You're My Boomerang

Capítulo 5 - Falso Conto de Fadas


Carly Shay

Eu confesso que, depois de muito tempo procurando Sam, eu convenci a mim mesma de que nunca mais a veria. Ela não estava em lugar nenhum, nem nas redes sociais pelo menos.

O Freddie, ao contrário de mim, manteve uma fagulha de esperança durante todo esse tempo. Houve, inclusive, uma vez em que ele recebeu uma carta vinda de uma penitenciária próxima à San Diego. Na época, ficamos animados com a carta, porque, pelo menos, para mim, não havia dúvidas de que havia sido Sam a autora.

Mas não conseguimos encontrar nenhum registro que comprovasse que a loira estava presa. Então, acabamos por começar a desacreditar na ideia de que havia sido ela a escrever aquela carta. Aparentemente, e por alguma razão que eu não entendo, o processo judicial que a colocou na cadeia havia sido conduzido em sigilo.

Até Pam e Melanie eu procurei.

A mãe da loira também estava presa, mas em Porto Rico. Já Melanie… Bem, no tempo em que eu a procurei, ela estava morando na Suíça e não tinha a menor ideia de onde estava a irmã. Isso me fez pensar no que possivelmente havia saído errado para que as gêmeas trilhassem caminhos tão opostos.

Mas então, dois anos após eu retornar da Itália e na semana em que eu estava cheia de coisas para organizar para o meu casamento que aconteceria em alguns dias, Freddie me manda uma mensagem curta e objetiva:

“A Puckett voltou.”

Eu confesso que, a princípio, não acreditei. O Freddie não é de brincadeiras comigo, mas eu juro que achei que ele estava brincando. Depois de 12 anos sem notícias e ela aparece assim de repente? Não dava para acreditar.

Porém, o moreno não estava brincando e eu nunca fiquei tão feliz em saber da seriedade de suas palavras.

No entanto, no instante em que ele me contou que a loira havia aparecido especificamente na casa dele, eu logo soube o motivo que a fez retornar. E aí eu pude imaginar a decepção que ela sentiu.

O Freddie estava casado e tinha uma família linda. Colocando-me no lugar da loira, eu pude imaginar o tamanho da dor, pois eu sei que ela o ama e me arrisco a dizer que sempre o amará, porque eu duvido muito que haja outra pessoa no mundo que consiga amolecer aquele coração de pedra. Mas eu também acho que ela chegou tarde demais.

Certamente, eu teria gostado de ver os meus dois amigos juntos. Ficaria feliz sobretudo por Sam, porque eu sei o quanto o Freddie a faz pensar em ser uma pessoa melhor e não há dúvidas de que ela precisa de alguém assim em sua vida. Mas não dá para passar por cima do fato de que o moreno está casado há 8 anos, tirando os 2 anos de namoro que tem com Camila.

Eu sou feliz pelos dois, sou sim. A Camila pode ser, sim, uma pessoa complicada e temperamental, mas eu bem sei que essa foi uma das razões que fez Freddie se apaixonar por ela, porque, verdade seja dita, ele gosta assim. Não à toa ele amava (ama?) a Sam.

Mas aí uma certa preocupação cai sobre os meus ombros toda vez que olho para a loira: ela não se deu conta ainda da dimensão da perda que ela sofreu em sua vida. Dez anos é muito tempo e eu tenho a impressão de que ela não sabe disso. Na melhor das hipóteses, ela acha que sabe, mas não sabe. E observando-a, eu vejo que já há alguns sinais de consciência nela; quero dizer, a ficha ainda não caiu totalmente, mas parece que está prestes a cair. E tive mais certeza disso quando cheguei ao banheiro do bar e a vi escorada na pia.

Qualquer pessoa que conheça Sam minimamente sabe o quão raro é vê-la chorando. É claro que o álcool pode ter uma parcela de culpa em seu choro, mas ela não choraria se, por dentro, não houvesse essa urgência.

—Sam? - chamei por ela, preocupada, quando entrei.

Ao me ver, mesmo bêbada, ela me deu as costas enquanto tentava enxugar as lágrimas o mais rápido possível.

—Eu já… Eu já tava indo - ela disse.

—Tá tudo bem?

Eu sabia que aquela pergunta era inútil, porque era evidente que ela não estava bem. Afinal, quem estaria?

—Está tudo ótimo - ela mentiu, é claro que ela mentiu.

—Não parece - falei me aproximando dela e colocando uma mão em seu ombro.

Então, a loira ergueu as sobrancelhas e riu, dizendo, ou melhor, confessando:

—Estaria melhor se algumas coisas não fossem realidade.

Eu sabia a que ela se referia, a Freddie é claro, mas, conhecendo-a bem, ela não daria nome aos bois, essa tarefa sempre ficava para mim. Por isso, perguntei:

—Fala do Freddie?

