Nick estacionou sob uma das árvores em frente à ampla calçada. Eles desceram em frente ao enorme portão de ferro fundido decorado em dourado. Haviam esculturas de bronze e latão dispostas simetricamente em todo o gradeado. Dois leões rugindo com uma fênix entre eles formavam o brasão dourado no centro do portão.

O muro devia ter uns três metros de altura, e era totalmente coberto de hera. Nick e Judy olharam entre as barras do portão, que eram largas o suficiente para Nick passar entre elas com folga. A única coisa visível era um caminho ladeado de cedros

— Então, nós entramos ou pedimos permissão?

Judy verificou a segurança. Além de sensores de movimento no topo do muro, haviam diversas câmeras espalhadas pelo local. E se, por algum milagre alguém entrasse sem ser notado por nenhum desses dois sistemas, haviam, a alguns centímetros do chão, vários sensores de calor.

— Que tal tocarmos o interfone? – ela sugeriu.

Haviam vários botões, dispostos em painéis de variadas alturas. Nick pôs as mãos na cintura, impressionado.

— Bem, ele recebe visitas de todos os tamanhos.

Ele apertou o botão. Quase imediatamente um mordomo atendeu, e o aparelho produziu um chiado.

— O que desejam?

Ele já nos viu pelas câmeras, Nick pensou.

— Somos Nick Wilde e Judy Hopps, do DPZ – Judy fez uma careta para ele enquanto o raposo continuava a falar – Gostaríamos de saber se o Sr. Lions pode nos receber.

O mordomo demorou um segundo e meio para responder.

— Infelizmente, o Sr. Lions está viajando à trabalho – o mordomo falou com a sua voz educada. Apesar do treinamento que recebera uma vez, antes de entrar para a polícia, sobre como identificar o tipo de animal pela voz ao telefone, Nick não conseguia nem dizer se ele era presa ou predador – Com previsão de chegada apenas na semana que vem. Gostariam de deixar uma mensagem sobre o motivo da visita?

Nick relanceou o olhar para Judy com o canto do olho.

— Esse é um assunto confidencial – a raposa sorriu – se alguém perguntar, nós não estivemos aqui. Quando o Sr. Lions chegar, diga a ele que voltaremos assim que possível.

— Sim, e o que mais?

Nick passou-lhe o seu número de telefone.

— Nos avise nesse número quando ele estiver disponível, por favor.

— Claro.

— E mais uma coisa – Nick disse –Você notou qualquer coisa fora do comum, qualquer animal estranho rondando a propriedade ou coisas do tipo?

— Não, na verdade vocês dois são os primeiros a aparecer em duas semanas.

Nick fez uma expressão confusa.

— Quando foi que o Sr Lions Saiu de viagem?

— Foi antes de ontem.

— Obrigado, o senhor foi de grande ajuda. – nick precisava acrescentar algo – Se algo estranho acontecer, me ligue imediatamente.

— Farei isso, oficial.

Judy e Nick voltaram para o carro, e Nick suspirou ao sentar-se ao banco do motorista. Judy o encarou com a testa franzida.

— Você não devia ter dito nossos nomes – ela o recriminou.

— Calma, cenourinha – o apelido antigo deixara de ser ofensivo a muito tempo – Não somos agentes da ZIA. Além disso, você não notou as câmeras? O sujeito tinha nossos rostos.

— Então, o que faremos? – ela perguntou de uma forma estranha, como se já soubesse a resposta. Nick olhou no fundo dos olhos dela e sacudiu a cabeça.

— Não. Nós não vamos invadir. Fora de cogitação. – ele falou.

— Bem, devíamos ter pedido pra entrar e interrogado decentemente o mordomo.

— Pois é, nem pensei nisso.

— E já teríamos um mapa do terreno.

— Tá bom, falha minha, já entendi.

— E um mapa geral da segurança.

— Quer parar?

— E saberíamos por onde começar a procurar.

— Já deu, cenourinha.

— E saberíamos que tipo de animal o mordomo é, o que iria ajudar muito na hora de entrar.

— Ah, você não vai parar, não é? – Nick resmungou, exasperado – entendi! Eu errei, tá legal? Sou um péssimo policial! Tá bom assim? Você é mais esperta! Coelha esperta, raposa boba, ótimo, hahaha!

