You're My Boomerang

Capítulo 7 - Doctor


Sam Puckett

Carly havia ido para sua lua de mel em Milão e eu fiquei na casa, que ela havia herdado do avô, enquanto isso. Eu não tenho ideia de para onde irei quando a Shay voltar. Ela disse, com toda bondade do mundo, que eu poderia ficar o tempo que fosse necessário. Mas com que cara eu ficaria? Eu não queria ficar no quarto de hóspedes da casa dela, sobretudo com o Lorenzo por perto. É vergonhoso para mim.

No entanto, fiz o propósito de não pensar nisso durante essas duas semanas em que Carly estará fora. E tendo eu passado 10 anos da minha vida sem saber o que o dia de amanhã guardava para mim, essa tarefa não parecia tão difícil.

E lá estava eu deitada no sofá assistindo televisão enquanto desviava dos pensamentos pessimistas.

Eu sei que deveria desgrudar a bunda do sofá e correr atrás de um objetivo na minha vida. Afinal, é isso que as pessoas compromissadas e responsáveis fazem. Mas eu não posso negar que não sinto o menor ânimo para fazer tal coisa.

De repente, quando eu levava uma porção de pipoca até a boca, a campainha tocou. A princípio, eu imaginei que poderia ser o cara do iFood, já que eu havia pedido uma porção de frango frito. Mas, quando abri a porta, dei de cara com o Benson.

Ele tinha uma mochila preta nas costas e a chave do carro numa mão. Caramba! Como ele estava lindo (e gostoso) com aqueles óculos escuros e aquela camisa social azul marinho levemente aberta.

—Posso entrar? - ele perguntou depois de alguns segundos.

Eu tenho quase total certeza de que eu estava com uma cara de idiota. Eu realmente precisava parar de ter esses devaneios diante dele.

—Entra - falei dando espaço na porta.

—Tá à toa? - ele perguntou indo na direção da poltrona disposta quase ao lado do sofá, onde antes eu estava.

—Há 12 anos - respondi tentando soar engraçada e nem sei porque tive essa necessidade repentina de fazer piadas.

—Ótimo. Carly me disse que você estava procurando emprego.

Suspirei e me sentei no sofá, respondendo sem empolgação:

—É…

Freddie, que abria a mochila, me olhou e disse:

—Você não estava procurando coisa nenhuma, né?

—Claro que estava! - Exclamei exagerando no meu tom de voz só para parecer que eu realmente estava louca para encontrar um emprego.

—Vou dar um voto de confiança. Mas… Enfim! Ela me perguntou se eu não podia te arranjar alguma coisa para fazer lá na empresa.

—A Garibalda deixou você me dar um emprego? - perguntei com deboche.

—Em primeiro lugar, ela não tem que deixar nada, porque a empresa é minha.

Ri de propósito e ele continuou.

—E em segundo lugar… Para de chamar ela de Garibalda.

—Você é muito bipolar, sabia? Num dia, você confessa que não sabe se ama ela mais e, no outro, a defende.

—Eu não a estou defendendo, só estou te pedindo para parar de chamar ela de Garibalda.

Ri outra vez enquanto dobrava minhas pernas sobre o sofá.

—Enfim, Puckett! - Ele exclamou depois de alguns segundos, fazendo aquela típica cara de irritadinho dele.

Deus do céu! Eu sempre adorei vê-lo nervoso, porque ele fica um misto de fofo e gostoso.

—Então… Eu resolvi te ajudar com isso - ele continuou. - Não vai ser assim, um super emprego, mas… Já vai ser um começo.

—Eu posso fazer deitada? - perguntei tentando soar engraçada outra vez.

É verdade que eu estava de bom humor e talvez a razão para isso era que o Benson estava ali, comigo. Droga! Eu odeio ter que admitir isso.

Mas aí ele disse:

—Nem depois de tudo que aconteceu você…

Fechei o sorriso que eu tinha aberto e ele deteve as palavras.

—Eu o quê? - questionei.

—Nada. Deixa pra lá.

—Não, agora você vai ter que falar. Eu o quê?

—Deixa para lá, Sam. É bobagem.

—Bobagem é você começar a falar as coisas e não terminar.

