love.

Chapter 1: You're Gonna Miss Me


Jan15

[...♥...]

~ Rua / 17:09 ~

Estas férias foram as melhores para Magali. Apesar de ter estado longe dos amigos, valeu muito a pena por ter feito as coisas que mais gostava em Fernando de Noronha, um lugar que ela sonhava visitar desde que começou a se interessar por viagens. Seus pais conseguiram economizar o suficiente para finalmente desfrutarem de um passeio decente de três semanas.

Logo depois, visitaram Dona Cotinha, sua avó. Passaram apenas um breve fim de semana lá; precisavam voltar logo, já que as férias de seu pai, Carlito, estavam chegando ao fim e ele teria que retornar ao trabalho. Magali, por outro lado, não estava tão chateada quanto seu pai. Mal podia esperar para rever seus amigos e, especialmente, seu namorado, Quim.

Mesmo cansada da longa viagem de avião, a gulosa não queria esperar mais um dia para vê-los. Sabia que Mônica ainda não tinha voltado da viagem com a família, então não se preocupou em passar na casa dela. Depois de tirar rapidamente as malas do táxi, tomou um banho rápido, vestiu o vestido que Quim adorava, deixou o cabelo solto como de costume, calçou suas sapatilhas rosa e estava pronta para sair quando seus pais perguntaram se ela não iria comer algo antes. Ela recusou animada, sabendo que Quim provavelmente a surpreenderia com seus quitutes deliciosos. Era nessas horas que ela agradecia aos céus por ter um namorado tão talentoso na cozinha.

Mas, para sua frustração, não era seu dia de sorte, pois a padaria estava fechada. Estranhou imediatamente, afinal, era uma tarde de quinta-feira. Quim e seu pai sempre trabalhavam nos dias úteis.

— Será que ele viajou? — pensou, mas logo descartou a possibilidade.

Decidiu então ir até sua casa, o único lugar onde ele poderia estar se não estivesse na padaria. Quim não era de sair muito; era bastante tímido e não tinha muitos amigos além dos da turma, que também não eram muito próximos.

Magali sempre quis que ele fosse mais comunicativo, mas ele preferia ficar na sua. Odeiava chamar a atenção e era um problema que ela tentava resolver, sem sucesso. Mas, além disso, como namorado, ele era perfeito. Sempre carinhoso, atencioso, apaixonado por ela desde criança… E adorava surpreendê-la, seja com comidas ou presentes.

À medida que se aproximava de sua casa, a felicidade crescia. Estava ansiosa para abraçar-lo e enchê-lo de beijos. Imaginava o sorriso largo que ele daria ao vê-la. Preferiu não avisar que chegaria naquele dia, pois queria fazer uma surpresa.

Bateu na porta e esperou, sorrindo.

Não demorou muito e um senhor com cabelos grisalhos e um bigode bastante chamativo abriu a porta. Sua expressão não foi das melhores ao ver a garota ali.

— Er… – seu sorriso mudou imediatamente para um sorriso amarelo. – Oi, seu Manoel… Como vai?

— Ora, se não é a Magali.

Não era segredo para ninguém, muito menos para ela, que seu Manoel, ou melhor, seu ‘Quinzão’, não era o sogro mais simpático do mundo. Eles tinham uma pequena rixa devido aos prejuízos que a gulosa lhe causara na infância. Hoje, isso não era mais um problema, pois ele cuidava bastante de sua saúde e comia muito menos do que antes. Mas parecia que ele nunca iria esquecer… e provavelmente continuaria tratando-a da mesma maneira por um longo tempo.

— O Quinzinho está? – perguntou ela, colocando as mãos para trás.

— Ele está doente. Por que não volta outro dia? – respondeu ele, quase fechando a porta, mas ela foi mais rápida e impediu.

— Como assim doente? O que ele tem? – perguntou preocupada.

— Nada demais, só uma gripe. Mesmo assim, decidi não abrir a padaria hoje, quis ficar aqui cuidando dele.

— Posso entrar? – perguntou ela, quase chorando. – É rápido, não vou demorar…

O português analisou Magali por alguns segundos longos, mas não cedeu, negando com a cabeça. Furiosa, ela não se deu por satisfeita e entrou mesmo assim.

Caminhou rapidamente até o quarto do namorado, antes que seu sogro pudesse fazer algo para impedi-la. Bateu na porta, mas não obteve resposta. Virou a maçaneta com cuidado; ele poderia estar dormindo e não queria acordá-lo.

