Fazia uma semana desde que havia se casado com Nicolas, mas isso não tranquilizava Gabrielle de jeito nenhum. O que havia acontecido na lua de mel nunca mais havia se repetido, mas ela ainda tinha lembranças daquela noite.

Gabrielle havia acabado de sair do banho e, quando entrou no quarto, seu marido já havia se deitado. Deitou-se em seu lugar, tensa.

Nicolas se divertia com desespero da mulher que estava ao seu lado. Ele estava quase dormindo quando sentiu uma mão lhe abraçar delicadamente pela cintura. Gabrielle estava num sono pesado e, com todo o frio que fazia na cidade, ela se aconchegou na fonte de calor mais próxima: ele. Nicolas a envolveu em seus braços e sentiu seu perfume, um perfume floral. Dormiu abraçado a ela.

No dia seguinte, Gabrielle acordou antes do esposo e tomou um susto ao notar que estava enlaçada ao marido, mas, ao olhá-lo, ela percebeu que Nicolas dormindo era diferente. Não era aquela coisa aterrorizante e nem tinha a expressão raivosa no rosto. Ele respirava calmamente e tinha o rosto corado e o peito nu subia e descia calmamente.

Era tão... tão... humano.

O inverno não queria deixar a cidade tão cedo e o dia estava tão frio quanto o anterior. Gabrielle, então, levantou e o cobriu. Foi ao banheiro e começou a preparar seu banho.

Amparou a cabeça na borda da banheira e fechou os olhos, sentindo cada pedaço do seu corpo despertar na água quente. Estava tranquila até duas mãos quentes tocarem seu ombro, assustando-a.

— Shhhhh, sou eu. – Nicolas disse.

— Como se isso me acalmasse. – Gabrielle respondeu alto.

Então ele começou a alisar o ombro e o colo dela calmamente, a deixando assustada e relaxada ao mesmo tempo.

— Bom dia, chérie. – a voz rouca dele fez Gabrielle estremecer. Era incrível o domínio que ele tinha sobre ela.

— Bom d... – a frase se perdeu quando ele lhe beijou a orelha.

Ele começou a massagear o ombro da mulher, devagar; de vez em quando, lhe beijava a orelha, o pescoço, os ombros, como se estivesse descobrindo cada uma das reações da esposa. E ele estava mesmo.

Nicolas se deliciava ao ver a pele da esposa estremecer e arrepiar a cada toque. Os suspiros que ela soltava eram melodias para os ouvidos dele.

Gabrielle estava distraída com as carícias que Nicolas fazia; tão distraída que nem percebeu quando ele levantou, tirou a roupa e sentou-se atrás dela na banheira. Só veio despertar do seu “transe” quando sentiu suas costas tocarem no peito quente dele, o que a fez se retrair, mas ele a segurou.

— Calma! Não vou te machucar. – Ele a puxou de volta, deixando-a encostar a cabeça em seu peito.

— Tenho minhas dúvidas. – Gabrielle contestou, mas, mesmo assim, deixou que ele continuasse a acariciá-la.

Nicolas tocava sua barriga levemente debaixo d’água e distribuía alguns beijos pelo seu pescoço e sua orelha. Ela sentia o peito dele confortando suas costas, e, após algum tempo, começou a acariciar a coxa dele, o que o fez sorrir. Ele lhe deu um beijo na bochecha algum tempo depois, o que a fez virar instintivamente com isso.

Não houve tempo para que ela pudesse se condenar, pois logo sentiu a respiração do marido em seu rosto, o que a fez fechar os olhos. Nicolas observou o rosto dela por um momento, cada traço fino e sua pele delicada. Ele levantou uma mão de dentro d’água e deixou a outra na barriga dela, pousando a primeira no maxilar da mulher e a beijando levemente. Logo os dois se beijavam com vontade; Nick havia virado a esposa para si, deixando-a deitada na barriga dele. Ele segurava sua nuca, puxando-a cada vez mais para si, e ela o segurava pela cintura, abraçando-o. Ele descia os beijos pelo pescoço e pelo colo dela, e Gabrielle, mesmo tímida, jogava a cabeça para trás, aos suspiros.

Nicolas estava quase enlouquecendo ao sentir os seios dela em contado com seu peito. A sensação boa da semana passada voltou a Gabrielle quando ela sentiu a mão dele lhe acariciando constantemente, o que a deixava escapar pequenos gemidos, deixando-a levemente corada, mas ele não parecia perceber. Logo já tomava sua boca de novo, e tudo estava perdido.