— E poderíamos...

O que quer que ela fosse dizer, foi interrompida pelo toque do próprio celular, pelo que Nick deu graças à Deus mentalmente.

Mas seu alívio terminou quando ele viu quem era.

Jack.

Judy deslizou o dedo pela tela do celular para atender a ligação.

— O que aconteceu? – Judy nem se deu o trabalho de dizer “oi”. Antes de colocar a ligação no viva-voz.

— A pista de vocês deu algum resultado?

Judy suspirou.

— Descobrimos que o antigo dono do cofre é Gregory Lions, da Lions & Roars. Pode ser só coincidência, mas...

— Mas vocês não acreditam em coincidências.

— Não. – Judy deu relanceou o olhar para Nick – uma curiosidade interessante é que Lions está em “viagem de negócios” e não volta tão cedo.

— Mais coincidências? – não era uma pergunta – odeio quando tem empresas envolvidas.

— É o que parece – Judy recebeu uma cutucada de Nick, que ela entendeu exatamente o que significava – Foi por isso que você ligou?

— Ah... Não, na verdade não. – Jack fez uma pequena pausa – lembra aquele prazo que você mencionou?

— Lembro, por quê? Era uma piada.

— Um hacker invadiu nosso sistema há alguns minutos.

— O quê? – ela encarou Nick, incrédula.

— Conseguiu acesso ao banco de dados por cerca de três minutos, que ele usou pra assumir a autoria do roubo e deixar uma mensagem.

— Que mensagem?

— Ele avisou que vai colocar os planos da arma em domínio público na internet e enviá-los para toda a nossa lista de suspeitos de terrorismo daqui à doze horas.

Judy sentiu que seu coração iria parar, e não gostou de relembrar a sensação.

— O quê ele quer? Dinheiro? Anistia?

— Nenhum dos dois. – o agente respirou fundo - Ele fez um pedido muito estranho.

— Como assim?

— Ele deve ser louco, ou algo do tipo.

— Jack, o que foi que ele disse? – Judy já estava começando a hiperventilar.

Jack Savage demorou cinco segundos para responder.

— Ele disse “Nick Wilde e Judy Hopps tem doze horas para me encontrar, sozinhos, antes que eu envie os planos”.

— Como assim, nós dois? – Nick falou, quase cochichando – E a ZIA?

— Não me pergunte como, ele conhece vocês. E é esperto. Ele vai saber se estivermos acompanhando vocês.

— Então estamos sozinhos. – Judy disse.

— Não foi isso que eu disse.

— Então o que foi que você disse? – Nick começou a falar num tom perigosamente calmo. Judy, que estivera imóvel desde o início da conversa, pôs a mão delicadamente em se ombro, sentindo os músculos tensos relaxarem de algum modo.

— A ZIA não vai poder acompanhar vocês nas missões de campo, mas toda a nossa equipe de analistas estará à disposição. Também estaremos prontos para agir, e a partir de agora, essa é uma questão prioritária de segurança nacional.

— E o hacker? Ele não pode descobrir que estão nos ajudando à distância?

— Não é um fato conhecido, mas nós já fomos invadidos por hackers antes. Estamos reforçando o sistema nesse exato momento. Acredite, ele não vai entrar novamente.

— Certo – Nick coçou a nuca – então, quero o mapa do terreno e da segurança da mansão de Gregory Lions. Arranjem a planta, ou algo assim.

Judy sorriu ao olhar para ele. Cobrindo suas falhas, Nick?

— Mais alguma coisa? – Jack Savage perguntou.

— Já que estamos falando da ZIA, bem... vejam se conseguem descobrir onde Lions está.

— Já estamos trabalhando nisso. – Jack fez outra pausa – vocês vão entrar na casa dele, não é?

— Vamos.

— Mas não sem equipamento, espero.

— Vocês tem algo em mente?

— Venham até o banco assim que possível. eu levo vocês até a nossa base tática.

— Estamos indo – Judy disse. E desligou.

— Maldita a hora em que atendi aquele telefonema! – Judy disse.

— E nós temos um prazo, afinal.

— Se arrependimento matasse... – Judy disse. – Queria engolir as minhas palavras.

— Eu também. – Nick respondeu – somos agentes da ZIA agora.