—Você que está falando - ela respondeu.

Diante de sua resposta, suspirei, procurando por palavras, e me escorei na pia ao seu lado. E nem precisou que eu dissesse alguma coisa, pois a loira mesma se encarregou de deitar a cabeça no meu ombro e dizer:

—Minha vontade é encher aquele pateta de socos.

—Essa é a sua maneira de dizer que quer enchê-lo de beijos?

Sam riu. Ou seja, ela não negou, como usualmente faria, e nem desconversou. Ela RIU e disse:

—O desgraçado tá tão gostoso, Shay.

Prendi a risada e falei:

—Quanto a isso, eu não posso opinar.

—Não é questão de opinião, é um fato. Ele se tornou a porra de um homem gostoso, o que torna as coisas ainda piores. Se ele tivesse se tornado, pelo menos, um barrigudo calvo...

Gargalhei e ela continuou:

—Mas não! A droga do nerd tá mais gostoso do que nunca e esse fato fica me estapeando toda vez que eu olho para ele.

Era claro que aquela parte em especial era efeito do álcool. É claro que a loira deve pensar nessas coisas a respeito de Freddie, mas sóbria ela não diria tudo isso sem gaguejar algumas muitas vezes.

—De onde saiu essa piranha da Camila? - Sam perguntou de repente, continuando com o assunto.

Ri abafado diante da pergunta. Talvez eu não devesse rir, é verdade, mas eu juro que foi maior do que eu.

—Eles se conheceram na faculdade - respondi.

Eu sabia toda a história, porque, apesar de estar na Itália, Freddie e eu continuamos nos comunicando e, na época, ele não se cansava de rasgar elogios à Camila.

—Claro - Sam murmurou com ar deboche - O Benson gosta das inteligentes. Eu fui apenas um caso à parte.

—Amiga, você é inteligente - achei importante pontuar, mas, para Sam, aquilo foi menos do que nada.

—Não é do meu tipo de inteligência que ele gosta, Shay. A minha “inteligência” me colocou na cadeia. Que vantagem tem nisso?

—Foi porque você a usou para o mal, loira. Se você a usasse para o bem…Além do mais, se quer saber, eu não acho que, na época em que você e Freddie namoraram, ele ligava para os seus defeitos. Ele amava você!

—Falou certo, ‘amava’, mas não ama mais.

Maneei a cabeça e falei:

—Talvez…

—Mas eu não quero sofrer por ele! - Sam exclamou de repente e afastou a cabeça do meu ombro. - Eu não sou esse tipo de pessoa. Sofrer pelo Benson, Carly? Sério? Mas…

Ela deteve as palavras e eu pude perceber que ela estava segurando o choro.

—É uma puta sacanagem, né, Shay? - Ela continuou - O que ele viu naquela Camila?

—Não sei - respondi sem querer tomar partido.

—A Marissa deve amar ela, né?

—Bem, - parei e pensei se devia falar - não muito. As duas não se dão muito bem.

Sam riu e perguntou:

—Sério?

—Por que você acha que a Marissa não estava hoje na festa da Camila?

Talvez Freddie não iria gostar de saber que eu estava deixando a loira por dentro daquele assunto, mas eu acho que, no fundo, eu a estava contando apenas para fazê-la se sentir melhor.

—Então, a Marissa também não aceitou ela?

—Até uns 5 anos atrás, ia tudo bem, mas aí, um dia, o Freddie arranjou briga com um colega de trabalho de Camila, e aí a Marissa se meteu no meio, dizendo que não duvidava nada que estava rolando alguma traição. Desde então…

—E tava rolando?

Dei de ombros e resolvi terminar o assunto, porque eu realmente não queria causar mais confusões contando aquilo para Sam. E a contar pelo sorriso dela, dava para ver que ela estava se agradando da informação.

—Então o Benson é corno?

Eu não devia ter contado tudo aquilo à Sam.

Ela riu diante das suas próprias palavras e continuou:

—Eu já vi tudo. Ele é corno, sabe que é, mas não separa porque tem medo de nunca mais ver os filhos.

—Sam, não tire conclusões precipitadas - alertei, mas a loira não me deu ouvidos.

—Agora tudo faz sentido, Shay. Você não viu como ela falou com ele mais cedo? Que, se ele pensasse em fazer alguma coisa, ele nunca mais veria os filhos.

Sam riu sozinha e concluiu:

—Filha da puta!

Eu não posso negar que fiquei preocupada. Eu havia falado demais e, talvez, aquilo pudesse causar grandes confusões mais para frente. E em pensar que fiz tudo isso só para tentar fazer Sam se sentir um pouco melhor. Eu não devia ter me deixado levar pela amizade com a loira simplesmente.