—Deixa para lá, tá? - ele insistiu naquela ideia enquanto tirava um Macbook da mochila.

Por fim, eu até deixei mesmo para lá, mas, ainda assim, não resisti e resmunguei num tom que fosse possível Freddie escutar:

—Defende a Garibalda, mas…

—Sam! - Ele me interrompeu - Será que dá pra gente agir como adultos pelo menos uma vez na vida? Caramba, cara! A gente passou a vida inteira brigando.

—Não é verdade! - discordei. - Uma parte dela a gente passou se beijando.

Freddie me encarou por alguns segundos e eu o encarei de volta, até que ele desviou o olhar e disse:

—Mas mesmo se beijando, a gente brigava.

Ri concordando e acrescentei:

—É verdade. Lembra daquela vez que você mordeu minha boca e eu fiquei puta com você porque doeu?

O Benson, assim como eu, riu baixo e respondeu:

—Eu não sabia como fazer. Acho que coloquei muita força.

—Você acha? Fez uma bolha de sangue no lugar.

—Mas você se vingou quando…

De repente, Freddie parou de falar e pigarreou.

Não dava para ter certeza, mas, naquele momento, eu tive a impressão de que ele quase falou sobre a primeira vez em que eu me aventurei em chupá-lo. Na época, eu não sabia como fazer aquilo, e, por isso, andei dando algumas dentadas, sem querer, em áreas delicadas dele.

—Enfim, vamos voltar ao que interessa - Freddie disse colocando o MacBook sobre a mesinha de centro.

Mas era óbvio que o papo sobre trabalho não era o mais interessante para mim e, talvez, nem para ele.

De repente, eu me peguei pensando no fato de que fazia tempos que eu não era tocada por alguém. E, na verdade, o único toque que me interessava era do Benson, apesar de eu preferir morrer a ter que admitir isso em voz alta.

—Eu não vou te contratar oficialmente, tá bom? - A voz de Freddie me trouxe de volta à realidade. - Mas, para te ajudar, eu vou te passar alguns serviços fáceis e, então, vou te pagar por eles. São coisas bastante simples. Conhece o Excel?

Antes que eu pudesse responder, vi o Benson se mudando da poltrona para o sofá onde eu estava. Deus do céu! Estava difícil concentrar.

—Já ouvi falar - respondi olhando-o.

—Bem, você vai se acostumar com ele. Tudo que você tem que fazer é tabelar os gastos da empresa. A gente não tem isso organizado e eu acho que é algo tranquilo de você fazer.

Ao dizer, Freddie olhou para mim e, instintivamente, eu olhei para sua boca.

—Está entendendo? - Ele perguntou enquanto eu acompanhava o movimento dos seus lábios.

—Mais ou menos - respondi sem conseguir disfarçar minha distração.

Então, quando eu menos esperei, sem que eu pudesse me preparar para aquilo, ele colocou uma mão no meu queixo e disse com um tom de voz de diferente; um tom de voz calmo e sereno:

—Então, preste atenção.

—Vai ser difícil com você segurando meu queixo assim - falei erguendo meu olhar para olhá-lo nos olhos.

E quando eu pensei que ele se afastaria, como vinha fazendo desde que nos reencontramos, ele virou meu rosto de leve e perguntou:

—Que cicatriz é essa no seu pescoço?

—Coisa antiga - respondi.

—Briga?

—Sim.

Freddie ergueu as sobrancelhas diante da minha resposta. E de repente, foi como se o mundo tivesse começado a girar mais devagar. Ele afastou a mão do meu rosto, mas, no meio do caminho, entre o meu rosto e o Macbook, eu segurei sua mão e a trouxe de volta para o meu queixo.

Ele não protestou, ou sequer resistiu, ao contrário, deslizou com a mão do meu queixo para a minha nuca e penetrou meus cabelos com os dedos. Quanto a mim, aproveitando a deixa e seu toque, inclinei o corpo para frente, ficando mais próxima dele. E quando achei que teria de ser eu a dar o primeiro passo, Freddie também se inclinou para frente e encaixou seu rosto na curva do meu pescoço, beijando a minha cicatriz.

