À procura de Alguém

Uma vida sem ser vivida


[POV's ENDER]

Será mesmo que aquele casal era meus pais? É melhor eu não confiar muito nisso para não me iludir à toa. Se bem que se realmente forem eles, eu teria um passo a frente na minha "busca". Essa minha investigação sempre foi um fracasso, pois nunca encontrei alguma pista reveladora. Parece que quando a minha vila natal foi devastada, meus pais se mudavam de tempos em tempos até a chegada da morte dos dois, e isso dificulta bastante. Ainda tem outro fator: os monstros e pessoas não sabem o que aconteceu ou se recusam a falar. É bem raro encontrar alguém que sabe de algo, o que mais dizem são que familiares e amigos íntimos foram assasinados de forma misteriosa ou sumiram na época em questão. Entretanto também já escutei os famosos boatos e histórias que eram contadas com desconforto e intranquilidade como se fosse um segredo obscuro que deveria ser trancado a sete chaves. Tinham lá os relatos que eram macabros e continham um conteúdo útil, contudo eu ainda não acreditava completamente nessas historietas, porque algumas tinham baboseiras que inventavam, como criaturas místicas e atos insanos. Para conseguir essas informações, mesmo que medíocres, claro que eu tinha minhas maneiras de fazer as pessoas vazarem todas as informações que sabiam.

Em relação ao álbum de fotos, eu posso simplesmente ir lá e ver com meus próprios olhos a verdade. A única coisa que me preocupa é de que se eu quiser descobrir realmente quem eram eles, teria que ir na casa de onde está e poderia ocorrer o risco da Cupa reencontrar os pais, e eu não quero fazê-la sofrer. Também tem a possibilidade de o álbum nem estar lá, o que seria fazer um sacrifício em vão.

Vivi uma vida sem sentido em busca de vingança, respostas e esperança, mergulhada na solidão... até encontrar o Creeper, que curou meu coração frio de uma forma que eu não consigo explicar. Me fez voltar as minhas raízes e tornar a ter um pouco mais de sentimentos. Sentimentos que haviam sido apagados e enterrados, nos quais eu nem sabia mais que ainda existia.

Muito tempo atrás, quando ainda se via Endermans saltitando por aí, dias antes da data comemorativa do meu nascimento, meus pais haviam saído para buscar meu presente fútil e egoísta para meu aniversário de apenas seis anos, na qual eu cismava ganhar um bloco reluzente inteiramente feito por diamantes. Meus pais não tinham experiência para minerar, nem possuíam grandes fortunas para comprar um, então, para suprir meu desejo infatil, os dois foram à procura. Minha mãe foi junto, porque achava que seria uma boa busca de pesquisa sobre humanos, já que ela era fascinada por eles. Furtar objetos era uma visão completamente normal na vista dos monstros, principalmente por Endermans, que eram vistos como perigosos ladrões. Eu achava (e ainda acho) que roubar ou furtar é errado, porque tirar algo de alguém que deu suor e lágrimas para conseguir ter algo é completamente injusto. Mas podem me chamar de hipócrita, pois ao longo da minha vida já roubei várias coisas, inclusive vidas.

Nesse meio tempo, fiquei alojada na casa de uma família de esqueletos, na qual eram grandes amigos dos meus pais. Quando o esperado dia do meu aniversário chegou, eu aguardava ansiosamente a chegada dos meus pais, que prometeram voltar nesse grandioso dia. Eu havia acordado cedo, eufórica, mas toda a animação foi passando ao longo do tempo que os dois não chegavam. Tarde da noite, restando ainda um fio de esperança, escutei um barulho vindo de fora e saí correndo, mas ao invés de receber meus genitores com um grande abraço, havia um vizinho, e então, recebi a notícia avassaladora que meus pais faleceram assasinados. Meu sorriso se despencara e as gotas ardentes rolavam em meu rosto, diante do portador da mensagem, que era uma aranha macho conhecido da família que aproveitava seus ultimos anos de juventude. Ele disse que os dois já haviam morrido a um tempo, em uma casa muito longe dali por um jovem humano muito bem armado. Eu bradei soluçando ao ser parado que estava na minha frente sem nenhum pingo de compaixão, perguntando o por quê dele não ter ajudado meus pais, mas ele respondeu que não iria arriscar sua pele por dois velhos e que já estava de muito bom grado de ele ter vindo dar a notícia.

