Yu-Gi-OH! - Hollow Fighters

Vol. 1: "A soberba do homem o abaterá..."


OST: Full Metal Daemon Muramasa - Grief

Três dias já haviam se passado desde a briga no refeitório.

— Aquele pirralho de merda!

Mas para Tsuguhiko parecia que havia acontecido a poucos minutos, mesmo depois de 48 horas já terem se passado desde a confusão. O sangue do ex-duelista ainda fervia de raiva do ocorrido, sobrando para os ouvidos de Kawata e Tashiro, e como sempre o velho detento nunca era piedoso com os tímpanos dos amigos.

— Como pode existir um bastardo tão inconsequente? Causa confusão na frente dos guardas! Brigar com o Hayakawa no meio do refeitório, o que ele quer ganhar com isso? – Gritava o velho duelista andando de um lado para o outro.Tashiro por um momento achou ter visto fumaça saindo dos ouvidos do ex-duelista.

— Calma Tsuguhiko-san.

— Me acalmar? Como que eu vou me acalmar, Tashiro? Você sabe da índole do Hayakawa, ele vai perseguir o Samson até o inferno! – Esperneou o homem de idade avançada – E eu não posso deixar isso acontecer! Mas se eu interferir eu vou acabar virando um alvo daquele sociopata!

Os três colegas estavam enfurnados dentro da biblioteca. Em situações normais esse tipo de gritaria seria proibida na biblioteca, na verdade é proibido, mas pouquíssimos detentos costumam frequentar a biblioteca durante as horas vagas, atividades físicas como basquete, futebol e vôlei eram mais populares em Kosuge. Por conta disso, o recinto se tornou um lugar quase que exclusivo do trio por motivos óbvios.

Tsuguhiko ao menos sabia que Kawata, se pudesse, nunca estaria enfurnado nesse lugar, contudo o jovem não era tão destemido quanto Samson para se envolver com pessoas como Hayakawa, provavelmente esse era o motivo de alguém da idade dele andar com dois velhos como ele e Tashiro.

— Qual é velho, esquece aquele fodido – O mais novo xingou - O Hayakawa é amigo dos caras mais barra pesada dessa porra de lugar, eles vão cair matando na gente!

— Eu sei! Eu sei! Só me deixe pensar um pouco… – Proferiu Tsuguhiko que finalmente cessa sua caminhada para se sentar.

“O que fazer?” Pensou ele com todos os seus neurônios funcionais. Como impedir uma briga entre cães raivosos? A falta de resposta para essa dúvida resultaria numa derrota definitiva. Ele até pensou em falar com os guardas ou com o diretor, mas os oficiais só poderiam agir após algo já ter sido feito, e não é como se dois meses de solitária, ou um agravante na pena, fossem parar Hayakawa. Para pessoas como ele a prisão é como seu habitat natural. Por mais que Kosuge não seja uma prisão que abriga assassinos e estupradores, nada garantia que aquelas pessoas lá dentro não sejam potenciais homicidas.

O que fazer?

Desistir? Não, viver na mediocridade nunca seria uma opção, mesmo que sua vida estivesse em risco.

Procurar por outra pessoa? Não faltava muito tempo para a liberação de Tsuguhiko, o lado de fora é um mundo vasto, cheio de talentos… Não, definitivamente não, o que fazia de Samson a maior das aquisições é por ele ser um jovem talentoso que está em um nível tão baixo quanto o ex-duelista, que outro jovem de 18 anos que tenha um mínimo de dom para duelar estaria fazendo ao lado de um velho bêbado e quase cego? Existem centenas de academias de duelo esperando por esse tipo de estrela.

Além de que a aura de Samson era única, talvez não encontrasse outra pessoa que despertasse seus instintos dessa maneira. Kouda Samson era a variável entre as variáveis. Uma oportunidade para escalar esse poço que era a sua vida.

— Eu já sei! – Manifestou Tashiro.

[...]

OST: Death Note - Jiken

O corpo de Samson caiu com tudo no chão depois de um cruzado de direita. Sua visão ainda estava turva com o balanço do seu cérebro depois da pancada direta no queixo, tentou se levantar novamente, mas as pernas bambas, mesmo que conseguisse, acabaria caindo de novo. O moreno olhou aos seus arredores e só o que viu foi sangue espalhado pelo chão em pinceladas, assim como uma pintura modernista.