Meu primeiro impulso foi levar as minhas duas mãos até seu cabelo, que era sempre tão macio, e puxar os fios de leve, enquanto ele distribuía mais beijos sobre meu pescoço.

Por um instante, foi como se todos os meus problemas desaparecessem. Os lábios de Freddie estavam sobre a minha pele e isso era tudo que importava.

Freddie Benson

Eu não me lembrava do quão macia era a pele da loira, até que, com ares de insanidade, encostei minha boca no pescoço dela. Foi minha perdição, eu tinha consciência disso, mas, mesmo assim, me deixei levar como se não houvesse amanhã.

Era curioso pensar que a última vez que a beijei - deixando de lado aquele rápido episódio em que ela me agarrou na frente de Camila - foi quando ainda éramos adolescentes. Céus! Muita coisa havia mudado desde então, tanto nela quanto em mim.

É claro que, já naquela época, existia uma excitação avassaladora entre nós dois, que éramos dois adolescentes cheios de hormônios. Mas agora, pelo menos para mim, a coisa parecia ainda mais intensa. Quando comecei a distribuir beijos pelo seu pescoço, e, no minuto seguinte, senti suas mãos no meu cabelo, foi quase como riscar um palito de fósforo sobre um barril de pólvora. Eu perdi a cabeça.

De repente, me vi deitando-me sobre ela no sofá enquanto comia seu pescoço na base dos beijos. Quanto à loira, ela arfava e gemia ao mesmo tempo, inclinando a cabeça para trás e deixando à minha disposição sua pele branca.

Àquela altura, eu já não tinha consciência de onde havia terminado minha sanidade e começado minha insanidade. Esse limite entre os dois estados, que, por vezes, é tênue demais, eu já não era capaz de enxergar. Eu havia escorregado na tentação e agora estava me lambuzando na loucura de amar Sam outra vez.

De repente, ela agarrou meu rosto com as duas mãos e me fez olhá-la. Palavras não foram ditas. Ela apenas se aproximou de mim e me beijou.

Eu não hesitei diante daquilo. Talvez, eu devesse hesitar. Como alguém casado e com filhos, eu deveria ter hesitado, mas não hesitei. Retribui seu beijo na mesma intensidade que ela me deu e deixei que minha fraqueza conduzisse o movimento da minha boca.

Ela ainda tinha o mesmo beijo, foi por isso que, por um instante, foi como se tivéssemos viajado no tempo, para a época onde ainda éramos adolescentes e nos inflamávamos nessa coisa de amor e paixão. Eu me vi lá de novo, com 17 anos e dividido entre o medo de minha mãe descobrir minhas travessuras e o prazer de beijar na boca.

Como ela poderia não ter mudado, mesmo depois de tudo? Como ela poderia continuar tão deliciosa, ao ponto de me fazer esquecer das minhas responsabilidades?

De repente, brecando meus pensamentos, ela afastou minha boca da sua e, num único movimento, arrancou a blusinha preta de seda que ela usava, revelando seus seios.

Eu olhei para os seus peitos e, por um curto instante, tive consciência da queda livre que estava sofrendo. Então, num impulso, quase como se estivesse fugindo, saí de cima dela e passei uma mão do meu queixo até minha nuca, numa vã tentativa de recuperar a sanidade.

—O que foi? - ela perguntou.

Talvez, para ela, não houvesse nada que pudesse pesar na consciência. Mas para mim havia muitas, e muitas, coisas, que, de repente, despencaram sobre minha cabeça como uma torrente de água.

—Isso não está certo - respondi.

—Você fala isso só agora? - Sam perguntou, irritada. - Depois de me deixar louca, você vem com esse papo?

—Eu não estava pensando direito.

—Claro! Depois que se inventou a consciência, acabaram-se as desculpas. Você me beija, me fazendo acreditar que vai até o fim, para, de repente, parar e vir com essa história de ‘certo e errado’, e ainda espera que eu seja compreensiva?

Eu não tive palavras para respondê-la, porque a verdade é que eu me sentia um completo idiota naquele momento.

Então, ela vestiu a blusa novamente e se levantou, indo na direção da cozinha e me deixando ali, com o carma.

