— Oh, meu Deus — arfo — é isso! Se conseguirmos reverter essa maldição, abriremos New Orleans e ganharemos o respeito do povo!

— Seremos livres! — Gianna comemora, realmente empolgada com a ideia.

— Mochilão pelo mundo, aí vou eu! — Dakota bate palmas.

— O planeta é um lugar grande o bastante para vocês — Hayley olha para os irmãos — para nós.

— Sabe, pensando bem, será mesmo que é melhor para vocês acabar com a maldição? Porque se tudo acabar, vocês não terão mais proteção contra talvez milhões de seres sobrenaturais. Pessoas que vocês prejudicaram direta ou indiretamente — Gianna olha para os Mikaelson.

— Ela tem um ponto — concordo, olhando para eles — vocês estão preparados para terem o mundo inteiro como opção de fuga, mas também pessoas de mundo inteiro atrás de vocês?

Os irmãos se entreolham por um momento.

— Mais lugares para se esconder significa mais opções de aliados também — responde Elijah — eu sei que não será fácil, mas com o tempo as pessoas vão se acostumando com nossa presença e não seremos mais novidade.

— É, talvez daqui mil anos — Dakota dá de ombros.

— Supondo que essa ideia dê certo... Vocês ficariam aqui? Ou fugiram conosco? — Elijah questiona, claramente não gostando de estar em uma posição de fuga.

— Não tem nada que me prende a esse lugar — resmungo, terminando meu chá. Mas não é uma resposta propriamente. Não sei se fugiria com eles depois do nosso plano der certo — mas passar a eternidade fugindo não me parece muito prazeroso.

— Nós podemos tornar qualquer coisa prazerosa — a reposta de Niklaus é automática, então luto para manter a face neutra. Ele é um conquistador, Ellenora.

— Não cai nessa, quando eu cai acabei grávida — Hayley diz para mim. Isso faz o clima da sala aliviar, com Dakota e Gianna rindo e o resto de nós sorrindo.

— Então, o que vamos fazer? — pergunta Gianna quando para de rir.

— Ter acesso a Esther, perguntar sobre a maldição, dar um jeito dela falar por mal já que por bem provavelmente não vai rolar, achar seu grimório, desfazer a maldição e meter o pé daqui enquanto somos ovacionados pela cidade — resumo.

— A última parte parece meio fantasiosa e olha que sou eu quem estou falando isso — comenta Dakota.

— Todos aqui vão nos amar por liberta-los e o resto do mundo vai nos amar por poderem finalmente laissez les bons temps rouler — Gianna concorda comigo — podemos virar realeza de New Orleans! Eu adoraria uma estátua minha nua na praça mais popular daqui.

— Por que nua? — Elijah ainda tem a coragem de perguntar.

— Gosto de me forçar sobre situações desagradáveis para perder o medo delas. Vermes? Já me joguei em cima deles. Mar? Amarrei uma âncora em minha cintura e pulei de um barco no meio do Mediterrâneo. Ficar pelada em público? Nisso eu sou expert — explica a loira.

— Graças aos céus não existe polícia aqui. Você seria presa a cada duas horas — comento.

— Gentileza sua pensar que eu seria liberada em algum momento — retruca.

— Eles não aguentariam você lá por tanto tempo — comenta Abaccus.

— Ou então criariam uma lei em que não importa o que você faça, nunca poderá ser presa porque eles não suportariam você — completo.

— Ela se tornaria a chefona das criminosas — divaga Dakota — se eu fosse do bloco dela, pediria proteção. Você trocaria proteção por alguma coisa de valor?

— Eu te protegeria de graça, Kota — sorri a loira.

— Insisto em te pagar pelo menos um maço de cigarros ou um par de chinelos — Dakota continua.

— Chinelos são muito úteis na prisão — Hayley comenta com quem entende do assunto.

— Bom, não sou uma pessoa dada a vícios, então aceito os chinelos — Gianna diz a Dakota, que assente.

— É incrível o quão rápido vocês se dispersam — comenta Elijah, chamando nossa atenção, parecendo impressionado levemente irritado.

— Bem-vindo a bordo — sorrio falsamente — é disso para pior. Bem pior.

— Falando em pior, preciso ir — Abaccus se levanta — tenho uma festa essa noite.

Os novatos o olham surpresos, mas todos nós estamos acostumadas. Abaccus é um festeiro, essa é sua grande paixão e ele a aproveita ao máximo. E um espião. Suas festas permitem que ele saiba coisas que os outros lutam para esconder.

— Vou também! — Dakota se levanta, indo até o moreno e agarrando seu braço — qual o tema de hoje?

— Anos cinquenta, os Anos Dourados — ele sorri.

— O quê? Nós temos muito a resolver — Niklaus se levanta, irritado — nos distrair com festas é burrice agora.

— Movimento errado, cowboy — comenta Gianna, baixo.

— Veja bem, Mikaelson — Abaccus faz questão de frisar o sobrenome — tudo que eu estou fazendo é por Ellenora e consideração a Hayley. Todos aqui. Então se eu fosse você, não acharia que tem algum direito sobre nós.

