Zodíaco

0.11 — Sangue & caldo de galinha


Leiam as notas iniciais, seus bocós :3

Deveriamos morrer rapidamente. Mas como eu queria, realmente queria, que os crueis que fazem nosso mundo morrer sofressem, facadas lentamente dadas para todos eles seria nossa salvação.

— Delírio Insignificante, Pauline Morris (Jordan Packson)

Ela estava caída sobre o chão, sua bochecha gélida tremia, apertada sobre todo o peso de sua cabeça. Ouvia múrmuros, mas não conseguia abrir seus olhos. Era como se uma onda de calor percorresse seus ossos e alma. A dor preenchida por ódio e... lembranças.

Aquela garotinha lhe era familiar. Mas como? Por que ela machucaria seus amigos para ter uma vingança – talvez – de Selene? Queria que a mesma sofresse? Bem, a garotinha estava conseguindo.

Imaginar Oliver, Kalyn, Lucius e até mesmo Charlie presos aqui, seria realmente uma dor horrenda. Não era isso que a garotinha estava falando? Sete pessoas... isso quer dizer que seus amigos juntando ela mesma formam seis... existe mais alguém. Mas quem?

Luna?

Suas pálpebras estavam queimando, mesmo assim, Selene conseguiu abri-las para olhar uma forma sombria encostada na parede. Ele estava acabado. Ainda com sua roupa branca – agora, nem tanto – do hospital, Oliver a fitava como se a mesma não estivesse ali. Invisível. Sentiu-se assim.

— Tente sair daí, agora. — ela se mexeu desconfortavelmente, sentindo algemas gigantescas e pesadas juntando seus dois pulsos, esperou uma explicação. — O tubo de aço atrás de você está soltando uma onda de radiação imensa, você vai morrer daqui a alguns dias se não sair daí agora. — diz, antes de desviar o olhar assustado da amiga, sentou-se melhor no chão imundo da pequena salinha e fitou a parede verde-musgo. Lembrou-se de uma pessoa, sentiu-se culpado. Muito mais culpado do que há segundos atrás.

Quando conseguir seguir de joelhos até ao lado do amigo, sentar-se e ouvir um gemido de alivio, Selene suspirou. Não era só o mesmo que estava ruim, ela também estava. Péssima. Suas pernas marcadas por mãos grandes e agressivas, havia uma cicatriz imensa em seu pulso, começando em seu dedo anular até na metade do seu ante braço.

— Me desculpe. — sussurrou enquanto passava suas mãos no pescoço vermelho. Sua nuca estava quente, ótimo.

Christine Xavier.

— Quem?

— Aquela garota que... você sabe. — o amigo engole em seco.

— Sequestrou a gente e fez isso com você? — Selene colocou sua mão no braço direito do amigo, as marcas roxas e amarelas cobriam, por incrível que pareça, toda a extensão de pele que havia ali. — Sim, sei quem é.

Ela bateu sua cabeça várias vezes na parede, o fundo dos seus olhos preenchidos por um circulo vermelho. Apenas um deles estava realmente comprometido. As mechas cinzentas se tornaram pretas e a coloração dourada parou de se destacar naquela pele branca da garota.

Ele não estava muito melhor. Seus olhos negros perderam o brilho e a ordem de olhar para coisas exatas. Como se estivesse cego. Os dois braços totalmente acabados, um roxo e outro vermelho. Uma linda coisa para se gabar.

Pessoal, olha que incrível o que uma garotinha fantasma fez comigo, pensou e aquele pensamento idiota o fez quase rir. Quase. Sim, ela tinha apenas sete anos. Não, eu não sou fraco, apenas covarde e um inútil aos olhos da minha melhor amiga. Nada demais.

Precisamos sair daqui. — Selene deita sua cabeça em seu ombro e suspira novamente, olhando para o nada. — Se o que você diz é verdade, a radiação percorrerá esse quarto em menos de 24hrs. Realmente, vamos morrer.

