You're My Boomerang

Capítulo 6 - Escolhas


Uma semana depois…

Sam Puckett

Lá estava eu, numa casa de praia, sentada e observando Carly se arrumar para o seu casamento. É claro que eu estava feliz pela Shay, mas também é claro que eu me sentia frustrada. A cada dia que passava ficava ainda mais evidente que a única fracassada ali era eu.

Na última semana, tenho ficado com Carly em Yakima. Ela fez absolutamente tudo por mim, mesmo que eu não mereça. Meu dinheiro havia ido todo embora com a passagem de ônibus de San Diego até Seattle e com a minha bebedeira na minha primeira noite de liberdade.

Eu estava procurando emprego - com uma certa lentidão, é verdade - mas não havia conseguido nada ainda. Para ser sincera, eu duvido muito que eu consiga algo. Não só por causa da ficha suja, mas também porque eu não sei fazer absolutamente nada.

Carly, outro dia, veio com o papo de conversar com Freddie para que ele arranje algo para eu fazer na empresa dele. Bem, ela poderia até tentar, mas, novamente, eu duvido muito que ele faça isso por mim. E para falar a verdade, nem sei se quero trabalhar para o Benson.

Depois, estava o fato de que a Garibalda faria de tudo para que uma contratação na empresa do Benson não acontecesse. E por falar na dita cuja, da poltrona onde estou sentada, eu posso perceber perfeitamente a falsidade dela, enquanto maquia Carly.

Sim, voltamos a nos encontrar.

Freddie e ela seriam um dos padrinhos no casamento. A Shay disse que, se eu quisesse, também poderia ser. Bem, querer, eu queria, mas, então, eu teria que entrar com um primo de Carly bastante esquisito. Por isso, joguei para escanteio a ideia de sair como madrinha na foto.

Eu não posso negar que, no fundo, eu estava magoada com o fato de que Camila seria madrinha e eu não. Afinal, os padrinhos devem ser amigos ou parentes. E o que aquele poste de luz era da Carly?

Mas a Shay me garantiu que eu ainda era sua melhor amiga. Quanto a isso, eu não sei se tenho mais tanta certeza, sobretudo pelo fato de que as duas, quando se juntam, parecem velhas amigas. É risada para cá. É risada para lá. Argh!

—No meu casamento, eu fiquei pronta 5 horas antes. Eu estava tão ansiosa, que eu comecei cedo demais - Camila disse alto enquanto Carly se desfazia em risos.

—Então você não foi a típica noiva que atrasa - disse a Shay.

—Não, ao contrário. Até porque eu odeio atrasos.

Revirei os olhos e tentei me concentrar em outra coisa. Bom seria se eu tivesse um celular naquele momento. Na verdade, às vezes, chego até a pensar que na prisão estava melhor.

—Olha, esse é um dia incrível, mas bastante cansativo, viu? - a Garibalda continuou. - E imagine que, quando Freddie e eu nos casamos, viajamos para Ibiza no mesmo dia.

—No mesmo dia? - Carly se espantou.

—No mesmo dia! A gente chegou na Europa destruído. Imagina! O fuso horário é totalmente diferente. Saímos daqui de noite, no domingo, e chegamos lá na terça-feira de manhã, eu acho, mas aqui ainda era segunda-feira à noite. Ou seja, o corpo da gente estava todo confuso.

Quando Camila terminou de falar, bocejei, mas bocejei bem alto. Então, Carly me olhou e eu tenho plena certeza de que ela percebeu meu tédio e raiva, pois logo fechou o sorriso. Já a Garibalda se fez de surda e continuou:

—Você e o Lorenzo vão hoje ainda?

—Amanhã à tarde - Carly respondeu, séria, mas concluiu com um pequeno sorriso: - Vamos curtir a festa.

No mesmo instante, senti uma mão no meu ombro. Virei-me e não acreditei no que vi.

—Spencer! - Exclamei, feliz, e me levantei para dá-lo um abraço.

—Soube que tinha voltado e já não estava me aguentando na Itália. Queria vir logo para te ver - ele disse enquanto ainda estávamos abraçados.

—Sentiu saudades de mim? - perguntei num tom engraçado quando nos afastamos.

—Tá brincando? Você sumiu, garota!

Eu ri e quando estava prestes a dizer algo, ouvi Camila murmurar:

—Tava escondida na CIW.

