje eu irei dormir no lugar da sua mamãe.

Ele esboçou um sorriso e a abraçou. Em seguida ela disse:

— Vamos logo que já está tarde.

Satoshi já sentia sono, deu a mão para Kitana e foram para o quarto de Harumi. A princesa banhou o menino, deu de comer, o levou logo para o berço e ele logo pegou no sono. Ela o observava e começou a imaginar como seria seu filho ou filha. Deitou-se na cama de Harumi e começou a pensar no seu amado. Seus pensamentos fizeram Kitana adormecer.

***

O dia amanheceu no Shirai Ryu. Tanya acabara de retornar da Exoterra e surgira no jardim. Já era a hora prima e percebeu que alguns guardas e criados esboçavam certo sorriso. Ela logo perguntou a um dos guardas:

— Aconteceu alguma coisa por aqui?

— Por que a pergunta, senhora?

— Sinto certa alegria entre vocês...

— O tempo lhe dirá. – disse o guarda saindo

Tanya entrou logo no palácio e subiu as escadas com certa dificuldade por causa da barriga. Viu a porta do quarto de Hanzo com sinais de tiro na fechadura e estava entreaberta. Ela abriu a porta vagarosamente e viu os amantes dormindo profundamente. Tanya sentiu uma cólera dentro de si, mas se conteve e disse para si mesmo:

— Eu vou acabar com você, Harumi. Não perde por esperar.

Dizendo isso desapareceu e foi rumo a Exoterra. Ela estava com sede de vingança.