— Hayley está vindo — avisa Gianna.

Assinto. Antes que Hayley possa bater, Gianna abre a porta.

— Preciso esfriar a cabeça, querem vir? — convida a morena.

— Você sabe que eu não gosto de sair — falo — só me dá dor de cabeça.

— Na Redraven — insiste Hayley — você sabe que a Red é indiferente ao efeito manada.

— E as coisas podem ter melhorado desde ontem — pontua Gianna.

Penso um pouco. Elas podem ter razão... Droga, por que eu ainda tento se quase sempre eu cedo no final?

— Tudo bem — suspiro — só preciso terminar aqui.

— Vou me arrumando — Gianna fica em pé e sai levando Hayley.

Algum tempo depois e nós três estamos em frente ao Redraven, um bar na Oak Street. Já que aqui é uma parte mais residencial e não turística, me sinto mais confortável. O movimento está fraco, constato ao ver que poucas mesas estão ocupadas.

Escolhemos uma mesa em um canto reservado, sendo prontamente atendidas pela própria dona, uma robusta senhora ruiva.

— Eu não te vi no baile ontem, Red — Hayley comenta depois que fazemos nossos pedidos.

— Você sabe que eu não gosto de me meter com essas coisas, menina — retruca a mulher.

— Coisas? — pergunta Gianna.

— Besteiras dos metidos à poderosos — responde.

— Não somos metidas a poderosas — falo.

Red ri como se eu tivesse dito uma piada.

— Fiquem à vontade — e sai.

— Somos metidas a poderosas? — questiono.

— Se somos, culpo os Mikaelson — Gianna diz.

— Eles são uma má influência mesmo — Hayley sorri.

Começamos então a falar sobre assuntos aleatórios, tentando nos distrair por um momento da nuvem cinza que paira sobre nossas cabeças.

— Pois eu acho isso uma total falta de... — mas Gianna não completa, olhando para um rapaz que passa por nós rindo. Ele está com um grupo, então nem nota minha amiga secando-o completamente.

— Gia? — chamo, fazendo ela me encarar confusa.

— Uh?

— O que você estava falando... — Hayley parece se segurar para não sorrir.

— Ah, sim — a loira volta a si — continuando. Eu não acho, tipo, que ele tenha feito por mal, só foi sem noção mesmo.

— Homens são complicados — suspira Hayley.

— O problema da linguiça é que vem o porco junto — Gianna comenta, me fazendo rir e Hayley cuspir sua bebida, o que só faz com que eu ria mais.

— OK — respiro fundo, me recuperando — vou aproveitar esse clima bom para contar algo.

Viro-me diretamente para Hayley e conto a ela todo o plano de me ligar a Niklaus.

— Eu não sei se isso é uma boa ideia — Hayley opina por fim — eu odiei quando foi comigo.

— Mas consegue entender meu lado, certo? Viu como Niklaus se comportou hoje. Eu estou o ajudando, preciso de uma garantia — digo.

— Eu sei — garante — mas fico com medo de pegarem ele e algo acontecer com você.

— É a mesma probabilidade de me pegarem e algo acontecer com ele — rebato.

— Não, não é — ela parece quase triste — Niklaus fez coisas horríveis com muitas pessoas, Elle. Você não tem ideia... — balança a cabeça — eu não tenho ideia. Eu não sei até onde poderiam ir por vingança e quem vai acabar pagando é você.

Ficamos um momento em silêncio.

— Eu não tenho nada a perder — sussurro.

— Ninguém aqui tem, se serve de consolo — Hayley segura minha mão.

— Eu acho que vai ser bom para Niklaus — Gianna opina — vai manter ele em rédeas curtas.

— Um lobo não foi feito para ser preso — Hayley diz. Acho que ela esqueceu com quem está falando...

— Eu sei bem disso — sorrio amarga — mas sacrifícios precisam ser feitos. E ele é nossa oferenda aos deuses dessa vez.

— E você junto — Hayley completa.

— E eu junto — concordo solenemente.

— Red, desce mais uma! — Gianna levanta a mão e grita, nos assustando — vamos precisar de todo álcool possível hoje.

— Eu não posso beber — a lembro — mas proponho um brinde — ergo meu copo vazio e elas os delas — ao futuro. Seja ele qual for.

— Ao futuro — repetem, unindo seus copos ao meu.

Continuamos no bar por mais um tempo, até eu convencê-las a voltar para casa. É tudo tranquilo até chegarmos a mansão, onde Niklaus e Elijah parecem estar discutindo na sala de estar.

