love.

Chapter 3: I Want to Hold Your Hand


♫ Oh yeah, I'll tell you something

I think you'll understand

When I say that something

I wanna hold your hand...

"Apesar de todo sofrimento e angustia que eu ainda estava sentindo, das lágrimas que ainda queriam descer, da tristeza, da decepção, eu ainda conseguia ver as cores nas coisas. Conseguia achar graça em besteiras, e conseguia sorrir sem perceber. Minha vida finalmente voltou a fazer sentido com aquela nova amizade... Pois eu percebi que tudo fica mais fácil quando você tem alguém do lado para segurar na sua mão."

— Magali. Fev05

[...♥...]

Quase três semanas se passaram depois do ocorrido com o namoro de Magali, e mesmo ainda meio pra baixo, não demonstrava isso quando estava com Do Contra. Eles começaram a sair muito mais vezes e a falar horas pelo telefone conversando sobre bobagens. Aquela amizade começou a crescer a cada dia. Com todos os seus amigos fora, eles eram os únicos da turma que estavam no bairro.

Era quinta-feira de um feriado, e Magali foi obrigada a acordar cedo por causa do calor. Aquela era a época do ano que ela mais odiava, caso estivesse longe da praia. Estava suando horrores na cama, e decidiu tomar um banho naquele mesmo instante pois já não estava aguentando mais, achou que fosse derreter a qualquer momento.

Trocou de roupa e prendeu o cabelo em um alto rabo de cavalo. Enquanto descia as escadas se abanava com as mãos, nem o banho ajudou, continuava sentindo que estava dentro de um forno.

— Meu deus... Que calor é esse? – perguntou a morena para mãe ao entrar na cozinha.

— Ouvi no jornal que hoje será o dia mais quente do mês – disse Lili.

— Do mês ou do ano? – disse ela enquanto se abanava com as mãos.

— Toma esse suco. Guardei no colegador pra quando você acordasse.

Magali pegou imediatamente e bebeu. Terminou de tomar o seu café da manhã, e pensou em tomar mais uma chuveirada por algumas horas.

— Seu pai está lavando o carro, por que não aproveita e vai ajuda-lo?

A comilona não achou uma boa ideia de primeira, pois estava sem vontade nenhuma de fazer esforço naquele dia tão quente. Porém, fazia tempo que não ajudava o pai em algo, decidindo-se então ir até lá.

Abriu a porta do lado de fora e encontrou Seu Carlito de calção com a mangueira ligada, lavando seu vermelho Volkswagen polo 2011.

— Oi pai – anunciou-se ela colocando as mãos no bolso, se aproximando dele.

— Oi filha, dormiu bem?

— Mais ou menos... esse calor me tirou da cama.

— A mim também, por isso aproveitei pra vim lavar o carro.

— Posso te ajudar?

— Claro! – disse ele colocando a mangueira para o lado para não molha-la. – Começa passando essa bucha aqui atrás.

Magali fez o que o pai pediu e começou a esfregar o carro, sentindo o ambiente refrescar. O calor estava melhorando graças aquilo. Seu Carlito então pediu para que ela esperasse pois ia fazer sei lá o que na varanda.

Terminando de passar o sabão pelo carro, pegou a mangueira atrás dela e enxaguou.

— Vai sair pra onde hoje dona Magali? – perguntou uma voz conhecida atrás dela. Se virou e viu Do Contra deslizando devagar com seu skate.

— Pra lugar nenhum, por que?

—Ué, tem outro motivo pra você estar lavando o carro do seu pai sem interesse algum?

— Claro que tem... estou com calor – disse passando a mangueira pelo carro.

— Pior que eu também tô – se abanou com a camisa. – Nem aguentei ficar dentro de casa.

— Só assim pra você acordar antes do meio dia – disse Magali rindo.

— Impossível dormir em paz desse jeito.

Magali continuou rindo, mas de repente parou e o encarou por alguns segundos. Teve uma ideia.

Abrindo um sorriso malicioso, perguntou:

— Você está com calor?

— Estou... – respondeu ele franzindo o cenho não entendendo o motivo daquela pergunta tão óbvia.

— Então, por que não se refresca um pouco? – Magali apontou a mangueira em direção ao garoto que quase caiu com o susto que levou.

