Tudo se escureceu novamente. Foi como uma troca de cenários, já que eu não sei o que aconteceu depois de eu ter desmaiado. Acho que eu devo ter apagado com a queda. Espero que pelo menos eu tenha salvado a Lilly.

Escutei um barulho de rodas sendo arrastadas pelo chão. Daí finalmente comecei a prestar atenção no que acontecia ao meu redor. Eu estava presa em um tipo de jaula, sendo carregada em uma carroceria. Só eu estou sendo transportada. Deve ser por que a Magma tenha fugido, espero.

O veículo passava sem interrupções pela vila. Via tudo como um flashback. Tudo virou um caos. Os membros do MPM piraram e estavam atacando os ‘’elementos ruins’’ e os cidadãos também. Foquei minha visão em um dos elementos ruins. Pude perceber que era um humano. Certamente há um tempo eu não consegui entender o que era aquele ser que encontrei por causa das lágrimas em meus olhos e pela armadura estranha em que ele estava dentro. Parece que todos os humanos estão vestindo um negócio desses.

Respirei fundo. Tudo aquilo se passava como se fosse um filme. Nada daquele caos chegava à carroceria que eu me encontrava, mas eu podia ver tudo de onde estava.

Pergunto-me de onde todas essas pessoas apareceram. Raramente se encontra um humano nessa área, por isso os mobs podem residir em paz aqui... Bem, podiam até esse momento. Até o momento em que começou a acontecer todas essas maluquices e aparecer àquela bruxa!

Não conseguia derramar mais nenhuma lágrima, não sentia mais meu rosto.

Fechei os olhos para não precisar ter que ficar vendo todas aquelas cenas de horror. Só os reabri quando o móvel parou bruscamente. Eu estava em algum tipo de construção com vários corredores, como se fosse um labirinto.

— Sim, acharam... — Escutei a voz da bruxa, seguido de algumas risadas. Sabia que ela tinha algo a ver com isso!

Dei um murro no chão. Continuei quieta para escutar melhor.

— Não contava com minha astúcia? — Perguntou ela, com um riso.

— Demorou... — Uma segunda (masculina) voz apareceu.

— Mas está feito! Agora é só esperar que eles venham e o caos domine.

— Tudo bem, tudo bem...

— Que foi Hero? Algo aconteceu?

Engoli seco. Escorreguei de sem querer o cotovelo em que eu me apoiava, fazendo um leve som metálico.

— Quer dizer que zumbis são os melhores? — Perguntou com um tom de ciúmes.

— Heheh, não se preocupe com isso — Escutei um estalo de beijo. — Vamos, temos que encontrar um bom lugar para assistir tudo de perto.

Então escutei barulho de passos até que sumissem. O que quis dizer isso tudo? Caos? Quem são as pessoas que eles esperam vir?... E quem será a pessoa que a bruxa estava falando? Se for realmente quem eu acho que é, eu já posso me considerar uma Creeper morta.

Levantei-me lentamente e tentei achar uma maneira de escapar. Forcei as barras com os pés; tentei passar entre as grades; tentei forçar o teto da jaula; tentei achar uma parte mais fraca para eu poder quebrar; Nada dava certo. Chutei a barreira metálica com raiva.

Deixei uma última opção para o final, na qual eu não queria usar, já que poderia chamar muita atenção: gritei por socorro. Chamei o Zazu, a Ender, o Creeper, o Spider e até os meus pais!

— Pare com a gritaria! — Uma voz seca me assustou.

Virei-me e deparei com os dois esqueletos-guardas do MPM.

— A-Ah, que susto! Vo-Vocês vieram me libertar? — Perguntei com calafrios.

— Calada.

Os dois entraram na carroceria e começaram a pilotar ela. Novamente eu estava escutando o som das rodas batendo contra as pedras do chão e os trotes do cavalo.

Realmente não entendo mais nada. Fiquei paralisada. Ao meu redor só conseguia ver um rápido movimento de borrões, mas aos poucos foi substituído por uma vista aterrorizadora. Vários humanos se encontravam em um grande estádio (acho que os que sobrevieram), muitas cabeças e corpos de monstros espetados em varas ou espalhadas pelo chão. Alguns outros mobs estavam acorrentados e ajoelhados em um canto. No centro havia um grande altar (que me lembrou do altar do MPM) com um enorme caldeirão de lava. No teto havia duas jaulas presas. Uma com coragem e a outra com a Lilly...

Todos estavam com caras que esperavam algo. Logo descobri que EU era a peça principal daquilo tudo. Botaram a minha jaula presa a uma corrente que estava em cima do grande caldeirão. Todos aplaudiram e gritaram menos um humano que se encontrava bem ao fundo, sentado em um trono, usando um capuz que impedia ver seu rosto.

Aproximei-me das grades e segurei as mesmas. Gritei novamente por socorro. Olhei para a Lilly, ela estava paralisada, sentada no chão sem nenhuma expressão.

— Nós vencemos essa vila, e vamos conquistar o resto do mundo! — Um humano qualquer começou a falar. — Com o nosso líder, nós podemos combater qualquer um! — Ele apontou para a pessoa que estava sentada no trono.

Todos continuavam gritando. Olhei para o homem no fundo. Continuava o mesmo.

— Alguém... me ajude — Minha voz saiu tão fraca que ninguém poderia escutar.

O povo novamente gritava... mas agora era de dor. Algo rápido estava os atacando.

— Ender! — Gritei seu nome.

Pude ver ela no meio da multidão. Vi que vários outros monstros também apareceram para ajudar, inclusive o Spider junto com o Creeper, e o Zazu... junto com a Shadow.

Uma fumaça começou a aparecer. Não consegui ver mais nada quando a neblina cinzenta tomou conta do salão. Escutei um barulho de correntes arrebentando. Vi que a jaula do Coragem tinha caído. Logo depois foi o da Lilly. Se a minha arrebentasse, eu viraria sopa de pólvora.

A neblina começou a desvanecer, pude ver a área de combate toda ensanguentada. A única coisa que fiz foi tentar procurar meus amigos com os olhos. Os encontrei perto de uma saída. A Lilly estava com eles, abraçada ao Spider, tremendo.

Tentei olhar nos olhos da Ender para chamar a sua atenção. Quando foi possível, uma luz branca forte começou a aparecer. Observei que vinha da direção do trono, na qual o homem continuava sentado e intacto. Duas figuras tenebrosas saíram de trás da cadeira.

A Bruxa e um humano sem pupilas.

Ela olhou para mim, retirou uma adaga de dentro de sua roupa e apontou para o pescoço do humano, na qual não interagiu.

Voltei minha visão para a única coisa que me importava. Clamei em silêncio por ajuda.

Minha audição captou um barulho de flecha sendo solta pelo ar. Foi tudo como câmera lenta. Os últimos momentos em que me restavam...

Vi ao longe a Ender gesticulando com a boca ‘’Me desculpe’’. E saiu correndo com os outros.

A flecha ultrapassou a corrente velha e gasta, e quebrou-a facilmente. A pequena jaula em que eu estava caiu na lava...

...

— ENDER! — Gritei, impulsionando meu corpo para frente.

— Nh... Fica quieta aí, Cupa — Reclamou o Creeper, com uma voz sonolenta.

— ...? — Olhei em volta.

Eu... estou na caverna? Isso... foi um pesadelo?