Yu-Gi-OH! - Hollow Fighters

Vol. 1: "Ainda que esteja morto, viverá"


OST: Kaiji - Wish

— Lixo…

Primeiro pacote.

— Lixo…

Segundo pacote.

— Lixo!

Quarto pacote

— LIXO!

Oitavo pacote.

O azar de Tsuguhiko era inacreditável.

— Aqui, tenta você Samson! – Disse o velho entregando nas mãos do moreno uma série de pacotes de cor alaranjada.

Abrir Boosters com os amigos é uma memória que todos os entusiastas do jogo mais aclamado nas últimas décadas costumam guardar com carinho em suas memórias, o mesmo se aplicava ao ex-duelista. Seu coração sempre vibrava quando seus pais chegavam em casa com uma caixa cheia daqueles pacotes abençoados, recheados de cartas. Ele nunca iria esperar que tal atividade recreativa lhe causaria tantas dores de cabeça.

— Olha velho, esse daqui parece com você hahahaha! – Disse Samson com um sorriso largo para o velho. Em suas mãos havia uma carta de um monstro normal: Baron of the Fiend Sword.

— Para de brincadeira seu moleque! – Tsuguhiko deu um tapão na mão de Samson, derrubando a carta no montinho em cima da mesa.

— Calma, isso aqui não era pra ser divertido? – Questionou Samson com uma sobrancelha levantada e um sorriso de canto – Aqui Fukuda, tenta você.

— Opa! Tem um “7” no número de série desse, acho que vai dar bom, ein! – Disse o grandalhão tão animado quanto Samson. Fukuda pegou o pacote das mãos do colega e o abriu de uma vez, como um curativo – Hum…

— Eae veio alguma coisa? – Questionou Tashiro, curioso.

— Veio sim, um monte de merda hahahaha!

Os dois colegas não puderam conter as risadas com a piada do grandalhão que contagiou até mesmo Tashiro.

— Chega disso! Quantas vezes tenho que dizer que estamos correndo um grande risco aqui? – Gritou Tsuguhiko – É sério que isso foi o máximo que tu conseguiu tirar daquela maldita biblioteca, Kawata?

— Ai! Não olha pra mim não! Eu revirei aquele lugar todo para achar essas merdas de Boosters – Protestou o ruivo – a culpa não é minha se eles não quiseram enviar cartas boas de verdade para uma prisão NO MEIO DO NADA!

Ver detentos abrir Boosters de Monstros de Duelo não era lá uma cena muito comum, mesmo nos dias de hoje onde quase tudo se baseia nesse jogo peculiar, mas da mesma forma em Kosuge existiam campos de futebol e bolas de basquete, boosters não estavam muito fora do cardápio para o entretenimento dos presos, ou melhor, do próprio diretor do presídio. Claro, havia um número restrito de presos que davam de fato algum uso para esses pacotes, tanto pela curiosa falta de interesse na modalidade quanto o fato de que esses Boosters não costumam oferecer uma boa variedade de cartas.

Na mesa se encontrava de tudo um pouco: Monstros normais, monstros de efeito, cartas mágicas, cartas armadilhas, monstros de ritual e até mesmo uma ou outra fusão. Absolutamente todas inúteis e disfuncionais para um deck que se preze. Tal situação já estava começando a preocupar o ex-duelista, mas este sentimento não parecia ser reciproco.

Samson e Fukuda continuavam a abrir pacotes um atrás do outro para fazer piadas com as malditas cartas inúteis. Tashiro no início parecia tão preocupado quanto, contudo o humor dos dois rapazes parecia contagiar ele a cada nova carta revelada. Por fim Kawata, esse último era irrelevante, afinal ele só estava ali porque tinha um ótimo pretexto para poder se aproximar de Kurita Yumi, uma das integrantes do Grupo de Entretenimento Yasunobu, ele sairia ganhando de qualquer forma.

Muito provavelmente Tsuguhiko era o único naquele pátio externo que levava aquilo minimamente a sério.

— Meus Deus… A gente tá perdido.

— Relaxa um pouco aí velho – Samson deu um forte tapa na corcunda do ex-duelista.

— Como você pode estar assim? Falta apenas um dia e nós nem temos um deck consistente para podermos desafiar aquele miserável do Hayakawa! – Esperneou Tsuguhiko como sempre fazia, tentando ser a voz da razão no meio daquele grupo problemático – Se não aproveitarmos essa chance, teremos que esperar mais um mês! Você quer continuar apanhando para ele?

— Sobre apanhar pra ele eu não tenho certeza, mas bem que podia ter mais dessas coisas – Samson pegou outro Booster. Restaram três – Não me divirto assim já faz um tempo, hahaha!

— Eu nunca vi um cara com tanta vontade de morrer quanto esse – Balbuciou Kawata.

— Bem, não é como se ele tivesse algo a temer, isso vale pra gente também – Comentou Tashrio.

— Tá chega! – Gritou Tsuguhiko se levantando da mesa – Eu vou tentar achar mais alguma coisa na biblioteca, qualquer coisa. Talvez a gente consiga fazer alguma merda com isso aqui, não é como se Hayakawa fosse conseguir algo tão bom quanto o que temos…

— Nah… Errado, isso aqui é só lixo mesmo – Disse o moreno de forma zombeteira, jogando o booster ainda fechado na mesa e se levantando, acompanhado por seu colega de quarto – Vamos nessa Fukuda.

— Opa, vai ser agora? – O grandalhão se levantou também?

— Onde vocês estão indo? – Questionou Tashiro – Ainda não terminamos de abrir os Boosters.

— Eu adoraria continuar, mas eu não aguento mais essa gritaria, então vamos logo resolver isso – O moreno então marchou em direção a saída do pátio, sendo acompanhado pelo colega de cela.

— E-espera aí! – Tsuguhiko logo se apressou para acompanhar os dois jovens, deixando Tashiro e Kawata para trás.

Tsuguhiko acompanhou ambos os jovens por uma caminhada que não durou mais do que 5 minutos, contudo a sua curiosidade e ansiedade, fora a preocupação, fizeram com que o tempo ao seu redor se distorcesse. Samson e Fukuda não falavam nada, apenas caminhavam com um sorriso convencido estampado na sua face, mesmo que eles não tivessem condições para tal. Aquela despreocupação quanto aos eventos futuros era uma característica em Samson que se mostrou bem evidente nesses 2 dias de busca.