Magali soltou uma gargalhada, vendo o estado do amigo. Do Contra não ficou chateado, pelo contrário, aquilo tinha sido bem refrescante, mas não queria demonstrar que tinha ficado feliz com sua atitude. Aproveitou que tinha um balde cheio de água perto dele, e que a comilona estava ocupada demais rindo, para se vingar.

Se aproximou e jogou toda água em seu corpo.

Após o choque, ela abriu a boca incrédula, mas continuou dando risada. Tentou pegar a mangueira que tinha soltado no chão para descontar, mas ele foi mais rápido e correu em direção a ela, segurando seus braços, para evitar tomar mais um banho.

Em um ato de pura sorte, ela conseguiu se soltar por alguns segundos e pegou o objeto no chão que ainda jorrava água. Ele como o mais forte, tentou tirar a mangueira de suas mãos. Aquela guerrinha só serviu para deixa-los ainda mais molhados do que já estavam. Apesar disso, riram como nunca.

Seu Carlito apareceu, dando uma leve tossida, fazendo com que os dois se assustassem e virassem a mangueira para direção do homem. Acabam molhando-o também, deixando Magali ainda mais apreensiva achando que lavaria uma bronca por estarem desperdiçando água. Porém, ele apenas sorriu.

Os dois se aliviam ao ver a expressão dele e tornam a rir.

— E aí Mauricio, tudo bem?

— Oi Seu Carlito – respondeu o moreno, sem graça. – Foi mal pela bagunça.

— Vou perdoar vocês dessa vez por estar calor... – Do Contra olhou para Magali e eles riram envergonhados. – E aí filha, já passou sabão no carro?

— Já. Só falta terminar de enxaguar.

— Eu voltei pra dizer que vou ter que ajudar sua mãe aqui dentro. Tudo bem se continuar sozinha?

— Eu posso ajudar... – se ofereceu Do Contra.

Seu Carlito encarou os dois meio desconfiado, provavelmente achando que eles iam causar outra bagunça, mas resolveu ceder.

— Ok – disse ele, deixando os dois felizes. – Mas é pra lavar o carro.

— Pode deixar – disseram ao mesmo tempo.

Quando seu pai desapareceu, Magali jogou o balde vazio para o moreno.

— Ei!

— Começa a encher – disse ela em um tom de autoridade.

Começa a encher – o garoto imitou a voz da comilona e mostrou a língua, fazendo ela rir novamente.

Eles passaram a manhã inteira lavando o carro de Carlito e sem perceber, o calor já tinha ido embora completamente. Magali notou todo o trabalho que ia ter se tivesse feito tudo aquilo sozinha, e agradeceu a deus por ele ter aparecido justo naquele momento.

[...♥...]

Após receber dez reais cada um, como recompensa pelo trabalho cansativo, porém bem feito, eles saíram pela pracinha para descansar.

— Quando você for lavar o carro do seu pai outra vez, me avisa pra nem passar por perto da sua casa... – disse o moreno deitando embaixo de uma árvore.

— Eu acho que valeu a pena à beça. Consegui me livrar do calor e de quebra ganhei recompensa... – ela sentou ao seu lado terminando seu picolé de morango.

— É, pode ser. Mas tô cansadão... – disse, fechando os olhos.

— Vai dizer que não foi divertido?

— Até foi... mas justo hoje eu não poderia me cansar. Tenho que continuar praticando minhas manobras lá no skatepark... quero vencer esse campeonato custe o que custar.

— Pra falar a verdade eu nem sabia desse seu talento. Por que nunca contou pra gente?

– Não é com se fosse normal sair por ai contando as coisas que sabemos fazer.

— E desde quando você é normal?

— Eu sempre fui normal.

— Então gosta agir do contra de propósito? – riu ela.

— Não... eu gosto de contrariar as pessoas, mas eu me considero normal, apesar da maioria não achar isso.

— Você é estranho... – comentou ela se encostando no tronco da árvore.

— Graças a deus.

Magali riu baixo por alguns instantes e fechou os olhos para sentir aquela brisa fresca.

— E você? – disse ele de repente, se sentando para ficar na mesma altura que ela. – Qual o seu talento? Quer dizer... todo mundo sabe que você é a maior nerd da sala, mas isso não conta...

