Nick estava cansado de não entender.

Primeiro aquele puma apareceu do nada, como se fosse o chefe da operação. Depois, ele foi cochichar com Savage, aparentando não saber de nada. Aí Savage responde algo que ele não escuta, olhando para Judy, e Judy faz a sua expressão mais exagerada de compreensão.

Então, sem mais nem menos, Jack Savage atira no puma. O tempo desacelerou enquanto o felino era atingido pela cápsula. Ele deu um passo para trás, tonto, e antes mesmo que terminasse de cair, Jack já atirava contra os agentes em pé na sala.

Ele acertou uma zebra e um lobo antes que tivessem tempo de engatilhar suas armas. O guaxinim agarrou o tablet e saiu correndo porta afora. Então Jack saltou. As cápsulas começaram a voar pelo ar no momento em que Jack colidiu com Nick e Judy, derrubando-os das banquetas e caindo com eles atrás da bancada da cozinha.

Nick não sentiu dor, apenas assustou-se com o repentino choque contra o piso. Judy imediatamente colocou-se de gatinhas e cutucou Nick para que fizesse o mesmo.

— O Que... – Nick começou a dizer.

Cápsulas choveram sobre a lateral da bancada, fazendo um som peculiar ao explodirem, lançando sonífero em milhões de pequenas gotas no ar. Jack virou-se para Judy.

— Ele não entendeu? – Jack perguntou incrédulo. – Sério mesmo?

— Não entendi o quê? – Nick soltou.

— Ele só faz o papel de raposa esperta – Judy respondeu – quem resolve os casos sou eu.

Então Nick finalmente entendeu.

Jack havia armado todo aquele plano cuidadosamente para expor o hacker. Mas no fim, tudo havia saído errado, e o guaxinim fugira.

— Aaah... – Nick expressou seu entendimento – Qual é o plano?

— Vão atrás dele. – Jack retirou um molho de chaves do bolso e entregou para Judy. – É o primeiro carro à direita no estacionamento do prédio vizinho.

Judy hesitou por um instante, enquanto mais cápsulas explodiam ao seu redor e Jack puxava um pente de munição de algum lugar de seu terno.

— Vão! – Ele disse – Eu cubro vocês!

Ele nem esperou um gesto de confirmação antes de levantar e começar a atirar. Judy e Nick levantaram, e começaram a correr. Jack atingiu mais dois agentes e atirou-se atrás do sofá branco que Judy tinha orgulho de conseguir que permanecesse dessa cor, apesar dos constantes desastres envolvendo Nick, pipocas, pizza e refrigerante.

Não demorou um segundo antes de ele deixar de ser branco.

Sentindo que aquele era o momento, Judy saltou sobre a bancada o mais rapidamente que pôde. Dos cinco agentes que ainda estavam de pé, três apontavam suas armas para o sofá, e dois viraram- se para ela no momento em que aterrissou do outro lado da bancada. Ela agarrou uma banqueta de metal – aquelas banquetas haviam sido caríssimas – e tentou com toda a força jogá-la sobre os dois.

A banqueta rolou de lado pelo tapete, muito mais lentamente do que Judy previra, e acertou as pernas de um dos agentes – um lobo – fazendo-o recuar um passo. Funcionou como distração, ao menos. Jack acertou mais um agente, e Nick saltou a bancada atrás de Judy. Juntos, eles correram para a porta, ouvindo as cápsulas explodirem no umbral e nas paredes ao redor assim que a atravessaram.

O corredor estava um caos. Vários vizinhos haviam saído de seus apartamentos para ver o que estava causando aquele tumulto cedo de manhã. Um velho alce saiu porta afora de roupão, gritando algo que pareceu muito com “peguem essas malditas doninhas!”. Judy tomou a dianteira, desviando dos moradores do prédio e correndo em direção ao fim do corredor. Nick se esquivou de um porco-espinho, quase derrubando um texugo, e a seguiu.

Assim que pôde ver o fim do corredor, começou a correr. O guaxinim havia entrado no elevador. Judy foi mais rápida do que Nick, correndo para tentar impedir as portas de fecharem. Mas não foi rápida o suficiente. As portas fecharam com um ruído baixo, e o elevador começou a descer. A coelha parou por um instante, para recuperar o fôlego, e Nick a seguiu pela escada.

Assim que abriu a porta, Judy agarrou o corrimão e saltou direto para o andar de baixo. Nick a seguiu o mais rápido que podia, pulando de três em três degraus. Só Judy saía pulando desse jeito. Os degraus eram um pouco maiores do que seria ideal, e cansavam suas pernas, mas ele conseguiu alcançar a coelha.

Estavam no primeiro andar quando a porta no andar inferior foi aberta com violência, e os agentes começaram a subir vas escadas. Judy abriu a primeira porta que encontrou - mais precisamente, se pendurou na maçaneta, que era alta demais para ela – e entrou no corredor. O modelo do prédio seguia uma lei antiga, que especificava que edifícios construídos para abrigar animais de diferentes espécies tivessem uma ordem no tamanho dos apartamentos.

O térreo e primeiro andar eram destinados à elefantes e afins, e o tamanho dos apartamentos diminuía conforme a altura. Por isso, o corredor em que eles se encontravam tinha o pé direito de mais ou menos seis metros. Judy não encontrou nada para trancar a porta, por isso, Nick indicou o fim do corredor, já detestando a ideia que acabara de ter.

A janela no final do corredor ficava a cerca de dois metros do chão do mesmo, e provavelmente a uns dez metros do chão no lado de fora. E estava aberta. Quando eles finalmente conseguiram subir até a beirada da janela através de um vaso de plantas, os agentes já haviam entrado no corredor. Judy olhou para baixo.

— Tem uma lixeira ali! – ela disse – É só pular!

E pulou.

Nick olhou para trás, para os agentes avançando em sua direção.

E pulou.

Bem, pelo menos, ele tentou.

Um grito escapou dos seus lábios quando Nick perdeu o equilíbrio, sentindo a dor explodir em suas costas ao atingir a borda da janela.

E ele caiu.