E justamente por esse traço, juntamente com Fukuda cujo de grande só tinha o tamanho, que Tsuguhiko tinha certeza absoluta que coisa boa não viria desse sorrisinho convencido. Por longos 5 minutos o homem fez perguntas como: “O que vocês estão fazendo?” ou “onde estão indo?”, mas não recebeu qualquer resposta. Talvez devesse pará-lo? Possivelmente essa deveria ser a resposta certa, mas Tsuguhiko não devia ser capaz de fazê-lo, afinal não é como se ele tivesse qualquer autoridade ou capacidade física para tal, ele era apenas o homem com a ideia.

No fim foi como Tsuguhiko pensou desde o início: Esses dois garotos são completamente insanos.

OST: Kaiji - Man Racetrack

“Que merda estamos fazendo aqui?” Ele só foi se dar conta do destino daqueles dois quando sua caminhada chegou ao fim. Seu olhar cruzou a quadra de futebol do presídio de Kosuge, onde alguns dos presos chutavam a bola para lá e pra cá pelo perímetro.

— Hayakawa! – O grito de Samson fez o sangue do ex-duelista congelar dentro de suas veias.

— H-hayakawa? Mas que merda você-

— Olha só quem temos aqui…

Já era tarde demais para uma bronca. Quando o ex-duelista iria começar com os questionamentos e sermões, uma voz grave e familiar chamou-lhe a atenção. O jogo entre prisioneiros cessou para que a atenção dos detentos pudesse ser voltada inteiramente aos eventos que seguiram a partir dali.

Do grupo de detentos posicionados no campo surgiu aquela figura asquerosa do seu primeiro alvo, Hayakawa Tadami, junto de seus subordinados. Não demorou muito para que o trio estivesse cercado por todos os lados.

— Q-que merda é essa, Samson!? – Gritou o ex-duelista.

— Você tem muita coragem, Kouda Samson – A figura do criminoso se aproximou do trio a passos sutis como os de uma víbora, mas apesar disso seu olhar esboçava a fúria de um touro raivoso – Eu tinha te dado alguns dias para se recuperar da surra até retomar sua punição diária, mas pelo jeito você tá com muita pressa para apanhar de novo.

— Você realmente pretende continuar com esse seu joguinho patético? – Questionou o moreno – Eu posso até apanhar, mas eu garanto que consigo quebrar um nariz ou dois como fiz da última vez com seu amiguinho.

Samson olhou para Uematsu, um homem de cabeça raspada e um curativo no nariz quebrado. O moreno lançou um sorriso para o detento. O encalvecido, por sua vez, respondeu a ameaça silenciosa com um som seco de sua garganta.

— E acredito eu que você não queria passar essa vergonha em público, não é?

— Você late demais para um vira-lata tão pequeno – Respondeu Hayakawa num tom cínico enquanto as veias de sua testa e pescoço já estavam a saltar – Acho que já chegou o momento de ser sacrificado, não?

Os homens de Hayakawa pareciam leões olhando para um pedaço de carne, a ira de seu líder parecia os contagiar, só o que os impedia de avançar contra aquele garoto imaturo e desprezível era uma grade de ferro invisível que só seria aberta com a ordem de seu chefe.

Samson não conseguia conter o riso quando pensava que tantos homens perigosos eram tão bem adestrados quanto gatos domésticos. Era um sentimento tão hilário que quanto mais se aprofundava, mais vergonhoso era o sentimento de ter apanhado para sujeitos tão patéticos.

— O que estão esperando então? Venham de uma vez, e mostrem o quão patéticos vocês são! – Gritou o moreno.

“PUTA QUE PARIU MOLEQUE, O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO?” Questionou Tsuguhiko. O homem já havia se adiantado para as costas de um imóvel e sereno Fukuda, ficar atrás de uma parede era a melhor forma de se proteger contra balas perdidas.

Os criminosos grunhiam em fúria como bestas. Iriam partir para o ataque em alguns instantes.

— Você tá realmente brincando com a sua sorte, não é pivete? Que assim seja então, não me importo de pegar mais alguns anos de sentença por massacrar você e a sua laia!

“Merda eu to na mira deles, fudeu!”

— Eu não me incomodaria, mas estou disposto a apresentar uma solução melhor para os nossos problemas…

“Hum?”

— O que?

— Como assim?

— Que merda esse cara tá falando?

— Solução melhor? – Questionou Hayakawa – Mas que solução seria melhor do que afundar seu crânio no soco, ein?

— Simples… Hayakawa Tadami, diante desse nosso embate testemunhado por pelo menos 3 detentos e 5 oficiais… Eu te desafio para um Jogo de Tominaga!

— Ele o que? – Questionaram os outros detentos?

— Você… Hehehe, seu filho de uma putinha – Respondeu Hayakawa ainda desacreditado.

[...]

OST: Death Note - Jinken

— Jogo de Tominaga, mas que merda é essa? – Perguntou Samson deitado sobre a maca.

— É dessa forma que iremos parar Hayakawa! – Exclamou Tsuguhiko.

— O Jogo de Tominaga é uma regra interna aqui em Kosuge, criada pelo diretor Tominaga Mutsu – Disse Tashiro.

— É aquela coisa quanto a “resolver problemas de forma autônoma”? – Questionou Fukuda.

— Isso! Em resumo: Dois ou mais detentos podem desafiar uns aos outros para um jogo onde as regras são definidas pelos próprios prisioneiros, ambos podem apostar algo que esteja ao seu alcance e esse “preço” é anotado pela direção do presídio – Explica Tashiro – Uma vez concluído o jogo, o próprio diretor obriga aos participantes a pagarem com sua palavra.

— Isso é… Surpreendemente idiota – Respondeu o moreno.

— Nem me fala – Tashiro soltou um suspiro – Mas essa foi uma forma que o diretor encontrou para que os detentos resolvessem desentendimentos sem usar da violência, inclusive na época em que esse sistema foi implantado ele pediu para que os funcionários da cantina servissem refeições mais saborosas para aqueles que participassem.

— Essa é a motivação também para terem tantos campos e equipamentos para praticar esportes por aqui – Pontuou Tsuguhiko.

— Nossa, mas que daora! – Fukuda riu alto – Parece muito divertido.

— Então deixa eu ver se entendi, você quer que eu vença Hayakawa em um negócio desses.