— Bem, eu nunca parei pra pensar nisso... acho que... patins talvez?

— Já te vi andando algumas vezes com o Cascão, você realmente manda bem.

— Obrigada – respondeu, tentando não corar. Receber elogios de Do Contra era estranho, tinha que admitir. – Gosto de desenhar também... mas não acho que chegue a ser um talento.

— Só vou poder confirmar quando ver.

Eles sorriram um para o outro, e depois Do Contra voltou olhar para o céu. O dia estava quente, mas debaixo daquela árvore ali, após um banho de mangueira, tornou-se definitivamente fresco.

— Eu vou pra casa antes que pegue no sono – disse ele se levantando.

— Já?

— Sim, marquei com os caras lá na pista às três horas... ainda tenho que passar em casa pra almoçar. Graças a você perdi a manhã toda... – ele sorriu crente que ia iria ouvir uma bronca naquele exato momento.

— Graças a mim?! – perguntou chocada, fazendo Do Contra rir pelo nariz. – Do que você tá rindo, hein? Eu não te obriguei a me ajudar não, tá? E outra, você até ganhou dinheiro por isso, ta reclamando de que?

— Heeeeey! Eu tô brincando com você garota – disse ele no meio dos risos. Era tipico da comilona fazer aquilo quando se sentia ofendida. – Meu deus que drama...

— Hunf! – ela olhou para o lado cruzando os braços, irritada. – Não é drama nenhum.

— É sim, você não consegue perceber quando faço ironias, sua magricela? – perguntou bagunçando o seu cabelo.

— Ei! – disse Magali empurrando sua mão para longe dela, começando a arrumar o que ele tinha estragado.

— Você fica tão linda com raiva... – Do Contra sorriu de lado, deixando Magali completamente envergonhada e sem saber o que responder.

É claro que com o tempo a beleza de Magali pareceu ficar meio evidente para o moreno depois que eles começaram a se aproximar, só que era a primeira vez que ele lhe elogiava. Soou estranho ouvir isso, principalmente pra ele que disse em um ato totalmente impulsivo. A comilona estava realmente corada, apesar das brincadeira e ironias que ele sempre fazia, dessa vez pareceu que ele estava falando sério.

— Er.. E-eu vou indo nessa – disse ele ao perceber que falou besteira.

— Ahm...o-ok.

— Umas cinco horas da tarde eu já devo estar em casa, te ligo quando chegar.

A garota assentiu com a cabeça, e ele se virou para ir embora, também meio envergonhado com que aconteceu. Se culpou várias vezes pela sua atitude, e torceu para que isso, Magali também tivesse levado na brincadeira.

[...♥...]

Já eram dez para as sete. Magali já tinha feito tudo naquele dia. Ficou na internet, leu seis capítulos de um dos seus livros favoritos, assistiu dez episódios de Friends, cochilou, acordou, comeu, tomou banho, e Do Contra ainda não tinha dado sinal de vida. Ele disse que iria ligar para a comilona quando chegasse em casa, que seria as cinco horas, mas não tinha mandando sequer uma mensagem. Ela olhava para o seu visor de dez em dez minutos. Havia mensagens de várias pessoas, menos dele. Quando seu relógio marcou sete e meia, começou a ficar preocupada com o seu silêncio e decidiu ligar.

Discou, chamou, chamou, chamou... Caixa postal. Estranhou e tentou novamente, chamou de novo, mas parecia que ele não ia mesmo atender. Sua preocupação aumentou, onde será que tinha se metido, afinal? Do Contra não ia pra lugar nenhum sem celular, muito menos pra pista de skate. Maldita hora que eles resolveram ficar tão amigos. Sua proximidade com ele era tanta que até quando ele não ligava, ficava tensa. Resolveu então ligar para Nimbus, o irmão dele.

— Ai... será que eu devo? – Magali hesitou por uns instantes.

Tudo bem que ele tinha sumido, mas poderia ter acontecido mil coisas, como por exemplo ter esquecido o celular em casa, estar no modo silencioso, ou até mesmo ter ficado um pouco mais tarde com os amigos, praticando. Ligar para o irmão dele era um pouco demais, o que ele iria pensar?

