O dia estava quente em Tóquio, era o primeiro dia de verão, a cidade estava animada. Muitos estavam nas praças se refrescando nas fontes ou com sorvetes. A cidade havia sobrevivido ao pior inferno dos últimos cinco anos; a neve se acumulava em todos os lugares pela cidade, interditava avenidas e impedia das pessoas saírem.

Longe da capital, nas proximidades de uma floresta Inori e Mana faziam um piquenique embaixo de um pinheiro. Estavam sentadas em cima de uma toalha florida que a irmã de Shu comprara especialmente para a ocasião. Os pássaros cantavam alegremente nas copas das árvores. As meninas bebiam suco de uva e comiam polvo frito preparado com muito amor por Mana. Riam de piadas antigas e conversavam sobre roupas.

— Por onde Shu tem andado? — pergunta a amiga da menina de cabelos rosa.

— Está no Hawaii com Gai. Estão em uma missão ou algo parecido.

— Você saiu dos Funerários? — indaga curiosa.

— Não, é que nessa missão foram apenas eles dois.

Inori abriu uma caixa e de dentro tirou dois potes de pudim com calda de morango.

— E como anda a Egoist?

— Muito bem! Vamos começar uma mini-turnê próxima semana. — disse a vocalista do Egoist mostrando um sorriso de felicidade.

A brisa de verão trazia consigo o doce canto dos pássaros, como também balançava os cabelos das meninas. O sol dava uma vida extra ao cabelo rosado de Inori, suas madeixas caíam até a cintura exibindo o degradê do rosa.

Elas brincavam com uma bola que Mana trouxera, jogava a bola de uma para outra e se divertiam com isso. Naquela parte da cidade o ar não estava muito quente mais parecia com um final de tarde de domingo.

— Caso você queira pode ir passar um tempo comigo, quero dizer, enquanto o Shu não volta de viagem. Sabe que minha casa é grande — disse enquanto jogava a bola para namorada de seu irmão —, e assim não nos sentiríamos sozinhas.

— É uma boa ideia, mas tenho coisas a fazer em casa.

Depois de brincarem sentaram-se na toalha, Inori dividiu as cartas e deu-se início a jogatina de poker. Nas primeiras três partidas o placar estava a favor da rosada, ela era fera nesse jogo e ganhava até de seu namorado que era bom na maioria dos jogos de carta. Depois de algum tempo a sorte começou a recair sobre Mana que estava empatada agora, mas no final a jovem de cabelos coloridos acabou ganhando por pouco.

— Nunca fui boa em jogos de carta — disse a irmã de Shu. — Meu irmão sempre foi melhor.

— Ele é melhor que muita gente que conheço.

Riram ao lembrar-se de quando Shu era novo nos Funerários e mesmo assim ganhou duas vezes de Gai no poker.

— Fiz os bolinhos que você tanto gosta.

De dentro de sua bolsa Mana tirou três bolinhos de feijão doce.

— Espero que goste.

— Estão com a cara ótima.

A irmã de Shu tirou outro bolinho de dentro da bolsa e se serviu, deu uma grande mordida.

— Fiz com muito amor. — disse.

A vocalista do Egoist mordeu o bolinho mais escuro dos três, mastigou suavemente e de uma mordida maior chegando ao recheio cremoso.

— Esse bolinho está com um gosto estranho — disse a namorada de Shu.

— Estranho como? — perguntou sua amiga, olhou para o bolinho dela acreditando que, talvez, alguma coisa tivesse saído errado durante o preparo.

— Não consigo explicar.

— Você está bem? — perguntou Mana, quando sua amiga mostrava uma expressão cansada.

— De repente... Fiquei... Com sono.

— Isso é ótimo! — disse a irmã de Shu.

— Ó-Ótimo? — falou a jovem de cabelos rosa. — Você... Me drogou?

— Sim!