Olhou de canto para o seu colega Fukuda, um homem que mesmo deitado ainda podia ser imenso, mas esse seu peso nem de longe tinha sido o suficiente para garantir a vitória dessa vez. O maior estava com seu uniforme preto e vermelho com uma nova cor aderida pelo tecido que agora estava manchado, seu rosto robusto estava inchado e roxo como uma beterraba. Pela dor que Samson sentia, o seu desvia estar numa situação parecida.

Era inútil, mas mesmo assim Kouda tentou se colocar de pé outra vez e armar as mãos.

— Olha que fofo ele tentando se levantar hahahahahaha! – O comentário de Hayakawa tirou uma gargalhada dos outros detentos que cercavam Samson no pátio – Eu sei que temos as nossas diferenças, meu pequeno Kouhai, mas acho que dessa vez seria prudente ouvir os conselhos do seu senpai.

Hayakawa levantou seu pé. Uma imagem familiar de dois dias atrás veio à mente de Samson.

— Fica no chão! – Seu chute veio com tanta potência contra o rosto de Samson que o sangue chegou a pincelar o muro atrás dele. O moreno mais uma vez veio ao chão, mas essa visão obviamente não seria o suficiente para Hayakawa, não tinha sido nos últimos dias, ele não ficaria satisfeito agora – Tsc… Levanta ele, Uemura.

— Sim senhor! – O tal Uemura, um homem de aproximadamente 30 anos e cabeça raspada, deu a volta no corpo caído do moreno, o segurou por baixo das axilas e o colocou de pé, fazendo uma chave ao redor dos seus braços para que não escapasse.

— Mantenha ele assim, do jeito que eu GOSTO! – Um soco colidiu em cheio contra o estômago de Samson. Mais sangue manchou o chão – Talvez assim ele aprenda como as coisas funcionam por AQUI!

— Argh! Cof! Cof! – Outro soco acertou a barriga do moreno.

— É doloroso não é? Vamos admita, eu sei que é – Riu Hayakawa com um sorriso distorcido no rosto – Eu vou repetir a minha proposta pra você mais uma vez: Eu estou disposto a parar com um pedido de desculpas bem generoso vindo de você, seguido por um pouco de trabalho comunitário a fim de compensar os prejuízos que você causou.

— Em resumo… Voc- Cof! Cof! Você quer que eu beije seus pés e me transforme no seu mordomo particular - Balbuciou Samson ainda com a cabeça girando.

— Se você quiser enxergar dessa forma… – Riu Hayakawa, sendo seguido por seus homens.

— Foi mal mas isso não- Argh! Cof! Cof! – Outro soco, dessa vez tinha sido um pouco mais acima, entre o tórax e a barriga. Samson se segurou muito para não vomitar seu café da manhã com aquilo.

— Eu estou sendo cortês demais com você, Kouda Samson, cortês até demais - A expressão divertida abandonou o rosto de Hayakawa, sobrando apenas um semblante de mais puro ódio - Não aceito que venha a recusar minhas boas maneiras, então é bom aceitar ou eu e meus rapazes vamos continuar com nosso “tratamento vip”.

— Hehehe… Tratamento vip é? Cof! Cof! Que piada…

— O que disse?

— Eu disse que você é uma piada! – Samson levantou seu rosto ensanguentado para poder encarar Hayakawa nos olhos – Acha que eu não sei o que é esse teatrinho todo? Acha que eu não ouvi as merdas que andam falando de você aos quatro cantos dessa penitência dos infernos? Eu sei como covardes como você funcionam, “O Hayakawa apanhou de um novato? Que vexame”. Você não me trouxe até um lugar isolado na porra do pátio só pra me bater, poderia ter feito isso em qualquer lugar.

Samson gritou para Hayakawa a plenos pulmões, o mais alto que conseguia, saliva e sangue espirrava de sua boca. Cada palavra que ele cuspia era uma nova apunhalada contra o orgulho do mais velho. Podia dizer isso só pela careta que fazia a cada xingamento proferido.

— Você não queria que ninguém visse o quão patético você é! Vindo para cima de nós em 8! – Gritou – Eu não imaginava que um criminoso perigoso poderia ser tão infantil, você não tem vergonha Hayakawa? Vergonha de ser tão patético!