— Temos que fazer alguma agitação para aqueles bobocas tirarem a gente daqui. — Oliver murmura, fitando a porta de ferro enferrujado. — Grite.

A amiga franziu o cenho.

— Como?

— Você me escutou. — ele a olha relutantemente. — Grite, agora.

O semideus levantou-se e bateu na porta, mas depois, suplicou para a garota.

— Por favor, Selene. Grite.

Engolindo em seco, a garota soltou um resmungo. Chegou ao lado do amigo e chutou a porta.

— Irei fazer algo melhor. — esmurrou com o seu ombro a porta, virada para esquerda, olhando Oliver enquanto fazia o ato. — Sua vez. Grite.

Eles não iram deixar! Vamos morrer! — grita, segurando o riso e retribuindo o olhar divertido para a amiga.

Os dois amigos foram empurrados cuidadosamente enquanto a porta era aberta. Christine segurava uma bandeja prateada, com copos e pratos de metal. Totalmente vazios. Existe um sorriso dócil mostrando estratégia e rompimento. Esse tipo de categoria se preenchia nos lábios finos e brancos da garota.

— Bem, hora do almoço. — cantarola.

...

— Você tem que comer. — Oliver sussurra fracamente, colocando mais uma colherada da sopa de galinha com mau cheiro na boca. — Por favor.

Eles não estavam mais com as algemas, mas a força corporal estava tão abaixo do nível que o espirito não se importou em deixa-los livres na sala. Selene piorou a cada segundo que sentia as mãos do amigo saírem do prato fundo, levando a colher cheia até a boca já roxa pelo frio do local – ou talvez, dos mais raios que saiam pela ventilação frente a eles.

— Você sabe que vai passar mal após acabar de comer essa... coisa, né? — Selene levanta uma de suas sobrancelhas, enrugando o cenho por desgosto.

— Cale a boca, Luna. Presta a atenção; tá uma delicia. — o amigo balança sua colher de prata na cara da não-dominadora – que revira os olhos. O mesmo tossiu um pouco e resmungou: — Acho que engoli um pedaço de frango.

Antes mesmo de responder, Selene fitou a garganta cor de papel do semideus se endurecer e começar a se colorir em outra cor – a vermelha. Engoliu em seco e pensou enquanto encostava suas costas tortas na parede.

Só um pedaço de frango, garotinha, uma voz sussurra dentro de sua cabeça, como se outra Selene dirigir-se a mesma. Apenas isso.

Foi ai que o semideus começou a tossir, era um som estranho e ao mesmo tempo familiar. Se algo sairia de sua boca? Bem, ela não sabe. O garoto tampou-a para romper o grunhido alto que saia sem permissão.

A não-dominadora tinha aguentado firmemente as duas ocasiões de espíritos e quase-mortes do melhor amigo, mas aquilo... era como se algo invisível estivesse enforcando o mesmo, e ela, não sabia nem ao menos o que fazer.

Ele se levantou, mas após alguns segundos caiu novamente, de joelhos. Abaixou-se enquanto a amiga se levantava rapidamente e colocava suas mãos nas costas frias do mesmo. Desespero. Sentiu-se desesperado.

A mão direita já estava na garganta, em um ato inútil de fazê-la parar, o que era impossível. Selene apareceu em sua frente, de joelhos também. As lágrimas saiam sem permissão alguma pelos dois corpos presos um no outro.

Ela não sabia o que fazer, claro, gritar não era uma opção muito coerente. Suas mãos começaram a tremer enquanto colocava-as nas bochechas rosadas do semideus. Falecendo. A cabeça do mesmo começou a abaixar sem nenhuma explicação. Foi ai que os sentidos se desligaram, e o corpo sem sentido caiu no chão.

As orbitas contornadas de vermelho o olharam acabadas. O único pensamento que a mente da amiga pensou depois de fitar as veias saltando do pescoço do desacordado foi: aquilo não poderia ser apenas um pedaço de frango não mastigado, aquilo era maior que isso.