— O que está acontecendo? — questiono, entrando no cômodo ladeada pelas garotas.

— Não é da sua conta — Niklaus responde ao mesmo tempo que Elijah diz:

— Paranoia.

— Paranoia é o segundo nome do Klaus — Hayley comenta, cruzando os braços — mas tem algum alvo específico dessa vez?

Os dois ficam em silêncio, mas percebo a olhada discreta que Elijah me dá.

— Sou eu — constato com desânimo.

— Seu radar para aliados é péssimo, não é? Considerou aquela descompensada ruiva, mas desconfia logo da Elle — reclama Gianna.

— Eu não...

— Eu posso mudar isso — interrompo o híbrido e me aproximo dele — posso fazer você confiar plenamente em mim, sem meios mágicos ou jogo sujo.

— Como? — questiona, seus olhos brilhando de curiosidade.

— Eu tenho uma proposta.

E depois de algum tempo de discussão, consigo convencer os Mikaelson de que uma ligação de almas benificiaria ambos os lados. Eles mais que eu, até.

Preparo tudo e, sem tempo a perder, ansiosa para dar os primeiros passos rumo à liberdade, reuno todos em uma parte bem aberta da propriedade. Eu e Niklaus adentramos o círculo que eu fiz, enquanto Hayley, Gianna e Elijah observam do lado de fora.

— Essa ligação é muito mais intensa e poderosa que uma normal. Estamos mortos, Niklaus. Não há corpo para ligar, apenas alma. É a essência dos seres, o que temos de mais precioso. Espero que entenda a importância disso — falo seriamente, estendendo minhas mãos para ele, que as pega sem hesitar.

— Então esse vai ser o gesto mais romântico que eu já fiz — zomba, mas suas mãos apertam mais as minhas.

— Você teve uma filha — o lembro, sorrindo um pouco.

— Acredite, não houve nada de romântico na concepção — sorri malicioso, enquanto eu fico um pouco surpresa pela resposta. Mas por que eu ainda fico mesmo?

Hayley arregala os olhos, desviando o olhar para o chão, um sorriso mínimo em seus lábios. Elijah suspira, ajeitando seu terno impecável, parecendo acostumado, porém exausto das atitudes do irmão.

— OK, vai ser difícil, mas podemos ignorar essa tensão e seguir em frente? — sugere Gianna após um minuto de silêncio.

— Vamos começar — anuncio.

Não dura nem cinco minutos, a magia fluindo perfeitamente. É tão poderosa que por um momento o cabelo de todos se ergue e algumas folhas, antes caídas no solo, também. Algumas palavras minhas e de Niklaus e pronto, nossas almas estão entrelaçadas. Algo que não parece grande coisa de fora, entretanto significa tudo para nós. Eu e Niklaus continuamos de mãos dadas, mesmo depois de acabar, encarando um ao outro.

Elijah pigarreia, então nos separamos, saindo do círculo e nos unindo aos outros.

— Tattoo grátis? — Gianna aponta para o meu decote. Olho para baixo e percebo uma marca bem sobre meu coração. A forma de um lobo.

— O que é isso? — Elijah se aproxima, analisando a marca. Ele ergue o dedo e com o olhar faz um pedido silêncio. Assinto e ele toca a marca por um momento — dói?

Nego, confusa sobre o que está acontecendo. Nos livros que eu li, não dizia nada de marca. Dizia sobre efeitos colaterais, mas nada específico. Afinal, magia age diferente em cada um.

— Eu tenho uma também — Niklaus afasta a camiseta, mostrando.

— Um lobo — Hayley conclui.

— É o que temos em comum — murmuro, tocando minha marca — nossa parte lobisomem.

— Então você é uma híbrida — parece que o olhar de Niklaus sobre mim mudou. É estranho, mas bom.

— Sim, mas meu lobo nunca foi liberto — conto — me mataram antes que eu pudesse matar alguém.

— Sinto muito — o loiro parece sincero — eu sei como é ter sua parte loba presa.

Sem saber o que dizer, assinto.

— Eu vou limpar tudo aqui... E já entro — dispenso os outros sutilmente.

Todos saem e eu fico sozinha, tocando minha marca com emoção. O que isso pode significar? Apenas o que eu e Niklaus temos em comum ou algo mais? Talvez...

Não. Não posso criar expectativas sobre isso. Dói só de pensar em tentar algo e não dar certo.

Engulo minha esperança e começo a arrumar tudo, ansiosa para entrar em casa e me distrair.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.