Será isso o certo a fazer? Abandonar meus amigos, conhecidos e... Família? Se bem que até agora nem a minha própria mãe deu um sinal de preocupação para vir me procurar depois que eu fugi de casa.

Se pelo menos viesse alguém comigo...

Fechei os olhos com força e pressionei meus lábios um contra o outro. Tentei acalmar minha respiração.

— Ssim... — Soltei ar pela boca.

— Tem certeza? Lembre-se de que eu te avisei que vai ter que largar tudo desde o momento em que entra.

— Ssim, eu quero entrar para o movimento. — Falei sem hesitar.

— Ótimo! — Ayame bateu as mãos. — Ainda bem que veio, eu já estava quase indo em bora. Venha comigo, vou te levar para a base e avisar pro pessoal todo que temos mais uma nova membra! ... Algum problema? Você não parece estar muito bem.

— ... — Balancei a cabeça em negação. — Essstou bem ssim. — Forcei um sorriso.

— ... Ok, então. Ah! Você vai levar alguma coisa de casa? A hora para pegar é agora!

— Não preci... — Refleti antes de terminar a frase. — Para falar a verdade, quero sssim. — Eu não poderia ficar com essas roupas, que, aliás, nem são minhas.

Fomos de fininho para a casa do Zazu. Eu por algum motivo estava com receio de que alguém poderia nos ver, mas qualquer coisa eu dava uma desculpa.

A Ayame ficou me esperando lá fora. Entrei no quarto em que eu dormi e peguei minha roupa. Dirigi-me para o banheiro, limpei o rosto e me vesti.

Voltei para o quarto para devolver o vestido, mas me deparei com o bloco de terra da Ender no canto da parede...

A Ender falou que não queria entrar para a MPM, mas será que... Bem, não custa tentar.

Tirei as duas flores de cima do bloco de terra e fiz questão de deixa-las bem a vista. Peguei o cobertor mais velho que eu encontrei e cobri delicadamente o bloco. Botei sobre as costas e saí pela porta afora.

— Vamoss?

— Vamos! ... Espera... o que é isso aí que você pegou?

— Ahm... é uma lembrancinha de uma amiga... — Sorri amarelo.

— Cara, nós vamos voando para chegar mais rápido, e eu vou ter que te carregar. Isso vai ficar muito pesado para mim.

— Masss... é... isso vai trazer maiss um membro para o movimento — Pensei rápido.

— Verdade? — Os olhos dela brilharam de alegria.

— Claro — Respondi fazendo um sinal positivo com a mão.

— Ah, então beleza! — A Ayame se empolgou. — Suba nas minhas costas! — Falou, tirando o embrulhado de pano das minhas mãos.

Fiz o que ela mandava. Ela agachou para dar mais impulso e deu um longo pulo, logo em seguida começou a voar. De início, ela voava rente ao teto alto da caverna e estava relativamente devagar (acho que era para não chamar a atenção de muitos mobs), mas depois que ela saiu da vila, tudo o que estava a minha volta se tornava um breve borrão.

Não sei estou alucinando, mas um pouco antes dela sair em disparada voando, eu acho que escutei uma voz chamando o meu nome...

Sempre achava que a Ayame iria bater em alguma coisa, mas no final de sustos e gritos, ela parou e fez um breve pouso.

Desci de suas costas com uma certa tontura. Esfreguei os olhos e olhei em volta. Continuamos dentro da caverna, só que bem lá no fundo. Reconheci o lugar. É a construção antiga e toda quebrada que eu vim antes com... ’’meus amigos’’.

— Por que esstamos aqui? — Perguntei, com um certo medo.

Ayame se virou para mim com um sorriso no rosto que me deu um arrepio. Pensando bem... Será que foi realmente o certo aceitar a entrar nesse movimento? Fugir de um lugar que eu estava segura e acreditar em uma desconhecida que me fez acreditar que eu iria ajudar outros mobs? E esse movimento...? Eu tenho certeza que já escutei falar de ’’MPM’’ alguma vez quando eu era mais nova, mas não quer dizer quer dizer que seja confiável.

Agora já é tarde. Vim por minha própria escolha, acabei não pensando no pior que poderia acontecer.

