Leiam as notas iniciais.

[POV's Ender]

— O-O que aconteceu com sseu braço? — despertei de meus devaneios quando a voz aterrada da Cupa surgiu de repente cortando meus pensamentos e trazendo-me de volta para o mundo real.

Virei meu olhar para dar atenção à pequena que se encontrava assustada fitando meu braço esquerdo, no qual tinha meu curativo improvisado que fiz com a manga rasgada do meu casaco, escondendo um ferimento da batalha que tive com uma criatura esquisita chamada Blaze. Valeu a pena, em razão de que pude conhecer e ajudar a Kelly, que desde as primeiras impressões aparentava ser uma boa amiga (se não provocá-la, claro).

— Como ssou egoísta e cega! Ssó fiquei pensando ssobre meus problemas e nem reparei que você está machucada! — exclamou, falando mais para si do que para mim.

— Não se preocupe. O ferimento não foi grave — respondi, ignorando a agitação dela e tentando acalmá-la.

— Então por que esstá sangrando?

Olhei melhor para meu membro machucado. Percebi que parte do meu braço está dormente, causando o meu desconhecimento sobre as gotas que rolavam na sobre a pele. Aparentemente, Kelly apertou o pano com bastante força quando pedi ajuda. O sangue escorria do ferimento, passava entre meu antebraço, se prendia por poucos segundos em meu cotovelo, logo depois caindo e sujando o solo coberto de grama — que antes fora danificada pela neve, que antes tive a casualidade de limpar para não me ferir com os flocos cristalinos.

Quando fui ferida, para não atrapalhar em minha jornada, bravamente tentei ignorar a dor, tanto fiz que até tinha esquecido que ela existia.

Percebi a hesitação da Cupa, mas parece que sua angústia venceu e fez-lhe levantar. Ela contornou-me e sentou do meu lado esquerdo, tendo uma vista de frente para a minha lesão. Não reagi, porque de fato queria saber o que iria fazer.

Alguns segundos olhando inexpressiva com um tom pálido em suas maçãs do rosto. Sua mão oscilante veio ao meu encontro. No momento em que ocorreu o contato de sua pele quente de creeper com minha epiderme gélida, causou um choque térmico, dando-me um arrepio repentino.

Seus dedos ágeis atravessaram o líquido. A Cupa parecia ávida para analisar o fluido devasso.

— Sseu sangue... é realmente negro... — em sua voz falhada saiu um cochicho abafado, como se estivesse concluindo algo em sua cabeça, enquanto averiguava o sangue em seus dedos.

Fiquei meio embaraçada com sua afirmação. Não sei exatamente como reagir a isso. Com a seriedade dela, parece que isso se transformou em um pecado, em algo horrível. Todos os Endermans têm sangue de uma tonalidade mais escura do vermelho, não é?

Afundei meu rosto em meu cachecol, como se fosse um escudo protetor contra as incertezas do mundo, quando, de repente, algo me deixou atônita, mas também admirada. Uma essência doce e pura invadiu minhas ventas, fazendo-me acalmar totalmente. Um aroma agradável de uma mistura amadeirada e quente me deixou em harmonia por alguns segundos, até voltar os meus sentidos normais por conta de mais uma reação perplexa da pequena creeper.

— Você tem várias cicatrizes! — afirmou, apertando o palmo.

Ela exagerou no ''vários''. Tenho, mas não são muitas. Nada muito grave, só prefiro manter escondidos sob minhas vestes. São marcas de batalhas que tive no decorrer de minhas aventuras.

— São apenas retratos desvanecidos de uma derradeira época.

— ... Tem vezess que eu não entendo o que você diz — revelou Cupa, com um semblante duvidoso, contudo brincalhão.