Estive a ponto de dar o salto e me arrependi

Pude te ter toda para mim

Pude ter tudo com você e perdi

[Doctor - Mau y Ricky, Prince Royce & Piso 21]

Eu demorei a tomar a decisão de ir atrás dela e me desculpar, e a razão da minha demora não é certa. Se eu estava com medo, arrependido ou simplesmente indeciso, não sei. Tudo que sei é que, talvez, eu estivesse sendo um completo covarde ou, na melhor das hipóteses, um sensato por reconhecer meu erro antes de dar o salto final. Eu queria deixar o julgamento para ela.

Então, ao entrar na cozinha, a vi escorada na pia, bebendo um copo de água, e me detive na porta, sem muita coragem para me aproximar. E ao fim de alguns segundos de silêncio, falei:

—Me desculpa. Eu… Eu tinha uma intenção e acabei fazendo outra coisa.

O problema não é com você

O problema foi comigo

Que sempre termino sendo o meu pior inimigo

[Doctor - Mau y Ricky, Prince Royce & Piso 21]

—Eu só queria que você entendesse que - continuei - não é fácil para mim. Eu tô confuso, Sam. Uma hora eu quero uma coisa e, no momento seguinte, eu já não sei mais o que quero. E nessa coisa de querer e não querer, eu acabo machucando as pessoas… Sobretudo você.

Eu queria curar o seu coração

Mas acabei o quebrando

Por andar dando uma de doutor

Terminei fodendo com seus sentimentos

[Doctor - Mau y Ricky, Prince Royce & Piso 21]

Dei um passo à frente, hesitante, e supliquei:

—Me perdoa.

—Por que ela? - Sam perguntou, não dando atenção às minhas palavras anteriores.

Eu fiquei sem reação diante de sua pergunta, pelo menos a princípio. Ninguém nunca havia me perguntado aquilo e, por isso, era como se eu não precisasse explicar para ninguém.

—Não sei - respondi, mesmo sabendo que eu deveria saber.

—Você tem que saber, Freddie. Você está com ela há muito tempo.

Ela estava certa, mas, mesmo assim, eu ainda não tinha uma resposta para aquela pergunta.

—Eu acho que costumava saber - falei.

—É porque ela é bonita, inteligente, bem-sucedida…? Sei lá!

—Na época da faculdade, ela era a mais cobiçada. Todos queriam ficar com ela… Inclusive eu.

Sam riu diante das minhas palavras e disse:

—Então, você deve se sentir vitorioso por ter conseguido.

—Por muito tempo, sim.

—Não mais?

—Não.

Um silêncio se instalou de repente, enquanto eu fazia um retrospecto em minha mente, voltando aos tempos da faculdade e tentando me lembrar onde foi que tudo começou. Fazia um bom tempo que eu não parava para refletir daquela maneira.

—Roubo a banco - Sam disse de repente.

—Quê? - perguntei, confuso.

—Roubo a banco. Foi o que me levou para a prisão. E outros crimes menores: falsidade ideológica, desacato… Posse ilegal de arma. Mas o que ferrou comigo mesmo foi o lance do banco. Só não fiquei mais tempo porque dedurei todo mundo.

Ergui as sobrancelhas, surpreso, e ela continuou:

—O pior… O pior dia da minha vida foi o dia do julgamento. A princípio, eles me deram 20 anos. Caramba, eu… Eu lembro que eu dei um troço, passei a noite inteira chorando. Mas aí eles me fizeram a proposta de que, se eu entregasse o esquema, minha pena seria comutada para 10 anos. E eu não pensei duas vezes.

Ela fez uma nova pausa e soluçou, e, mesmo de longe, deu para perceber que ela apertava o copo com força.

—Eles atiraram em mim e aí eu atirei de volta… Várias vezes - sua voz foi engolida pelo choro e, mesmo assim, ela continuou: - Eu não deveria ter atirado. Eu deveria ter largado a porra da arma e deitado no chão, como eles mandaram… Mas não! Eu continuei atirando, descarreguei o pente na viatura feito louca… E me fudi.

Depois daí, o choro tomou conta da sua voz por completo e ela não conseguiu falar mais nada. Então, esquecendo-me do episódio de minutos antes, fui em sua direção e tomei copo de sua mão, colocando-o sobre a pia, para, na sequência, abraçá-la.

