Já fazia dois meses desde que ele foi embora e ainda sentia muita falta dele, mas parece que não há como lutar contra o destino, desde início sabia que seria difícil, seria o mundo contra nós além de quem não éramos o casal perfeito, as brigas eram mais constantes do que os momentos que estávamos bem.

Mas o que estou dizendo? Adiantei a história demais. Essa história começa há 11 meses atrás. Quando eu resolvi fazer uma viagem em comemoração à formatura da faculdade. Foram 5 anos que me esgotaram completamente. Mas eu havia me tornado um engenheiro. Eu não era mais o mesmo de antes de entrar na faculdade. Bastava eu olhar meu reflexo no espelho que saberia disso. Esses 5 anos me desesperando com tantas matérias e tantos cálculos me fizeram envelhecer muito mais que cinco anos.

Eu não sabia que eu havia me tornado agora. E esperava que essa viagem pudesse me ajudar entender quem eu sou. Eu precisava desse tempo apenas meu, para que pudesse então criar fortes raízes para os próximos desafios que pudessem estar no meu caminho. Além disso estava ansioso por isso. Era minha primeira viagem sozinho e eu ia conhecer pela primeira vez a praia. E todos esses ingredientes somado a um grande festival de música que então veria novamente minha cantora favorita, Demi Lovato, era a formula certa para que eu voltasse como uma nova pessoa daqui alguns dias.

Claro, eu senti um frio na barriga quando o avião aterrissou no Rio de Janeiro. Eu estava sozinho. Não havia alguém para comentar sobre a viagem, não havia alguém para seguir comigo para o hotel. Mas eu sabia também que se tivesse levado alguém comigo, isso provavelmente faria com que eu não conseguisse concretizar todos os meus objetivos.

Era a hora de almoço de uma quarta-feira de verão, bem quente por sinal. Sem nenhum sinal de chuva. Logo que o taxi parou em frente ao hotel para mim, eu percebi que havia uma grande movimentação que se dividia de meninas histéricas e jornalistas curiosos. Bastou que eu lesse um cartaz que uma pequena garota segurava que eu soube então por quem elas esperavam. Jonas Brothers. Não consegui evitar revirar os olhos só de pensar nessa banda, eu não gostava deles e pensar que eu dividiria o hotel com eles não ajudava me acalmar, eu sabia que enquanto não passasse o festival no sábado, eu teria que enfrentar essa multidão cada vez que entrasse ou saísse do hotel.

Mas era o meu primeiro dia das minhas tão esperadas férias e não queria estragar logo no início. Minha mente já tinha tanta coisa que queria passar para o papel. Tantas imagens que significava cenas perfeitas para o romance que eu escrevia e eu estava ansioso para comer alguma coisa, descansar um pouco e escrever muito, não necessariamente nessa ordem.

Mas os planos não funcionaram como eu queria. Acabou que comi um sanduiche e dormi até aproximadamente umas 20 horas. Acordei apenas com meu celular apitando. Quando peguei para olhar, vi que havia 23 chamadas perdidas e não precisava de olhar de quem elas eram. Porque naquele instante eu percebi que havia me esquecido de ligar para minha mãe quando cheguei no hotel. Eu liguei para ela e depois de ouvi um sermão de aproximadamente 20 minutos e um interrogatório sobre a viagem e onde eu estava hospedado que durou aproximadamente mais 15 minutos, eu estava pronto para começar a pensar em algo para fazer na noite carioca.

Depois de um banho, decidi que ia dar uma caminhada para que então pudesse conhecer um pouco daquela cidade. E terminar minha noite aproveitando um luau na praia. Quando eu ia entregar as chaves ao jovem rapaz na recepção que estava no telefone, ele pediu para que eu aguardasse ele terminar.

—Senhor, esse é o cartão para ter acesso ao andar do seu apartamento agora.

—Mas não precisei nunca disso.

—É, mas agora o senhor está hospedado no mesmo andar, que os Jonas Brothers.

—Achei que eles teriam um andar exclusivo para eles.

—Teriam, mas tivemos um problema com a cobertura. – disse ele, evitando me encarar. – E eles decidiriam por um dos quartos ao lado do quarto do senhor. Um dos nossos melhores quartos está naquele andar que o senhor fica.

Respirei fundo. Apenas assenti.

—Só uma pergunta. – disse. -A Demi Lovato também vai ficar aqui?

—Não temos autorização dar essa informação. – disse ele, então olhou de um lado para o outro. Fez um movimento negativo com a cabeça.

—Obrigado mesmo assim. – respondi e então segui a caminho da porta. Apenas querendo sair daquele lugar e esquecer aquilo apenas um pouco. E lá estavam vários jornalistas e meninas cheias de expetativas que foram embora quando viram que eu não nenhum daqueles que eles esperavam.

