2h:36m para o fim do prazo.

Nick lentamente recobrou a consciência. Sua cabeça parecia ter o dobro do tamanho normal, e latejava. Foi quando tentou levar a mão até o galo que havia se formado que Nick percebeu que estava amarrado numa cadeira ao lado de Judy. Piscou várias vezes para clarear a visão. Ele estava numa sala diferente, também feita de alvenaria.

As paredes distantes não ostentavam nenhuma decoração. Nick sentiu uma tontura repentina ao erguer a cabeça, e sua visão ficou embaçada. A dor que se seguiu era como um fio minúsculo atravessando o seu cérebro de um lado a outro, um cabo elétrico ligado à 10000 volts de tensão.

A cadeira em que se encontrava estava no centro exato da sala, iluminada por uma lâmpada antiga pendurada no teto. Nick tentou virar o pescoço para ver o que havia atrás dele, e o movimento causou uma dor tão intensa quanto uma faca incandescente sendo fincada em seu crânio.

O raposo então se virou para Judy. A coelha não acordara ainda. Apesar de seus braços estarem presos ao lado do corpo, ele conseguiu mover o cotovelo para cutucar a esposa.

— Judy. – ele falou.

Judy moveu-se lentamente, parecendo muito dopada.

— Hnnnnnn… quêee? – ela resmungou ao abrir os olhos, com dificuldade para falar.

Nick rolou os olhos.

— Depois reclama que eu demoro pra acordar. – ele disse – você devia andar com uma ampola de antídoto pra tranquilizante pregada na testa.

— Assssiiim todo mundo iaa qureer ai, digo atiraáá em mim.

— Tem razão. – Nick a esperou “acordar” completamente antes de continuar. – Você consegue...

Então uma voz sedosa interrompeu a frase do policial.

— Devo dizer que, levando em conta todas as histórias que ouvi a respeito de Judy Hopps e Nick Wilde, eu esperava que vocês fossem um pouco mais espertos. – a voz vinha do espaço imediatamente atrás da cabeça de Nick e, por um momento, a raposa pensou tê-la reconhecido.

Antes que Nick elaborasse uma frase em resposta, o leopardo deu a volta na cadeira.

— Geralmente, quando se pretende invadir um lugar, não se avisa o responsável por ele pra tomar cuidado com estranhos.

Nick finalmente entendeu.

— Você é o mordomo. – ele conjecturou.

— Mance Longtail. – o leopardo sorriu – esperava mais de vocês dois. Estou seguindo vocês a mais de dois dias e nem desconfiaram.

Nick lembrou da sensação de frio na sua nuca.

— O quê você quer?

A raposa percebeu que precisava distrair o felino enquanto colocava suavemente uma garra sobre uma das cordas firmemente amarradas às suas costas. A garra não era afiada o suficiente para cortá-las, mas talvez...

— Como assim, o que eu quero? – Mance pareceu intrigado.

— Por que nós dois? Por que hackear a ZIA por nossa causa?

O predador de pelo vermelho pressionou a parte mais afiada da ponta de sua garra do indicador no centro exato da corda.

O mordomo fez uma expressão surpresa, e em seguida riu.

— Ah, mas não sou eu o hacker. Eu sou só um empregado.

— É óbvio que não ia ser tão fácil. – Nick bufou – Mas vai que você tem alguma informação, né? Afinal, é um interrogatório.

A ponta da garra de Nick penetrou entre as fibras do tecido, perfurando a corda com dificuldade.

O Leopardo pareceu intrigado por alguns segundos.

Te peguei, Nick pensou.

Infelizmente, Mance se recuperou rápido.

— Muito engraçadinho. – ele falou – A sua sorte é que eu tenho ordens diretas pra não machuca-los... Muito.

O mordomo deu um passo para trás, para perto de uma mesa que Nick não havia notado anteriormente. Sobre a mesa estavam organizadamente dispostos os itens confiscados dos dois policiais, ao lado de um notebook.

Só então A raposa viu a gravidade da situação. A tela do notebook estava totalmente preenchida com uma única mensagem.

CONTAGEM PARA O ENVIO

2h:13m:55s

Nick retirou a garra e voltou a furar a corda a alguns milímetros de distância. Judy então notou a tela do computador também.

— Certo, tudo bem. – ela disse – o que você tem pra passar o tempo? Essa cadeira está tão confortável que eu poderia dormir de novo se não tiver alguma coisa interessante pra fazer.

— Vocês fazem piada com tudo?

— Com tudo, não. – Judy respondeu – só com o que não se brinca.

Então ouviu-se uma porta se abrir, e de repente ele estava ali, ao lado do leopardo. Ele cruzou os braços, com um sorriso sarcástico, antes de dar uma checada final na tela do notebook.

CONTAGEM PARA O ENVIO

2h: 12m: 24s

— Parece que Johnson cumpriu o combinado. - Ele virou- se para nick e Judy - vocês dormiram mais que o previsto! - ele olhou para o relógio em seu pulso - Quase Seis horas completas!

Judy encarou o recém-chegado com surpresa, mas não muita. ela havia ouvido a conversa.

E ele riu. Riu como se nada fosse mais engraçado do que as expressões dos dois policiais sentados na cadeira à sua frente. Como se a piada mais engraçada do mundo fosse observar o olhar chocado daquela raposa que se achava esperto.

Então Nick entendeu. Cada engrenagem rodou para o lugar exato e encaixou-se nele. O nosso sistema já foi invadido outras vezes, Jack dissera.

Quebre o vidro.

Cada peça se encaixou no seu devido lugar.

Primeiro: Porque algo tão importante estaria num cofre de banco?

Para poder ser roubado.

Segundo: Por que uma conta de fachada no nome de um político?

Para chamar a atenção.

E terceiro: Por que os planos de construção estariam com o diretor do FZI? Deviam estar em algum bunker ou banco de dados protegido, como o do NZA. Não faz o menor sentido.

Não fazia sentido por que não era real.

Nada era real.

Uma história para leva-los até ali. Uma história para prendê-los. Num instante, o plano dele ficou claro.

Enviar os planos.

Era o único modo. A expressão de Nick mudou lentamente de choque para compreensão. Finalmente ele descobrira quem estava por trás de tudo.

— É muito bom encontra-los novamente, amigos. – disse Jack Savage – Espero que tenham gostado da minha surpresinha.