dilúculo

Novos amigos


Quando Sokka decidiu me arrastar para tomar café da manhã com seus amigos eu achei que a ideia era insuportavelmente desconcertante e tentei evitar, primeiro, porque não estou acostumado com o ritmo dele, nós dois mal nos conhecemos e eu já sou tipo o melhor amigo de infância dele – é um pouco estranho porque eu gosto disso, mas também estou um pouco assustado... E em segundo lugar, bom, não tenho tanto costume como grupo de amigos — por mais que eu queira muito um grupo de amigos. E agora que estou sendo obrigado a cumprimentar essas pessoas desconhecidas não sei o que fazer ou como reagir a tudo isso.

— Não precisa se preocupar, o pessoal é bem legal, você vai ver só!

Encaro.

— E aquele ali, é o Zuko! — Ele aponta disfarçadamente com o olhar para o garoto que está sentado na ponta da mesa.

De perto consigo perceber que Zuko é extremamente bonito. Ainda mais bonito do que já parecia ser de longe. Os cabelos dele são bem pretos, meio azuis, como uma noite sem luar. Os olhos são expressivos e ele tem uma marca que parece ser de queimadura no olho esquerdo, nem mesmo isso o deixa menos charmoso. Está com uma cara de poucos amigos, mas quando me vê há algo no seu olhar. Então ele sorri como sorriu no dia anterior.

Fico sem jeito e sinto as bochechas queimarem.

Sokka se inclina em minha direção e sussurra em meu ouvido:

— Ele não costuma sorrir assim para todo mundo, acho que ele gostou de você.

Movo a cabeça para olhar bem nos olhos de Sokka. Ele sorri com malícia.

— Vem.

Então ele me segura pelo braço e me puxa em direção a mesa. Me sento ao lado dele.

—Pessoal! — grita Sokka para chamar a atenção dos amigos, mesmo que todos estejam olhando para nós. — Esse aqui é o Aang, meu colega de quarto. Ele é um pouco calado, mas é superlegal. Deem oi para o Aang.

— Oi, Aang! — respondem todos juntos, em um coro.

Sinto as bochechas queimarem ainda mais. Então eles começam a rir.

— Estamos apenas brincando com você — Sokka fala em meio a risadas, então passa o braço direito ao redor dos meus ombros e começa a apontar para as pessoas à mesa. — Aquela ali é minha irmã Katara.

A garota de cabelos longos e da cor igual ao cabelo do irmão, levanta a mão e me dá um tchauzinho enquanto exibe um sorriso largo.

— O feioso ao lado dela é Mako, meu cunhado insuportável — continua Sokka. O Mako mostra duas arminhas feitas com os dedos e atira em mim, sorrindo. — Essa aqui é o amor da minha vida, Toph...

— Cala a boca — diz a garota de cabelo Chanel. Ela revira os olhos, mas sorri. É nesse momento que percebo que ela é uma pessoa com deficiência visual. — Eu sei o que você está pensando...

— Não tô — digo rapidamente.

Ela começa a rir.

— Estou só tirando com a sua cara, pés pequenos — debocha ela. — E eu sei que você vai se perguntar como sei dos seus pés pequenos, então já vou te responder: eu vejo muitas coisas.

— Ela só está brincando — Sokka interrompe. — Toph, meu benzinho, será que...

— Se você me chamar de benzinho de novo, eu vou enfiar meu pé dentro do seu rabo — interrompe a garota.

— Ah, o amor é tão lindo... — Mako debocha, sem segurar a risada irônica.

— Fica quieto, Mako, ou eu vou enfiar o meu punho em sua garganta — Sokka resmunga, olhando para o cunhado que começa a rir ainda mais alto, batendo a mão na mesa. Sokka ignora e se vira para mim, sorri sem jeito e depois aponta para Zuko. — E aquele ali é o Zuko...

O jovem bonito exibe um quase sorriso.

— Ele é o cara mais popular da escola inteira, e está solteiro — Sokka completa.

Zuko ri um pouco com o que Sokka acabou de dizer, então me olha nos olhos e sorri, verdadeiramente agora.

— Eu sou Zuko. E é um prazer conhecê-lo, Aang. Espero que você esteja gostando da nossa escola — fala o jovem, sentado na ponta da mesa e parecendo muito confortável com isso.

— Eu... eu estou sim — digo, meio sem jeito. — Quer dizer, estou gostando da escola — completo rapidamente. — Ainda é o meu segundo dia por aqui, não aconteceu muito, mas eu já fiz um amigo, coisa que não aconteceu tão rápido na outra escola, então... — Todo mundo me olha de um jeito estranho. — E eu acho que estou falando coisas que ninguém liga, mas é porque estou muito nervoso, então vou calar a boca.

Zuko ri, mas não é com deboche, na verdade, parece um riso muito genuíno.

— Aang, você está animado para a festa de hoje à noite? — Katara pergunta, parecendo muito animada, enquanto prende os cabelos em um coque.

— Que festa? — pergunto de volta, um pouco confuso.

— Espera aí, o Sokka não falou da festa para você? — pergunta a namorada de Sokka.

— Não? — pergunto confuso.

— Ele está animado por isso desde que eu entrei na escola dois anos antes — Katara fala sorrindo.

— Eu ia contar agora no café da manhã — Sokka fala revirando os olhos. — Eu tive muita coisa para falar para Aang.

Eu sorrio. Ele não parou mesmo de falar desde que nos conhecemos uma hora atrás.

— A festa de boas-vindas é um evento que rola todos os anos na escola. Acontece no primeiro sábado antes do início das aulas, isso mesmo hoje — Katara diz, quando me vê pensativo. — É bem legal, tenho certeza que vocês três vão gostar muito.

Ela olha para mim, depois para Sokka e então para Toph.

— Então teremos uma festa hoje? — pergunto mais para mim mesmo. — É, essa não é bem a ideia que o meu pai tinha de um colégio interno. Acho que por isso que ele não queria que eu viesse.

— Muitas coisas acontecem nessa festa — Mako diz.

— Tipo o quê? — pergunto.

— Muitas coisas... — ele completa.

— Houve um ano que um aluno desapareceu, dizem que se perdeu no mar — Sokka fala.

Arregalo os olhos.

— E que o espírito dele ronda a escola agora — completa Katara.

— Principalmente nos dormitórios masculinos — Toph dá a deixa.

— Gente, vocês vão assustar os dois bebezões aqui, parem com essa baboseira — Zuko diz rindo e apontando para mim e Sokka que estamos quase nos abraçando.

— Não tô com medo — Sokka fala.

— Nem eu...

É claro que estou morrendo de medo. Escolas são sempre mal-assombradas, uma escola interna então...

Os outros voltam a conversar e eu percebo que Zuko está me olhando. Tento disfarçar e olho para o lado. Toph sorri maliciosamente e eu lembro que ela disse que vê tudo.