8h:16m para o fim do prazo.

Judy apagou a lanterna assim que viu que o túnel não era levemente iluminado por uma luz vinda de baixo. Eles haviam caminhado por quase dez minutos, tentando ser o mais silenciosos que conseguiam. Ela calculou que haviam descido uns cem ou cento e cinquenta degraus desde que a porta da passagem se fechara automaticamente atrás deles sem fazer nenhum som.

O túnel não descia em espiral, e pelo que Nick conseguiu calcular, agora eles estavam abaixo da mansão. Haviam descido dois andares e meio.

— Essa escada nunca vai terminar? – Judy cochichou.

Nick simplesmente balançou a cabeça e checou o relógio.

— Faltam 8h pro fim do prazo.

— Resolveu roubar a função do Jack? – sussurrou de volta.

— Coelha boba.

A luminosidade começou a aumentar, e o casal se preparou para agir. Nick olhou novamente para trás. Nada além de escuridão.

Não há nada ali atrás, ele pensou. A porta foi fechada.

Virou-se e preparou-se para agir. Pegou a pistola em seu coldre e notou Judy fazendo o mesmo. Checou o pente por puro nervosismo.

— Reportar situação – a voz de Jack foi ouvida.

Nick fechou o pente e preparou-se para atirar, assustado com o som súbito. Estou ficando paranoico, disse para si mesmo.

— Estamos no fim da passagem. Preparando para entrar ao seu comando, comandante – ele conseguiu fazer uma piada, mesmo com o coração na boca.

O agente da ZIA não pareceu se abalar com o comentário.

— Podem entrar.

Nick deu uma pequena olhada sobre o ombro antes de olhar para Judy. Os dois continuaram a descer as escadas de concreto.

A luminosidade levemente amarelada começou a aumentar rapidamente, até que ele podia distinguir perfeitamente o estreito corredor em todos os detalhes. Então a escada acabou de forma tão abrupta quanto começara. Logo à frente, havia uma porta aberta. E do outro lado, uma sala bem iluminada.

Judy e Nick pararam por u momento antes de estarem próximos demais da porta. Então respiraram fundo e entraram, com as armas em punho. A sala era quadrada, toda em concreto, com uma área de mais ou menos 3m2. Na parede logo à frente, havia uma mesa coberta de equipamentos de todo o tipo. Computadores, variadas máquinas de oficina, peças espalhadas, brocas, pedaços aleatórios de metal e, principalmente, armas em vários estágios de montagem. Na parede direita, havia outra mesa parecida, porém nessa a pilha de objetos havia sido afastada para o lado, e jazia sobre o centro do tampo um único notebook.

Nick olhou ao redor. A sala estava vazia. Chegou mais perto da mesa à sua direita. A tela do notebook estava apagada, mas assim que Nick tocou o touchpad ela brilhou de volta à vida. O quê? – Nick pensou – sem senha? Não podia ser tão fácil. A primeira coisa que Nick fez foi checar o estado da bateria. Estava em 75%, desconectada do carregador.

Alguém esteve aqui a menos de 5 horas.

Ele olhou para a coelha.

— Seja quem for que esteve aqui, - cochichou – saiu faz pouquíssimo tempo.

A raposa sentiu um leve arrepio atrás do pescoço, juntamente com a sensação de estar sendo observado. Olhou para a porta entreaberta. Então respirou fundo, caminhou até ela e silenciosamente a fechou. As dobradiças eram bem silenciosas para uma porta tão velha.

Judy subiu na cadeira antiga de madeira sem estofamento que estava em frente à mesa.

— Vamos ver o que temos aqui. – ela disse.

A melhor policial de Zootopia começou a procurar por qualquer coisa que pudesse ajudar nas investigações.

— O quê encontraram? – Jack falou no comunicador.

— Acredite ou não, uma passagem secreta que dá numa sala com um computador. – Nick não acreditava no quanto tudo isso soava incrível – Estamos tentando descobrir qualquer coisa útil aqui que justifique um mandado de busca.

— Mantenham-me informado.

Nick Sentiu uma intensa vontade de pedir para Jack entrar. Alguma coisa dentro dele dizia para ele esquecer o orgulho e simplesmente correr. Mas ele continuou em pé ao lado do ombro de Judy enquanto ela procurava algo nos arquivos. Mas era praticamente um trabalho inútil.

O computador estava cheio de projetos de armas de todo o tipo.

Mas isso não era justificativa para invadir a mansão de um fabricante de armamento.

Se eles soubessem o tipo de arma que estavam procurando, teria alguma utilidade.

— Nunca vamos achar nada aqui – ele disse para Judy.

— Espere um pouco, pode ser esse aqui. – ela respondeu.

— Não, não é isso é uma espingarda.

— E esse aqui?

— Eu sei lá, sou policial, não perito em armamento pesado!

Judy não respondeu.

Nick sentiu novamente aquela sensação desconfortável na nuca, e quase virou-se para olhar para trás. Mas não virou.

Não seja idiota, ele pensou.

A dobradiça da porta atrás dele rangeu por décimos de segundo, produzindo um estalo quase imperceptível.

Então Nick sentiu.

O cheio que pairava no ar desde que ele e Judy haviam entrado na mansão. O cheiro que permeava tudo. O cheiro inconfundível.

O cheiro que, mesmo com seu faro apurado, sua mente afiada e sua ridícula visão noturna ele não havia percebido até então.

O cheiro de armadilha.

Nick apenas teve tempo de erguer a pistola até a altura do peito antes do impacto.

Uma dor lancinante perfurou o seu crânio alguns segundos antes da escuridão.

E Nick Wilde mergulhou no vazio.