Your Guardian Angel...

O começo do mistério...


Despertei num sobressalto. Minha testa estava suada, meu coração batia acelerado.
As lágrimas corriam livremente pelo meu rosto

"O que aconteceu? Onde estou?" -pensei confusa

Esfreguei os olhos e olhei em volta usando a fraca luz da lua que entrava pela janela.

Estava deitada na cama em meu quarto. O relógio em cima da cômoda indicava que era um pouco mais das três da manhã.

Porque tudo parecia tão estranho?

-Foi só um pesadelo Chihiro.-falei para mim mesma

Suspirei, me levantando.
Não fazia sentido continuar tentando dormir.
Já era para ter me acostumado com isso.
Há quase sete anos, esses pesadelos me perseguem.
Pesadelos assustadores, mas que eu nunca conseguia me lembrar deles.
As imagens simplesmente desapareciam quando eu acordava.
Era estranho. Me sentia como se tentasse reter um porção de areia fina nas mãos. Quanto mais eu me esforçava, mais ela escapava por entre meus dedos.

Eu não devia ligar para isso, mas sei lá. Me dá agonia não saber o porque que me sinto tão mal.

Minha mãe procurou vários médicos, psicólogos diferentes.
Ninguém conseguia explicar o porque. Nem eu mesma.
Meu pai acha que é da idade. Mas nenhuma das minhas amigas passam por isso.

Acendi o abajur,e peguei meu inseparável caderno de desenho, que ficava propositalmente em cima do criado mudo ao lado da minha cama.
Desde que eu comecei a desenhar, os efeitos pós-pesadelo diminuíram um pouco.
Não acordava mais gritando ou chorando.

Apesar de que agora parecia não estar mais fazendo efeito.
Terminei de rabiscar algumas linhas inacabadas de um antigo desenho.

Ri ao olhar o resultado.
Era um camundongo sendo carregado por uma espécie de pássaro minúsculo. Ou seria uma mosca? Meus desenhos raramente faziam sentido.

Mudei de pagina, e olhei em volta para tentar me inspirar.

Meu quarto era simples. Alguns poucos moveis, como o guarda-roupa
e a estante do meu computador. Nada de interessante para colocar no papel.

Yin e Yang dormiam sossegadamente em suas almofadas, para variar.
Aliás, era única coisa que esses gatos sabiam fazer, sem ser destruir o sofá da mamãe.
Resolvi desenhar o gatinho preto, Yang.

O tempo foi passando, e antes que eu pudesse perceber a imagem ia ficando totalmente diferente da que eu tinha planejado. Os olhos do felino se tornaram suaves e quase humanos, o focinho ficou maior e com dentes afiados como os de um cachorro. Quando eu estava começando a desenhar as orelhas, o despertador tocou avisando que estava mais do que na hora de eu me arrumar.

Joguei o caderno dentro da mochila e fui para o banheiro.
Como estava sem paciência para esperar a banheira encher, tomei meu banho no chuveiro mesmo.Vesti o uniforme do meu colégio _ uma saia acima dos joelhos, uma camisa branca estilo "marinheira", meias compridas brancas e sapatilhas pretas.

Para variar meu cabelo estava um caos, então o prendi num rabo-de-cavalo com meu elástico favorito. Tinha ele há muito tempo, mas não conseguia me lembrar que me dera de presente.Talvez, eu mesma tenha comprado e havia me esquecido.
Mas isso não tinha importância.

-Chihiro, minha filha. O café está na mesa.- minha mãe chamou da cozinha.

Terminei de escovar os dentes e saí do banheiro.Peguei minha mochila no quarto e praguejei mentalmente quando vi a hora.
Estava atrasada.

-Mama. Não vai dar tempo de tomar café, estou indo.- gritei antes de sair correndo de casa.

Para minha sorte, a escola ficava bem perto de eu morava e eu consegui entrar bem na hora que o sinal tocou.

-Chihiro-chan!- Ayumi gritou assim que me viu.

Sorri. Ayu-chan sempre fora escandalosa, mesmo com as coisas mais comuns. Ela era minha única e verdadeira amiga desde que fui transferida para esse colégio.
O tipo de pessoa que está sempre sorrindo, saltitando por aí. Essa alegria contagiante é a característica que eu mais admiro nela.

