CONTAGEM PARA O ENVIO

02h: 12m: 11s

— Vocês dormiram mais do que o esperado – Jack continuou fazendo o seu monólogo irritante – mas tudo bem, isso deixa a nossa conversa mais... Emocionante.

O jaguar retirou o comunicador da sua orelha, colocando-o em cima da mesa.

— Agora podemos falar abertamente. – ele disse – Vocês são mais tolos do que eu pensei.

Nick perfurou a corda mais uma vez, sentindo as pequenas fibras arrebentarem. Mas a corda estava longe de se partir. Ele a furou novamente, deixando apenas um pequeno feixe de fibras segurando as duas partes unidas. Tomando um especial cuidado para que Jack não notasse o que estava fazendo, ele deslizou a pata lentamente para cima, pressionando-a entre o encosto da cadeira e as amarras, e começou a tentar furar a corda imediatamente acima da anterior.

A sua mão estava numa posição extremamente incômoda, mas Nick não eixou transparecer.

— Sabe, Jack, - ele disse – não pense que não desconfiamos de você.

— Espere aí! – Judy exclamou, encarando Mance e depois Jack – era de você que ele estava falando ao telefone quando eu ouvi aquela conversa no banco!

O sorriso presunçoso de Jack sumiu por um momento. Talvez porque ele não percebera os dois policiais comuns espionando a ele, o espião. Mas isso não o impediu de sorrir.

— Espertinhos, hein?

Nick furou a terceira corda pela quarta vez, sentindo que a malha estava ficando fraca.

— A gente faz o que pode, não é?

Jack aparentemente decidiu que era hora de acabar com a conversa fiada.

— Então, eis o meu plano: vou deixar vocês aqui, presos nessa sala ao lado do computador responsável por causar o maior ataque terrorista da história, depois vou invadir esse local com a ZIA e prender vocês em flagrante. Como já é de conhecimento geral que vocês fizeram alianças com potenciais terroristas e chefes da máfia, nem o juiz mais tolo do mundo hesitaria em condená-los. Enquanto isso, eu ganho muito dinheiro e uma medalha por serviços prestados ao país.

Não é nada pessoal, sabem? Eu apenas usei vocês porque eram os alvos mais fáceis. Incriminar Lions não adiantaria. Incriminar o senador Miller? Só faria o seu mandato ser cassado. Incriminar o diretor do FZI? Bem, ele está envolvido de qualquer jeito, mas seria tolice tentar expô-lo.

— Você só queria tirar o seu da reta. – A coelha o acusou.

— Precisamos de garantias, né? – ele disse – Espero que não levem a mal.

— Imagina! – Nick disse – Você só armou pra mim, metade dos meus amigos já fez isso. A propósito, espero que não leve a mal também.

— O quê?

Nick deslizou sua garra para baixo, partindo as cordas que ele havia preparado anteriormente. As amarras afrouxaram, mas não o suficiente para que Jack e seu colega notassem.

— Sabe, Jack... – Você esqueceu uma coisa.

— Como?

— Uma coisa muito importante, uma coisa crucial, uma coisa que, se quiser viver, se preza pela sua existência e pela sua sanidade, se não quer que sua vida se torne um inferno, você nunca coloca em uma armadilha*.

Jack sorriu sarcasticamente.

— O quê?

— Eu.

Nick fez um sinal para Judy, que se soltou das cordas e saltou sobre o leopardo. A raposa, por sua vez, demorou um milésimo de segundo a mais para soltar as amarras do que a coelha. Mas, assim que o fez, saltou para o lado, desviando o golpe de Jack Savage.

Ambos os agentes tinham mais experiência do que eles, mesmo com o elemento surpresa a seu favor. Não demorou muito para Jack tentar tomar o controle da situação. Ele golpeou Nick, lançando-o em direção à mesa, e o policial bateu a cabeça novamente, causando uma explosão de dor. Relâmpagos coloridos dançaram em frente aos seus olhos. Nick demorou para reagir ao próximo golpe, ainda tentando clarear a sua visão.

Eu não vou desmaiar de novo, Nick pensou. Então conseguiu desviar do ataque do agente, deslizando para baixo da mesa.

