Medo.

A primeira coisa que ele aprendera a ignorar.

Traição.

Todos no FZI e na ZIA sabiam que apesar dos seus muitos juramentos de lealdade, tudo era uma questão de trair a pessoa certa.

Sede de sangue.

Num trabalho como aquele, só os mais frios, duros e cruéis tinham chance de sobreviver.

E de lucrar.

O jaguar negro digitou a última senha e atravessou a porta. O último corredor, cheio de portas com painéis eletrônicos ao lado de cada fechadura. O corredor era branco, todo recoberto de azulejos, e o jaguar seguiu por ele.

Ele vestia um terno preto e uma camisa branca sem gravata. De algum bolso interno, ele retirou outro cartão de acesso, que inseriu na fenda da última porta do corredor. A porta apitou duas vezes, requisitando a senha. O jaguar a digitou. A porta produziu um agradável silvo ao abrir, e o jaguar saiu para um amplo estacionamento subterrâneo.

Ele pegou um celular no bolso e digitou um número, levando o celular à orelha. Uma voz atendeu do outro lado.

— Sim?

O jaguar negro deu um pequeno sorriso ao escutar aquela voz. Seus olhos dourado-esverdeados faiscaram. Eles possuíam pequenos pontos prateados ao redor das pupilas, como gotas de mercúrio.

Então ele está realmente de volta ao jogo, o jaguar pensou. Excelente. Pelo o jeito em que as coisas andavam, toda a ajuda era necessária.

O forte felino encostou-se em um carro esportivo preto imaculadamente limpo antes de responder o animal do outro lado da linha.

— Precisamos nos encontrar, velho amigo. – ele entrou no carro enquanto falava, girando a chave e acelerando até a cancela eletrônica na saída do estacionamento. – Sabe aquele pacote que nós estávamos procurando?

O jaguar teve tempo de digitar a sequência de números no teclado ao seu lado e acenar para o segurança sentado na cabine mais adiante antes que o outro respondesse.

— Sei.

O felino saiu da garagem, acelerando por uma estrada ladeada de pinheiros, Admirando a luz do luar sobre a paisagem. Depois fez uma expressão de desgosto.

— Sei onde ele está. Mas é provável que tenhamos um problema.

— Que tipo de problema?

O jaguar negro parou ao lado da estrada, pouco antes de uma ponte estreita, e olhou para baixo. A floresta acabava em um desfiladeiro logo ali, as rochas mergulhando numa escuridão tão profunda que nem a visão privilegiada do predador conseguia penetrar.

— Preciso que você se livre de dois animais para mim. O mais breve possível.

O jaguar nem se deu ao trabalho de esperar a resposta do outro antes de desligar o celular e jogá-lo pela janela do carro.

O aparelho caiu no vazio, e antes que chegasse ao fundo, o veículo já acelerava pela noite.