— Cala a boca! – Hayakawa levantou seu punho mais uma vez.

Samson apenas respondeu a agressividade do mais velho com um sorriso vermelho, tinha conseguido o que queria. Hayakawa se aproximou para continuar com o castigo do novato e foi nesse momento que o rosto dele ficou na mira. Samson reuniu todo o sangue e saliva que tinha na boca e cuspiu bem no olho de seu agressor.

— Argh! Seu filho da-

O moreno imediatamente se colocou de pé, balançou a cabeça para frente e depois pra trás com tudo, acertando o nariz do tal de Uemura, recebendo um “crack” como resposta ao seu golpe. O careca não teve opção a não ser soltar Kouda devido a dor, o que deu a oportunidade de Samson agarrar Hayakawa pelo colarinho, empurra-lo para o chão e montar em cima dele. A chuva de socos não demoraria para começar.

Um.

Dois.

Três.

— O que vocês estão esperando? – Gritou um dos comparsas de Hayakawa.

Cinco.

Seis.

Antes que Samson pudesse aplicar um sétimo ou oitavo soco, um dos detentos ali acertou a sola do sapato contra seu rosto já inchado, o derrubando.

— Argh, cof! Cof! Cof!

— Hayakawa-sama o senhor tá bem? – Comentou um dos homens que ajudava Hayakawa a se levantar.

— Me solta! Eu sei me levantar sozinho! – Gritou o líder, recusando a ajuda de seus homens – Ah… Seu… Fodido! - Mal havia levantado e já correu para acertar o rosto de Samson no chão.

O jovem outra vez cuspiu sangue e se encolheu não chão com os braços ao redor do rosto para tentar se proteger dos outros chutes que vieram logo em seguida de Hayakawa e seus homens.

— Fodido! Fodido! Fodido! Filho da puta!! SEU FILHO DA PUTA! – Gritou Hayakawa.

A punição seguiu por aproximadamente mais dez segundos até os detentos terem esvaziado toda a sua ira sobre o novato. Todos estavam ofegantes.

— Huff… Huff… Sua pena vai durar mais três anos, não é? Ótimo – Hayakawa cuspiu em cima de Samson - Se Kosuge não consegue oferecer uma punição decente a um merdinha como você, eu mesmo vou fazer isso, bem vindo ao seu inferno pessoal, seu bostinha.

Hayakawa se virou para ir embora, sendo acompanhado pelos seus homens, com exceção de Uemura que não pode se conter e aplicou outro chute certeiro no moreno.

— Isso é pelo meu nariz, seu merda – Se Samson não tivesse morrendo de tanta dor, ele teria rido da voz anasalada que Uemura tinha naquele momento.

E por fim sobrou apenas Fukuda e Samson no pátio.

— Huff… Huff.., Você é… M-maluco, sabia? – Disse Fukuda entre gemidos de dor.

— Então… V-você tava a-argh… Acordado – Respondeu Samson olhando para o colega gigante caído.

— Devia ter feito igual a mim… E… E se fingir de morto.

— Eles… Argh… Não iriam parar… E se eu tivesse feito isso, provavelmente nós dois estaríamos apanhando ainda – Explicou o moreno.

— Olha que fofo… Protegendo seu colega…

— Não é nada disso imbe- Argh… Ai… Ai… – Até mesmo conversar era difícil agora – Eu só… Não sou de… Deixar os outros… Se envolver nos meus assuntos…

— Hehe… Como esperado do meu cabeludo favorito, hehe- ai – Fukuda com um pouco de esforço conseguiu ficar de pé e mancar até o colega caído – Vem cá, eu te ajudo – Fukuda passou o braço de Samson ao redor do seu pescoço e o levantou. O maior estava acabado, mas diferente de Kouda, ainda lhe restavam forças para levantar. Ele havia sido menos castigado que o colega, o mínimo que ele poderia fazer era levá-lo até a enfermaria.

OST: Kaiji - Wish

— Puta que o pariu, vocês tão falando sério? – Gritou o homem responsável por aquele consultório antes de bater na mesa uma pasta amarela que tinha em mãos – Não faz nem uma semana que chegaram e essa já é a segunda vez que vocês vem parar na porra do escritório, que merda vocês estão fazendo?

