[POV’s ENDER]

Depois da frustração de não conseguir reencontrar o misterioso humano que conheci debaixo da árvore, tomei cuidado para não entrar em contato com a neve e segui o caminho. Retornei para a caverna, na qual encontrei todos adormecidos em exceção a Cupa.

Encontrei a Creeper encostada na parede com suas pernas flexionadas junto ao corpo e com certa distância dos meninos. Ela parecia meio chocada ou algo do tipo.

— Cupa? — Chamei pelo seu nome, ela pareceu se assustar.

Ela deu um longo sorriso aberto. Levantou-se e foi ao meu encontro, me dando um abraço apertado.

— Ender... — Afogou seu rosto em meus braços. — Você esstava aonde?

— Fui procurar alimento.

A Cupa se afastou, visualizou o céu e se voltou para mim com uma cara irônica.

— Foi busscar comida? Demorou horas para isso? Você ssaiu daqui... — Ela fez uma pausa e pensou — ... de manhã! Perdeu-se por acaso? — Então cruzou os braços.

— Desculpa, realmente demorei bastante... — Pedi perdão em voz baixa.

Falar que fui procurar comida foi só uma desculpa. Na verdade eu admito que fiquei um pouco com ciúmes de ver todos eles juntos se divertindo na neve enquanto eu ficava isolada na escura caverna. Lembro-me também que vi um par de olhos brancos... Quando fui ver o que era, não havia mais nada e meus amigos me olhavam de um jeito estranho...

Eu ''escapei'' um pouco daquele ambiente indo para longe... E acabei por me aventurar, conhecendo novos seres. Pensando bem, não entro em aventuras há muito tempo. Seguia minha vida pacata e solitária, sem conseguir encontrar resultados a minha busca de quem matou meus pais... até encontrar o Creeper.

— Ah... Esstou parecendo até a minha mãe, foi mal... — Ela botou a mão atrás da cabeça e forçou um sorriso. Logo depois ela ficou fitando o horizonte por alguns segundos sem expressão.

— Está tudo bem com você? — Perguntei. Talvez ela acabou relembrando dos pais.

— E-Esstou ssim... — A Cupa olhou em meus olhos, pensou um pouco e suspirou. — Para falar a verdade, estou muito confusa.

— Pode contar para mim se quiser — Apoiei minha mão em seu ombro, apertando de leve para demonstrar segurança.

— É que... eu tive um sonho... ou melhor, um pesadelo. Para mim tudo aquilo estava sendo real até eu acordar. Aconteceram umas coisas que me deixaram ''abalada'', dizendo assim. — A Creeper cochichou, parecendo estar com medo de algo, depois olhou para os meninos, que permaneciam adormecidos.

— Prefere ir para outro lugar? — Perguntei.

A baixinha somente assentiu com a cabeça. Fomos até ao topo da montanha que sempre vou ultimamente.

— Está serenando, é melhor botar o capuz — Puxei o capuz dela e ajeitei. Tirei seu cabelo que estava caindo em seu rosto.

— Pode parar, ''mãe'' — Ela riu.

''Mãe''?

Um frio passou por minha barriga. Parei imediatamente o que eu estava fazendo. Recolhi minha mão e botei sobre o peito.

— D-Dessculpa... — Ela logo se desculpou observando minha expressão.

— Não, tudo bem... — Botei meus dedos sobre minha testa e os escorreguei até o queixo. Respirei fundo.

— E-err... No meu sonho você cantava rap muito bem, ssabia? Heh... — Ela balbuciou rápido tentando quebrar o clima tenso.

— Bem, conte-me sobre seu pesadelo... — Troquei de assunto. Sentei-me no chão.

— Ah, ssim — A Cupa sentou-se ao meu lado. — Apareciam vários monstross e pesssoas que eu não conhecia.

— Os seres que você viu são reais, você provavelmente já os viu em algum lugar. O cérebro guarda a imagem desses seres, mesmo que você não se lembre mais.