— Hayakawa trabalhou com agiotagem e com casas de apostas ilegais, ele deve ter muito mais familiaridade com jogos de azar e monstros de duelo do que esportes em si, as chances ainda são maiores dele aceitar – Exclamou o ex-duelista – Eu já pedi para o Kawata arranjar alguns boosters para montarmos um deck e desafiá-lo para um duelo neste fim de semana durante o espetáculo do Grupo de Entretenimento Yasunobu, dessa forma não só vamos tirar aquele merda da sua cola, como também vamos mostrar o seu potencial como um duelista para um grupo de duelo profissional!

Na tarde do dia seguinte, Fukuda e Samson foram liberados para voltar às suas celas depois de receberem os devidos tratamentos médicos. Samson se jogou na cama de cima em preguiça, enquanto Fukuda calmamente tomava o seu lugar na cama de baixo.

— Aqueles boosters são uma porcaria mesmo, ein? – Fukuda riu ao se lembrar do desastre que tinha sido a sua sorte nas cartas novas na manhã daquele mesmo dia – Acho que não vamos conseguir fazer nada com aquilo.

— Óbvio que não, aqueles boosters que o tal Kawata achou são um lixo completo hahaha! – Respondeu Samson em zombaria.

— Você parece bem animado para quem nem sequer tem um deck para isso – Disse Fukuda em um tom irônico.

— É… Talvez eu esteja mesmo, mas sendo sincero, eu sempre fui melhor em improvisar do que bolar qualquer tipo de plano.

— Então é isso? Pretende simplesmente improvisar? Sabe que se der errado, nós dois estamos mortos, né?

— Talvez, mas não foi você que me sugeriu a ideia de apanharmos juntos?

— Morte não estava no contrato, sabia? – Fukuda respondeu com um sorriso amarelo.

— Bem que seja então, está livre para pular do barco se quiser.

— Nah…

— Hum?

— O que o Tsuguhiko disse ontem meio que se aplica pra mim também, não é como se eu tivesse qualquer lugar para cair morto.

— Hehehe que idiota, ein.

— Olha quem fala, o suicida hahahaha!

— Hahahahaha!

— Silêncio os dois aí dentro!

Os dois colegas riram alto dentro da cela, mas logo foram calados por um oficial em vigília.

— Então esse era seu plano desde o início? – Questionou Samson – Achar alguém pra poder dividir a cova?

— Não exatamente, mas pode se dizer que sim…

— Nesse caso… Me ajuda a cavar?

— Com prazer…

[...]

OST: Kaiji - Beginning

— Esse pivete… Esse não era o plano, seu imbecil!

— Relaxa, Tsuguhiko-san – Respondeu Fukuda ao velho atrás dele, com um sorriso sereno em seu rosto – Eu acho que ele sabe o que faz.

— Eae, vai aceitar ou não? – Questionou o moreno.

— Hehe, e por que eu deveria? Não é como se você tivesse qualquer coisa que eu queira.

— Na verdade eu tenho algo sim – Samson sorriu de orelha a orelha – Que tal o meu orgulho? Se você me vencer eu faço qualquer coisa que você quiser até o fim da minha sentença…

— O que?

— Esse moleque tem ideia do que ele tá falando?

Os presos ao redor começaram uma enorme comoção.

— Silêncio, porra!

Mas que logo foi cessada por Hayakawa.

— Tsc… Você tem coragem pivete, eu admito, mas censo eu diria que está forá do seu repertório – Respondeu Hayakawa – Sabe que essa lei idiota do Tominaga é absoluta, não é?

— E por que você tá se importando em me avisar? Estou te dando a chance de ouro de me ter na palma da sua mão.

— É… Você tem razão, mas eu repito, por que eu deveria aceitar? Eu posso simplesmente te forçar a fazer o que eu quero, te surrar a vontade – Respondeu o homem com um sorriso imenso no rosto – Eu não preciso aceitar um jogo bobo, eu posso só fazer o que eu quiser.

— Nisso você tem um ponto, mas é como eu já ouvi uma vez: É importante dar ao seu oponente uma luz no fim do túnel, caso contrário ele irá lutar até a morte.

— Isso é Sun Tzu, não? – Questionou Hayakawa.

— Pra falar a verdade eu não faço a mínima idéia, só ouvi isso uma vez do meu chefe – Respondeu Samson – Mas o que importa é: Eu estou te dando a chance de poder sair por cima de maneira indolor.

— Maneira indolor é? Você só pode estar brincando hahaha

— Não. Eu não to brincando – Samson de imediato fechou seu semblante, calando ao seu opressor e aos outros detentos ao redor – Você já me ameaçou de morte, eu não posso simplesmente aceitar isso sem lutar, então se pretende mesmo continuar com esse tipo de atitude comigo… Infelizmente terei que te matar…

O silêncio prevaleceu no campo por alguns minutos, apenas o som da grama soprada pelo vento podia ser ouvido. Os detentos se entreolharam, incrédulos com tamanha ameaça vazia, vinda de um moleque recém chegado e que não tinha a menor ciência de qual era o seu lugar. Tal pensamento era tão indignante que alguns dos detentos, que nem sequer faziam parte da panelinha de Hayakawa, se sentiam pessoalmente ofendidos. Como poderia um zé ninguém, um nada, simplesmente brandir ameaças daquela forma.

Por outro lado, Hayakawa apenas achou graça.

— HAHAHAHAHAHA! Você é um filho da puta bem atrevido mesmo ein! – O detento chefe riu em histeria, afinal para ele essa era a única resposta possível para tal falta de respeito.

— Pode rir à vontade, mas não vou voltar atrás no que eu disse – Respondeu Samson, ainda mantendo o olhar sério – Se você trilhar esse caminho, vou fazê-lo amaldiçoar o médico que te puxou pra fora do útero da sua mãe.

— He… Convencidinho do caralho, que seja então – Respondeu Hayakawa com um sorriso amarelo – O que tem em mente então?

— Será um duelo – Respondeu Samson sem pestanejar.

— Um duelo?

— Sim, se você vencer eu farei tudo que você quiser, mas se eu vencer… Quem vai fazer da sua vida um inferno sou eu,

— He, então se é um duelo que você quer, é um duelo que você terá!

— Perfeito! Nos enfrentaremos esse fim de semana durante a apresentação do Grupo de Entretenimento Yasunobu – Exclamou Samson.