Quando entrou, a luz estava acesa e ele estava deitado lendo. Ele notou sua presença no mesmo instante e se assustou, sentando na cama. Magali sorriu ao vê-lo, mas ele não pareceu tão feliz quanto ela imaginava que ficaria.

— Quinzinho! – ela correu até a cama para abraçá-lo, mas ele permaneceu com a mesma expressão. – Que saudade, meu fofucho! Seu pai não quis nem me deixar entrar para te ver…

— Ah… é… eu pedi a ele para não ser incomodado.

— Ele me disse que você está doente – disse ela, passando a mão pelas bochechas do garoto. – O que você tem?

Quim já ia responder, mas seu pai apareceu na porta do quarto, irritado pela atitude de Magali ao invadir sua casa.

— Ei, garota, que audácia é essa de entrar na minha casa assim sem permissão?

— Me desculpe, seu Manoel, mas o senhor não me deixou ver meu namorado – respondeu ela educadamente.

— Eu disse que ele estava doente e precisa descansar. Agora saia daqui!

— Pai! – Quim impediu o pai de arrastar Magali para fora do quarto. – Está tudo bem… Pode nos deixar a sós, por favor?

O velho, insatisfeito, obedeceu ao filho. Magali sorriu vitoriosa e ele fechou a porta, deixando os dois sozinhos novamente.

— Desculpe, amor – ela voltou a abraçá-lo. – Não queria causar problemas, mas seu pai pega tanto no nosso pé, sabe? Às vezes eu…

Ela parou ao perceber que a expressão de Quim não estava nada boa. Ele parecia distante, diferente. Além disso, não tinha sorrido desde que ela chegou.

— O que foi, Quim?

— Que bom que você voltou – ele sorriu fraco. – Eu precisava conversar com você…

— Você está me deixando preocupada – ela segurou em seu queixo, notando que seus olhos estavam marejados. – Quim, me fala o que está acontecendo...

— Eu… eu andei pensando muito desde que você viajou, principalmente sobre nós dois… e cheguei à conclusão de que… não está funcionando mais.

— O quê? – perguntou ela, pasma. – Como assim não está funcionando? Eu fiz alguma coisa?

— Não! Você não fez nada, Magali. Sou eu. Eu… não estou mais conseguindo.

— Mas, Quim, nosso namoro estava indo tão bem… O que mudou? Me diz! – ela começou a entrar em desespero ao pensar que poderia estar perdendo o namorado naquele momento.

— A gente cresceu, e muita coisa mudou…

— Você… não me ama mais? – uma lágrima escapou, e Quim a enxugou com o polegar.

— Claro que amo, Magali… Mas eu preciso de um tempo para pensar, para ver o que realmente quero…

— Então… acabou… é isso?

— Não, não! – ele sacudiu a cabeça rapidamente. – Só estou dizendo que precisamos de um tempo. Um tempo para pensar. Um tempo sozinhos para ver se o que sentimos um pelo outro é forte o suficiente… Magá – ele segurou suas mãos. – Eu quero ter certeza de que você é a mulher da minha vida.

— Você não sente isso agora? – Magali tentou engolir o choro que se acumulava em sua garganta. Seus olhos encontraram os dele, procurando por qualquer sinal de dúvida ou hesitação.

Quim suspirou profundamente, parecendo pesaroso. Ele abaixou os olhos por um momento antes de respondê-la.

— Eu sinto, Magá. Sinto muito. Mas… não sei se consigo continuar assim. Preciso de um tempo para entender o que estou sentindo.

A gulosa sentiu como se uma lâmina afiada tivesse perfurado seu coração. As palavras dele cortaram fundo, deixando-a sem chão. Por um momento, não conseguiu articular uma resposta. O silêncio pesava entre eles, preenchido apenas pelos sons suaves do ventilador no quarto.

Ela queria pedir pra que ele mudasse de ideia. Queria dizer tantas coisas, queria chorar, queria gritar, queria implorar, mas não fez nada disso. Continuou olhando pra baixo, segurando a próxima lágrima que pedia pra cair. Quim olhava para a morena, esperando que ela fizesse algo, que o xingasse, insultasse, esperava tudo, menos que ela ficasse quieta daquele jeito.