Miyazawa Kayuu era um homem suficientemente estressado graças a insatisfação com seu trabalho (Se sua nota nos vestibulares tivesse sido dois pontos maior ele teria conseguido cursar medicina ao invés de enfermagem), o trabalho de enfermeiro era de fato algo frustrante, mas nenhum lugar ao qual ele tinha trabalhado antes era tão revoltante quanto a prisão de Kosuge. O diretor Tominaga era uma figura excêntrica, para dizer o mínimo, sua política de não interferir em conflitos entre presos – Exceto em casos de possível fatalidade – gerava inúmeros problemas para Miyazawa.

Os últimos meses do enfermeiro tem sido tranquilos, nada de muito grave tem sido enviado a ele, contudo com a presença dos novatos, principalmente daquele maldito caeludo, seu consultório tem ficado cada vez mais cheio.

— Hehehe, foi mal ae – Fukuda sorriu para Miyazawa com os dentes vermelhos – Pode me dar uma ajudinha aqui, Miyazawa-san.

— Puta merda, eu mereço – Comentou Miyazawa enquanto massageava as temporas com os dedos – Tá espera ai…

Miyazawa era um homem quase tão alto quanto Fukuda, supera e muito Hayakawa, por isso era sempre uma visão engraçada vê-lo sair de trás da sua mesa de consultório e revelar aquele corpo magricela de 1 metro e 90. O homem pegou seu jaleco branco encostado na sua velha cadeira e se dirigiu aos dois detentos. Então Fukuda e o enfermeiro seguraram Samson por baixo das axilas e o levaram até a maca mais próxima.

— Ai! Porra! – Gritou o moreno ao ser praticamente jogado sobre a maca – E você ainda se diz um enfermeiro?

— Vai se foder você, Samson! – Gritou o enfermeiro.

— Que mané Samson! Eu te dei a permissão pra ficar usando a merda do meu nome?

— Você na porra da minha enfermaria, eu te chamo do jeito que eu quiser, se achar ruim pode rastejar pra fora!

— Que seja então, seu pau no cu! – Samson já ia se levantando da maca, ignorando as dores, mas na mesma hora foi impedido por Fukuda.

— Ei! Ei! Ei! Vamos nos acalmar… Kouda-kun você precisa de tratamento médico, fora que Hayakawa e os outros não podem te importunar aqui – Explicou Fukuda para o jovem.

— Tsc...

— Já você Miyazawa-san, acho que o diretor não vai gostar de ver o senhor implicando com seus pacientes…

— Você não ousaria, Fukuda – O enfermeiro cerrou os olhos para o mais velho, era evidente a vontade do homem de pular sobre a garganta do maior.

— Não enquanto você estiver cuidando bem do meu parceiro aqui – Sorriu sem vergonha alguma no rosto.

O olhar de Miyazawa transitou entre Kouda e Fukuda, ele então baixou a cabeça, coçou com certa violência os seus cabelos de tonalidade azul e depois coçou seu queixo mal barbeado. Estava a procura de uma boa desculpa para somente ignorar os dois ou uma resposta boa para Fukuda, o enfermeiro odiava ficar sem respostas, mas dessa vez não tinha jeito.

Era até irônico ver que um brutamontes como aquele era muito melhor dialogando do que brigando, tendo em vista que todas as vezes que Fukuda aparecia na enfermaria ele só não estava mais surrado do que seu colega de cela.

— Tá! Tá bom, fiquem os dois ai, eu vou pegar alguns remédios e ataduras – Respondeu o azulado se virando de costas para os dois detentos.

— Agradeço a gentileza, Miyazawa-san – Fukuda sorriu de orelha a orelha.

— Não precisa me agradecer – Bufou o homem antes de sair, fechando a cortina que separava a maca de Samson do resto da enfermaria.

Fukuda cambaleou até uma cadeirada que estava ali ao lado e se sentou sem rodeios.

— Ufa… Semaninha filha da puta, ein… – Disse o maior.

— Ainda é quarta, Fukuda – Disse Samson enquanto se ajeitava sobre a cama hospitalar.

— Porra, só derrotas então – Balbuciou o gigante – Mas ao menos o plano tá indo bem… To apanhando bem menos do que você…

— Ah cala a sua boca, vai… – Exclamou o moreno – Como que pode um cara do seu tamanho ser tão ruim de briga…

— Meu tamanho é genético, tá? Isso não significa necessariamente que nasci pra brigar.