Judy era outra história. Ela havia ficado realmente furiosa consigo mesma por ter sido derrotada tão facilmente por aquele mordomo. e estava descontando toda a sua raiva nele. E daí que ele era um ex-espião?

Ela havia saltado da cadeira, atingindo o peito dele com seus pés e o derrubando. Ele havia levantado logo em seguida, mas Judy estava pronta. Ela desviou de seus ataques, saltando sobre a mesa e chutando a cabeça do rival, que perdeu o equilíbrio novamente, dando a ela tempo de procurar nas coisas sobre a mesa. Ali, no canto. O leopardo saltou, dessa vez acertando a coelha, que deslizou até quase cair da mesa.

Mance atingiu a mesa, caindo sobre Nick e arrastando consigo uma boa parte do equipamento que havia sobre ela. Felizmente, isso frustrou o ataque de Jack. Infelizmente, a pistola de Judy caiu e rolou para longe da coelha.

Enquanto Mance tentava levantar, se engalfinhando com Nick, Jack notou o que Judy estava prestes a fazer. Quando ela saltou sobre a luta, Jack saltou atrás dela.

Por um breve segundo,, Judy voou sobre o lindo piso de madeira de lei.

Então caiu, com a pata esticada a poucos centímetros da pistola. Jack caiu ao seu lado, também esticando seu braço para pegar a arma, enquanto com a outra mão tentava segurar a pequena coelha. Mas Judy sabia usar o “pequena” como vantagem.

Ela usou o braço de Jack como apoio para empurrar a si mesma com os pés, escorregando sobre o chão e pegando a arma. Antes mesmo de parar de deslizar, ela atirou, acertando o Jaguar no pescoço.

Nick estava levando a pior quando Judy levantou e atirou em Mance. Ao sentir o peso morto do leopardo caído sobre si, ele se arrastou de baixo do felino e encostou-se na mesa, cansado. Em seguida virou-se para Judy.

— Se você continuar salvando a minha vida desse jeito, eu vou acabar te devendo uma pra sempre.

— Se chama casamento, Querido**.

Nick sorriu.

Então virou-se para o computador. A mensagem na tela continuava a inexorável contagem regressiva.

CONTAGEM PARA O ENVIO

02h: 04m:15s

Nick começou a tentar todos o s comandos que sabia para cancelar. O teclado simplesmente parecia não funcionar. Judy tentou mais alguns, também sem resultado. Nada parecia parar aquela contagem.

— E se a gente tirar a bateria? – Judy sugeriu.

Nick virou o notebook, encontrando o compartimento da bateria, e tentou retirá-la.

A bateria não se moveu. Nick olhou com mais atenção. Todo o contorno da bateria estava preenchido com plástico derretido. Alguém havia soldado a bateria no corpo do notebook.

Nick desistiu.

— E se a gente só quebrar o computador?

— E o que garante que o arquivo não vai continuar sendo mandado?

— E se jogarmos água nele?

— Esse modelo é a prova d’água.

— Tá, então o que a gente faz?

— Ah, eu não... – Judy foi interrompida por um estalo alto no comunicador que Jack havia retirado do ouvido e posto sobre a mesa. Ela imediatamente o levou à orelha, fazendo um sinal para Nick ficar calado.

— Senhor? – uma voz chiava no comunicador – Senhor? Está na escuta? – Já cercamos o perímetro conforme ordenado. Aguardando novas instruções. As equipes Delta 3 e Ômega 9 estão entrando.

No chão, Jack Savage gemeu. O tranquilizante que eles haviam ganho era de ação rápida.

Os dois em breve estariam encurralados.

Judy começou a pegar rapidamente as suas coisas em cima da mesa e guarda-las nos bolsos.

— Vamos ter que correr. – ela disse.

Nick encarou Judy por um segundo antes de começar a pegar o seu equipamento também.

Ele pegou a caixa que Jack havia entregue a ele e colocou num dos bolsos laterais. Estava recarregando a pistola com cápsulas quando Judy segurou seu braço.

— Eles estão aqui – ela sussurrou, alguns segundos antes do esquadrão da ZIA arrombar a porta e invadir o local como uma onda.