Procurou Nimbus nos contatos e ligou. Sim, ela era doida mesmo. Mas estava preocupada, oras. A culpa era dele de ter prometido que ia ligar. Se ele não tivesse falado nada ela estaria de boa em casa, sem preocupação, sem nada.

Para a sua sorte, Nimbus atendeu.

— Alô?

— Oi Nimbus, tudo bem?

Magali? — ele surpreso do outro lado da linha. – Tudo sim, e você?

— Tudo. Er... O DC tá com você? É que eu to tentando falar com ele e não consigo.

— O DC? Ah.. Ele teve um pequeno acidente com o skate... A gente teve que levar ele no médico.

— Acidente? Medico? Como assim? – se desesperou.

— É, não foi nada demais não. Foi só uma torcida de leve, ele já está em casa.

— Ele tá do seu lado? Posso falar com ele?

— Agora ele está tomando banho, mas eu aviso que você ligou e...

— Não precisa. Valeu Nimbus!

Magali desligou o aparelho e correu até as suas sapatilhas, calçou e gritou avisando que ia sair para os seus pais que estavam no andar de cima. Sem esperar pela aprovação, saiu às pressas de casa.

Sabia que sua preocupação não era em vão. Alguma coisa lá dentro lhe dizia que tinha acontecido alguma coisa e ela estava certa. Odiou o moreno por alguns segundos por deixa-la naquele estado, e culpou a si mesma por não ter acompanhado ele naquele dia. Chegando em frente a casa do garoto que não era muito longe da sua, tocou a campainha, meio nervosa.

— Magali? – Nimbus pareceu novamente surpreso com a chegada da comilona.

— É, sou eu. Cadê ele?

— Está no quarto, quer entrar? – o magico riu do jeito que a garota se encontrava, dando passagem. Ele não estava entendendo muita coisa, afinal até onde sabia, Magali nunca foi tão próxima de DC. Talvez pudesse esperar a visita de Mônica, mas da comilona não.

Sem responder, ela entrou rapidamente.

— Pode subir, o quarto dele é a segunda porta à esquerda.

— Valeu Nim! – ela depositou um beijo na bochecha do garoto que sorriu tímido.

A porta que Nimbus lhe falou, estava entreaberta. Ao se aproximar lentamente pôde escutar baixinho a música dos Beatles... Era fã deles, e não demorou muito pra perceber que estava tocando "I wanna hold your hand".

Ela bateu na porta e esperou. Ouviu um murmuro do outro lado em resposta e abriu devagar. Encontrou o moreno deitado na cama com pé direito enfaixado. Ele estava sem camisa, usando apenas uma bermuda cinza, seus cabelos estavam molhados, e podia sentir o perfume dele de longe.

De repente seu celular começou a tocar e eles se assustaram juntos. Do Contra por não ter percebido antes a presença dela, e Magali por estar distraída olhando pra ele.

— Ué – ele desligou o celular ao vê-la. – Estava ligando pra você agora.

— Eu vim ver como você tava... – disse ela se aproximando.

— Peraí... como sabe que...?

— Estranhei seu sumiço e te liguei, mas como você não atendeu resolvi ligar pro Nimbus – disse sorrindo envergonhada.

— Você é inacreditável... – sorriu ele também.

— Desculpa, é que eu sou ansiosa. Mas a culpa foi sua – Magali se sentou na beirada da cama.

— Minha? – apontou ele pra si.

— Claro, se não tivesse me dito que ia me ligar quando chegasse em casa, eu não teria ficado esperando.

— Você ficou esperando minha ligação é? – o moreno ergueu as sobrancelhas e sorriu.

— S-sim, mas é com todo mundo que faz isso, tá? Não comece a se achar...

— Eu não disse nada...

— E aí? Como você tá? E como foi isso, hein? Quer me matar de susto?

— Calma – disse ele achando graça naquela preocupação toda. – Eu errei uma manobra e acabei torcendo um pouco o tornozelo... meus colegas tiveram que ligar pra meus pais pra poderem me levar no médico. Estava doendo pacas...

— Nossa... Então quer dizer que você não vai poder competir amanhã?

— Claro que vou.

— E como pretende?