— É… Eu consigo ver isso…

— Mas ainda assim, isso não significa que eu não aguento umas porradas, sacou?

— E dai?

— E daí que você não precisa ficar bancando o durão e chamando aqueles caras pra cima.

— Achei que você estivesse oferecendo companhia, não um escudo humano.

— Mas amigos dividem o pão, não?

— Não somos amigos, somos colegas de quarto.

— Nós vamos viver juntos no mesmo quarto por dois a três anos, vamos ficar amigos de qualquer jeito, não acha que é só mais simples agilizar o processo?

Samson olhou de canto para o colega insistente, por mais que já tenha vivido muito, mesmo tendo apenas 18 anos, tipos como Fukuda sempre surpreendiam em algum aspecto. O moreno não sabia exatamente “o que” era tão surpreendente em Fukuda, mas tinha certeza que ele era surpreendente em algo.

Na inocência?

Na insistência?

Talvez até na burrice?

Era difícil definir, por isso que esse tipo altruísta era tão interessante. Por mais simples que fossem, eles ainda tinham seus diferenciais que atraiam pessoas, principalmente céticos como Samson. Irônico como a vida de Samson às vezes podia ser tão clichê.

— Tsc… Você é um saco, sabia? – Samson estalou a língua em frustração.

— Eu sei, todos sempre dizem a mesma coisa, hehehe – O maior apenas riu em resposta.

Samson olhou com indiferença para o colega insistente, ainda estava disposto a continuar aquela discussão um pouco mais, mas preferiu calar-se devido às dores corporais. Fukuda parecia sentir o mesmo, já que até um falastrão como ele havia fechado o bico.

Alguns minutos se passaram até que o azulado retornou até a cama de Samson, dando a ele e Fukuda anagésicos para dor. De acordo com ele, aquela droga iria fazê-los desmaiar de sono em alguns instantes, então estariam dispensados do trabalho por hoje.

“É melhor não irem se acostumando, ein! Se continuarem vindo pra cá desse jeito, o diretor vai começar a recusar seus atestados” Alertou o enfermeiro um pouco antes de atravessar a cortina, deixando os dois detentos descansarem até que o efeito da droga terminasse.

Não demorou muito para que as dores dos hematomas do moreno começassem a sumir aos poucos, essas que levaram junto qualquer disposição e energia que ele havia acumulado para aquela Quarta-feira. Seu corpo ficou mais pesado, seus olhos pareciam cada vez mais fundos, Kouda queria aproveitar aquilo um pouco mais, mas o sono não natural era incapaz de sumir com seus estresse, quando acordasse estaria com os ombros tensos de sempre. Olhou para o lado procurando por Fukuda e viu que o gorila já estava no seu décimo sono, roncando como um búfalo.

Aquele contrato que fizera no início da semana não foi um total desperdício.

“Clichês não são tão ruins assim” Foi o último pensamento que ele teve antes de cair num sono profundo.

OST: Kaiji - Predicament

— Puta que pariu! O que eu já falei sobre entrarem assim no meu escritório? – Gritou uma voz carrancuda do lado de fora da cortina branca.

— Pedimos perdão por isso, Miyazawa-san – Disse outra voz – Eu tentei impedi-lo, mas você sabe como o Tsuguhiko-san, é

— Eu não quero saber, os três pra fora!

— Que mané pra fora, não antes de eu falar com aquele idiota, ele tá aqui não é? – Perguntou uma voz familiar.

Samson até tentou manter seus olhos fechados por mais algum tempo, mas era impossível com todo aquele falatório. Não sabia quanto tempo havia dormido, mas preferia não ter acordado, já não sentia mais tantas dores como antes, mas a tensão em seus ombros o acertou como um pedregulho. Se não fossem os machucados, o jovem teria levantado dali em fúria para gritar com aquele velho insistente.

— Ei! Eu não dei autorização para vocês irem entrando!

Bem, felizmente o homem já havia poupado os esforços.

— Aqui está você! – Gritou a figura com a carranca idosa de sempre ao puxar a cortina branca para o lado, deixando com que o sol da tarde que passava pela janela atingi-se Samson bem no rosto.