Meus pais não se interessavam muito por lutar, era meu irmão sete anos mais velho que treinava e se esforçava todos os dias com um professor da vila, só que esse já tinha sumido havia um ano. Meu pai era cientista naturalista, o que quer dizer que ele estudava a natureza em seus aspectos mais gerais e fundamentais, isso é o universo como um todo. Mas também era astrônomo, porque era apaixonado por tudo além do céu. Era incrível a quantidade de pesquisas e projetos que ele tinha, já que eram poucos os livros e equipamentos que ele conseguia furtar, porque era difícil de encontrar. Me pergunto para onde tudo aquilo foi parar. Talvez esteja guardado em algum lugar e trancado com a chave que meu pai sempre carregava por baixo da blusa preso a um cordão.

Minha mãe já era da parte das ciencias sociais, buscava as origens do desenvolvimento, da organização e do funcionamento das sociedades e cultura humana (que estudava em segredo) e dos monstros. Gostava de fazer seus próprios relatórios e pesquisas observando os humanos, já que era difícil encontrar material para estudo. O hobby dela era cozinhar. Gostava muito de reproduzir receitas de humanos e inventar as próprias dela. Mesmo com estrutura precária, eles tinham muito conteúdo por experiência própria.

Com minha coragem de criança, tentei tirar a informação da aranha de onde a casa ficava, mas a mãe esqueleto que cuidava de mim impediu que eu ficasse sabendo.

Alguns dias depois do ocorrido, a casa dos meus pais foi lacrada, com todos os pertences lá dentro pelas autoridades da vila. Fugi da residência em que permanecia e fui em busca do "mensageiro". Procurei em toda a parte, até encontrar ele construindo uma teia na beira da floresta. Tentei convencê-lo de todas as formas a me dizer aonde morava o infeliz, querendo ir lá só para me vingar do humano com algum plano maluco planejado na minha mente infantil. Quando eu estava prestes a conseguir, testando ao máximo a sua paciência, surgiu sorrateiramente por de trás de nós, um ser vestido de preto, com um capuz e uma máscara cobrindo sua face, que com um movimento brusco no pescoço do mensageiro, utilizando um punhal de cabo de cruz e lâmina branca afiada, cortou sua pele, carne e veias, depois sumindo velozmente entre a mata.

Perdi os sentidos por um momento. Meu pequeno corpo paralizou-se e uma impressão de formigamento corria entre minhas costas. A minha cabeça latejava e pulsava como se tivesse um coração lá dentro, e este, o órgão sanguíneo, parecia que ia saltar para minha garganta. Mesmo com uma sensação quente e dolorosa no peito, gotas frias de suor escorriam pelo meu rosto em pânico.

Aquilo não poderia ter acontecido, pois ele era quem sabia aonde meus pais estavam, para pelo menos eu dar um último adeus aos corpos frios e mortiços dos meus criadores.

Caí de joelhos no chão ao lado do corpo que se estremecia nos seus restantes segundos de agonia. O sangue já tornava o chão em uma pequena poça rubra quando o sofrimento do homem parou ao seu último suspiro. Eu tentava gritar, mas a voz não saía, como se o ar que suprisse meus pulmões e me deixasse viva impedia que as cordas vocais funcionassem.

Seu sangue escorrido foi ao encontro de meus joelhos que tremiam incessavelmente sobre o áspero chão terroso. Caminhei minha mão para o líquido violado e apressei para tocá-lo para ver se era real e se eu não estava sonhando. Analisei com as pontas dos meus finos dedos gélidos que faziam um pequeno choque com o sangue morno. O cheiro de ferro adentrou em minhas narinas me fazendo tossir igual a um veneno. Pude entender, assim, como era realmente o mundo cruel em que vivia. Nunca entendi o motivo da morte dele e também nunca soube quem era aquele assassino irracional que matou alguém a sangue frio em frente a uma inocente criança.