— Eu… entendo. – Finalmente, ela conseguiu dizer, embora as lágrimas continuassem a escorrer por suas bochechas. Ela tentou manter a voz firme, mas era difícil. – Se é isso que você precisa, então… tudo bem. Eu só… sinto muito por não ser o suficiente para você agora.

— Não é isso, Magali. Você é mais do que suficiente. É só… complicado.

Magali assentiu, embora soubesse que não conseguia entender completamente o que estava acontecendo na mente de Quim. Ela sabia que não podia forçá-lo a ficar se ele precisasse de espaço para descobrir seus próprios sentimentos. O coração dela doía, mas ela tentou manter a compostura.

— Eu vou deixar você descansar. Precisa de alguma coisa?

Ele balançou a cabeça negativamente, sem conseguir encontrar as palavras certas para confortá-la. Magali tentou um sorriso trêmulo antes de se levantar da cama e se dirigir para a porta. Antes de sair, ela olhou para trás, vendo Quim ainda deitado na cama, perdido em pensamentos.

— Me avise se precisar de alguma coisa, tá? – Ela sussurrou, mais para si mesma do que para ele.

Ele apenas assentiu, e ela fechou a porta suavemente atrás dela. Ouvindo passos pesados, Magali encontrou seu sogro no corredor. Ele a observou com desconfiança, mas ela não conseguia se importar menos com isso naquele momento.

— Desculpe por incomodar – ela murmurou, tentando passar por ele.

— Não é um problema. – Ele respondeu bruscamente. – Só não trate de vir aqui amanhã. Entendeu?

Magali apenas assentiu com a cabeça, incapaz de dizer mais nada. Ela saiu da casa sem olhar para trás, sentindo-se mais vazia do que nunca. Caminhando pelas ruas familiares, ela se perguntou como as coisas tinham mudado tão rapidamente entre ela e Quim. E o que isso significava para o futuro deles.

Não sabia que aquela felicidade toda que sentia minutos atrás, iria ser sugada daquela forma. Até o vestido que ele mais gostava, ela quis usar apenas para poder agrada-lo. Buscava dentro da cabeça alguma razão lógica para ele pedir um tempo. Ela só havia ficado fora por um mês, e eles sempre se falavam por telefone quando possível. O que poderia ter acontecido para ele tomar uma decisão tão radical e tão inesperada dessas?

Ela não tinha a resposta.

[...♥...]

~ Rua / 20:18 ~

Para Do Contra, não havia nada melhor nas férias do que passar o dia inteiro dormindo e sair à noite para andar de skate. Era seu hobby favorito, um tanto peculiar, e por isso mesmo ele adorava. As pessoas que passavam olhavam-no como se fosse louco, e nossa, como ele adorava aqueles olhares. Quanto mais esquisito ele fosse, melhor.

Suas férias não tinham sido tão agitadas como a maioria da turma; alguns viajaram, outros curtiram a praia. Mas seus pais decidiram não ir para lugar nenhum este ano por causa do trabalho. Nimbus, seu irmão, ficou um pouco chateado, mas Do Contra, para contrariar, disse que adorava a ideia. Às vezes, porém, ele se arrependia, especialmente quando o calor estava insuportável e a noite era o único momento fresco do dia.

Mesmo com as reclamações da mãe sobre sair tarde, ele não dava ouvidos e seguia seus próprios planos, voltando quase à meia-noite para casa. E naquela noite, ele planejava fazer exatamente isso.

Ao chegar à praça, colocou seus fones de ouvido, Beats pretos, e começou a deslizar pela praça com sua prancha. Estava escuro, mas ele não ligava; estava acostumado. Sentindo o vento fresco contra a pele suada, sorriu satisfeito. Era exatamente o que precisava depois de passar o dia inteiro na frente do ventilador.

Em um momento de puro prazer, fechou os olhos brevemente. Quando os abriu, encontrou-se caído no chão, com o cotovelo latejando de dor. Alguém estava sobre ele.

— Ai...

A voz era familiar.

— Magali? — Ele não a reconheceu de imediato por causa dos cabelos negros que cobriam seu rosto.

— O que sobrou de mim... — Ela tentou se levantar, mas parecia ter dificuldade.

— Desculpe, eu não te vi.

— Quem anda de skate de olhos fechados? — Ela riu com um toque de dor, segurando o cotovelo machucado.

Não era só o cotovelo que sangrava; o joelho dela também estava ferido, talvez até pior.