Ela me abraçou forte e escondeu o rosto na curva do meu pescoço, enquanto eu afagava suas costas.

Sam Puckett

Eu nunca chorei no ombro de Freddie e essa era uma das coisas que eu não pretendia fazer nunca. Mas, veja como são as coisas, quando as lembranças do passado vieram e o arrependimento bateu, a última coisa em que eu pensei foi nesta minha necessidade infantil de me fazer de forte diante de todo mundo. Eu desmoronei, mas, por sorte, o Benson estava ali para me segurar.

A princípio, foi apenas isso: ele me abraçou quando eu mais precisei. Deus do céu! Como eu precisava daquilo e não sabia. Aquela era, oficialmente, a primeira vez em mais de 12 anos que eu o abraçava. E foi impossível não notar que estar em seus braços continuava sendo uma das melhores coisas que existem.

Mas, então, de repente, ele desfez nosso abraço e quando eu pensei em me frustrar, ele secou o restante de lágrimas que ainda escorria pelo meu rosto e, sem me dar tempo de pensar, me beijou.

Aquela já era a segunda vez naquele dia, um recorde para nós dois.

Era engraçado perceber que a boca dele me fazia esquecer de tudo, inclusive do nosso pequeno desentendimento de minutos atrás. Ele me beijava e, então, que se dane o resto! Eu não queria saber de mais nada. Que se exploda o universo! Eu não me importo.

Então, ele foi aprofundando o nosso beijo, como se tivesse fome de mim, e eu, que ainda tinha um pouco de nó garganta, apressei-me para acompanhar seu ritmo. Subi minhas duas mãos pelo seu peito e alcancei sua nuca; arranhei-a de leve e, no mesmo instante, senti meu corpo ser arrebatado do chão.

Ele me pegou no colo e saiu trombando nas coisas até que alcançássemos a sala, onde ele me deitou no sofá novamente e veio por cima de mim como mais cedo.

O beijo dele não era mais o mesmo, estava bem melhor do que antes. A pegada dele estava mais firme, mais madura, o que me deixava louca sem precisar de muito esforço. E apesar de saber que não devia, a cada vez que a língua dele cruzava com a minha, eu pensava no quão sortuda para cacete aquela Camila era por tê-lo para ela por todos esses anos. Algo me dizia, porém, que ela não soube valorizar.

Mas, então, mais uma vez, quando estávamos mais pertos do que nunca do passo que nos levaria para a próxima etapa daquele reencontro, o celular dele começou a tocar loucamente.

—Desculpa - ele murmurou enquanto olhava para a tela do iPhone e se levantava. - Eu preciso atender.

Suspirei, frustrada, e me sentei sobre o sofá, assistindo-o se afastar até a sala para atender ao telefonema.

Então, passados alguns minutos, em que eu estive na mesma posição, olhando para o nada e tentando processar os nossos últimos beijos, Freddie retornou com a cara mais assustada do mundo.

—O que aconteceu? - Perguntei.

Ele respirou fundo e guardou o celular no bolso, respondendo na sequência, enquanto apanhava o Macbook e o guardava na mochila:

—Nada demais. Bem… Acho que terei que te explicar o lance do trabalho outra hora.

—Você está indo embora?

De repente, eu senti minhas expectativas despencando.

—É… Eu tenho algumas coisas urgentes para resolver.

Não podia ser. Ele estava fazendo aquilo outra vez.

—De novo, Freddie?

—É realmente muito urgente dessa vez, Sam - ele disse a caminho da porta.

Soltei o ar dos meus pulmões com pressa, sem saber o que fazer com minha raiva e frustração, enquanto ele abria a porta da frente e dizia:

—Eu volto depois, eu prometo.

—Eu não acredito em você - cuspi as palavras.

—Sam…

Ele largou a mochila na porta e voltou até mim.

—É uma coisa realmente muito urgente. Eu não iria embora se não fosse grave. É o meu pescoço em jogo. Mas eu volto assim que puder.

Encarei-o sem dizer nada. Então, ele envolveu meu rosto com as duas mãos e grudou nossos lábios por alguns segundos. Depois, se afastou e foi embora.