Com medo que poderia acontecer comigo também, fui correndo de volta para os braços da minha "familia adotiva", debulhei em lágrimas, tremendo por medo e não sabendo o que fazer, contudo tive receio de contar o ocorrido e fiquei em silêncio, então menti que tinha ido dar uma volta e acabei caindo no chão.

Passei a noite em claro, racionando tudo o que estava em minha volta. No dia seguinte, nos primeiros fachos de luz solar que tocava a grama passeando entre os espaços das folhas das árvores, pôde-se ouvir um berro horrorizado de uma moradora. O motivo eu já imaginava: encontram o corpo sem vida estirado no chão coberto de líquido vermelho carmesim. Tentaram investigar, porém, não encontrando vestígios do possível assassino, optaram por concluir que a aranha fora morta por um humano, coisa que sempre a guarda local fazia em casos não concluídos, já que aquela vila tinha a má sorte de ter vários humanos circulando por lá.

O irmão mais velho da família de esqueletos até suspeitou que eu tinha algo envolvido com isso, porque ele não tinha engolido a minha desculpa, porque no dia anterior, eu havia sumido por pelo menos duas horas sem avisar ninguém e depois cheguei com o rosto vermelho e olhos inchados por chorar, então concluiu que eu tinha visto algo, mas não passou além disso, logo depois ele já havia esquecido, ou pelo menos desistiu de ficar reforçando, já que era um assunto delicado.

Depois daquele dia traumatizante para uma criança de apenas seis anos que tinha acabado de perder os pais, perdi minha inocência de um mundo de paz e alegria, comecei a pensar mais no propósito da minha vida e amadureci mentalmente.

Pouco tempo mais tarde, me sentindo inútil por ser sustentada por mobs que não eu não tinha nenhum grau de parentesco, resolvi ajudar de alguma forma, já que estavam em uma situação frágil relacionada a dinheiro. Procurava empregos escondida, priorizando os que eram a luz da noite para conseguir uma renda extra. Tudo o que eu recebia, eu botava em um envelope e deixava na porta da casa em anonimato. Os empregos que conseguia eram tarefas que os moradores não queriam fazer, como limpar as residencias, cuidar das plantas ou carregar objetos pesados para algum lugar. O problema é que recebia muito pouco e cada vez mais os moradores diminuiam a quantidade que eu recebia dando uma desculpa que era para eu desistir de trabalhar, porque eu só era uma criança, mas eu sabia que era só para não ter que pagar caro. Mesmo assim eu não reclamava nem nada, porque eles poderiam contatar a família de esqueletos. Eu fazia o máximo para meus protetores não me vissem na hora dos serviços.

Um ancião da vila, de mesma espécie da minha família adotiva, uma vez perguntou o motivo de eu querer tanto dinheiro, o que me fez ficar espantada, já que os outros não ligavam para minha história e simplesmente mandavam o que tinha que fazer. Eu respondi honestamente, pedindo que não contasse para ninguém. O ancião riu e me ofereceu um trabalho que era melhor pago, só que era nas cavernas, minerando para fornecer carvão para a vila. Eu aceitei sem pensar na dificuldade e o cansaço que iria ter no futuro.

Então, no início da tarde eu dava uma desculpa e saía sorrateiramente de casa para os meus trabalhos domésticos; depois que acabava voltava para a residência; mais tarde, à noite, quando todos já estivessem dormindo, eu iria para as minas levando uma roupa velha extra para não me sujar. De madrugada voltava novamente fazendo o máximo para não fazer barulho. Já houveram vezes que me flagaram entrando no recinto, mas eu tinha minhas cartas na manga, e respondia que não conseguia dormir, então ia para fora ver as estrelas. O máximo que faziam era dar um sermão, porque era perigoso andar sozinha na escuridão, já que tinha riscos de encontrar um humano, o que com frequência acontecia para falar a verdade, mas nunca houve problema, porque eu sempre tinha cuidado para que nenhum me notasse.

