Passagem; Episódio 16

Mansão Kido - Dezembro de 1986

Em uma noite escura, o céu mais sombrio pelas nuvens que permeavam o horizonte e encobriam a grande lua cheia. Ao mesmo tempo que a penumbra tocava tudo, a neve branca caia aos arredores da Mansão Kido, camuflando-se no concreto de mesma cor da residência. As luzes do local emanavam fracas na escuridão, refletindo o que se passava por dentro das paredes do escritório de Saori Kido. Uma situação de derrota, por mais que uma gota de vitória fosse conquistada.

"Que patéticos!" - A voz rugia, como uma fúria em meio a calma tensa dos cavaleiros de Atena. Com sua voz esbravejando enquanto olhava para o elmo dourado, que em todo seu brilho, refletia a imagem distorcida do homem zangado. Virando-se, para os quatro garotos, Tatsumi dava passos fortes, confrontando-os.

Hyoga, podia apenas ficar de braços cruzados contra a parede, Shun, ao lado oposto da sala, da mesma forma, Shiryu, encostado sobre as costas do sofá verde de Saori, e Seiya... cabisbaixo, sobre sentado na ponta do mesmo móvel. A batalha contra os cavaleiros negros parecia que levaria a uma vitória completa. As partes da armadura retornariam para eles. Ikki voltaria junto. Agora, ao contrário do planejado, tinham apenas o capacete de sagitário.

"O que tem a dizer por você mesmo, Shiryu?" - Tatsumi esbravejava, com seu braço levantado, olhando o cavaleiro de dragão envergonhado, enquanto saliva saltava das palavras furiosas do mordomo.

Saori, sentada sobre uma poltrona antiga, mirava a inconveniente birra que seu mordomo fazia, pensativa também, assim como Seiya e os outros, mas, lentamente, com seus escuros olhos azuis, focando no garoto de vermelho sentado em seu sofá, por mais que Shun perdesse seu irmão, o Cavaleiro de Pégaso parecia o mais derrotado e isso, a incomodava realmente.

"Vocês não são mais crianças, Shun!" - Ainda a frente de Shiryu, mas agora, ignorado pelo mesmo, Tatsumi virava sua fúria para Shun, tão quieto quanto o Cavaleiro de Dragão.

Seiya, pensava no que Ikki falava sobre o santuário, com seus olhos castanhos olhando fixamente para seu par de tênis, ele devaneava longe, com sua mão se agarrando ao forro do sofá de Saori.

O que fazia lhe lembrar, suspirando, ele ergueu seu olhar para ela, vendo a herdeira de Mitsumasa Kido sentada sobre uma poltrona, cujo o quadro de seu avô era pendurado logo atrás dela.

Ele não era de se importar muito com os detalhes, olhando a jovem tocando seus dedos sobre sua franja roxa, ajeitando-a, enquanto os olhares entre ela e Seiya se trocavam, confusos. O Cavaleiro de Pégaso pensou até no que poderia passar na mente dela, parecia mudada nos últimos dias, de uma forma melhor, e até por um momento se lembrou que a mesma foi no seu apartamento dias atrás, preocupada por ele.

Surpreso, Seiya percebeu que ele e Saori ainda se encaravam, notando por um momento a estranha sensação sobre seu peito. Seu coração parecendo até bater mais forte por um instante, e então...
"Diga alguma coisa, Seiya! Vamos, diga alguma coisa!" A bela face Saori é trocada pela visão dos olhos irritados, e a careca brilhante de Tatsumi, novamente vociferando, agora contra o garoto de vermelho, porém, não demorando para se virar até Hyoga.

No que Saori via seu mordomo quebrando o contato entre ela e Seiya, ela também saia do seu pequeno mundo particular. Olhando Tatsumi outra vez, a menina suspirou enquanto pensava no que fazer. Sentia-se estranha consigo mesma. A herdeira de Kido levantou-se, ao mesmo tempo que o careca saltava para Hyoga.
"Hyoga, o que você acha que está fazendo ai parado?!" - O mordomo berrava, apontando seu dedo para Hyoga, que entre todos, a forma como o ignorava, era sem sombra de dúvidas a mais gélida.

"Tatsumi, agora já chega." - Saori ordenou, se levantando de sua poltrona, com uma postura dominante contra seu confiável mordomo. A garota de cabelos roxos já sabia que gritar contra os cavaleiros era inútil, além de desmerecido pela batalha cujo lutaram.