— Hm... Eu tinha várias ''ilusões'', dizendo assim, que me asssustavam...

— A fonte dos pesadelos são uma serie de pensamentos negativos que quando armazenados em grande escala tomam conta dos pensamentos enquanto se dorme em forma de imagens e sons criados pelo cérebro... — Apoiei meu queixo na mão. — Talvez você tenha ficado preocupada ou com medo demais de algo e acabou virando pesadelo.

A Cupa flexionou os joelhos e envolveu suas pernas com seus finos braços. Ficou em silêncio olhando para o horizonte.

— Também tinha um movimento estranho com membros e rituais estranhos... e... Agh! Eu não consigo lembrar! — Ela botou as mãos no rosto. — Está tudo ssumindo da minha mente!

— Tudo bem, isso acontece. Normalmente nos esquecemos de quase todo o sonho — Tentei acalma-la.

— Mas as duas únicas coisas que me lembro perfeitamente, são o que me deixam maiss para baixo... Parecia que todo mundo não gosstava de mim... Que todoss esstavam contra mim... Até messmo você — Ela ficou cabisbaixa.

— Não fica assim... Isso nunca aconteceu, ouviu? Eu, Creeper, Zazu e Spider gostamos muito de você. E pode ter certeza que nunca vou estar contra você. Sempre vou estar ao seu lado.

— Jura? — Ela olhou para mim com os olhos brilhando e com o dedo mindinho para cima e os outros fechados.

—... Juro — Fizemos uma jura de dedos.

Ela sorriu e esticou suas pernas. Senti uma brisa me atingindo e esvoaçando meus cabelos.

— ...Qual é a outra parte? — Perguntei lembrando que tinha duas. A Cupa fechou os olhos com força.

— Foi quando... — Ela murmurou tudo embolado.

— Quando o quê? — Perguntei.

— Foi quando... — Ela continuou murmurando tudo embolado.

— Ainda não entendi.

— Foi quando teve o casamento do Zazu... — Ela cochichou bem baixo, mas eu pude escutar.

— Fala alto, criatura — Fingi não ter escutado. Controlei meu riso.

— Quando o Zazu ia sse casar! Esstá bem? — Cupa estava quase gritando agora. — Eu admito! Ssenti ciúmess! — Ela cruzou os braços e fez birra.

Eu ri e abracei a baixinha, bagunçando seu cabelo. Ela não resistiu e riu comigo, devolvendo o abraço.

— Como ssão seus sonhoss? — A Creeper perguntou animada.

— Hm... Não sei — Respondi séria.

— Como não? — Cupa ficou indignada.

São poucos e bem rápidos os meus sonhos. Tem vezes que os confundo com a realidade, então é ainda pior ainda de saber. Não gosto de relembrá-los, pois normalmente são torturantes para mim.

— Sonho bem pouco, talvez até nunca tenha sonhado — Tentei não prolongar o assunto.

— Então como ssabe tanto ssobre o asssunto? — Perguntou curiosa.

— Meu irmão me contava muito sobre isso. Ele sempre me contava curiosidades que ele escutava em algum lugar e sempre dizia que queria ter um sonho.

— Você tem um irmão? Não ssabia! Aliáss, você nunca conta nada sobre sua vida.

— Sim. Eu tenho... ou tinha. Ele desapareceu faz anos — A Cupa ficou calada e fez novamente uma cara de quem falou coisa errada.

— Dessc-

— Não precisa se desculpar, eu até gosto de me lembrar do meu irmão — Escutei um suspiro de alívio saindo dela.

Deitei no chão para observar as constelações. A estrela que meu pai apelidou de ‘’Ender’’ ainda continuava ser a mais brilhante de todas.

Hm... Isso me fez lembrar de uma dúvida minha de um tempo atrás.

— Cupa...

— Hm?

— Teve uma vez que você me chamou de ''Andr''... Aonde foi que você ouviu esse nome?