Lembro-me que no meu primeiro dia o senhor me explicou e me auxiliou, mas depois foi por minha conta. Por incrível que pareça eu gostava daquilo. Uma caverna tranquila, as únicas criaturas vivas eram os mineradores pagos. Com o passar do tempo aprendi, ganhei experiências, fortaleci meus músculos e ainda perdi uns quilos, que antes foram ganhos pelos doces e guloseimas feitos por minha mãe. Algumas vezes, eu achava algumas pequenas pepitas de ferro, na qual trocava por uma quantia a mais no salário.

Como eu ainda era muito nova, o ancião que me deu o trabalho não exigia muitos esforços sobre mim, mas mesmo assim, eu dava o meu máximo, na qual me deixava muito cansada, mas eu conseguia descançar depois.

Mesmo com toda essa minha paranóia de tentar ser alguém útil para a sociedade, eu reservava momentos para minha infância. Brincava com meus três "irmãos" e com umas outras duas crianças que eu não recordo direito.

Havia alguns finais de semana que eu passava o dia todo com eles, para distrair um pouco minha cabeça e sair daquela pressão, e também para não levantar muitas suspeitas de que eu estava fazendo algo as tardes. Aqueles momentos eram muito importantes para mim, porque eu podia sorrir de verdade e me sentir um pouco despreocupada.

Em dias ensolarados aparecia um sorridente adolescente da minha espécie, com idade por volta dos dezessete anos que vivia com a família. Ele era bem alto, por volta dos dois metros, sempre estava alegre e feliz e adorava crianças, então gostava de participar de alguma de nossas brincadeiras. Só que com o tempo ele aparecia cada vez com menos frequência até o momento em que nem olhava para nós. O motivo eu sabia: ele também buscava por dinheiro. Aquele jovem começou a trabalhar na mesma empresa mineradora que a minha, só que em turno mais extendido. Eu tentava falar com ele da forma mais amável possível, mas não era possível, o jovem sempre me ignorava.

Com o tempo, meu corpo começou a sofrer com as consequências do peso que era a mineração, isso acabou prejudicando os meus trabalhos domésticos da tarde, fazendo que eu esqueça de limpar uma parte, ou derrubar alguma coisa pela desatenção por conta do cansaço ou que eu não consiga fazer muita coisa por causa do desgaste dos meus músculos. Isso acabou gerando que os adultos mandassem eu trabalhar por míseras moedas ou de graça para eles, como uma forma de pagamento. Antes mesmo de eu recusar, eles já começavam a me chantagear, falando que iriam me perseguir e destruir meus pertences.

Àquela vila precária era aterrorizada por assasinatos e sumiços e ainda carregavam o fardo de ter que suportar os humanos sempre aparecendo de repente, então era raro encontrar um morador de bom coração. Mas eu não os culpava nem sentia nenhum ódio por eles, já que eram bárbaros e queriam se mostrar superiores, porque no fundo tinham medo do que poderia acontecer-lhes.

Lembro-me perfeitamente o último dia que passei naquela vila. Aconteceu no início do mês, em que tudo estava ocorrendo de mal a pior para mim, porque "meus patrões" estavam muito irritados comigo e a minha família adotiva estava sentindo que eu estava ficando distante deles. A noite com o céu aberto, a luz refletida pela Lua e dos astros cobria aquele pedaço infeliz de terra como um manto branco e acolhedor. Em meu rosto, refletia a luz das diversas tochas presas nas paredes. Levei minha picareta de ferro bem resistente e cabo de madeira pouco conservado até um canto do fundo da mina. Trabalhei arduamente no movimento de quebrar a parede rochosa, pegar os carvões minerais e despejar no minecart que se encontrava sobre os trilhos.