— Muito bem… Espero que tenham ouvido tudo, seus imbecis – Hayakawa se virou para os oficiais que observavam a cena em silêncio, como sempre sem se envolver – Esse moleque a partir de amanhã terá de limpar meus calçados com a língua!

Os oficiais nada responderam, apenas continuaram a observar a cena em silêncio. Já Samson aproveitou a deixa para poder se retirar.

Já os homens de Hayakawa ainda não pareciam prontos para ceder, em seus rostos residia a raiva contra aquela figura desprezível que era Kouda Samson, mas as ordens de seu chefe eram absolutas, afinal todos foram muito bem adestrados. Só o que puderam fazer foi abrir espaço para o trio, se contentando apenas com a visão futura daquele verme ser esmagado diante de seus olhos.

O primeiro passo já havia sido dado.

— Puta que pariu, que merda foi aquela? – Gritou o ex-duelista, espumando como um animal raivoso.

— Eu apenas estou agindo de acordo com o seu plano, oras. Desafiei o Hayakawa – Samson deu de ombros.

— Mas a gente nem tem a porra de um deck ainda, como vamos enfrentá-lo? – Questionou o ex-duelista – E tira essa porra de sorrisinho da cara!

— Calma Tsuguhiko-san, o Kouda-kun sabe o que está fazendo – Respondeu Fukuda.

— Sabe mesmo? Eu duvido muito!

Ambos os colegas de quarto trocaram olhares com Tsuguhiko de forma despretensiosa, depois se entreolharam e por fim riram de forma divertida.

— EU JÁ NÃO DISSE PARA TIRAREM ESSE SORRISINHO DA CARA?

Cavar uma cova era mais divertido do que os dois pensavam.

[...]

OST: Florence - Adult Life

Por mais que Nakano Risa fosse uma garota de muita classe, vinda de uma família rica e bem-sucedida, ela nunca fez questão de possuir qualquer tipo de luxo. Desde que se formou na Academia de Duelos Yasunobu ela não tem parado em casa, está sempre viajando, pulando de hotel em hotel, claro que sempre que pode seus colegas de equipe se instalam em hotéis de luxo cujo as despesas pagariam tranquilamente as contas mensais de uma família classe média, contudo nem sempre o Grupo de Entretenimento Yasunobu podia ostentar. Esse era um desses casos.

Kosuge era uma cidadezinha isolada nas montanhas, cujo a maior construção ali presente era uma imensa prisão. Até mesmo o visual das casas não passava muito senso de modernidade, mesmo que o vilarejo não fosse isolado do mundo, os cidadãos pareciam bem tradicionalistas, as casas seguiam um design bem mais feudal e não era difícil encontrar sujeitos andando nas ruas com kimonos. Logo, hotéis e hospedagens não era algo que a cidade viria a oferecer em abundância, principalmente porque quase ninguém parava por ali.

Nakano Risa acordou assim que o primeiro raio de luz solar se esgueirou por entre a fresta da cortina do seu quarto e atingiu seu rosto de maneira precisa. A garota não precisava de muito para ser acordada, tinha um sono leve, o que para ela era bom, odiava ter de desperdiçar o dia como seus colegas de trabalho costumam fazer.

Olhou para o lado e viu o relógio de ponteiro na parede, em breve ela e seu grupo teriam que sair. A morena não demorou muito para se pôr de pé, guardou o Futon ao qual havia utilizado e se dirigiu ao banheiro para fazer sua higiene matinal e arrumar seu cabelo que acordava uma bagunça todas as manhãs. A visão que ela tinha no espelho do benheiro era de uma garota de cabelos negros, olhos igualmente escuros e pele alva, geralmente seus cabelos são lisos com uma franja, vestindo uma tiara branca para deixar tudo perfeitamente simétrico, mas o que se encontrava no topo de sua cabeça agora era uma verdade moita.

— Hum… Saco…

— Bom dia flor do dia!

— AH! – A garota deu um pulo involuntário – O-o que você pensa que t-tá fazendo,Yumi!

— Ora, mas que grosseria – Proferiu Kurita Yumi, a parceira barulhenta de Nakano – Eu estou apenas desejando um bom dia para uma amiga…

— Quantas vezes eu já te falei pra não me assustar desse jeito?

— Desculpa, foi mais forte que eu – Kurita respondeu mostrando a língua para a amiga – Por sinal, vai querer ajuda com isso aí?

— Hum… Quero – Nakano entregou a escova para a colega.

Nakano se sentou no banco de frente para o chuveiro e de costas para Kurita a fim de facilitar o trabalho da amiga com seu cabelo bagunçado.

— Ai! Vai com calma…

— A culpa não é minha se seu cabelo tem tantos nós – Disse a garota já colocando a escova para trabalhar, era evidente a força que a amiga fazia para "consertar" aquele emaranhado.

— Huff… Eu já tentei de tudo, mas ele tá sempre assim quando eu acordo – Proferiu a morena – Como você consegue? Eu nunca vejo seu cabelo bagunçado e não é como se você tivesse cuidado com ele…

Chegava a ser engraçado essa dualidade entre as duas. Enquanto Nakano fazia o seu máximo para se manter jeitosa e bem aparentada, Kurita era o oposto, não tinha quase nenhum cuidado com a sua aparência, apenas fazia o básico do básico e mesmo assim era uma menina linda (inclusive a garota era a mais popular entre o público masculino).

— Já te disse pra cortar! Cabelos curtos são superiores! – Kurita era uma garota de cabelos lisos na altura do pescoço de cor rosada, sim era rosa naturalmente. E se não fosse incomum o suficiente, seus olhos tinham uma cor âmbar. Era de fato uma pessoa de aparência invejável.

— Eu não gosto de cabelo curto!

— Você não gosta ou ele que prefere-

— P-por que você sempre insiste nisso? Eu falei que não! – Nakano já estava começando a elevar o volume de sua voz conforme o seu rosto ruborizava.

— Hehe, como sempre aberta como um livro – Kurita riu.

Era sempre assim. Kurita não era do tipo sutil, então conversar com ela sobre assuntos privados era pedir para que todos os seus erros tomassem a forma de um poltergeist de cabelo rosa. Não era como se Nakano tivesse qualquer tipo de mágoa quanto a amiga, mas a rosada faz questão de lembrar a Nakano do maldito dia em que elas tiveram uma conversa sincera.