— Eu ando. — Ele riu, indo ajudá-la. — Vem, deixa eu te levar.

Como um bom cavalheiro, colocou o braço dela sobre seus ombros e a guiou até um banco próximo na praça.

— Nossa, tá feio. — Ele franziu a testa ao ver o sangramento.

— Parece mesmo… — Ela esticou a perna pra examinar o machucado.

Sem pensar duas vezes, Do Contra tirou sua camiseta azul e a colocou sobre o joelho dela.

— DC!

Ela tapou os olhos, constrangida.

— O que foi? É só pra estancar o sangue… Dói muito?

Ela assentiu, mordendo o lábio inferior.

— Desculpa. Só tava tão bom sentir o vento… Nem percebi que você tava vindo.

— Eu também não estava prestando atenção. Não foi só sua culpa.

Do Contra olhou pro rosto dela, notando os olhos vermelhos. — Você tá… bem?

Antes que ele pudesse terminar, Magali o abraçou. Ele retribuiu o abraço, tentando confortá-la da melhor maneira possível. Ela parecia precisar de alguém naquele momento.

— Ei… O que rolou?

Ela se afastou, enxugando as lágrimas.

— Nada… Só tô…

— Triste? Percebi…

— Algo assim. — Ela deu de ombros.

— Falar às vezes ajuda, sabia? — Do Contra sentou-se ao lado dela.

— É, eu sei.

— Então, por que não me conta? Talvez eu possa ajudar.

Ela hesitou por um momento, olhando pra camiseta que ele usava pra estancar o sangue de seu joelho. Não era tão próxima de Do Contra quanto Mônica era dele, mas precisava desabafar com alguém naquele momento.

— O Quim… ele terminou comigo.

— O quê? Por quê?

— Na verdade, ele pediu um tempo. Mas você sabe o que isso significa.

— Ele disse o motivo?

— Não… Bem, disse. Ele quer ter certeza de que sou a mulher da vida dele. Só não sente isso agora.

— Quim… Ele parecia tão certo de vocês dois. Estão juntos desde crianças.

— É… Só queria entender onde errei. Não faz tanto tempo que ficamos separados pra ele mudar de ideia tão rápido.

Ela engoliu em seco, tentando controlar as lágrimas.

— Bem, eu não sou um especialista no assunto… Nunca namorei ninguém.

— É... Apesar de sempre te ver com uma garota diferente.

— Deve ser falta de oportunidade…

— Aposto que tem alguém que mudaria rapidamente sua mente.

— Sério?

Magali assentiu, sorrindo. — A Mônica.

— Mônica… — Do Contra riu, coçando a nuca. — É, talvez se ela tivesse aceitado meu pedido naquela época, eu não pensaria assim hoje.

— Você… ainda gosta dela?

— Gosto. Como amiga.

Magali parecia surpresa. Sempre achou que Do Contra ainda tinha sentimentos por Mônica, mesmo depois dela começar a namorar Cebola. Talvez fosse verdade, mas ela não queria continuar nesse assunto.

— Parece que o sangue parou.

— Sim. Obrigada pela ajuda. — Ela devolveu a camiseta.

Do Contra a ajudou a levantar, preocupado. — Tem certeza de que consegue ir pra casa?

— S-sim. Tá tudo bem.

Ele a segurou pela cintura quando ela quase caiu de novo. — Aham, claro que consegue. Deixa eu te levar.

— DC, não precisa… Posso ir sozinha.

— Vai levar uma eternidade pra andar até em casa. Deixa eu te ajudar.

Ela suspirou, aceitando.

Do Contra então a ajudou, caminhando lentamente com ela até sua casa. Magali não disse muito, mas apreciava a companhia dele. Ele tinha um jeito gentil de cuidar dos outros, mesmo que não fossem tão próximos como ele era com Mônica. Ela conhecia algumas das qualidades dele além de ser engraçado.

— Valeu, DC. — Ela agradeceu ao chegarem à frente de sua casa.

— Não precisa agradecer, Magá. Mas… posso te pedir uma coisa?

— O quê?

— Promete que não vai mais chorar hoje?

Ela sorriu. — Vou tentar.

Com isso, entrou em casa, deixando Do Contra pensativo enquanto voltava pra sua. A noite tinha sido bem diferente do que ele imaginava, mas não se arrependeu de ter passado aquele tempo com Magali. No caminho pra casa, esperava que ela ficasse bem.