Uma ventania sem sentido passou por entre a caverna toda até no fundo apagando todas as ardentes tochas que eram as únicas companhias para os trabalhadores. Naquele momento, encontrava-me focada na parede recolhendo as hulhas. Com a escuridão total, fiz um movimento automático de virar meu tronco. De primeira só pude ver a imensidão das trevas e escutar o silêncio amedrontador. Um arrepio percorreu em todo o centímetro da minha pele. O acolhedor crepúsculo da Terra sempre me fazia bem, só que daquela vez tive uma intuição de fugir dalí correndo ou teletransportando, não importava a maneira, só precisava sair da caverna. Escutei alguns passos corridos de possíveis operários indo em direção oposta a mim. Enchi meus pulmões daquele ar impuro subterrâneo e fiquei lá firme e forte, com a mente limpa de pensamentos macabros. Aos poucos vi um par de luzes brancas bem ao fundo. Tentei acostumar meus olhos na escuridão e esfreguei-os para tentar identificar o que aquilo era. Vendo pela segunda vez, pude notar dois outros mineradores cada um segurando um toco de madeira acesso repondo o fogo nos demais.

Quando as chamas queimavam a meu favor, e o patrão mandava todos voltarem as suas posições, pude voltar à atividade. Quebrei a pedra para explorar mais os minérios que me aguardavam, quando acabei por encontrar um talhe de diamante bruto que quase iria passar despercebido como um cascalho qualquer.

Fiquei inexpressiva ao ver o grandioso mineral que antes gostava tanto. Guardei rapidamente dentro da blusa e voltei o meu foco na parede.

Ao término do turno, peguei minhas roupas limpas e troquei. Passei reto entre os outros empregados como sempre fazia. Saí da colina que se encontrava a caverna iluminando o caminho com minhas áureas. Desci e fui para um grande rio que desaguava nos pés do lugarejo, tendo o cuidado de não topar com nenhum humano.

Parei em frente ao lugar, peguei o objeto guardado e o observei pela última vez, depois o apertei na minha mão com toda a força para liberar minha dor, raiva e tristeza guardados no fundo da minha alma. Trouxe o punho fechado para perto de meu rosto. O diamante foi manchado da minha própria seiva e pranto. Fiz uma promessa para mim mesma, que seria o primeiro sangue que iria derramar e a última lágrima a ser desperdiçada.

Com meus ouvidos aguçados, escutei um estalo de galho seco atrás de mim. Senti a presença de alguém e logo me pus em alerta. Joguei rapidamente o mineral na água. O rio não tinha as mais fortes correntezas, mas sabia que era profundo o suficiente para não conseguir ver nitidamente a base.

Escutei passos pesados correndo em minha direção. Senti um arrepio na espinha mesmo sabendo da existência do stalker, porque é meio macabro saber que está indefeso e ter alguém bem atrás de você.

Meus olhos púrpuros e brilhantes encontraram um par igual, só que aqueles expressavam grande desespero. No exato momento em que minha visão foi diretamente em contato com suas pupilas, percebi uma mudança de sua aura. O jovem Enderman que fazia companhia a mim e a outras crianças, que antigamente carregava um belo sorriso no rosto, tinha os dentes serrados e uma expressão de profunda agonia e parecia estar coberto de uma sombra de sofrimento e discórdia. Visivelmente se percebia que ele estava muito irritado, em razão de o rapaz estar com a vista marejada.

Ele empunhou uma pequena espada que antes estava presa em sua cintura sem nenhuma proteção e apontou em minha direção, como se uma criança desprotegida fosse um perigo mortífero.

O jovem fora de si chegava cada vez mais perto de mim, dizendo que os mobs não ralavam para conseguir poucos tostões para um estúpido qualquer desperdiçar algo valioso à toa. Eu somente chegava para trás tendo o cuidado de não cair na água, pois sabia que não adiantaria de nada enfrentar o rapaz, mesmo que somente com palavras. Não sabia o que ele passava, então não poderia julgá-lo.