Nicolas despertou quando sentiu que estava pronto o suficiente para entrar nela, o que já estava acontecendo involuntariamente, aos poucos. Mas ele sabia que não podia continuar desse jeito. Apesar de ser absurdamente irritante, Gabrielle não merecia ser usada, ainda mais por ele.

— Gabrielle... – Nicolas murmurou, em êxtase, o nome dela entre os beijos, quando sentiu seu corpo deslizar um pouco pra dentro dela.

Ela estava assustada, mas adorando aquilo tudo, era diferente daquela vez.

Nicolas ordenava a si mesmo para parar com aquilo, tinha que parar agora, ou não teria mais forças. Amaldiçoando todo mundo por conseguir respirar, ele foi encerrando os carinhos, a acalmando. Gabrielle sorriu. Apesar de estar adorando aquilo, ainda tinha muito medo. Não estava pronta para isso de novo, ainda mais com ele.

Quem sabe se fosse Oliver? Vez ou outra se pegava pensando nele. Devia ter se entregado para o menino quando teve chance, mas, agora, ela começava a descobrir que gostava de Nicolas. Não do Nicolas que a violentou no chão da sala, mas do Nicolas de hoje, que a respeitou.

Ela deixou o corpo descansar no dele, e o beijava levemente, enquanto ele acariciava a cintura dela superficialmente.

— Você é tão absurda. – Nicolas disse, enquanto a envolvia em um abraço.

— Pode ser, mas você, definitivamente, é bipolar. – Gabrielle disse e Nicolas começou a rir, fazendo-a rir também, seduzida. Se ele continuasse assim, havia chance de seu casamento ser feito o de Elena e Louis.

Ele selou os lábios dela e ficaram quietos por um bom tempo, até que a água começou a esfriar. Os dois saíram do banho e foram se arrumar, afinal, ainda tinham um longo dia pela frente.

***

Ah, Oliver...

Enquanto Gabrielle vestia um jeans e alguma blusa quentinha, se pegava pensando no rapaz. Quando frequentava a escola de moças em Londres, havia visto Oliver duas vezes.

Na primeira, o rapaz não tinha mais que quinze anos. Eles se comunicavam por cartas desde que Gabrielle havia ido para Paris. Oliver sempre prometeu que jamais a deixaria, mesmo que eles terminassem a vida apenas como amigos. A outra vez foi durante o último ano, ele havia viajado a Paris a trabalho e ela deu um jeito de ir se encontrar com ele, dizendo que ele era seu primo.

Gabrielle ainda lembrava perfeitamente dele. Do jeito, da voz, o jeito doce de sorrir enquanto a olhava...

Ela teve a oportunidade de fugir com Oliver na época em que ela ainda estudava, mas Victor não era bobo e fazia a menina passar todos os fins de semana em casa.

Mas a oportunidade apareceu novamente quando Gabrielle teve a chance de apresentá-lo à Paris quando inventou que ele era seu primo. Ela sentia aquele frio na barriga, sinal de amor, talvez.

Oliver fez as propostas mais esquisitas para a menina naqueles três dias que passaram juntos, inclusiva que ela se entregasse para ele. Mas Gabrielle sabia que isso acabaria com o casamento. Coitada dela se o noivo misterioso soubesse que ela não era mais virgem.

Portanto ficaram apenas nas promessas de amor.

Oliver havia prometido que quando completasse 19 anos voltaria para buscá-la, nem que tivesse que passar por cima do tal marido.

***

— Chérie? – Nicolas passava os dedos na frente dos olhos de Gabrielle. – Ainda está aí?

— Estou. – ela havia ficado sem jeito. Nicolas já estava completamente vestido e ela nem os cabelos havia penteado.

— Você prefere ir dirigindo ou quer que alguém a leve?

— Eu dirijo. – ela havia ficado completamente desnorteada.

— Antes que eu me esqueça, seu antigo carro foi para o ferro velho, eu mesmo me encarreguei de comprar um pra você. – Nicolas roubou um beijo dela antes de caminhar até a porta. – Quando despertar desse transe vá. Seu carro é a Mercedes azul marinho, peça a chave a Lea. Quanto ao dinheiro, compre o que quiser e diga que é minha esposa, eles mandam as coisas aqui para casa.

— Tudo bem.

Ele saiu e ela ficou ali terminando de se arrumar e procurando coragem para desfilar por Paris como a esposa de Nicolas Marchand.

Não que se envergonhasse de carregar um sobrenome tão pesado como esse, mas ainda não conseguia acreditar nas inúmeras faces que conhecia dele. Um dia ele quase a matava e surrava a irmã mais nova; no outro, lhe dava um carro de presente e a mandava dizer em todos os lugares que era sua esposa.

Definitivamente ela não conseguia entender.