Puta merda! Aquilo ferveu meu sangue. CIW era o nome da prisão onde eu havia estado. Agora, a pergunta que não quer calar: para que dizer isso senão para me deixar puta?

Aquela Garibalda estava testando a paciência que eu sequer tenho. E depois, se eu vou e quebro a cara de uma desgraçada como essa, a errada será eu - como sempre.

—O que é CIW? - Spencer perguntou, aliviando meu ódio por um curto instante. Aparentemente, ele continuava o mesmo ingênuo de sempre.

E tudo teria saído perfeitamente bem se a porra do poste de luz não tivesse respondido:

—Uma penitenciária feminina.

Eu não pensei depois daquilo. Eu apenas fiquei cega de ódio e voei em cima da Garibalda. Minha vontade era acabar com ela, descontar todo meu ódio naquela desgraçada cínica. Mas eu acho que coloquei muito foco no meu sentimento de ódio e, com ele vieram, muitos outros sentimentos, que fizeram uma miscelânea dentro de mim. Por isso, já no primeiro soco, eu perdi a força.

O que estava acontecendo comigo? Sentir um nó na garganta quando, na verdade, eu deveria quebrar a cara daquela filha da puta?

Mas eu não tive tempo para pensar em respostas para minhas perguntas, porque, justo quando eu deveria bater, eu apanhei. Camila puxou meu cabelo e me deu um tapa que, por eu ter virado o rosto, tentando desviar, atingiu em cheio meu nariz, fazendo-o sangrar imediatamente.

Eu nunca havia experimentado aquela mistura de sangue e lágrima. A sensação foi horrível. Mas também, tudo que sei foi que empurrei todo mundo que ousou passar na minha frente e saí do cômodo com uma mão no nariz, enquanto minha garganta doía por causa do choro preso.

No caminho, me encontrei com Freddie, que vinha sabe-se lá de onde. Ele perguntou o que havia acontecido, mas eu não o dei atenção, pois eu não sabia o que estava saindo com mais intensidade: se o choro ou o sangue.

Freddie Benson

Eu estava indo avisar a Camila que Andrew havia acordado e estava choramingando, querendo ela, quando, do nada, Sam passou por mim feito um raio. A princípio, eu achei que havia sido apenas uma simples impressão de que ela tinha sangue escorrendo pelos dedos da mão com a qual tapava o nariz. Mas então, eu olhei para o chão e vi três pingos de sangue por onde a loira havia passado.

—Sam? - falei, confuso, e olhei para trás e a vi entrar no banheiro.

Eu não falava com ela desde aquela noite no bar. Nem mesmo quando chegamos à casa de praia, onde Carly se casaria à tarde, trocamos cumprimentos. Eu a vi, ela me viu, mas me pareceu que foi um consenso entre nós dois fingirmos que não nos conhecíamos. Por isso, quando presenciei aquela estranha cena dela sangrando pelo nariz, pensei um milhão de vezes antes de ir bater na porta do banheiro.

Mas, por fim, fui atrás dela, mas juro que não sei o porquê. Eu apenas fui, como se aquele fosse o meu instinto.

—Sam, tá tudo bem? - perguntei do lado de fora enquanto segurava a maçaneta.

Eu sei que, às vezes, é difícil estabelecer relações maduras com ex-namoradas/ex-namorados, mas, de alguma forma, eu apenas queria fazer a loira entender que não precisávamos ser inimigos. Até porque, verdade seja dita, o nosso namoro não foi a coisa mais séria do mundo.

—Sam, eu vi que… Parece que seu nariz está sangrando. Está tudo bem? - eu insisti.

De repente, ela abriu a porta do banheiro bruscamente e eu pude ver seus olhos avermelhados. Ela havia chorado. Para qualquer outra pessoa, isso seria completamente normal, mas, se tratando de Sam, aquilo era um claro sinal de que algo realmente sério havia acontecido.

—O que aconteceu com o seu nariz? - perguntei, apesar de eu desconfiar de que aquele não era o maior dos problemas.

—Pergunta para a sua esposa - Sam respondeu com ironia.

—Para a… Como assim? Foi ela que fez isso daí? Mas como?

Camila não era nenhuma fracote, eu sabia, mas confesso que era difícil imaginar como aquilo havia acontecido.

—Ela dá sorte que eu não tô legal - a Puckett murmurou olhando para o nada.

