Eram 8 da manhã quando Felipe voltou ao meu quarto. Joe não estava mais lá. Felipe entrou e se sentou ao pé da cama.

—Pronto para receber alta? – disse ele.

—Estou pronto desde ontem, quando eu entrei aqui. – disse para ele.

—Eu te aterrorizei tanto assim? – disse ele fingindo estar ofendido.

—Não é você. – eu disse. – Mas o local. Nunca me dei com esse lugar.

—Não pense assim. – disse ele, colocando a mão sobre minha perna. – Pense que já está liberado e que mais algumas horas vamos ver nossa amada cantora. – disse ele.

—Nós? – disse para ele.

—Sim. – disse para ele. – Ou achava mesmo que eu ia perder esse show?

Eu apenas ri.

—Não consigo imaginar como é a vida social de médicos. – disse para ele.

—E acha mesmo que todas aquelas viagens que falamos ontem, vão ficar apenas em sonhos? Paris me aguarda daqui uns 8 meses aproximadamente. Só me falta companhia.

Bateram na porta duas vezes, abrindo logo depois. Era Joe.

—Está pronto? – disse ele vindo até perto da minha cama e me beijando.

—Como ele está, doutor? – perguntou ele sem se preocupar. Sabia que o doutor podia o entender completamente.

—Ótimo. – respondeu Felipe se levantando do pé da cama. Ele foi até minha ficha, assinou a alta. – Eu não costumo desistir fácil do que eu quero. Você tem meu número na lista de contatos agora e eu salvei o seu também. Daqui alguns dias, quando ele for embora. Eu vou te ligar. Talvez você ainda reconsidere Paris. – e piscou para mim, fechando a porta.

Joe olhava para mim esperando que eu dissesse para ele o que Felipe disse em português, porque sabia que ele não entenderia.

—Apenas ignore ele. – disse dando um soco de leve em seu braço. – Por que fez aquilo?

—Fiz o que?

Olhei para ele como se a resposta fosse óbvia.

—Ele estava sendo bem folgado. Não gostei do modo que ele dava em cima de você.

Suspirei e disse:

—Preciso me trocar. – Joe estava mexendo no celular e nem se moveu. – Não vai sair para que eu possa me trocar?

—Não há nada por baixo dessa roupa que eu já não tenha visto.

—Você anda bem ousado. – disse me levantando e seguindo até o banheiro.

—E você anda mais amável comigo. – gritou ele. Desde ontem nenhum momento de frieza ou grosseria.

—Tenho motivos. – disse.

Minutos depois sai do banheiro de banho tomado e com minhas roupas normais, livres daquele cheiro de hospital. Joe então ao me olhar se levantou e parou na minha frente.

—Nossos planos meio que mudaram. – disse ele. – Eu preciso de me preparar para o show, receber fãs. Então o nosso almoço, poderia virar um jantar. Depois do show. O que acha?

—Por mim tudo bem.

—Você tem entrada diferenciada, suas credenciais estão na sua cama no hotel.

—Não precisava fazer isso.

—Não fiz por você. – disse ele. – Fiz por mim. Eu preciso ver você antes do show, saber que não vai parar no hospital novamente.

—Já disse que vou ficar bem.

—Preciso ir então. – disse ele me olhando e ainda parado.

—Ok. – eu disse. – Te vejo mais tarde.

Ele se virou e deu passos lentos até a porta, abriu ela e me olhou novamente.

—Quer saber? – disse ele. – Não me importo mais, já quebrei todas as regras mesmo. – E voltou até mim, dando um beijo como a última vez. Um beijo que começou lento e foi ficando mais intenso e mais selvagem. Além de todo aquele calor que podia sentir de sua pele. – Agora posso ir, te vejo mais tarde. – terminou ele e saiu cantarolando pelo hospital.

Eu dormi, boa parte do dia. Quando eu acordei, haviam mensagens do Felipe, perguntando se poderíamos nos encontrar na fila do show. Eu não sabia como explicar para ele que eu tinha uma credencial. Então eu optei apenas por falar que chegaria em cima da hora, mas tentaria encontrar com ele lá dentro. Por mais que sua reposta ele não me pareceu nada convencido, ele aceitou bem. Então eu fui tomar banho e me arrumar.

Felipe mais uma vez mandou mensagem. Estava sem camisa. E era impossível não reparar no seu tanquinho e todos seus músculos, principalmente com aquele sorriso malicioso. Ao lado dele duas camisas, uma lilás e outra polo verde. Ele me falou perguntava qual eu achava que ele deveria ir. Optei pela verde, mesmo sabendo que ele ficaria bonito com qualquer uma das duas.

Ele então me perguntou se eu estava bem e se havia me alimentado. Eu disse que estava bem, mas não havia comido ainda. Ele me deu uma bronca e me falou que conhecia um lugar perto do show que tinha pratos muito bons e como eu ficaria apenas mais dois dias no Rio, eu precisava conhecer lá.

De início eu excitei, não queria dar falsas esperanças para ele. Mas eu sabia também que se eu não aceitasse ele iria me querer ver no show, o que seria complicado, porque estaria num outro lugar, por fim eu calculei o tempo que eu teria até o horário que Joe havia combinado comigo. Então aceitei.

Quando eu cheguei lá, Felipe já estava me esperando. Veio ao meu encontro me abraçando. O que eu achei bem ousado, não era muito comum para mim pessoas que mal se conhecem se cumprimentarem assim. Mas relevei.

—Sentiu algo durante o dia? – disse ele.

—Felipe, deixe o doutor no hospital. – disse.

—Você está certo. – disse ele. – Não quero que tenha uma impressão errada sobre a vida social dos médicos, como disse.

Eu apenas sorri.

—Me conte sobre sua vida. – disse ele. – Ontem me falou das suas viagens e sonhos. Mas e como é a vida real?

—Me formei tem quase dois meses, em engenharia.

—Isso explica sua visão tão complexa de médicos.

—Na verdade minha visão veio de Grey’s anatomy mesmo. – disse.

—Você também assiste?

—Claro que sim. – disse para ele. – Mesmo com tantas emoções que Shonda nos causou, ainda aprendo muito com Meredith.

— E quais lições um engenheiro pode tirar de um seriado da vida de médicos?

—Mas não é o engenheiro que vê seriados. E algumas cenas me fazem pensar na vida, me inspiram.

A conversa sobre Grey’s anatomy durou tempo demais. E quando olhei o celular novamente, haviam várias mensagens e ligações de Joe. Eu sai correndo para chegar até o show, mas já era meio tarde quando cheguei lá. Joe já estava no palco e sua cara quando estava cantando ao me ver, não era de longe a das melhores. E eu sabia que isso podia significar uma nova briga.