Caminhamos até a sala de aula enquanto ele monologava sobre as novidades do final de semana. Yusuke, seu amor platônico desde a sexta-série, apareceu na lanchonete dos pais dela, e eles ficaram conversando.

-Ai, amiga... Tinha que ver como ele me olhava! - suspirou brincando com uma das mechas de seu cabelo castanho.

-Só não esquece de me avisar o dia do casamento de vocês, ok?- comentei rindo.

-Eu estou falando sério, Chihiro-chan. Ele estava interessado em mim.-ela rolou os olhos e se sentou na carteira da sala.- Você só vai me entender quando amar alguém.

Me sentei na carteira ao lado, concordando com a cabeça. Tirei me caderno de desenho da mochila e voltei desenhar. Entretanto isso não me impediu de pensar no que ela disse.

Amar... Será que eu ainda vou sentir isso por alguém algum dia?
É lógico que eu amo meus pais, mas...
Um outro tipo de amor...

Em todos esses 17 anos de vida, nunca havia me interessado por nenhum garoto.Nenhum mesmo.As garotas da minha idade ou estão namorando, ou estão pelo menos gostando de alguém.

Talvez... sei lá, eu esteja tão preocupada em me entender que não percebi que gosto de alguém?

Mas não posso deixar de admitir que é tão fofo o jeito que a Ayu-chan fala do Yusuke.
Os olhinhos dela chegam a brilhar.

Voltei minha atenção ao desenho. Longos chifres ficavam logo acima das orelhas.Desenhei as escamas e pêlos macios por toda a cabeça da criatura, e uma espécie de bigode longo sobre boca.

-O que é isso?- Ayumi perguntou puxando o caderno da minha mão.

-Não sei.-Falei meio irritada puxando o caderno de volta.

Detestava que as pessoas vissem meus desenhos, principalmente quando ainda não estavam prontos.
Mas Ayu nunca me escutava.

-Como você não sabe o que está desenhando?-insistiu confusa

-Não sabendo.-suspirei
-Está me parecendo algum monstro...-apontou os chifres.

Balancei os ombros, e fechei o caderno.
Logo, o professor chegaria e eu não queria que ele também comentasse sobre meu “monstrinho”.Até porque ele estava ficando uma gracinha.

Algum tempo depois, a porta da sala se abriu e uma senhora apareceu.
Era baixa e tinha os cabelos grisalhos presos em um coque no topo da cabeça.
Usava um vestido azul e tinha um olhar bondoso. Simpatizei instantaneamente com ela.

-Bom dia queridos alunos. Seu antigo professor de história, teve que se transferir para um outro colégio por motivos pessoas. Então eu serei a nova professora de vocês.

Concluí que as aulas seriam bem diferentes, já que o Sr.Komura parecia que ia ter um infarte a qualquer momento, e essa senhora transbordava de tanta calma.

Ela se sentou na cadeira do professor e voltou a falar:

-Que tal começarmos pelas apresentações? Meu nome é Asukai Zeniba.

Pulei da cadeira assustada na hora.

Zeniba era o nome da...da...

"Que droga! Eu sei que conheço esse nome mas não consigo me lembrar de quem é!"-pensei irritada

Era como tentar segurar fumaça nas mãos, completamente impossível.
A pessoa apareceu e sumiu da minha mente na mesma velocidade.

-Senhorita, aconteceu alguma coisa? -A professora perguntou ao me ver de pé

-Na-não senhora.- respondi sentando rapidamente.

Podia sentir os olhares curiosos nas minhas costas.

-Qual é o seu nome?-perguntou com um sorriso

- Me chamo Ogino Chihiro.

-Chihiro é um belo nome

"Chihiro é um belo nome. Cuide bem dele. Ele é seu"
A frase desencadeou uma seqüência de flashs, como num filme acelerado.
Mal a imagem se projetava, outra parecia e mais outra.Todas as vozes se misturavam.

Não sei exatamente quanto tempo durou.
Minutos, talvez segundos.

Abaxei a cabeça na mesa para tentar amenizar a dor. Parecia que ela ia explodir.