— Estamos aqui... para retornar à base para o ritual de iniciação de entrada de novos membros.

— C-Como é? — Perguntei. Lembro-me que ela comentou que iria ter um ritual, porém não explicou o que acontece nele.

— Saberá quando estiver acontecendo — Respondeu com uma tranquilidade que em vez de reconfortar, assombra. — Agora sem mais perguntas! Temos que esperar que os outros venham.

— Que outrosss?

— Sem mais perguntas, já te falei isso. — Respondeu sem olhar nos meus olhos.

Calei-me. Fiquei ao seu lado, mas com uma certa distância. Ela não se parece mais com aquela pessoa alegre de uns minutos atrás. Está parecendo a Ender, quando eu tinha acabado de conhecer ela.

Não tardou para eu descobrir quem eram os outros. Até que era bem óbvio: o restante dos participantes da MPM. De um minuto para o outro aquele salão imenso todo destruído pareceu ficar minúsculo pela quantidade de monstros que entrou. Tive que ficar colada na Ayame, se não provavelmente eu iria acabar perdida.

— Todos aqui? — Uma voz alta e firme veio de algum lugar.

Tentei procurar quem estava falando, para ver se eu conseguia entender o que estava acontecendo, entretanto nem subindo nas pontas dos pés eu conseguia ver algo, já que parece que eu sou a única baixinha aqui.

— Então já podemos voltar. Lembrem-se de não fazerem barulho. — Alertou a voz. Avisar isso é inútil, porque mesmo estando um batalhão de mobs aqui, nenhum deu um pio se quer.

Tomei um susto quando todos começaram a andar. Desorientei-me e quase caí no chão, se não fosse pela Ayame, que me segurou. No instante, olhei em seus olhos, bem no fundo deles. Continham uma sombra que mantinha sua inexpressão, mas seu pequeno ato de me ajudar me deixou um pouco comovida.

Continuavam a andar todos em uma direção. Ora dava alguns passos, ora parava.

Estou completamente confusa sobre o que está acontecendo. Não vou arriscar perguntar para a Ayame, já que antes, quando eu fiz uma simples pergunta antes de todos chegarem ela me tratou friamente.

Seria impossível tentar escapar daqui. Tem ’’escudos’’ feitos por monstros em toda a minha volta. Provavelmente eu iria cair no chão e não teria ninguém para me ajudar a levantar. Acabaria sendo pisoteada antes mesmo de entrar para o movimento.

Suspirei fundo em agonia. O que me resta é esperar... novamente!

Sinto-me tão sozinha desde que começou essas loucuras... Sinto até que a Ender está se afastando de mim de certa forma! Está bem, convenhamos que nós duas não nos conhecemos a tanto tempo assim, mas para mim, ela já era muito importante! Agh, se eu não tivesse me encontrado com a Bruxa...!

— ...

A... Bruxa? Até que... ela não aparece fez um tempinho... Será que ela está por trás disso tudo?

— Eu... Eu quero sair daqui! — Cochichei para mim mesma, fitando o chão e apertando minha mão uma contra outra.

Escutei alguns gritos vindos de bem longe. Percebi que começou a aparecer alguns fachos de luz roxa. Levantei minha cabeça, quando pude contemplar o enorme portal. O grande arco feito de pedras, suportando dentro um portal que levava para outra dimensão. Já tinha visto um antes, mas nunca um tão grande quanto esse. As pedras negras pareciam que estavam há muito tempo ali, porém continham um aspecto forte e assustador.

Minha garganta deu um nó. Eu os outros que estavam ao meu redor eram os próximos.

Recuei um pequeno passo para trás, porém a Ayame botou uma mão nas minhas costas e me empurrou até chegar mais próximo ao portal. Engoli seco, escutar todos esses gritos de sofrimento e dor de mais perto é horrível. E pensar que eu vou ter que entrar aí dentro é pior ainda. Saber que nesse mundo pessoas sofrem de verdade é uma coisa terrível. Eu sempre reclamava da minha vida, mas acho que nunca sofri tanto quanto esses seres. Também acho que nunca parei para pensar no sofrimento dos outros antes, a primeira vez que eu fui para o Nether, eu realmente não pensei no sofrimento dos que sentem, eu só queria me aventurar por aquelas terras novas.