Mana assistiu satisfeita Inori desmaiar de sono. O resto do bolino preso na sua mão, era possível ver a cor azulada do recheio, o remédio estava misturado ao doce. A irmã de Shu empurrou o corpo adormecido de sua amiga para um lado, fez uma trouxa com a toalha que forrava o chão juntando os restos de comida e os talheres, amarrou e jogou atrás de uma moita onde ninguém pudesse ver. Levantou o corpo de Inori e tentou-o colocar de pé, então passou um dos braços dela em volta de seu pescoço e a levantou com toda a força que podia. Andou vagarosamente na direção da floresta, por entre as árvores com cuidado para não cair, reclamando para si mesma do peso.

Dava longos passos até se encostar num tronco para descansar, mas sem soltar sua vítima. Os pés da jovem de cabelo rosa arrastavam pelo chão deixando uma imperceptível trilha sobre as folhas murchas caídas.

Os animais da floresta estavam silenciosos, a menina de cabelo rosa estava encrencada e era como se eles soubessem disso.

— Ninguém irá te salvar de mim — sussurrou para o corpo que carregava em seus ombros.

À medida que avançavam floresta adentro as árvores iam ficando mais altas e densas, o chão coberto por folhas logo foi substituído por musgo esverdeado e que dificultava os passos lentos de Mana.

O sol não estava tão a pino quando chegaram à um riacho de águas claras. A maligna irmã do principal membro dos Funerários depositou o corpo na beira do riacho e sentou-se numa pedra para descansar.

— Precisamos chegar à cabana antes do anoitecer ou teremos dificuldade em achá-la.

Abaixou-se lavou o rosto, molhou a nuca e os braços. O cabelo de Inori estava sujo de lama assim como metade de sua roupa e seus pés. A viagem continuou até quando o sol se pós, chegaram à cabana ainda no crepúsculo. Era uma cabana velha e torta, com buracos no telhado e no chão, plantas cresciam nos cantos úmidos; ali certamente também era morada de alguns animais já que as pernas de algumas cadeiras estavam roídas. Cadeiras eram as únicas coisas que tinha ali. Mas o espaço da cabana era suficiente para três pessoas morarem, um banheiro no final do corredor, dois quartos e uma modesta cozinha.

Colocou Inori numa cadeira de metal, amarrou severamente suas pernas as pernas da cadeira e seus pulsos aos braços do móvel. Mana acendeu algumas velas, que havia trazido anteriormente, ao longo da casa para afastar os animais, mas não muitas para não chamar a atenção de alguém que estivesse passeando por ali. Ela não fez nada enquanto sua prisioneira estava inconsciente, apenas esperou e esperou, porém, parecia que ela estava se divertindo em assisti-la dormindo.

O dia amanheceu agitado fora da cabana, as aves cantavam felizes anunciando o novo dia. Dentro da cabana o pesadelo de alguém começava, Inori dava os primeiros sinais que estava voltando a si.

— Droga! Minha cabeça vai estourar — disse ela. — O que aconteceu? O que aconteceu comigo? Por que estou presa?

— Você realmente não lembra? — pergunta Mana com um sorriso no rosto. — Eu te droguei e te arrastei, literalmente, para cá.

A garota de cabelos rosa se aterrorizou se sacudiu tentando desatar os nós, mas sua ex-amiga fez um bom trabalho com eles.

— Não faça isso, só irá te machucar.

— Por que está fazendo isso comigo?

— Por amor. — disse a irmã de Shu.

— Não comece com essa história novamente. Isso é passado, e você deveria saber disso. Supere como eu superei.

— Isso é impossível! — gritou Mana. — Eu me apeguei a você de tal forma que não suporto te ver com meu irmão. — disse num tom mais baixo e calmo. — Mas sei que você o prefere e sempre foi assim.

— Não minta para si mesma. Só comecei a sair com Shu depois que tínhamos terminados, dois anos depois.

— Tanto faz!

— Me tire daqui!

— Não!

Os olhos de Inori estavam repletos de lágrimas.

— Socorro! Socorro! Socorro!

— Pare de gritar, ninguém irá te salvar.

— Socorro!

Mana avançou e fechou a boca dela com um beijo, quando se afastou Inori cuspiu no chão.

— Não sabia que...

— Que o quê?

— Que tinha se transformando numa santa! — e deu um tapa na cara de Inori.