Ela... Ela vai entrar para o movimento? Isso quer dizer que eu não estou mais sozinha?

Um sentimento de alívio e felicidade atingiu meu peito, mas mesmo assim, estou com um certo receio... Ela está diferente. Não somente diferente no físico, mas algo me diz que também em sua mente algo mudou. A Ender só mataria para se defender ou proteger alguém, então... Ela acha que está me protegendo? Não sei... Estou confusa.

E também estou confusa pela voz da sábia. Soou familiar, mas não consegui prestar a devida atenção, porque eu estava focada demais na aparição da Ender.

Um silêncio reinou pelo salão. Dava para escutar somente as labaredas do fogo queimando. Ninguém teve coragem de soltar a voz.

— E-Ender... O que está fazendo? — Minha voz tremida surgiu timidamente ansiando uma resposta na qual não foi respondida.

Exatamente o monstro que eu temia que dialogasse veio ao encontro com a Ender. Não sei a razão para tanto medo, mas não tenho uma boa sensação para essa ‘’sábia’’.

— Se é de teu desejo, que assim seja.

Essa voz...

Nesse momento, toda a multidão se sentou. Os outros três monstros se enfileiraram um do lado do outro, e que estava falando continuou no lugar que estava.

Impressionei-me que ninguém se rebelou contra a decisão dela. Deixar que intrusa que atacou os guardas entrar sem mais nem menos? Tem algo que não está certo...

— Mesmo que tenha acabado com a maior parte de nossa defesa, não seria nada mais justo permitir sua entrada. — Ela retirou seu capuz, deixando a mostra seu longo cabelo e seu rosto!

Essa voz... É da bruxa!

— Guardiã — Seu tom se tornou mais rígido. — É assim que será chamada. — Virou-se para mim com um sorriso escárnio. — Será que você viu o...

(...)

Tudo de repente ficou negro.

Não consegui mexer meu corpo, nem ao menos sentir ele. O clima estava frio e seco com nenhuma brisa. O que me deu mais arrepios foi escutar um barulho de Enderman quando vai atacar. Esse rosnado angustiante sempre aterrorizou meus sonhos mais duradouros... ou melhor, meus pesadelos.

Meus olhos não encontravam nenhuma fonte de luz para que pudesse localizar aonde eu me encontrava. Fiquei olhando para cima à espera de alguma coisa acontecer. Acho desmaiei pelo corte na mão, que deve ter saído muito sangue.

Aos poucos começou a aparecer áureas roxas no meu campo de visão, o qual possibilitou enxergar algo em torno daquela área. Pude perceber que estava ainda na caverna, deitada no chão com os braços abertos. Torci ligeiramente minha cabeça na direção que vinha o som que me amedrontava.

En... Ender?

Ela estava encostada na parede, estranhamente se contorcendo, com seus joelhos flexionados e as mãos se movimentando em torno do rosto. Surgiam várias áureas dela, e saía uma estranha fumaça de sua boca (além de fazer o temível som). Parece que está sofrendo...

Fechei novamente os olhos com força. Não quero ver isso.

(...)

Abri novamente com esperança de ter tudo acabado. Meu corpo levantou, dando um impulso para frente, me fazendo sentar no chão. Aspirei pela boca e inspirei parecendo que estava faltado ar. Olhei em volta.

— L-Liliana? — Lembrei-me do nome da Magma Cube que se encontrava ao meu lado.

— Não me chame assim... por favor — Pediu ela com voz baixa e fraca, pressionando uma mão contra a outra.

Pergunto-me o motivo dela ter entrado para esse movimento tão... macabro. Ela me parece tão frágil e inocente... imaginar ela morrendo é mais fácil do que imaginar ela matando pessoas.

Encostei-me na parede. Observei que o Coragem também se encontrava naquela ala, acho que são para os novatos, ou algo do tipo, mas a Ender não está aqui. Suspirei fundo.

Continuo tendo alucinações. Espero que passe logo.