— Isso aqui não é nada grave, já passei por coisas piores... você vai ver.

— Você é maluco isso sim... não vou deixar que se mate.

— Não vou morrer ainda, tenho sete vidas – brincou. – Meus pais com certeza não vão deixar que eu participe, então você vai ter que me ajudar.

— Eu?

— Você sim.

— Me inclua fora dessa...

— Por favor, Magali! – ele cruzou as mãos. – Você sabe o quanto eu pratiquei pra esse dia, e sabe o quanto eu esperei por esse momento, eu preciso participar!

— Do Contra, você torceu o pé! Sabe lá o que pode acontecer se você subir naquela rampa...

— Não vai acontecer nada, eu disse que já rolou coisas piores que essa... E mesmo assim eu continuo vivo. Por favor, vai... eu faço o que você quiser, mas me ajuda.

— Tudo o que eu quiser?

— Tudo, tudo – beijou os dois indicadores.

Magali ficou pensativa por um momento. Não achava uma boa ideia, mas era verdade quando ele disse que havia treinado bastante, e que esperou muito por isso. Era uma coisa que ele realmente queria alcançar e só de pensar que ele não estaria lá por conta disso, fez o coração dela apertar.

— Eu vou pensar. – Magali se levantou da cama, e caminhou até o computador do garoto em cima da mesa, onde tocava uma música bem baixinha. Se deu conta que já era outra, qual ela conhecia muito bem: "With A Little Help From My Friends" . – Não sabia que você curtia rock clássico...

— Tá falando dos Beatles? – perguntou ele apontando pra um poster enorme que tinha na sua porta.

— Uau.. – seus olhos brilham. – Eu também sou fã deles.

— Então por que não faz que nem a música deles e me dá uma ajudinha?

Magali pegou um dos CDs que estava na estante e suspirou.

— Eu já disse que vou pensar, DC... mas não pense que... – repentinamente, a porta se abriu. Era a mãe de Do Contra.

— Filho, você... Oh, Magali! – disse ao perceber a presença da garota no canto do quarto. – Não tinha te visto aí. Como está?

— Oi Dona Keiko, estou bem e a senhora? – sorriu.

— Mais ou menos né? Ainda tendo dor de cabeça com esses meninos – respondeu ela e Do Contra revirou os olhos.

Magali soltou uma risadinha e olhou para o garoto que lhe mostrou a língua.

— Vim chamar o Mauricio pra vim jantar – disse e se virou para ele. – Está com fome?

— Muita – respondeu ele prestes a levantar.

— Bom, eu vou indo então. Só vim ver como ele estava... – Magali colocou o CD de volta onde achou.

— Por que não fica aqui pra jantar também?

— Eu?

— Sim, vamos adorar ter você fazendo companhia hoje. Pode deixar que eu aviso a sua mãe se quiser.

— Er... – Magali se virou para o amigo que sorriu como resposta – Tudo bem então... eu fico.

— Ótimo! Vou colocar mais um prato na mesa – Keiko pareceu satisfeita e os deixou sozinhos novamente.

— Aê, ganhou um jantar de graça... – brincou ele, sorrindo.

Magali pegou uma almofada que estava em cima da cadeira, e lançou em direção ao moreno que desviou.

Aquele jantar sem dúvida foi sensacional na opinião da comilona. Quando o assunto era comida ela tirava de letra. Dona Keiko preparou sua especialidade: Donburi. E Magali adorava comidas exóticas, em razão disso, sonhava conhecer a Asia, onde era feito os pratos mais incríveis, de acordo com seu amigo Do Contra, que já havia visitado o Japão uma vez, por sua mãe ter familiares lá. Eles ficaram muito satisfeito com a convidada, principalmente Keiko que adorou ver como Magali comia sua comida com tanto prazer.

Depois do jantar, Magali se ofereceu para ajudar-la na cozinha, mas ela recusou imediatamente, disse que era a visita e que não achava certo que ela fizesse nada, além de comer. Do Contra puxou a garota para a sala, onde lá ele colocou um filme para eles assistirem. Senhor dos anéis, um filme que Magali não era muito fã, pois preferia uma boa comédia romântica, mas estava de barriga muito cheia pra discutir com seu amigo sobre isso.