A dor de ter os nós escovados nem se comparava com as provocações da amiga. Por sorte ambas as torturas, física e emocional, não duraram muito.

— E… Pronto! – Exclamou a rosada – Cabelo liso como seda, mas se quiser manter assim eu recomendo passar um condicionador. Não que essa espelunca vai ter algo de qualidade, mas você me entendeu.

— Não precisa se preocupar com isso – Nakano riu do comentário da amiga – Por sinal, o Suitani-kun já se levantou?

— O que você acha?

Nakano não demorou muito para pensar numa resposta. Era assim toda manhã.

— Poderia acordar ele? É quase hora de irmos para a penitenciária, o Tominaga-san já deve estar esperando.

— Ai, ai… Quanto trabalho você me dá, ein… Isso não tava no contrato – Disse ela emburrada.

— Você ganha mais do que tá previsto no contrato – Nakano olhou para a colega de soslaio – Vai, não custa nada…

— Na próxima vez você quem vai fazer isso – Kurata bufou pelo nariz e se dirigiu a porta de saída do banheiro.

Aquele seria mais um dia longo de trabalho, apenas mais um de muitos Shows. Nakano não ficaria muito mais tempo com o grupo, era apenas questão de meses, então queria aproveitar o máximo possível, então não era só outro Show, desde que teve uma conversa franca com seus colegas e diretores de Yasunobu, todo show tem sido “O Show” para ela e continuaria assim. Assim como o prometido, ela queimaria como uma estrela: Radiante até os últimos segundos de vida, até renascer novamente em outro canto distante desse mundo infinito.

Por tanto, não seria apenas um banho. Seria “O Banho”, “O Dia”, “A Música”, “A Plateia”, “O Show”.

Perfeito como todos os últimos.

— Uaah! – As ruas estavam parcialmente vazias devido ao horário que o trio havia deixado a pousada, por isso não havia muitos indivíduos nos quais pudessem ver o estado que Suitani Haruya se encontrava – Eu odeio esse trabalho…

O rapaz de longos cabelos loiros havia sido acordado sem o menor cuidado por sua colega rosada. Em seguida teve seu banho na banheira interrompido por uma ducha fria, resultante de uma apressada Nakano e por fim, sem qualquer direito a um café da manhã decente.

“Estamos com pressa! Podemos comer quando chegarmos, o Tominaga-san deve querer nos recepcionar com um café da manhã!”

E por isso que o jovem estava tão maltrapilha. Não teve tempo nem para amarrar os cabelos loiros, agora ali estavam eles, soltos em meio ao vento matutino de Kosuge.

– Para de corpo mole, cachinhos dourados! – Protestou Kurita.

— Corpo mole? A culpa não é minha se você faz das minhas manhãs um inferno – Respondeu ainda sonolento.

— Ainda tá chateado por aquilo? A culpa não é minha se você parece uma pedra dormindo, a Nakano-chan tava com pressa.

— Qual a dificuldade de organizar melhor a nossa agenda? O Show só vai ser à tarde, porque estamos saindo tão cedo?

— Porque o Tominaga-san quer se encontrar com a gente – Respondeu Nakano dessa vez.

— E se não gosta dos horários, porque você mesmo não toma a iniciativa de alterá-los – Kurita levantou uma sobrancelha.

— Preguiça…

Ainda era difícil se acostumar com a cara de pau que Suitana tinha.

— Hehehe, você é inacreditável como sempre – Comentou a rosada com um sorriso de canto de boca – Não se preocupe com isso, em breve teremos nossas merecidas férias, aí você vai poder dormir à vontade!

— Férias né… Ainda parece meio inacreditável.

Era inacreditável.

— Pois é…

Não, não era só inacreditável.

— Por sinal, pretende fazer mais alguma coisa além de só dormir e coçar o saco o dia inteiro?

— Eu queria ter uma resposta a altura, mas infelizmente é exatamente isso que eu pretendo fazer… E vocês?

Era inaceitável!

— Bom eu-

— Chegamos! – Disse Nakano, cortando o diálogo de ambos.

Os dois cessaram sua caminhada e olharam pra frente, dando de cara com um portão de aço sustentado por um muro de concreto nas suas laterais, esse que dava a volta por todo o terreno. Uma visão impressionante à primeira vista, mas que numa segunda visita perceberam que não é lá grande coisa, imagina para alguém que já estava ali pela décima vez, como era o caso daquele trio.

Os dois colegas bufaram.

— Vamos acabar logo com isso… – Kurita foi a pessoa que tomou a iniciativa. Como tem feito nas outras vezes, ela foi até o portão e deu dois socos. Um som metálico ecoou por todo o perímetro.

— Pois não? – Uma pequena abertura surgiu no portão, revelando o rosto de um homem, provavelmente um oficial – Identifique-se por favor.

— Somos do Grupo de Entretenimento Yasunobu, dá pra deixar a gente entrar, gracinha?

Era um processo que se repetia de mês em mês, dormir na pousada, acordar cedo de manhã , reclamar até chegarem no portão de entrada onde Kurita faria seu showzinho exibicionista. Por algum motivo ela adorava se mostrar para os guardas, sempre que a atendiam ela fazia questão de fazer uma pose esquisita, e todas as vezes ela conseguia a mesma resposta: “U-um minuto”

— S-só um minuto! – E a portilha do portão se fechou.

Era como voltar a assistir o mesmo filme uma vez por mês. Muitos ficariam cansados desse tipo de coisa, mas Nakano adorava clichês.

OST: Florence - Inspiration

— Como sempre adiantados HAHAHAHA! – Uma voz poderosa ecoou por todo o corredor da ala de recepção e visitas.

Nakano e seus companheiros estavam ali parados, sendo revistados pelos guardas (procedimento padrão) quando aquela figura, tão familiar para o trio, apareceu. Um sujeito de cabelo branco, ralo, uma barba grisalha bem espessa e, apesar do pelo fácial alvo, era um homem bem conservado, mal dava pra ver pés de galinha em seus olhos cor de mel. Esse homem era o tio de Nakano, o ilustre diretor Tominaga Mutsu, não havia mudado em nada desde que a equipe havia passado em Kosuge a um mês, até mesmo as roupas eram a mesma, um terno branco com uma camisa social vermelha e uma gravata borboleta preta.

“Chamativo como sempre” Pensou Nakano com um sorriso amarelo ao ver o mais velho cruzar o corredor a passos lentos.