Balancei minha cabeça de um lado para o outro e dei alguns tapinhas de leve no meu rosto. Estranhamente ainda não consigo sentir meu corpo, acho que realmente isso é alguma coisa a ver com aquela bruxa. Desde que ela apareceu, na verdade, não sinto nem mais gosto de comida!

— Por que... você esstá aqui? Nesse movimento? — Perguntei.

— ... Não tive escolha — Ela suspirou. — Estavam ameaçando... a minha família. Meu pai era do movimento, mas ele se apaixonou pela minha mãe e fugiu. Acabou quebrando a promessa de não poder ter família. Encontraram meu pai e obrigaram-no a voltar, se não nos atacariam, nos chamaram até de maus elementos! ... Mas meu pai está doente e impossibilitado de lutar! Ele acabaria morrendo nos treinos! Tentamos explicar isso a eles, mas não quiseram saber... Então eu fugi de casa e pedi que trocassem meu pai por mim... Para o bem dele e da minha mãe que está grávida — Seus olhos ficaram marejados... de lava.

Fiquei impressionada que ela nem tentou recusar a minha pergunta. Acho que ela está com medo e quer desabafar com alguém.

E esse movimento? Atacar pessoas inocentes? Isso a Ayame não falou! Parece que tem algo escondido nisso tudo.

— Lilly...? — Falei timidamente.

— O quê? — Se assustou.

— Não quer seja chamada de Liliana... Sserve Lilly? — Perguntei tentando fazê-la esquecer um pouco do assunto.

Ela enxugou os olhos e deu um pequeno sorriso fraco.

— E você?... Por que está aqui?

— Eu...? — Refleti um pouco. — Não ssei...

Realmente não sei mais o motivo do porquê que estou aqui.

Fiquei contemplando a parede, até que um esqueleto veio correndo, nos chamando para algum lugar. Nós três seguimos ele para um grande salão, na qual vários e vários mobs se encontravam, e a cada minuto aparecia ainda mais mobs.

Alerta branco! Os maus elementos retornaram para a vila, só que dessa vez em grande número! Precisamos da presença de TODOS para acabar de vez com eles! — Uma voz firme falava ao longe. — Peguem suas armas e vão!

Senti alguém pegando a minha mão. Vi que era a Ayame. A mesma me puxou para o portal e fez todo aquele trajeto até a chegada novamente para a vila. Não vi o tempo passar de tão rápido que chegamos ao local. Não fiz nenhuma pergunta a ela. Permaneci calada todo o caminho.

Não entendo o motivo de levarem os novos sem nenhum treinamento para a guerra... Só servem para distração e para morrer primeiro...! Será isso o intuito de levar os novatos?

Quando desci de suas costas, ela me entregou uma pequena adaga, um pacote de TNT’s e um isqueiro. Guardei-os dentro do casaco.

— Não conseguiu ter sorte. Infelizmente no seu primeiro dia já teve uma invasão. Tente não morrer, e se for, exploda para matar ainda maus elementos.

Acho que a Ayame só era legal comigo no começo para me atrair para o movimento. Humpf, propaganda enganosa.

Ela saiu voando, a procura de ‘’maus elementos’’, como eles mesmos dizem. Pergunto-me quem são essas coisas ruins. Para mim, na verdade os maus elementos são eles!

Vi a confusão e o caos se espalhar diante de meus olhos. Vários membros atacavam qualquer um que aparecesse. Acho que estão ficando desesperados. O pior foi quando começaram a atear fogo nas residências.

Caí no chão com um esbarrão que me deram. Levantei-me rápido e pus a botar as minhas pernas para correr em disparada para a casa do Zazu.

Chegando lá, a casa estava em chamas. Corri lá dentro para ver se tinha alguém, mas o máximo que pude ir era até a sala, o resto estava impossibilitado pelo fogo.

Então o que me restava era fugir dali. Saí da vila com a visão embaçada por conta das lágrimas. Encontrei a Lilly tremendo com uma espada na mão, enfrentado algo que não sei descrever como é. Essa ‘’coisa’’ foi atacar ela, mas corri o máximo que pude e a empurrei.

Escutei um barulho de teletransporte.

(...)