Escorreu algumas lágrimas do meu rosto. Fiquei paralisada. Não quero entrar de jeito nenhum nesse portal.

Senti alguém segurando a minha mão de um jeito bem apertado. Não atrevi a olhar, só respirei fundo e dei três passos para frente e pressionei os olhos.

...

Uma luz forte atingiu minhas pálpebras, reabri os olhos com dificuldade. Andei passos para frente e tentei acostumar minha visão com o ambiente.

Percebi que minha mão já estava livre de novo, mas não encontrei a pessoa que a rodeava, já que todos já saíram dos lugares.

Enquanto eu procurava a cabeleira branca da Ayame para não me perder, pensei ter visto uma meio loira meio ruiva, mas em um piscar de olhos sumiu.

Acabamos por passar por dentro de um túnel. Consegui alcançar a Ghast. Fiquei em sua cola, mas não tão perto para não incomodar ela e não tão longe para me perder, já que parece que apareceu mais gente ainda.

Às vezes eu percebia alguns olhares em cima de mim. Quando eu ia checar, todos viravam as cabeças. Humpf, só me faltava essa. Bem, já que estou aqui e não vou poder voltar atrás, não vai adiantar de nada ficar cabisbaixa e sentindo medo. Tenho que passar por cima dessas pessoas!

Por incrível que pareça, não senti tanto calor, porém, mesmo assim tirei meu casaco e joguei por cima dos ombros. Nesse ato, acabou caindo um papel do bolso da frente. Fui abaixar para pegar, mas uma Magma Cube pegou para mim.

— Obrigada. — Agradeci, botando o papel dentro do bolço da calça.

Ela ficou quieta, mas continuou andando do meu lado. A mesma parecia estar assustada, andava com as mãos juntas perto do peito. Fitei-a por um instante. Cabelos bem vermelhos na altura dos ombros, olhos amarelos vivos iguais aos meus, e usava pouca roupa.

Ao sair do túnel, vários mobs começaram a voar, outros pegavam carona com os que voavam. Um Blaze segurou a Magma Cube que estava do meu lado e saiu flutuando. Coitada dela.

Alguém novamente pegou a minha mão, só que dessa vez de um jeito mais leve e cuidadoso. E dessa vez vi quem era: A Ayame.

— Suba nas minhas costas.

Fiz o que ela mandava. Negar não iria adiantar de nada.

Meus cabelos esvoaçam mais uma vez. Nunca tinha voado antes desse dia. Sempre sonhava em fazer isso, mas agora não sinto nada demais. Deve ser por causa dessa mistura de sentimentos...

Chegamos a outro portal, o qual os outros estavam entrando. Todo esse caminho para voltar novamente para a Terra?

— A dimensão do Nether é diferente do da Terra, um passo aqui, corresponde a vários na Terra. Então é mais rápido vir por aqui — Comentou a Ayame, percebendo a minha reação.

Esperei minha vez para entrar no portal, me empurraram até eu acabar ser a última da fila. Não tentei revidar, já que todos eram mais altos e amedrontadores que eu. Ainda não fui treinada, não posso sair brigando com todo mundo. Acabei por encontrar aquela Magma Cube.

Bem, já que estou arriscando a minha vida novamente que seja pelo menos para salvar a vida de inocentes. E caso o movimento não tenha realmente a missão de ’’monstros protegendo monstros’’, pode ter certeza que vou fazer de tudo para destruir com os planos deles. Faço isso pensando na Ender, já que ela protegeu o Creeper e eu todo esse tempo... Queria ser mais como ela. Queria conhecer mais ela, porque realmente sei bem pouco a respeito da mesma.

’’Minha vez... ’’

Aproximei-me do portal, fechando os olhos. Dessa vez fui eu que segurei a mão de alguém. E foi daquela Magma Cube, pois percebi que esta estava do meu lado, novamente assustada. Além dela, havia um zumbi que tinha um ar de mais velho. Não sei o porquê, mas lembrei rapidamente do Zazu...