"Mas--mas, Srta. Saori..." - Tatsumi agora mudou seu tom de voz, enquanto discretamente, o olhar indagado de Seiya mirava Saori, não esperando essa atitude por parte dela, defendendo eles.

"Se você não pode fazer o que eu digo, é melhor arrumar suas coisas e ir embora daqui." - Porém, a forma como ela falava com seu mordomo, isso lembrava um pouco Seiya da antiga pessoa de Saori, se é que era antiga, apesar de achar que Tatsumi merecia um pequeno susto. O jovem mais uma vez se botava a pensar, esquecendo de Ikki, que as mudanças na garota eram interessantes para ele, bruscas, mas interessantes.

"Sim..." - Tatsumi respondeu, com seus braços grudados a seu corpo, como em uma posição de sentido, o mordomo bruscamente reverenciou a sua protegida, se virando uma última vez para dizer enquanto encarando Hyoga. - "Vocês têm sorte." - Saindo do escritório para vasta mansão aos mesmos passos fortes de quando entrou. O olhar da jovem, o perseguia, até a porta ser fechada e enfim com sua saída.

"Vocês todos devem estar cansados. Descansem bem por hoje." - Saori disse, com um sorriso complacente, enquanto via os cavaleiros quietos.

"Ele tem razão." - Seiya respondeu quase de imediato, esquecendo das mudanças de Saori e pensando no presente mais uma vez, cabisbaixo enquanto raciocinava tudo que ocorria. Até mesmo Saori mudava seu olhar, agora assustada, se perguntando do que o teimoso Cavaleiro de Pégaso falava. - "Tatsumi está certo, conseguimos trazer de volta uma única parte da armadura de ouro."

"Hm... não se preocupem." - Ela respondeu, novamente, com um tom afetuoso, que surpreendia agora não só a Seiya, mas os outros três cavaleiros, ficando entre eles, Saori cruzou seus braços enquanto mantinha o semblante confiante. - "Nosso inimigo vai aparecer novamente enquanto tivermos essa máscara."

Caminhando com seu longo vestido branco, que se arrastava pelo chão do escritório, ela se virava para encarar a janela que mostrava a nevasca da noite.

"Agora que conseguimos uma trégua, é melhor que vocês descansem."

"Nosso inimigo... eu gostaria de saber quem é ele." - Hyoga perguntava, mirando frustrado para Saori, trazendo a tona o principal problema ao salão.

"Você tem alguma ideia, Saori?" - Shiryu agora se via no direito de perguntar, encarando a garota virada de costas para todos. Seiya, vendo para onde o assunto iria, se levantava do braço do sofá.

"Não. Nenhuma..." - Ela respondia, enquanto o rapaz se aproximava, vendo a expressão de apreensão que era formada na bela face da menina, que enxergava o reflexo do cavaleiro de Pégaso pelo vidro.

"Seu avô não disse nada sobre eles?" - Ele falava tentando manter a postura séria, mas podia ver Saori fechando seus olhos a pergunta que fazia, como se martirizasse a si mesma pela falta de conhecimento.

"Não. Apenas disse que a Guerra Galáctica podia ser interrompida por uma grande força do mal." - E essas palavras é o bastante para deixar todos inquietos novamente, até Shiryu se atrever a perguntar.

"Então por que organizou o torneio?" - Tendo a garota se virando, porém, tendo seus olhos azuis encarando pessoalmente Seiya.

"O torneio servia para atrair o grande mal escondido e tirá-lo da sombra."

"Atrair o grande inimigo?" - Pégaso perguntou. - "Como assim?"

"Então Ikki também foi controlado por esse grande mal." - Hyoga chegava a conclusão, abrindo-se mais as dúvidas, porém com os braços ainda cruzados. Enquanto todos se lembravam que Fênix dizia, que mesmo com sua derrota, não seria o final da luta.

"Ikki." - Shun exclama. - "Então era isso que ele queria dizer." - O garoto de cabelos verdes falava, pensando em uma única peça, que Seiya tinha antes em sua cabeça. - "Talvez tenha acontecido algo no Santuário."

"O Santuário?" - Seiya dizia, tendo ele, Saori e os outros se virando para Shun. Era quase como se a neve lá fora ficasse mais tensa, e a compreensão de que algo acontecia, tornasse tudo mais frio. A garota de cabelos roxos, então concordava, afirmando:

"De qualquer forma, para chegarmos a alguma conclusão, usaremos a rede de informações da Fundação."