-Chihiro-chan! Chihiro-chan!-Ayumi me chamou

Levantei o rosto, e encontrei minha amiga visivelmente preocupada.

-O que houve?-perguntou

-Nada amiga.-menti sorrindo.A dor já havia passado.-Não se preocupe.

Na hora que ela ia abrir a boca para insistir, a professora começou a aula.
A garota abriu o fichário, e me jogou um olhar que dizia ”Nem pense que você vai fugir de mim.”

Virei para o quadro, tentando prestar atenção no que a senhora dizia. Mas como sempre eu “viajava” na aula de história.

“Saber ou não saber que as bombas atômicas destruíram Hiroshima e Nagasaki iria mudar o que na minha vida?O que passou, passou. Não vai voltar mais.”-concluí entediada

-Soube que todos aqui, não obtiveram um resultado satisfatório na ultima prova. Não os culpo já que a melhor forma de compreender a história de um povo é preciso entender a mente dele na época.Nosso tema de hoje será Mitologia Japonesa. - a mulher escreveu algumas linhas no quadro, enquanto continuava a falar- Alguns aqui podem achar que é algo chato ou sem sentido a matéria que eu leciono, porém é através do passado que descobrimos o porque de tantas coisas acorrerem no presente e construímos um futuro diferente.Impedindo assim que ele se repita.

Fiquei arrepiada. Como aquela professora sabia o que eu estive pensando?
Comecei prestar mais atenção nela.

-Bom, as lendas surgiram como uma forma de explicar tudo que acontecia na natureza e que os homens não entendiam. Deuses, e outras criaturas mágicas geralmente protagonizavam essas historias.Ou então humanos sábios, e fortes.Eu trouxe alguma imagens para vocês, mas acho que estão muito pequenas...Tem alguém aqui na sala que sabe desenhar?

Me encolhi na cadeira.A professora de geografia tinha o costume de me pedir para desenhar mapas no quadro.Então automaticamente todo mundo da turma virou na minha direção quando a professora perguntou.

Me levantei receosa e caminhei até o quadro. Zeniba sorriu e me entregou a caneta-piloto e uma espécie de livro preto pesado.Ela me dizendo que os desenhos estavam dentro dele e que já estavam na ordem correta. Depois voltou-se para a turma e começou a explicar, enquanto eu me atrapalhava para abrir a pasta.

Um arrepio subiu pela minha espinha da ponta dos pés até o fim dos cabelos quando vi a primeira figura.
Porque tínhamos que começar logo com os fantasmas?

- Uma das criaturas mais presentes são os espíritos. Bons ou maus. Alguns mantém a forma que tinham quando eram vivos, e outros, pelo fato de nunca terem encarnado ou por alguma maldição são meros vultos negros, sem forma definida e sem rosto.

Desenhei um forma alta e magra terminando numa grande máscara sem expressão.

“Até que não era tão assustador assim... Esse cara é quase mais simpático que o Gaspazinho”-Ri enquanto virava a folha para ver a próxima figura.

Estava muito mais embaçada que a outra. Por mais que eu forçasse a minha vista não consegui descobrir sobre o que era o desenho.
Me virei para perguntar para ela, quando o sinal tocou.

A professora se despediu da turma, e saiu da sala.
Só então que eu percebi que ainda estava com o livro.

Corri para fora da sala, chamando-a.

Mas ela não estava em lugar algum do longo corredor.

“Estranho... Nem eu conseguiria andar tão rápido”-pensei voltando para a sala

Sentei na minha cadeira, ignorando o que quer que fosse que o Sr. Kadawa estava tentando explicar. Analisei melhor a capa do grosso livro.
Era bem antigo, e tinha alguma coisa escrita em ouro velho na parte de cima que eu não consegui entender.
Pensei em abrir-lo e ver o que mais tinha ali. Mas o professor chamou minha atenção, e eu fui obrigada a fingir que moléculas e átomos eram a coisa mais interessante do mundo.

As outras aulas passaram depressa, sem nenhuma surpresa.

Resolvi procurar a professora Asukai na hora do intervalo, mas ninguém sabia aonde ela estava.

Aliás ninguém sabia sequer quem ela era.