Fechei os olhos, imaginando como deve ser o lugar. Quando os reabri, pude contemplar uma enorme área, com uma base que mais parecia uma fortaleza subterrânea (sim, estávamos novamente dentro de uma caverna). Pergunto-me sobre o que estão escondendo. Para que a base deles ser em um lugar tão escondido? Será que estão escondendo algo? ...

Na frente, várias árvores com enormes troncos e raízes grossas e com luzes azuis celestes presas aos galhos se espalhavam em ordens aleatórias, mas não tapando totalmente a visão da construção principal que ficava bem ao fundo. Existia um caminho de pedra que nós fomos informados por dois esqueletos — que pareciam que estavam nos esperando — para passarmos até adentrar o salão da fortaleza. Estranhamente não tinha ninguém por perto (tirando vários guardas que estavam de cautela), todo aquele pessoal foi na frente e sumiu. Alguns insetos como borboletas, mariposas e vagalumes voavam rente à relva. Percebi que todas as luzes eram azuis celestes, dando um ar mais sombrio.

Chegando lá, vi ainda mais guardas. Os dois esqueletos que nos acompanharam levaram-nos para um andar para baixo, um deles pegou o embrulhado de panos que continha o bloco de Terra das minhas mãos.

Era um lugar bem grande, com um grande altar rente a uma mesa que continha uma grande taça de prata. Quatro monstros encapuzados de preto permaneciam parados diante de todos, deixando a vista um enorme castiçal negro que suportava uma chama de cor vermelho vivo. Estavam dois de cada lado para que o fogo iluminasse parte do ambiente.

Toda a multidão estava lá, ajoelhada no chão com capas azuis escuras os cobrindo, esperando por algo, que logo descobri o que era: nós três. No momento em que entramos, um dos mobs encapuzados veio ao nosso encontro.

— Sejam bem vindos. Venham comigo, por favor.

Ele nos levou para frente do altar. À medida que nos aproximamos, pude perceber que continha uma faca em cima de um pano branco na mesa.

Nós três paramos um do lado do outro em frente à mesa. O mob que nos cumprimentou subiu novamente ao altar, e em alto e bom som, disse:

— Que se inicie o ritual de entrada.

Isso era para ser um ritual de entrada? Se isso é o de entrada imagine o de saída?!

Um segundo monstro de capuz preto deu um paço para frente, ficou um tempo em silêncio, nos observando.

Nesse meio tempo, fiquei observando um deles. Possuía um enorme cabelo, que não sei ao certo a cor, já que a luz da chama refletia nela. Não consegui ver seu rosto, estava totalmente coberto.

— Nesta nova ida à caçada dos maus elementos, conseguimos encontrar três novos jovens destemidos a arriscar a própria vida pelo deleite de salvar vidas inocentes — Mudei meu foco da visão apara o segundo monstro que começou a falar. — Peço que os antigos possam os acolher, já que agora, aqui é a nova casa deles, a nova família, a nova vida. Seus passados serão apagados. Então, para que já comece a nova mudança, ninguém mais poderá chamá-los com seus antigos nomes, se é que tinham. Como os humanos, mas não imitando eles, já que não precisamos temer deles, serão nomeados de acordo com nossos mais sábios membros.

O ’’orador’’ deu passagem — como se tivesse dando permissão — para que os ’’sábios’’ pudessem vir até nós três. Justamente a quem eu estava observando antes, veio em minha direção, e se posicionou em minha frente.

Só quem está sendo iluminado pela luz poderá saber seus nomes. Seus nomes serão ditos pelos mais sábios, isso quer dizer que eles sabem o que vão dizer, sabem que aquilo vai ter algum valor.

’’Só quem está sendo iluminado pela luz poderá saber seus nomes’’... Isso seria que pessoas que não são do movimento, não poderiam saber o nome dos membros, não é isso? Então, quer dizer que o verdadeiro da Ghast não é Ayame? Ou será que ela quebrou essa regra? Ou será que... essa frase tem um outro significado escondido? Para que todo esse suspense?

— Uma breve explicação para dar uma luz à suas cabeças será dita pelos sábios. Cada um tem seu jeito, cada um tem suas palavras. Bem, podem anunciar — O orador finalizou.

— Coragem — Iniciou-se com o zumbi, este ficou paralisado. — Por uma vida de medos, hesitações, somente na teoria, mas nada na prática.