— Mais uma vez eu tenho de pedir desculpas por toda essa falta de privacidade, mas vocês sabem como as coisas funcionam aqui… Protocolo – Se explicou o homem com um sorriso brilhante.

— Não precisa se preocupar com isso, tio – Respondeu Nakano de maneira gentil para a ilustre figura – Eu só tenho a agradecer pela oportunidade, como sempre.

— Ah! Não á de que, minha fofuchinha – Para qualquer visitante em Kosuge, é comum a revista para que nenhum objeto suspeito adentre o presídio, já para os familiares de Tominaga era procedimento padrão o apertar de bochechas e é isso que ele faz.

Era um procedimento minimamente curioso que Nakano no início odiou, mas teve de aprender a se acostumar, até porque era impossível fugir de seu tio. Não era atoa que ele era o diretor de uma prisão. A menina então apenas se rendeu e torceu para que suas bochechas não inchasse como da última vez.

Não rir daquela situação era praticamente uma provação divina para Suitani e Kurita, mas ambos já experimentaram punições o suficiente da amiga por irritá-la, não queriam ter de repetir a dose.

— Ai, ai… É sempre desestressante encontrar com você, minha netinha – Tominaga cessou a tortura mensal de sua sobrinha com um sorriso satisfeito no rosto – Por sinal e a minha irmãzinha? Ela me disse que viria…

— Ela não veio com a gente, vai chegar um pouco mais tarde por conta de alguns imprevistos na viagem – Explicou.

— Compreendo, nesse caso acho que vou adiantar algumas tarefas já que ela vai demorar, se importam de ficarem um tempinho na sala de espera?

— Não senhor – Responderam os três.

— Ótimo, por sinal vocês comeram antes de sair da pousada?

— Nós-

— Não senhor! – Exclamou Sultana, interrompendo a fala de Nakano.

— Entendo, vou pedir para meus homens levarem alguns lanchinhos para vocês enquanto me esperam.

— E-entendido, tio…

— Que homem generoso o senhor é!

— Hohoho, não seja por isso, faço tudo para minha sobrinha e seus amigos – Explicou o sujeito pomposo – Agora se me dão licença… Meus homens os acompanharão até a sala de espera, nos vemos mais tarde!

— Até depois tio, agradecemos a hospitalidade.

Tominaga por fim se direcionou a direção contrária a do trio de amigos, enquanto estes eram guiados por um dos oficiais e que, de maneira educada, pediu para que o seguissem. A sala de espera não era muito longe e muito menos desordenada, era um lugar bem receptivo para as pessoas que vinham visitar parentes e amigos: “Aquelas pessoas não fizeram nada de errado, na verdade elas até merecem certa admiração por não terem desistido dos homens trancados aqui dentro, vê-los presos deve ser tortura o suficiente para esses inocentes, não quero fazer a estádia em Kosuge ser pior ainda”. Isso é, de acordo com as palavras do seu próprio tio.

— O Tominaga-san é um anjo entre homens! – Exclamou Suitani após se empanturrar com um Bento de ovos mexidos.

— Fico impressionada toda vez que venho aqui – Disse Kurita já colocando o pote de comida vazio em cima da mesa.

— É… Ele é um doce de pessoa, mas às vezes pode ser um pouco… Inconveniente – Comentou Nakano com um olhar baixo enquanto olhava para seu almoço ainda na metade.

— Ah, só porque ele te trata como um bebe? Não é como se ele estivesse muito erra- Ai! Ai! Ai! Ai! Desculpa! Desculpa! Desculpa!

Nakano nem havia dado chance dela terminar, apenas fez o que sabia fazer de melhor: Punir a amiga cabeça oca por falar besteiras. Mais um dos procedimentos padrões da banda, Suitani e Kurita podiam ser bem cabeça oca as vezes, então um puxão de orelha era sempre bem eficiente para colocar seus cérebros em atividade, mas tal ação já tinha se tornado algo banal, tanto por culpa dos colegas que parecem ficar mais idiotas a cada dia, quanto por culpa de Nakano mesmo que parecia ter se acostumado.

— Huff… Que seja – A morena largou a orelha já inchada da amiga e se levantou do seu assento.

— Hum? – Suitani levantou o olhar para a líder de equipe – Onde você vai, Nakano-san?

— Eu vou ver o Genta-san.

— Hohoho…

— QUER OUTRO PUXÃO DE ORELHA, KURITA?

— N-não! Não! É só brincadeira, hehehe…

— Hump! Eu volto logo, ele deve estar limpando o corredor a essa hora – Nakano então se direcionou até o guarda aposto na entrada, o homem então deu passagem para a garota, que deixou os colegas para trás na sala de visitas.

Não importa quantas vezes fosse fazer shows naquele lugar, os corredores de Kosuge ainda causavam um certo mal estar em Nakano, um lugar que ao mesmo tempo que era vigiado 24 horas por dia por inúmeros guardas, ainda parecia vazio e perigoso, era como se estátuas a olhassem, sem contar que atrás dessas inúmeras paredes existiam verdadeiros animais, homens que estavam ali depois de ter feito mal para alguém sem se importar.

Por mais que tivesse uma memória afetiva, até porque não só seu tio trabalhava ali, como naquele lugar fora onde foi realizado um de seus primeiros shows como membro do Clube de Entretenimento Yasunobu, ainda existia um sentimento ruim como: “Eu deveria mesmo estar vindo até aqui cantar para esse tipo de gente?”

Só havia uma única coisa que afastava esse sentimento conturbado.

Depois de uma longa caminhada por corredores e mais corredores, ela finalmente havia chegado no corredor da ala administrativa, era um cenário menos próximo a uma prisão e mais próximo a um escritório, era confuso dizer, mas ainda assim era de longe o melhor lugar de todo aquele presídio. Nakano parou na porta de entrada daquela ala e cruzou seu olhar, procurando pelo seu contato, a pessoa a qual tinha um combinado de sempre se encontrarem naquele ponto em específico, mas não encontrou sequer uma alma viva.

— Você chegou muito cedo – Uma voz conhecida ressoou da sua retaguarda. Nakano virou seu corpo de imediato na direção do dito cujo e ali estava ele – Isso tudo é ansiedade pra me ver?

— Genta! – A morena correu até o homem e pulou sobre ele num abraço apertado.

Este era Genta Daisen, um homem de cabelos escuros e lisos, parcialmente bagunçados e olhos azuis celeste protegidos por cílios longos. Era uma figura estonteante demais para aquele uniforme listrado.

