Zodíaco

0.10 — Destruídos


Eram motivos únicos e insensatos para pessoas morrerem ali. Eletrocutadas e abusadas todos os dias. O motivo? Existir.

Delírio Insignificante, Pauline Morris.

Você levou uma surra, cara. — Charlie gargalhava enquanto abria um saco médio de amendoins.

— Se existisse um prêmio de melhor informação, com certeza, você estaria sendo um dos selecionados. — Oliver tenta ficar sentado na cama, e consegue, pegando o saco prateado do amigo. — Para de comer, Charlie. Onde está aquele enorme burrito no seu estômago?

— Eu ganharia o prêmio, meu amigo. — O garoto dos olhos verdes vibrantes elevou uma piscadinha para o semideus, que revirou os olhos. — Sabe-se que a comida é vida pra mim, então deixa eu aproveita-la. — pega de volta o saco e joga alguns na boca.

— Mas sério, eu fui arrebentado na hora ou pelo menos lutei um pouquinho?

— Você realmente não se lembra, não é mesmo? — Charlie joga o saco – já vazio – no amigo. — Ela queimou apenas o seu braço, puff, venceu.

— Como assim “queimou apenas o seu braço”? — Oliver mostra o mesmo – queimado e cheio de curativos. — Isso é apenas “queimar”?

O garoto revira seus olhos verdes.

— Selene veio te ver hoje de manhã, mas você estava dormindo.

— Por que não me acordou, seu idiota?

— Ela ficou aqui só por alguns segundos, cara. — diz. — Lucius chamou-a para ir com ele em algum lugar.

Oliver sentiu frio em uma das mãos – a qual não estava enfaixada –, parecia que gotinhas de chuva estavam caiando apenas na mesma. Arrepiou-se até sua espinha e olhou no canto de um dos olhos seu amigo rindo, fitando-o.

— O que foi? — pergunta.

— Você está com ciúmes. — o garoto de olhos verdes ri um pouco mais, abrindo um pote de sorvete e metendo a colher cheia na boca.

— Delirando, Charlie. Você está delirando. — revira os olhos.

— Sua cara ficou na coloração acima da cor vermelha, cara. Tenho certeza que não foi de vergonha. — o amigo engole mais uma colherada e levanta uma de suas sobrancelhas. — Ciúmes, não. Eu chamaria de “extinto protetor da sua companheira”. — abaixou sua cabeça, gargalhando enquanto enfiava a colher no fundo do pote.

...

A garota olhava para os cronogramas dos TJE enquanto passava em caneta no seu bloco de anotações do tamanho da sua mãos dias semanais das lutas. Se ela estava com vontade de fazer uma outra coisa ao não ser um favor para Lucius? Sim, queria. Queria correr para o pequeno hospital do grande navio e dar um murro na cara do seu melhor amigo. Como pode o mesmo ser tão azarado?

— Onde está o seu amiguinho? — uma voz marrenta diz atrás dela.

Os olhos cinzentos com vários vestichos da cor violeta passando por eles. As mechas loiras encaracolados cobria metade do rosto da garota, mas lá dentro, aonde Selene guardava suas lembranças mais distintas, sabia quem era a garota.

Bezzus Swans. — balança sua cabeça negativamente. — Já não basta ter acabado com o meu amigo?

— Não. — ri Bezzus, cruelmente, é claro. — Na verdade, ele não é tão importante assim. Quero falar uma outra coisa com você.

— Fale então. — Selene ainda com os olhos fixos na tela do cronograma.

Isso mesmo, ela não queria ouvir uma só palavra sair da boca da garota de olhos violetas – mais ou menos. O seu plano era apenas acabar de anotar e correr para o hospital, mas parece que nem tudo sai como o planejado.

— Eu sei o que está acontecendo fora deste navio. — a garota sussurra. — Se não me colocar no plano de vocês, irei contar para todos os iludidos o caos que está chegando para essas terras, quero dizer, mares.

“Não conte, não pode contar”, Selene pensa enquanto engole em seco.

— Não sei o que está falando.

— Prypat sendo o primeiro a declarar guerra, os guardas sendo mortos pelos rebeldes e não-dominadores torturando dominadores. Sei que sabe, Selene. — Bezzus a olha por alguns segundos, e depois de sentir a tensão que percorreu o corpo da não-dominadora, riu. —Espera, seu grupinho ainda não te contou, não é? Pensei que estaria atualizada após ao ataque em Hustyl, não é lá mesmo que sua família mora?

Selene xingou-se por dentro, fechando o bloquinho e por alguns segundos, sentiu a raiva preencher seu corpo.

— Chega. Não precisa repetir o que já sei á tempos, Swans. — mentiu, apertando o botão da porta tecnológica, saindo da sala.

...

Como assim isso não é importante, Lucius?

— Por que isso é tão importante pra você, Selene? Aquela cidade foi destruída, não existe uma alma viva naquele fim de mundo. — o garoto joga alguns documentos na mesa, não olhando uma vez se quer a amiga.

— Como assim destruída?

— Todos os moradores foram mortos, Selene. Guerra, lembra? — ele ouviu uma resposta: a porta sendo batida fortemente.

...

Seus pés estavam cheios de calos, ela tinha certeza. Havia corrido mais do que esperava correr, estava num corredor sem número – já que a placa estava totalmente rabiscada e acabada.

Ouvia sussurros e gemidos de dor. Por que estava aqui mesmo? Ela não lembrava o por que e nem como voltar. Olhou para trás, viu apenas a extensão de um corredor triste e cinzento e resmungou:

— Que droga.

Sua visão encontrou uma garotinha, com cabelos loiros e vestido florido. Suas mãos delicadas e pequenas segurava um saquinho prateado. “Amendoins, é claro”, Selene pensa antes de sorrir amigável para a criança.

Uma risada debochada sai da boca da mesma, e então, larga o saquinho, deixando cair vários amendoins no chão sujo. A não-dominadora faz uma careta, um choque frustamente ruim percorre o meio de suas costas. Ela se ajoelhou na frente da garotinha, sua imagem se contornou, parecendo um espirito.

O formato da criança cresceu, se transformando em uma adolescente com mais um sorriso, só que maligno. Foi ai que apareceu dois guardas, com o mesmo rosto e expressão.

— Me ajude. — sussurra para eles, recendo em troca um apertão em cada braço, os mesmos a puxaram para levantar-se, mesmo não conseguindo.

— O que vamos fazer com ela? — um deles pergunta.

O espirito - antes uma garotinha - meche com as mãos, direcionando para o longo corredor a frente.

— Leve-a até o fundo, já pegamos dois. — sorri para Selene. — Só falta mais cinco.