—Mas você provocou, com certeza - falei sem pensar no dano que minhas palavras poderiam causar.

Só pensei nas consequências de fato quando vi Sam rir com escárnio e perguntar:

—Você tá querendo dizer que eu fiz por merecer isso daqui, Benson?

—Não foi bem isso que eu quis dizer. Me expressei mal.

—Não, você se expressou perfeitamente bem! Agora eu sei que é isso que você pensa, que a errada é sempre eu, até porque… É óbvio! Já errei tanto que fica difícil me imaginar acertando alguma coisa.

—Sam…

—Não! Não me venha com ‘Sam’, Freddie. Você está pouco se fodendo para mim? Ótimo! Eu também estou pouco me fodendo para você, e isso incluiu a Camila e a sua vidinha de merda.

Ela pausou e olhou para as próprias mãos por alguns instantes, até que eu tomei a palavra:

—Você acha que, se eu não me importasse com você, eu teria me empenhado, junto com a Carly, todos esses anos, na tentativa de te encontrar? Ou então, você acha que eu teria parado aqui para perguntar o que aconteceu se eu estivesse pouco me fodendo para você? Eu me importo, Sam! Coloque isso na sua cabeça: eu me importo! Mas… A questão é que você quer algo de mim que eu não posso te dar. Daí você confunde desprezo com o fato de eu estar casado e ter que manter uma certa distância.

Pausei minhas palavras e sustentei o olhar sobre Sam por alguns segundos, ela não me olhava. Então, retomei num tom mais baixo dessa vez:

—Eu não quero ter que ficar brigando com a Camila por causa de você, porque eu tenho 2 filhos e eu não quero que eles cresçam num ambiente cheio de brigas. Então, eu tenho que fazer um jogo de cintura. Eu tenho que equilibrar as coisas… Tenho que fazer uma escolha.

—Então, você escolhe ela - Sam concluiu sem me olhar.

Suspirei e respondi:

—Eu escolho os meus filhos.

Minha resposta, porém, não a satisfez.

—Não precisa de eufemismos, Freddie. Pode falar a verdade. Você escolhe ela.

—Eu escolho os meus filhos, Sam - repeti. - Eles são quem eu estou tentando proteger nessa história toda.

Um silêncio se instalou e perdurou por alguns segundos, até que Sam ergueu o olhar, olhando em minha direção, e eu disse:

—Eu quero que você seja feliz.

Olhei para os lados, certificando-me de que não havia ninguém por perto, e prossegui num tom mais baixo:

—Você merece ser feliz, Sam, mas eu não posso ser essa pessoa que te fará feliz…

—Não pode ou não quer? - Ela perguntou, me interrompendo.

—Não posso.

—Então, você quer.

Suspirei e olhei para o chão por um curto instante para, depois, voltar meu olhar para ela e dizer:

—Se eu pudesse me dividir em dois…

—Você ama a Camila?

Aquela pergunta, à queima roupa, me deixou sem reação e sem palavras.

—Ela é a mãe dos meus filhos…

—Não. Eu perguntei se você a ama.

Eu não tive resposta para aquela pergunta naquele exato momento, o que era estranho para mim. Afinal, eu deveria ter uma resposta, certo? Como alguém, a essa altura do campeonato, pode ter dúvidas se ama a esposa ou não?

—Eu não tenho mais uma resposta para essa pergunta - falei por fim.

—Eu achei que tivesse, já que você anda por aí como se tivesse plena certeza do amor que sente por ela.

—É porque não se trata só de mim mais…

—Pare de colocar seus filhos no meio, Benson.

—Não tem como! Quando você tiver um filho, você verá. Cada decisão que você toma, cada passo que você dá, já não é só em você que você pensa…

—E sua felicidade? Onde fica? - Ela perguntou cruzando os braços.

—Se eles estão felizes, eu fico feliz.

Sam ergueu as sobrancelhas e descruzou os braços que havia acabado de cruzar. Depois, disse:

—Beleza, então. Eu entendi. Tudo que você está fazendo é para proteger sua família, mesmo que, para isso, você tenha que ficar preso num casamento que não te faça feliz.

Depois dessas suas últimas palavras, ela não me deu tempo para dizer alguma coisa, apenas apagou a luz do banheiro e saiu caminhando na direção da escada que dava para o andar debaixo.

Eu odiava o fato de ela estar certa. Eu não estava feliz.