— Por que ele está te olhando como se estivesse planejando a pior vingança de todas? — Dakota pergunta ao bruxo, que ignora.

— Guarde sua arrogância para os seus inimigos — Abaccus diz — a desconfiança, a trapaça, a vingança. Nós somos tudo que vocês tem agora...

— E não é muito — alfineta Niklaus.

— ... E estamos por um fio — completa, virando as costas para o híbrido e saindo.

— Tchauzinho! — Dakota acena alegremente para nós como se nada tivesse acontecido.

— Você sabe o que ele vai fazer, não é? — Gianna pergunta a Niklaus, mas não o deixa responder — ele organiza essas festas para levantar informações. É o mestre da espionagem por aqui. É um festeiro, sim, mas ele se aproveita disso como uma máscara.

— Eu vou me energizar, com licença — me levanto, indo em direção as escadas.

— Vou com você — Gianna diz, me seguindo.

— Você precisava ser tão desagradável? — Hayley quase rosna.

— Eles não são leais a nós! — o grito de Niklaus me faz estremecer.

— Com essa atitude, dá para entender o por que — retruca, igualmente irritada.

— Estamos por baixo, Niklaus, é melhor aceitar isso. Precisamos deles, não o contrário — Elijah tenta ser a voz da razão.

— Podemos matá-los — troco olhares divertidos com Gianna pela fala do híbrido.

— E então eles voltariam horas depois prontos para acabar com vocês — Hayley diz, irritada — e não me meta nesse "nós" quando se trata de ameaçar algum deles.

— Nós somos sua família! — grita Niklaus.

— Vamos — sussurro para a loira.

— Mas eu quero ouvir mais! — faz uma pequena birra.

— Ouvimos o suficiente — puxo ela escada acima, direto para minha sala de feitiços. Felizmente, segura contra ouvidos sobrenaturais — Niklaus pode fazer alguma besteira mesmo conosco ajudando ele.

— Ouvi dizer que ele deu Elijah em um tipo de congelamento mágico a Marcel como sinal de paz — Gianna comenta, sentando-se no chão enquanto eu alinho os cristais — ele pode fazer o mesmo com você.

— Ele pode — concordo — é por isso que precisamos de uma garantia. Vamos pensar.

Me sento em meio aos cristais e fecho os olhos, me concentrando.

— Pensar está me dando fome — comenta Gianna após alguns minutos.

— Mas te deu alguma ideia? — pergunto, sem abrir os olhos.

— Não.

Abro os olhos e reviro eles.

— Sorte a sua que o cérebro de pelo menos uma de nós funciona.

— Qual sua sugestão? — ela ignora meu comentário ácido.

— Feitiço de ligação — ela arregala os olhos e abre a boca, claramente surpresa.

— Sem chance...

— Sério — mesmo que isso me assuste para um caramba.

— Mas se não tem corpo para ligar... — Gianna olha para mim realmente preocupada.

— Irei ligar nossas almas — completo sua linha de raciocínio.

— É muito perigoso — ela nega — a cidade inteira quer matar Klaus!

— Eles ficariam felizes em me matar também de qualquer jeito — dou de ombros — é uma faca de dois gumes.

— Você não é como ele — ela protesta, mas não adianta.

— Eu sou exatamente como ele, só que em vez da parte vampira, é a bruxa. Isso não me faz menos aberração que ele — falo — ou menos odiada.

— Eu não sei se estou bem com isso. Quer dizer, fazer algo sabendo que tem altas chances de dar merda? Ok, vamos lá. Mas mexer com sua alma? Eu não sei — ela cruza os braços, claramente perturbada.

— Você disse para eu jogar o jogo deles, lembra? Então, — recordo — eu preciso mostrar poder e ter uma garantia de que eles não irão nos trair. Um passo em falso e eu me mato, deixando o corpo dele vulnerável e dando tempo para vocês prendê-lo em algum lugar seguro e também cuidarem do meu corpo, assim podemos decidir a quem entregar ele.

— Ele é um híbrido, então deve voltar mais rápido que todos as espécies — raciocina.

— Então vocês terão que ser realmente rápidos.

Não é como se eu tivesse me tornado a deusa da coragem de um dia para o outro, mas o baile trouxe outra perspectiva para mim. Uma em que eu não tenho que me esconder por medo ou simplesmente evitar a fadiga de lutar ou fugir. Quando você é a pessoa mais poderosa — ou a que acham ser mais poderosa — no recinto, precisa de preocupar com pessoas querendo te derrubar, mas são apenas algumas realmente ousadas que chegam a tentar. Quando você é uma abominação da natureza, ninguém pensa duas vezes antes de te escolher como alvo mais fraco. Mas não com Niklaus. E eu quero isso.

— Vou arrumar o porão — ela pisca e sorri maldosa.

Não sei se são os cristais, mas me sinto quase esperançosa de tão tranquila.

— Pode imaginar como a cidade vai reagir quando ver que a pária quem os livrou da maldição? — sorrio convencida.

— Eles ficarão aos seus pés, seja por gratidão ou medo — ela sorri de volta.

— Oh, será doce — olho para ela — e você tem razão, Gianna. Nada melhor do que alguma ação para nos fazer sentir finalmente vivos.