Naquele instante eu sabia que o hotel era o último lugar que eu deveria ficar muito tempo. Meu sossego havia sido tirado pelas conversas, os helicópteros que circulavam na área e até o movimento dos seguranças no corredor. Mas eu não queria que isso estragasse minha noite. Logo a primeira delas. E em pouco tempo eles iriam embora e tudo voltaria ao normal. Era om único pensamento que fazia com que eu suportasse tudo aquilo.

Foi nesse momento que pensei no meu objetivo ali também. Eu costumava ser uma pessoa mais calma, uma pessoa que não se irritava tão facilmente. E eu sentia falta dessa serenidade e calma que eu tinha para lidar com situações que pediam isso. Situações que seriam parte do meu dia a dia como engenheiro. E se eu não quisesse parar no hospital com algo sério logo, eu precisava mudar isso.

Então respirei fundo e esqueci de todos os problemas que tive ao ter a visão da praia e do mar. Eu me senti hipnotizado por minutos. Tudo era chamativo e eu precisava chegar lá. Eu nem sei exatamente quanto eu fiquei ali, apenas deixando com que minha mente vagasse para onde quisesse, enquanto meus olhos tentavam absorver cada detalhe que estava ali na minha frente com a perfeita trilha sonora de uma playlist que havia guardado para aquele momento. E então eu sabia que havia tomado a decisão certa. Sabia que esses dias podiam amenizar as feridas que eu tinha. Não curar, porque isso levaria anos, mas o começo da cicatrização para que não sangrassem mais.

E esse foi o pensamento que voltei ao hotel. Desisti de participar do luau. No outro dia que queria levantar cedo e ver a praia com a luz do sol iluminando e aquecendo cada parte dela. Na porta do hotel não havia tantas pessoas mais, o que facilitou minha entrada. Quando cheguei o elevador, o homem colocou a mão impedindo que ele fechasse. Ele tinha a cabeça raspada, sua pele bem clara, com estatura mediana. Ele estava no celular, falando em inglês. O que eram sinais suficientes que ele não era daqui. Mas só percebi quem ele era quando ouvi que ele estava reclamando de um dos integrantes da banda dos Jonas Brothers.

Ele dizia que não essa era a primeira e última turnê mundial que faria com eles, se Joe não mudasse suas atitudes. Que ele precisava de uma reabilitação devido ao grande consumo de álcool dele. E ele mal sabia o que fazer para contar isso aos pais deles. E que a melhor notícia para ele é saber que esse era o último show pelo próximo mês. E depois que percebi isso, parece que o tempo resolveu passar mais lentamente. Ou o elevador resolveu desacelerar. Mas minha atenção se voltou mesmo para a conversa quando ouvi o nome Demi Lovato, mas a porta se abriu e eu desci e ele seguiu para o apartamento dele que era dois andares acima do que eu estava.

Quando cheguei ao meu andar, os seguranças já haviam se retirado e isso já era um alivio, a bagunça na porta do hotel já havia acabado e enfim eu poderia relaxar, até chegar à porta e me deparar com o Joe Jonas tentando abrir ela. Foi nosso primeiro encontro. Ele quando percebeu minha presença logo atrás dele, sem dizer nada me entregou a chave para que eu abrisse para ele, achei um absurdo.

—O que isso? – perguntei.

—Abra para mim a porta. – disse ele ou pelo menos o que tentou dizer.

—Não trabalho para você! – disse então. Mas percebi que no estado de bêbado que ele se encontrava ele mal entendia o que eu dizia.

—Você está no apartamento errado. – disse então. Seu celular então tocou. Era seu empresário. Ele ignorou. E me disse:

—Me ajude. Meu empresário não pode ver isso, por favor, me ajuda. – falou uma e uma segunda vez mais alta. Seu bafo estava horrível, ele não estava mesmo nada bem e sabia que era verdade do que ele dizia. Seu empresário iria matar ele, caso encontrasse ele naquele estado. Então respirei fundo e disse:

—Calma, vamos entrar você melhora um pouco e depois vai embora. Tudo bem?

Ele sorriu e me abraçou agradecendo. Tentei afastar ele, mas sem sucesso. E quase cai com aquele cheiro forte de álcool. Abri a porta do apartamento. Ele entrou observando cada detalhe. Liguei a TV e segui até a cozinha para buscar um pouco de água.

Quando voltei não vi sinal do Joe em lugar nenhum até ir ao meu quarto, ele havia tirado às botas, a calça, a camisa de fora e estava apagado na minha cama, tentei acordar ele de todas as maneiras, até joguei um pouco de água na cara dele, mas nada. Só rezei para que ele não vomitasse ali. Sem muitas escolhas, fiquei vendo TV por algum tempo. E acabei dormindo no sofá.