— Opa! Opa! Calma hahaha! – Riu o sujeito, tentando não cair para trás após ser atingido em cheio pela garota, sem contar o esforço para não deixar os produtos de limpeza que carregava consigo caírem no chão – Eu sei que está ansiosa, mas essas coisas caírem no chão eu vou ter muitos problemas com o diretor Tominaga, sabia?

— A-ah! Me desculpa – Nakano soltou o pescoço do homem de seu abraço apertado e sorriu para ele de orelha a orelha – Bom dia, Genta-san!

— Bom dia, Nakano-chan – Genta retribuiu o sorriso – Radiante como sempre eu diria… Aliás onde estão a Kurita-chan e o Suitani-kun?

— Eles estão na sala de espera

— Ah bom, achei que tivesse vindo sozinha, como no mês passado.

— E-eu já disse que aquilo foi porque o voo deles atrasaram!

— Aham, eu acredito sim, não se preocupa hahaha- ai!

— Chato – A garota inflou as bochechas, após desferir um soco no braço do maior.

— Hehe, peço perdão – O homem coçou a nuca, um tanto sem graça – E então, como vão as coisas na academia? Aqueles preguiçosos do time oficial tomaram jeito?

— Infelizmente ainda não – A garota apenas riu com o comentário do amigo.

— Hehehe, como eu devia suspeitar… Quando o gato sai os ratos fazem a festa né.

A garota riu mais uma vez. Genta então pegou os produtos de limpeza que estavam consigo, abriu eles um por um e despejou seu conteúdo no balde do carrinho de limpeza com grande proficiência. Devido aos seus encontros mensais com Nakano, acabou que ele adquiriu uma grande variedade de habilidades relacionadas a limpeza, todo mês ele insistia em pegar a mesma escala de trabalho para poder se encontrarem quando ela fosse fazer o show em Kosuge. O jovem não falhou com o compromisso sequer uma vez, o que deixou Nakano impressionada.

Daisen Genta sempre dizia que não era um homem de quebrar promessas e até hoje ele não havia descumprido uma sequer.

— E a sua mãe, como ele anda? – Genta pegou o esfregão ao lado do carrinho, o mergulhou na água espumante para depois começar a esfregar.

— Trabalhando como sempre, com o “trono” vazio as coisas tão virando uma loucura, as corporações Kaiba tão fazendo um marketing gigantesco para isso – Explica Nakano – E só o que está aos times oficiais e academias é tentar suprir a demanda.

— Como esperado deles, mas não consigo deixar de ficar incomodado com isso – Respondeu Genta – É como se eles fizessem marketing nas costas de um homem morto…

— É, eu também não gosto disso, mas… Tem sido benéfico para as academias, inclusive para Yasunobu, além de que-

— Eu sei, já faz alguns anos – Interrompeu Genta – Mas ainda assim… Esquece, vamos mudar de assunto.

— C-certo.

Genta, assim como todos os outros detentos de Kosuge, não tinha acesso a qualquer notícia vinda do lado de fora dessas paredes de concreto, Nakano era o único ponto de informação que o jovem duelista tinha. Não era como se Nakano se importasse em ser esse ponto de referência, até porque o garoto à sua frente já tinha feito muito por ela, mas toda vez que eles puxavam assuntos quanto ao lado de fora ela se sentia incomodada. Não pelas notícias em si, mas sim pelo próprio amigo que parecia sempre se incomodar. Ele sempre foi do tipo que age, então ter de ouvir tudo aquilo devia ser como se a realidade batesse de frente com o jovem.

Já tentou desviar desses assuntos para não magoar o rapaz, mas ele sempre fazia questão de saber qualquer mísero detalhe quanto ao que acontecia pelas suas costas. Nakano sentia que não podia dizer não para o rapaz.

— Bem e quanto ao G. E. Y? – As coisas haviam acabado de complicar – Conseguiram resolver aquele problema de finanças?

— E-então… Eu… Pode se dizer que sim – Nakano sorriu amarelo para o amigo.

— Sério? Que ótimo! – Genta sorriu para a amiga – E o que foi decidido? Vão continuar com a turnê? Arranjaram algum show fora de Honshu? Você tinha me dito que queria tocar em Okinawa, não é?

— Acontece que… – Nakano ponderou por alguns segundos sobre que resposta deveria dar, se deveria dizer a verdade nua e crua, se deveria mentir ou sequer dar uma resposta. Se era doloroso para ela falar do destino de seu grupo, imagina para a pessoa a sua frente, o homem que lutou até mais do que ela por isso. O homem que agora estava atrás das grades depois de perseguir esse sonho – O GEY está-

— Esse negócio não vai mais rápido, não? – Uma voz desconhecida cortou o diálogo dos dois de forma abrupta.

OST: Death Note - Light's Theme

Nakano e Genta congelaram por um momento, não deveria ter ninguém ali naquela hora, seu tio e os outros funcionários estavam envolvidos na organização do show que aconteceria ao mais tardar. Era o horário padrão que ambos sempre marcaram para se encontrar.

— Talvez se você fizer isso aqui… – Uma segunda voz desconhecida.

— Não vai adiantar, é problema de software mesmo.

— E você entende dessas coisas?

As vozes estavam abafadas, mas dava para entender nitidamente o que estava sendo conversado, assim como também dava para saber de onde vinham, estavam dentro da sala da diretoria.

— Não deveria ter ninguém na sala do meu tio a essa hora, não? – Questiona Nakano.

— Pode ser alguém do administrativo, mas só pra ter certeza, fica atrás de mim… – Genta tomou a dianteira e caminhou em direção a entrada da diretoria, que nada mais era do que uma porta dupla de madeira, com talhos para formar desenhos de águias, leões e plantas, algo típico de Tominaga Mutsu.

O mais velho ficou cara a cara com a porta e a empurrou de leve, vendo que estava aberta, ele então a abriu de uma vez.

— Eu costumava trabalhar com esse tipo de coisa antes de ser- hum?

Nakano olhou por cima do ombro de Genta para os sujeitos presentes no escritório de seu tio. Sentado na mesa de carvalho, atrás da imensa pilha de papel e do monitor do PC, havia um jovem de cabelos longos e desgrenhados, barba pra fazer e olhos carmesim. Ao lado dele um gigante de quase 2 metros de altura, robusto e quadrado com um cabelo castanho e costeletas descendo pela lateral dos olhos, ambos os sujeitos tinham diversos curativos no rosto. E o mais assustador, os dois vestiam as mesmas roupas que Genta, uniformes listrados.

