Nick nunca sentira nada parecido. A única coisa que ele via era escuridão. Silêncio absoluto. Vazio completo.

Então é isso? Ele pensou isso é a morte?

Parecia com a morte. Nada. Nada para sempre.

Decepcionante.

Todo mundo vive a vida inteira por isso? Nick indagou.

Então algo aconteceu. A escuridão não mudou, mas Nick percebeu que estava se movendo, lentamente flutuando no nada. Era uma sensação engraçada, estar caindo pra lugar nenhum. Até que as coisas começaram a aparecer. Um imenso pedregulho, como um asteroide ou iceberg, veio rapidamente em sua direção. Nick descobriu que não conseguia se mover quando tentou de alguma forma desviar-se da imensa pedra.

Mas ela se chocou contra ele, e para sua surpresa ele continuou caindo enquanto a rocha se quebrava e seus pedaços flutuavam pelo espaço. Nick se viu novamente só na escuridão.

Um jaguar negro tomou forma, quase indistinto no vazio. Ele saltava sobre... Sobre Nick. A raposa viu a si mesmo ser atingido pela pata do felino e cair, arrastando Judy com ele.

Naquele momento Nick viu-se capaz de se mover. O outro Nick passou perto dele, gritando “não solta a minha mão”, agarrado desesperadamente ao braço de Judy.

Nick continuou caindo no vazio, e os dois sumiram acima dele. Então as imagens começaram a se multiplicar. Uma engrenagem gigante passou girando por ele. Ele viu sua mãe, naquele hospital. Viu a si mesmo olhando-se no espelho, orgulhoso de seu uniforme dos escoteiros mirins.

Ele caía, sem saber onde era o fundo. Sem saber se havia um fundo.

Uma cabine telefônica azul da polícia* saiu do nada e chocou-se contra Nick. Ele flutuou para o lado, passando a centímetros de uma raposa pendurada à lateral da cabine, segurando um pequeno cilindro metálico com uma luz na ponta.

Nick olhou para a cena com mais atenção, notando a coelha que segurava firmemente as portas abertas da cabine.

— Doutor!* – ela gritou.

Nick recomeçou a cair quando bateu no Dalek**. Ele passou por dezenas de naves espaciais enquanto caía nas trevas.

Eu vou cair para sempre?

Era tudo o que ele queria saber. Ele queria parar de cair. Mas ninguém o avisou de que o fim da queda doeria tanto.

Nick chocou-se contra algo invisível e liso. Vidro. Lentamente, gemendo de dor, levantou e olhou ao redor. Ele estava preso em uma redoma de vidro, como um globo de neve. E do lado de fora estava Jack Savage.

— O que você quer? – ele perguntou. Não se lembrava de querer perguntar. Sua boca movia-se contra a sua vontade, falando frases que ele não havia pensado em falar.

— Nem desconfiou, não é, Nick? – o Jaguar perguntou.

— Do que você está falando? – Nick ouviu a si mesmo perguntar, como numa gravação – Eu não entendo!

Eu não entendo.

O Jaguar se transformou, como se seu corpo fosse feito de areia, e cada grão houvesse mudado de lugar. À sua frente, ele viu Doug.

A ovelha fechou o mecanismo da arma.

— Qual é o alvo? – ele perguntou. Nick encostou-se ao vidro, lentamente deslizando em direção ao chão. Dessa vez o cenário todo mudou. Ele ainda estava do outro lado do vidro, mas dessa vez era a porta da sala de emergência do hospital. Judy havia acabado de ser levada para o outro lado. seu coração parado, sua vida por um fio. Nick sentiu a mesma vontade que tivera naquele dia. A vontade de destruir aquela barreira de vidro que os separava. Ele viu Judy do outro lado, em pé na escuridão, todo o hospital sumindo ao seu redor. Ela pôs a pata no vidro, e a sua voz veio de muito longe.

— Quebre o vidro, Nick.

Ele não pensou. Apenas colocou sua mão delicadamente sobre a dela, e o vidro rachou. Ele respirou fundo e golpeou o vidro com todas as suas forças.

E a esfera de cristal se rompeu, lançando-o novamente em queda, com milhares de cacos ao seu redor. Tentou se segurar em algo nas paisagens ao seu redor, mas tudo que ele tocava se transformava em fumaça.

Então colidiu com um piso que ele não conseguia ver. Os cacos enormes caíram ao seu redor, golpeando-o. ferindo-o.

A dor era a única esperança a que se agarrava, a única coisa que dizia que ele ainda estava vivo.

Por que Nick Wilde havia perdido essa certeza.