"Mas me digam, por que razão eles estão atrás da armadura de ouro?" - Quando o Cavaleiro de Cisne entrega mais uma indagação que Saori não poderia responder, o barulho de um estrondo, seguido ao berro de Tatsumi cruzou as paredes do escritório.

"Me ajudem! Pare, por favor!"

"Shun!" - Seiya falava, junto a Hyoga e Shiryu, que se preparavam para outro confronto. - "Fique aqui e tome conta da Saori e a armadura de ouro." - Antes de dar o primeiro passo, Pégaso surpreendeu-se. Exclamou por proteger a garota antes de agir, mas como um Cavaleiro, essa era sua função.

"Pode deixar!" - Shun bradou, enquanto os três correram para fora do escritório, sem perceber a face de Saori, fisgada pelas palavras de Seiya, mas ignorando também qualquer pensamento sobre, se preocupando com o que acontecia com Tatsumi.

"Não faça isso!" - Implorava o mordomo, ao ver os anéis dourados deixando seu corpo fora ao confortável solo, enquanto suas pernas balançavam e o careca exclamava por ajuda em meio ao ar, suplicando a pequena criança que fazia isso, rindo de seu sofrimento.

"Agora, o que faço com você?" - Kiki se perguntava, orgulhoso da posição que colocava o mordomo grosseiro. Em meio ao hall de entrada da mansão, o aprendiz de Mu, podia ver as três figuras surgindo do segundo andar.

"Kiki!" - Seiya falava, parando antes mesmo de descer as escadas, cruzando seus braços enquanto ria da criança, ao lado de Hyoga que fazia o mesmo, e Shiryu que ainda tinha um leve espanto. - "Você está ótimo, Tatsumi." - Pégaso ria, enquanto o mordomo tentava 'nadar' do ar, para a superfície.

"Deu, Kiki, chega de brincadeira." - O Cavaleiro de Dragão teimou.

"Mas esse maluco quis me pegar pelo pescoço, como se eu fosse um gato vira-lata." - O garoto teimou de volta.

"Kiki." - Mais uma vez Shiryu ordenou.

"Se você diz, Shiryu." - Com seu dedo indicador sessando dos raios circulares e dourados, o jovem ruivo apenas com um pensar faz as leis da gravidade retornarem até Tatsumi, que desesperado cruzou do teto e atingiu o chão da mansão, seguido ainda por mais risadas de Hyoga e Seiya.

"Tatsumi, afinal que bagunça é essa?" - Saori perguntou saindo do próprio escritório, com Shun sorrindo ao seu lado. Era uma situação que mesmo estranha, também se provava cômica ao ver seu mordomo jogado ao chão.

"Eu não tive culpa, senhorita." - Disse o careca, com os olhos marejados e a face vermelha, enquanto pedia perdão. Mais uma vez, todos riam, de Seiya, Shun, Hyoga, Kiki, Shiryu e até mesmo Saori, o que mais chamou a atenção do Pégaso.

Vendo a jovem rir com eles, distraiu-o até mesmo de se divertir junto a eles. Prestando atenção em uma cena que o deixava viradado na jovem, que com seus olhos azuis, percebia Seiya a encarado mais uma vez. No fim, de uma forma quase inconsciente, o Pégaso apenas retribuiu ao sorriso. Ele poderia muito bem se acostumar com a nova Srta. Kido.

"Bom, então até amanhã." - Momentos depois, a porta era aberta, Saori se afastará e Seiya se despedia de todos na porta, tendo a caixa de sua armadura em suas costas, sem temer a nevasca atrás dele. Hyoga, Shun, Shiryu e Kiki, se despediam do Pégaso, que conversava com o pequeno. - "Kiki, vê se não vai molhar a cama do Shiryu."

"É bom ter mais respeito comigo, Sr. Pégaso." - Kiki falava, cercado pelos quatro cavaleiros, desferindo seu punho com uma força cômica contra Seiya, que fingia uma expressão brincalhona de dor. Com uma boa risada, ele se despedia dos amigos, ouvindo o fechar da porta enquanto caminhava para sair da residência.

Porém, no meio de sua saída, sobre o teto da vasta mansão, o cavaleiro ouvia algo estranho.

Saori acabava de ter uma das experiências mais estranhas de sua vida, entre as estrelas e céu artificiais de seu planetário, a garota dos cabelos roxos, em seus treze anos de idade, era incumbida de mais uma das tarefas deixadas por seu avô, Mitsumasa Kido.