— Vocês dois… Não são os novatos que chegaram no início da semana, não foi? – Questionou Genta com um olhar sério.

Os dois sujeitos olharam para ele. O moreno cujo os pés estavam repousados sobre a mesa do diretor Tominaga apenas respondeu.

— É isso mesmo, algum problema?

— Não é um problema exatamente meu, mas isso pode se tornar um problema imenso pra vocês, esse corredor e essa sala estão cheias de câmeras – Respondeu Genta com um olhar sério – Não sei o que querem aqui, mas se não quiserem se encrencar acho melhor voltarem para as suas celas.

— Bem, eu vim até aqui pra pedir um favor ao diretor já que eu tenho um compromisso aqui a tarde, mas ele não estava – O moreno deu de ombros.

— Ai vocês simplesmente invadiram esse lugar? – Nakano não conseguiu se conter atrás de Genta. Era muita falta de respeito o que aqueles dois estavam fazendo, principalmente o moreno que sequer tinha qualquer apreço pelo espaço de trabalho do seu tio. Era evidente isso quando olhou para o resto do escritório elegante de Tominaga, que se encontrava uma completa bagunça.

— Foi mal, a gente estava com pressa, se quiser ajuda, o Fukuda pode arrumar o lugar pra você

— Espera, eu? Mas não foi você que revirou esse lugar para achar a senha? – Questionou o gigante ao lado dele – Eu cheguei a te falar para pegar leve.

— Eu já disse que- Ah! Baixou, vocês dois segurem as pontas ai – O moreno tirou os pés da mesa para poder prestar mais atenção no conteúdo do monitor, a impressora ao lado da CPU do computador começou a emitir um barulho alto, uma luz pode ser vista por alguns segundos até ela terminar o que estava fazendo – Aqui prontinho… Fukuda o resto é com você.

— Ai… Ai… E lá vamos nós… – O grandalhão então se abaixou para pegar os documentos caídos no chão e desajeitadamente os enfiou de volta nas gavetas sem qualquer cuidado.

— Espera, esses documentos… Chega eu vou chamar os guardas! – Nakano se virou para correr dali avisar quem quer que fosse, mas sentiu a mão forte de Genta segurar seu braço, a impedindo de sair – Genta-san o que você…

— Isso que você tem ai… É um deck?

O moreno olhou na direção do amigo de Nakano com um olhar indiferente e foi nessa hora que Nakano teve um vislumbre do que tinha nas mãos dele, algo extremamente familiar: Um bolo de cartas de Monstros de Duelo.

— Isso aí, os boosters disponíveis na biblioteca são uma merda, então eu decidi imprimir as minhas cartas digitalizadas – Respondeu o moreno – Eu meio que preciso esfregar a cara de um otário no asfalto e isso aqui vai me ajudar.

— Deixa eu adivinhar – Genta sorriu – Vai desafiá-lo para um daqueles “Jogos de Tominaga”

— Precisamente – O moreno devolve o sorriso para Genta – Agora se nos dão licença vamos meter o pé, Fukuda. O velho já deve estar infartando lá.

— Ah sim! Verdade – O homem com o nome de Fukuda riu e foi acompanhando seu colega até a saída.

Genta estranhamente deu um passo para o lado, deixando os dois detentos passarem por ele. Nakano até pensou em tentar contestar os dois, mas não sabia o quão agressivos eles poderiam ser, principalmente pela presença do gigante. Seria impossível para seu amigo defendê-la nessas condições. Fora que haviam câmeras ali, os guardas ficariam sabendo uma hora ou outra.

— Por sinal, qual seu nome mesmo? – Antes que os dois rapazes deixassem o corredor, Genta os chamou a atenção, o que fez Nakano gelar por um segundo.

— Hum? Pra que tu quer saber meu nome? – O sujeito de cabelos longos se virou.

— Para recordação, não é todo dia que eu vejo o teu tipo de maluco andando por aqui – Respondeu com um sorriso no rosto.

— Recordação é? – O moreno riu da fala de Genta – Kouda Samson…

— Samson? – Genta franziu o cenho.

— E esse aqui é o Fukuda Aiji e blá blá blá, você já sabe o resto

— É um prazer poder conhecê-los e desculpe qualquer incomodo – O gigante fez uma breve reverência.

— Certo chega de apresentações, vamos Fukuda.

— Mas eles nem se apresentaram…

— Eu não tô nem aí pra quem são eles, só vamos embora.

— Tá bom então, até outra hora vocês dois – O gigante acenou na direção de Nakano e Genta antes de virar o corredor junto de seu colega.

— Eae, onde você pretende guardar isso? – A voz do maior ecoou no corredor.

— Fukuda… Não faça esse tipo de pergunta.

— Hehehehehe – O riso dos dois foi a última coisa que se pode ouvir a conversa dos dois, antes de sumirem.

Após isso, só um silêncio constrangedor restou entre os dois amigos.

— V-vamos avisar o meu tio sobre isso! – Nakano foi a primeira a falar – Aqueles dois bagunçaram o escritório dele! Ele vai ficar uma fera quando ver tudo isso!

— Sendo sincero aqui… Acho que ele nem vai ligar – Genta sorriu de canto já retomando os seus afazeres. Caminhou até o carrinho da limpeza e voltou a esfregar o chão.

— E-espera, como assim? São as coisas dele! E foram dois criminosos que arrombaram a sala dele! – Exclamou a Nakano.

— Eles não arrombaram a sala… – Protestou o duelista – A porta tava aberta, fora que seu tio não deixaria a senha do computador dele tão fácil assim.

— O que então, tá me dizendo que ele simplesmente deixou dois marginais entrarem aqui sem mais nem menos?

— Ou isso ou eles são muito bons no que fazem.

— Eu não to entendendo aonde você quer chegar, Genta-san!

— Bem… Pode se dizer que… Acho que o seu tio teve uma ideia – Genta respondeu a garota com um riso – E acho que foi uma das boas…

— Uma… Ideia?

— Sim – Respondeu de maneira seca – Afinal de contas… Uma pessoa como Kouda Samson nunca deveria ter sido colocada em um lugar pacífico como esse.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.