— Hum? O que? Quem? N-não eu não tenho nada a esconder! – Fukuda deu um pulo da cadeira após o último grito de Tsuguhiko.

— Que porra você tá fazendo aqui? – Grunhiu Samson.

— O que você acha? Botar um pouco de juízo nessa sua cabeça oca! O que você pensa que está fazendo? – Questionou o ex-duelista – Por que continua arranjando briga com aquele palhaço do Hayakawa?

— Cala-a-boca porra, você não é meu pai pra ficar vindo me dar bronca!

— Bem educar um filho é de fato o dever de um pai, mas quando os pais são péssimos nisso, só o que resta para a criança malcriada é ser educada de maneira difícil.

— O que foi que você disse, fodido? – Samson se ergueu da cama e agarrou o velho pelo colarinho, contudo o gesto não ficou barato.Tsuguhiko quase que de imediato virou um cruzado de direita no rosto de Samson, que caiu de volta na cama – Ai! Grr… Seu-

— Você ouviu o que eu disse! Agora para de brincadeira e me responda, que merda você tá fazendo, ein? Quer se matar por acaso?

— Ei Tsuguhiko-san, vai com calma! – Gritou Tashiro logo atrás do velho.

— Não me interrompa Tashiro! O grandalhão ali já entendeu, então porque você não faz igual a ele e fica quieto?

— T-tá bom, se quer tanto assim matar o cara vai fundo.

— Que merda você tá querendo aqui, porra? – Perguntou Samson com a mão esquerda massageando o maxilar dolorido.

— Eu to aqui porque eu preciso de você, mas não vou conseguir nada se estiver morto.

— Ainda tá com aquela pira de duelo?

— Duelo? – Dessa vez quem perguntou foi Fukuda – Como assim duelo?

— Esse velho quer que eu duele com ele.

— Não é isso que eu quero seu imbecíl! Tsc, tá vamos por parte – Tsuguhiko puxa uma cadeira ali perto e se senta ao lado da cama de Samson.

— Quer saber? Que se foda… Se querem conversar, vão em frente, só não vão ficar gritando na merda do meu consultório – Exclamou o azulado que voltou a se sentar na sua mesa de trabalho.

— Meu nome é Tsuguhiko Matsuyama, sou um duelista aposentado – Começa Tsuguhiko – Pode parecer um pouco difícil de acreditar, mas é a verdade, já tive meus dias de glória como duelista.

— Espera, Tsuguhiko Matsuyama? Você não é Tsuguhiko do saque cometa? – Manifesta Fukuda – Eu já ouvi falar de você!

— Sério? – Samson levanta uma sobrancelha para o colega.

— Sim, meu pai já foi um entusiasta de duelo, ele tinha até um álbum de figurinhas!

— Meu Deus, que coisa de nerdola.

— Acho que eu tenho que concordar com você nessa – Exclamou Tashiro com um sorriso meio torto.

— Tá, já estamos nos desviando do assunto! O importa agora é… Samson eu sinto algo de especial em você, sinto que você tem potencial para a coisa.

— Esse papo de novo?

— Eu falo sério! – Tsuguhiko elevou seu tom de voz outra vez – Eu vivi nesse mundo por grande parte da minha vida, eu sei dizer quando um bastardo que nem você tem potencial.

— Por que diabos você ligaria pra isso? Estamos numa prisão – Disse Samson com um tom de zombaria – Não é como se os seus “monstros de duelo” conseguissem fazer qualquer coisa nessa merda de lugar.

— É exatamente por isso! – Exclamou o ex-duelista – Pela primeira vez em anos que estou aqui eu encontrei uma oportunidade de continuar perseguindo isso!

A cada palavra que Tsuguhiko cuspia sobre Samson parecia que a temperatura de seu sangue subia um grau a mais, pulsando de forma agressiva dentro de suas veias e artérias que saltaram por baixo da pele. Era um código de palavras utilizado pelo tipo de pessoa mais desprezível que existia, os parasitas.

Mais uma vez havia um parasita à frente de Samson, mais um em meio a dezenas. Isso já estava ficando cansativo para ele.

— Então é pra isso que você veio com todo esse papinho pra cima de mim? – Perguntou o moreno já fechando seu semblante para o velho – Pra me usar? Para se aproveitar de mim?