Em uma experiência que ela não tinha mais certeza que se tratara de uma realidade ou ficção de sua mente em meio a saudade, com seu báculo, e trajes diferentes do que usava na presença de Seiya e dos outros, junto ao capacete de sagitário, a menina falava novamente com seu falecido avô, que dizia que teria que comandar os cavaleiros, contra um mal maior.

Sua mão se firmou mais ao báculo, ao mesmo tempo que seus olhos, se forçaram a não deixar lágrimas caírem, sentia saudade dele, de Mitsumasa. No meio as estrelas, perdida e sozinha... ela não sabia que fazer, até que...

"Tem alguém aí?" - A voz que literalmente ecoava pela cúpula, era lançada pelo vulto sombrio que também caminhava para dentro. Saori, assustada, não por não reconhecer a voz, mas sim por conhecer, se virou para ver Seiya caminhando em meio a seu espaço particular.

"Seiya, o que faz aqui?" - Saori perguntou, surpreendida ao pensar que ele já teria ido embora, já o rapaz, ainda admirava as estrelas do local, quase tão reais quanto, bem, as reais.

"Eu tinha ouvido um barulho estranho e esse lugar brilhando... pensei que poderia ser algo importante." - Seiya falou, caminhando perdido, até então, ver Saori melhor, com sua tiara e outras joias douradas que usava somente quando se metia em algo importante, mas também, via as lágrimas que quase caiam antes dele entrar ali. - "Você estava fazendo algo, Saori? Eu posso ir embora..."

Ela não respondeu nada, apenas mirou o chão, quando viu que Seiya a olhava. Ela estranhou, queria muitas coisas no momento, mas menos ficar sozinha. - "Não... eu gostaria de alguém, para conversar."

O rapaz ficou mais uma vez boquiaberto, caminhando mais para o fundo da cúpula, admirado com o que parecia a nova Saori Kido, ele assentiu, sendo recebido com um sorriso caloroso da garota dos cabelos roxos, novamente a sensação ao peito. O coração batendo mais forte.

Minutos depois, os dois jovens ficavam quietos, sentados sobre as estrelas, enquanto também as observavam acima deles, Seiya com sua caixa contendo a armadura a seu lado, enquanto do outro, Saori que tinha também seu báculo e o capacete a acompanhando. O jovem não pode deixar de sorrir enquanto olhava para o céu infinito, apreciando o cenário privilegiado que a herdeira tinha.

Suspirando quando perceberá que até achava sua constelação ali, brilhando da mesma forma como fazia lá fora. Podia ver todas, Andrômeda, Dragão, Cisne e até Fênix. Ele não sabia o que o Santuário queria e o que viria em frente, mas ele lutaria com seus amigos e irmãos.

Por um momento, não tinha uma gota de amargura em todos aqueles anos de treinamento, cicatrizes. Ele pensou, talvez nem sempre elas tinham que ser vistas como uma lembrança ruim.

Tendo suas duas delicadas e brancas mãos, se esfregando uma contra a outra, Saori tentava discretamente observar o companheiro, o vendo de olhos fechados, pensando no que se passaria na mente dele, sobre tudo e até sobre ela. Ele mudou e agora ela tentava mudar.

Seus olhos castanhos se abriam, mirando algo diferente das constelações, virando-se para o lado, para ver Saori, a olhando novamente, impressionado como fora de seu feitio, ele poderia pensar para si mesmo como ela havia se tornado bonita com os anos. Os dois trocaram mais um sorriso, e juntos, voltaram a olhar a noite do planetário, um esperando ao outro, quem seria o primeiro a falar algo, e incrivelmente, mesmo com a reputação do Pégaso, ela se pôs a começar a conversa que p.recisava

"Seiya?" - Saori se botou a perguntar com um tom baixo e suave, típico dela, relutante em até mesmo quebrar o silêncio.

"Hmm?" - Foi tudo o que ele pode fazer, botando seus braços contra sua nuca, usando como apoio para se deitar pelo chão, que apesar de ter uma ilusão de que era o céu, ainda era duro como metal que era.

"Você... gosta do rumo que sua vida está indo?" - Ela perguntou, vendo o garoto se deitar, e diferente do que normalmente fazia, imitando a ele, enquanto via seu céu estrelado, sem poder ver a reação do garoto, que abrirá seus olhos com a surpresa.

"Acho que sim, não é de todo mal..."

"Mas, sua irmã... o que aconteceu com Ikki. Por quê?" - Saori queria entender.