Quando me encontrava a um fio de cair no fluido, soltei minha primeira e última frase a ele, dizendo que me enfrentar não faria sentido nehum, já a pedra que realmente importava estava no rio, a cada segundo descendo mais. Disse aquilo para tentar me safar do pior e não ocorrer nenhuma agressão, só que o resultado foi diferente do meu esperado. O moço, com o rosto um pouco sujo de pó negro, apertou a arma e a jogou no chão, fincando a ponta da lâmina na terra. Tirou a blusa, revelando um corpo forte, mas com cortes profundos e graves machucados, e as botas, para logo depois mergulhar no universo desconhecido na profundidade do rio.

Corri rapidamente em direção a uma zona segura para os respingos d'água não entrarem em contato comigo. Não tinha ideia até que ponto ele chegaria com aquilo, mas sabia que depois que fosse, não iria retornar mais.

Observei todo aquele sofrimento em camarote, inexpressiva, sem ter um pingo de compaixão. O jovem ia para superfície para se reabastecer de ar e logo voltava, o que não durou muito tempo, já que a água para os Endermans funciona que nem veneno como acidez e lava como queimadura, além de danificar nossa pérola e nos sufocar, já que nossos pulmões não tiram oxigênio deste ambiente, igual a todos os outros seres terrestres.

O monstro falhou em sua missão de obter a pedra, em adversidade, ele pagou esse fracasso com sua vida, na qual foi levada pela natureza de maneira torturante. Vi aquele pedaço de carne sem valor a altura de meus pés boiando na água com a pele avermelhada.

Fui perto do armamento dele. Abaixei e peguei para analisar. Era uma espada curta (ou melhor, adaga), de perfuração, com duplo corte de têmpera forte, serrada e compacta, com poucos enfeites, e leve, ótima para defesa pessoal. O único defeito é que estava mal cuidada e precisava trocar o couro do cabo, que se encontrava desgastada em estado desprezível.

Me perguntava em quais aventuras esse ser passou para ficar tão amargurado e desesperado a ponto de se suicidar por algo de valor financeiro.

Virei-me de costas e pus a voltar para a residência. A morte do rapaz não me abalou de menor jeito, entretanto aquilo fez com que algo dentro de mim gritasse para sair daquela vila depressiva, senão acabaria eu naquele rio contaminado.

Despistando qualquer tipo de distração, cheguei à porta do lar dos esqueletos. Me teletransportei para dentro, pisando levemente sobre o assoalho tomando cuidado com o ruído das tábuas do chão.

Adentrei no dormitório e reuni minhas roupas e uma fotografia da minha real família em uma mochila, botando sobre meus ombros e pegando o Alfred, meu bloco de terra que eu havia deixado parado empuerando por meses. Olhei todos em um curto período de tempo, pois sabia que ia sentir saudades do tempo feliz de brincadeiras e alegrias com aqueles três.

Ao sair do cômodo, vi um caderno de blocos e uma caneta. Sumir da vida deles de repente sem nem ao menos deixar um bilhete seria errado. Então escrevi em poucas palavras um adeus e pedindo que não me procurassem, porque eu ficaria bem. Respirar fundo não ajudaria afastar a tensão daquele momento.

Ao girar a maçaneta e pisar na grama esverdeada, pude escutar um chamado ao meu nome. Hesitei um pouco em virar, mas não tive escolhas, ele veio até mim e me deu um abraço apertado pelas costas. Reconheci o toque logo de primeira. O mais velho dos três irmãos havia acordado.

"Tem certeza do que está fazendo?" Como suspeitava, ele sabia de grande parte do que estava acontecendo comigo. A conclusão disso foi que depois ele abordou que nós poderíamos contruir uma nova família. A ideia parecia tentadora, mas não havia sentido eu ficar ali.

Como que o espírito daquele pedaço de terra tivesse sido corrompido, e uma bruxa tivesse lançado uma praga de cem anos sobre o vilarejo.

Com meu silêncio, o esqueleto compreendeu que meu objetivo não foi derrotado. Então, como último ato, selou seus lábios na minha cabeça, em forma de demonstrar que se eu voltasse, ele iria estar ao meu lado.