Tsuguhiko se calou por um momento, Samson olhou de maneira cínica para os olhos caídos daquele velho homem, como se ambos analisassem um ao outro. Nenhuma desculpinha ou mentira funcionária em Kouda, já havia previsto as artimanhas do ex-duelista na primeira vez que se encontrarão no campo de trabalho, mas seria divertido vê-lo tentar enrolar com suas mentiras.

Contudo…

— Sim, é exatamente por isso – Samson arregalou os olhos – Acha que eu vim aqui por outro motivo? Eu nem te conheço pivete, não sei nada do teu caráter ou de quem você foi quando tava do lado de fora…

Se Samson tinha dúvidas, agora era uma certeza: Esse velho não batia muito bem.

— Acha que eu sinto algum amor fraterno por você, vejo algum filho morto no seu olhar? Que acho que podemos nos dar bem? Pelo contrário, você é um baita de um garoto pau no cu sem futuro algum e que se continuar desse jeito só vai conseguir afundar em mais merda!

Samson apertou forte seu punho. A cara daquele sujeito nunca pareceu tão socavel como agora.

“Continue falando… Continue cuspindo essas besteiras” Pensou o moreno “Faz o meu trabalho menos difícil se eu te odiar”

— E isso não é muito diferente de mim.

— O que?

— Sou um homem de quase 70 anos que já enterrou seu futuro ao muito tempo, não existe mais lugar lá fora para mim, não tenho onde cair morto – Explica o sujeito – Eu e você estamos no mesmo barco, dois imbecis que fizeram um monte de merda e que agora não tem para onde ir, estou errado?

Samson não respondeu.

— É por isso que precisamos um do outro, pois eu sou o homem do plano e do objetivo, já você é o cara que possui a mão de obra.

“Esse velho”

— Então o que eu to te dando aqui não é uma obrigação, eu estou te dando uma chance de dar um objetivo a essa sua vidinha miserável e talvez assim você não venha parar num lugar desses de novo – Tsuguhiko sorriu de orelha a orelha – E então, o que me diz?

— E daí? – Exclamou Samson – Não é como se essa merda fosse mudar algo aqui dentro ou tornar minha vida mais fácil, você está apenas supondo!

— E se eu te disser que existe um jeito de você nunca mais ter de sofrer nas mãos daquele pivete do Hayakawa de novo?

— Pera é sério? – E mais uma vez aquele ao qual interrompeu a conversa dos dois foi Fukuda – Como?

— Simples… Tashiro explica pra ele.

— Sim.

Tashiro então se levantou do seu lugar e puxou do bolso de trás da sua calça listrada um panfleto amarelo e entregou na mão do ex-duelista. Tsuguhiko desamassou o papel e entregou para Samson.

— Que droga é essa? – Comentou o moreno olhando para o panfleto, onde nele estava escrito “Grupo de Entretenimento Yasunobu”.

— É um panfleto para o próximo show do GEY, uma equipe especializada em Action Duels da academia de duelos Yasunobu – Tashiro toma a frente dessa vez – O diretor de Kosuge é tio da líder do grupo e todo mês eles fazem shows aqui em Kosuge, no Sábado acontece o Show na cidade, enquanto no domingo eles fazem o show aqui e muita das vezes é permitido a participação dos detentos nesses shows.

— E no que isso vai me ajudar a dar uma lição no Hayakawa?

— Deixa o Tashiro-san terminar – Diz Fukuda parecendo genuinamente interessado na ideia.

— É simples, o diretor Tominaga tem um projeto aqui na prisão de incentivar os presos a resolverem os problemas internos de forma autônoma – Continua Tashiro – Claro, isso envolve brigas também, mas existe o método favorito do diretor que são competições.

— Ah entendi onde ele quer chegar! – Exclama Fukuda.

— Baskete, Futebol, Baseball, Poker, são todas maneiras de resolver conflitos aqui em Kosuge, incluindo é muito comum para presos apostarem coisas aqui dentro através de jogos.

— Você então tá me dizendo que eu-

— Sim! – Interrompeu Tsuguhiko – Vença aquele merda do Hayakawa em um duelo!

Pena de Samson Kouda: 2 anos, 11 meses, 3 semanas, 3 dias, 6 horas, 45 minutos e 35 segundos…