Apesar de serem muito parecidos em algumas coisas, eram completamente diferentes em outras, e filme entrava nessa categoria. Por essa razão, eles só foram ao cinema uma vez. No meio de tantos protestos, ela ganhou e acabaram assistindo um romance. E hoje, era a vez dele de escolher. Nimbus fez a pipoca e eles se sentaram para assistir, enquanto seus pais foram dormir.

[...♥...]

~ Sala / 23:02 ~

Quando o filme chegou ao fim, Magali pegou o seu celular para ver as horas. Não tinha nenhuma chamada perdida de sua mãe, pois Keiko fez questão de ligar para ela antes do jantar para avisar que Magali iria demorar um pouco.

— Bom, vou pra casa – anunciou ela pegando a ultima pipoca do vaso.

— Espera, eu vou te levar... – se ofereceu Nimbus.

— Ok. Tchau DC – Magali se aproximou para se despedir dele, dando lhe um beijo na bochecha. Ele por sua vez tinha uma expressão estranha no rosto.

— Peraí, por que ele vai te levar?

— Você está com o pé torcido, maninho. – apontou Nimbus. – E está tarde para a Magali sair por ai sozinha.

— Certo, mas pode deixar que eu mesmo vou levar ela sem problemas.

— Minha casa é logo ali, DC – disse Magali impedindo-o. – Alias, pode deixar que eu posso ir sozinha, Nimbus.

— Não! – disseram os dois ao mesmo tempo.

Do Contra se levantou do sofá e pegou a muleta encostada na parede, qual teria que usar temporariamente.

— Eu vou te levar.

Sem dar mais explicações, e no meio dos protestos de Nimbus, o moreno puxou a comilona para o lado de fora e fechou a porta.

— Meu deus, você é teimoso!

— Sou – respondeu ele, sério.

— Por que não deixou o Nimbus fazer isso? Você está machucado – ela perguntou ainda sem acreditar. Do Contra não respondeu, e ela continuou. — Só fez isso pra contrariar né? Eu te conheço...

— Não, não foi por isso. Só não quero que você ache que estou impossibilitado de fazer as coisas.

Magali bateu a mão na testa e negou com a cabeça.

— Se sua mãe souber que você saiu assim...

— Ela não vai saber.

Magali pode até ter achado aquele comportamento uma loucura da parte dele, mas também achou fofo. Resolveu então não dizer mais nada durante o caminho.

— Chegamos.

— Valeu... – ela disse finalmente sorrindo.

— Ué, nem achei que fosse me agradecer já que preferiu tanto que fosse o Nimbus que viesse – disse ele fazendo uma careta.

— Para com isso... só não queria que você fizesse esforço, afinal.. Você tem um campeonato pra ir amanhã, não é? – ela deu um sorriso de lado, já esperando pela reação.

— Eu sei mas... perai... o que você disse? – ele arregalou os olhos.

— É, eu... Decidi te dar aquela ajudinha - sorriu.

— Então quer dizer... que você vai me ajudar mesmo?

Magali assentiu com a cabeça, e ele abriu um enorme sorriso. Estava prestes a abraçar a comilona, quando ela colocou uma mão na frente.

— Mas se alguma coisa acontecer, você nem precisa morrer, porque eu mesma vou te matar.

Ele então, se aproximou e concedeu um abraço forte na garota, quase levantando-a do chão, se não fosse por seu pé machucado que deu sinais imediatos para ele não fazer aquilo.

Durante aquele abraço, Magali conseguiu sentir o perfume de Do Contra com muito mais intensidade do que antes. Era um cheiro bom, gostoso... E envolvente. Aquele momento só fez com que ela corasse, que acabou lembrando da ultima vez que ele a fez sentir assim... Quando a elogiou mais cedo. Ele também pareceu lembrar da mesma coisa, pois se afastaram meio constrangidos.

— Obrigado, Magá. Você não sabe o quanto isso significa pra mim.

Ela não respondeu, mas continuou sorrindo.

— Vai lá, antes que sua mãe fique preocupada... – ele disse, apontando para dentro da casa da garota.

— Até amanhã, então.

— Até.

Do Contra foi pra casa feliz da vida. Ela com certeza iria realizar um grande desejo seu...