Acho que ’’Coragem ’’ não é bem um nome, mas tudo bem. A próxima vai ser a Magma.

— Liliana. Sentimental, afetuosa, alegre. Sonhos perdidos que nunca mais voltarão, por causa de pobreza de espírito e vacilação por medo.

Finalmente chegou minha vez. Tentei encontrar um traço da pele do rosto da sábia que estava na minha frente, mas só conseguia enxergar tecido e cabelo. Ela esperou segundos — que para mim foram horas — para responder, diferente dos outros que falavam de uma maneira firme e alta, ela falou baixo, como em um sussurro abafado.

— Andr...

E se virou, voltando para seu lugar inicial sem dar explicações.

Meu coração começou a bater forte, como se fosse explodir a qualquer momento. Como ela pôde dizer isso?

Os outros dois também voltaram, então, o orador voltou.

— Para finalizar, a purificação de sangue. A faca representa o objetivo, o pano representa o novo caminho, a taça representa a união, e o sangue representa o sacrifício. Cada um de vocês pegará a faca, limpará com o tecido, cortará a mão e jogará o sangue dentro da taça. Depois irá dizer: ’’De hoje em diante meu corpo e alma estará pertencendo a um destino diferente. ’’

Primeiro começou com ’’o Coragem’’, um sangue escuro. Deram para ele um curativo, já que zumbi perder sangue não é algo bom.

Depois foi a Liliana. Admito que fiquei curiosa para ver como era o sangue de magma cube, mas não consegui ver pelo ângulo que eu estava.

A próxima sou eu. Por incrível que pareça, não estou aflita. Como eu pensei antes, vou estar aqui pensando na Ender, e acho que se ela estivesse em meu lugar, estaria firme e forte, sem medo e sem hesitação. E é exatamente assim que eu vou agir daqui por diante.

Dei um longo passo para frente. Peguei a faca e limpei sem ver a lâmina. Observei a minha mão direita relativamente pequena que nunca sofrera um corte antes. Com a ponta da faca, cortei onde está exatamente a ’’linha do destino’’ da minha mão e puxei um bocado a mais para frente desta. A minha ’’linha do destino’’ sempre foi curta, agora pelo menos eu ’’prolongo’’ ela.

Aproximei minha mão para a taça, e fechei fortemente o punho, fazendo pingar algumas gotas de sangue na taça.

— De hoje em diante meu corpo e alma estará pertencendo a um destino diferente. — Logo em seguida, voltei ao meu lugar.

O orador iria dizer as palavras finais, mas um dos esqueletos que guiaram eu e os outros dois apareceu apressado, sem fazer barulho, avisar algo. Agucei meus ouvidos e tentei prestar atenção para descobrir o que falaram, mas não foi necessário.

— Parece que encontramos um contratempo. Um invasor está tentando infiltrar na base.

Nesse momento, consegui escutar um barulho familiar a um teletransporte. Perdi o equilíbrio.

Olhei rapidamente para trás. E vi... A Ender segurando uma espada e com a roupa meio rasgada e ensanguentada (e já não estava mais com o vestido do casamento). Nunca a vi desse jeito. Ela parecia mais alta, mais amedrontadora... Estava... diferente. Não se parece mais com a Ender normal que conheço.

Todos que estavam no chão, se levantaram. Iriam atacar ela, mas uma ordem os parou:

— Parem! Ela veio aqui por uma causa, não impeça seus atos! — Uma voz... familiar percorreu nos meus ouvidos. Era a sábia que me nomeou.

Olhei em seus olhos. Não expressavam nada. Estavam sombrios e vazios, pior do que a alucinação que tive quando fui raptada.

A Ender ignorou a todos que estavam no salão e se teletransportou para minha frente. Pensei ter escutado um barulho de quando Endermans atacam, mas foi só uma impressão. Tive medo de olhar em seus olhos, agora que estão ainda mais pertos.

Ela, para meu espanto, não falou nada comigo. Largou a espada de ferro no chão, pegou a adaga da mesa, cortou seu próprio pulso e jogou uma única só gota de sangue negro na taça. A chama do fogo do castiçal se tornou maior e se movimentou diversas vezes.

— Faça-me um membro.