Nos soltamos e fomos cada um para seu caminho oposto. Eu para um começo de uma nova jornada e ele de volta para sua cama, fingindo que não tinha acontecido nada.

Seria inútil tentar convencê-los a vir comigo, já que era uma coisa pessoal minha. Mesmo com toda essa calamidade pairando neaquele local, algo dentro de mim me dizia ter certeza de que eles ficariam bem. Talvez era só para me iludir que eles não morreriam...

Como estava à noite, pude tranquilamente me esconder entre a mata e chegar no local predestinado, o problema era a angústia e a sensação de queimação que estava em meu peito.

O "esconderijo" do meu tio. Aquilo realmente não poderia ser chamado de moradia, porque além de parecer uma biblioteca, era escondido atrás de uma selva e a entrada só era possível se você apertasse um pequeno botão que estava disfarçado entre as trepadeiras que cresciam no local.

Com um sistema avançado de redstone, uma porta se abria revelando um exótico salão, com estantes cheias de livros no piso até o teto e uma iluminação de vários castiçais e lamparinas e um candelabro no centro do teto todos confeccionados de metal negro. Um grande tapete de estampas feitas por senhoras na Idade Média cobria parte do assoalho. O calor projetado pelo fogo abafafa o ambiente, mas mesmo assim o deixando aconchegante. Ao entrar totalmente no lugar, a porta de trás se fecha e pode-se sentir a magia do ar. Meu tio tinha seus contatos com bruxas para deixar seu local do jeito que ele sempre sonhava e para conservar seus pertences, já que o quentura excessiva detonaria os livros.

O Enderman de quase meia idade cumprimentou amorosamente minha chegada. Ele, que era chamado de louco e fora banido de sua aldeia natal era uma das melhores pessoas que já conheci. Por mim, ele não tinha nada de alucinado, o que ele realmente tinha é uma incrível imaginação, espírito de aventura e um desejo voraz de querer saber de tudo um pouco.

Seus habitos e seu estilo de vida poderiam ser um pouco fora do comum, contudo ele tinha um grande caráter. O real motivo que penso até hoje é que na verdade os outros monstros tinham medo ou raiva dele, porque seus pensamentos eram totalmente diferentes daquele povo.

Já tinha ido diversas outras vezes naquela casa ou ele que vinha me visitar para contar suas fascinantes crônicas. A que mais me interessava contava a história de um amor impossível entre dimensões. Uma terra chamada "Nether" que só poderia ser acessada com um portal de arco negro aceso com fogo e um objetivo em mente. Eu pensava que era só um conto de fadas que meu tio contava, mas descobri que era real a pouco tempo, quando eu encontrei esse portal uma vez, no mesmo dia em que encontrei a Kelly e aquela espécime esquisita de monstro denonimado "Blaze". Fiquei morando com meu tio por volta de dois anos (quase completando 8 anos de idade), até que ele decidiu se aventurar em busca de seu amor, uma dama que ele chamava de Ghast. Achava o nome bem peculiar.

Nesse meio tempo, ele me ensinou muitas coisas, tanto de como sobreviver em lugares sem civilizações, lutar, tecnicas de beber água sem se queimar e de até construir armadilhas. Ele também deixava eu ler seus numerosos livros, em exceção alguns que ele me fez jurar não tocar. Provavelmente senão fosse por ele, eu não estaria viva ainda.

Meu tio fez uma enorme falta para mim, mas ele já havia avisado muito antes de partir, que haveria o dia que ele teria que ir embora.

"Sei que viverá sozinha sem mim, eu confio em você e... espero que um dia eu possa contar minhas futuras e novas aventuras para minha melhor ouvinte". Essa foi a última frase que ele me disse antes de cruzar a fronteira da selva, carregando uma só mala preparada para o que a vida estivesse guardando a ele.

Os anos mais para frente não lembro totalmente o que aconteceu, porque essas lembranças de quando eu era miúda são as que estão acolhidas em minha mente e são as que mais me importam, porque eu não quero esquecê-las. Bem, as lembranças desse passado e as do atual presente.