"Sinceramente, eu sei lá..." - Admitiu, com um toque de brutalidade, que se sentiu culpado. - "Acho que, todo dia eu penso que tenho que encontrar um novo motivo para gostar de tudo e isso é legal."

"Mas, se você nem entende o que é sua vida... por que faria isso?" - Não se importando em se sentir mais envergonhada ou curiosa, continuou. Vendo o perfil do Pégaso, com seus olhos castanhos refletindo sua constelação.

"Eu não sei, Saori..." - Ficou um pouco impaciente. - "Talvez por que eu possa encontrar Seika. Talvez por que eu possa ter tempo com meus amigos. Talvez por que eu sei que tem alguém me esperando, mesmo não sabendo quem é."

"Isso..." - Saori se levantou, ficando sentada, enquanto ajeitava seu vestido, apreensiva em sua expressão, de forma que preocupava o deitado Seiya. - "Isso não é algo que eu te esperaria dizer."

"Às vezes nós não conhecemos as pessoas como achamos que conhecemos..." - Ele sabia que seu ego tinha sido inflado, mas na verdade, queria dizer outra coisa. Rindo de si, ele se ajeitou, ainda deitado. - "Eu achava que te conhecia, mas você mudou, Saori."

Foi a vez da garota arregalar os olhos, ficando até rígida com as palavras do menino, virando-se para olhá-lo, e de uma forma reconfortante, incomodada com que disse, com a sensação que acompanhava, quase como, borboletas voando delicadamente dentro dela.

"Seiya, eu..." - A forma como não for capaz de terminar de falar, puxou o Pégaso, que se levantou estranhando Saori, ela abraçava suas pernas, deixando sua franja lavanda cair sobre seus olhos.

"Estranho eu dizer isso, né? Mas, sinceramente, não consigo evitar..." - Agora, botando uma de suas mãos contra o chão estrelado, ao mesmo tempo que fazia um pouco de força para se levantar.

"Desde quando você acha... que eu mudei?" - Saori se atreveu a perguntar, seu coração batendo mais forte enquanto seu olhar lhe perseguia, até o mesmo ficar de pé, sem ter a coragem de piscar. Levantando seu braço, a garota fez menção para o cavaleiro ajudá-la a levantar, e como Seiya não era um cavalheiro, demorou alguns segundos para entender o que ela queria.

"Acho que foi... desde aquele dia que você foi em meu apartamento." - Ele se esforçou para tentar parecer o menos bruto possível, levantando Saori e sentindo uma leveza ao tocar sua mão, tendo logo a garota de cabelos lavanda frente a ele. - "Você se preocupou comigo..."

A garota se espantou quando percebeu a proximidade, talvez estivesse a um passo de distância de Seiya, talvez menos, sua respiração, quente mesmo naquela noite de dezembro a aqueceu de uma forma estranha, o contato humano com o garoto, era convidativo para ela, formando um sorriso, que poderia ser apaixonadamente bobo para o Pégaso.

Seiya também estava na mesma, surpreendido com a proximidade que nunca esperou ter de Saori Kido, seus olhos castanhos a viam se aproximar dele, suas mãos ainda juntas, até simultaneamente percorriam caminhos para os corpos um do outro. O cavaleiro até franziu sua testa, pensando na besteira que estava prestes a fazer.

"Foram vocês, que acabaram me mudando, Seiya..." - Sua voz, era quase como um delicado sopro contra seu rosto, conforme os olhos azuis de Saori se fechavam e a mesma se aproximava, com sua mão esquerda, agora na nuca de Pégaso, enquanto ele, percebia sua mão sobra a fina cintura escondida sobre a ceda.

Antes que piscassem seus olhos, o contato foi selado, Ikki, Santuário, armaduras, foram pensamentos jogados pelo desfiladeiro com um simples encostar de seus lábios. Rápido e tímido, como Seiya queria que fosse e como Saori se sentia. Lentamente se olharam, castanho com azul.

Para o garoto, por alguns segundos, aquele planetário ficava tão sem graça perto da garota, a falta de distância ainda estava ali e isso era uma desculpa para continuarem o que começavam. Seiya agora tomou a frente, deixando um instinto selvagem que apenas demonstrava em batalha, agir, as mudanças de Saori definitivamente significavam mudanças para ele.

Fecharam seus olhos, abrindo seus lábios levemente, Seiya sentido o aroma do perfume dela, quando suas bocas se encostaram uma segunda vez, eles hesitaram, mas logo se aventuraram dar passagem para algo maior, com Pégaso se agarrando com mais força a sua cintura, os dois sentiram algo mais, que fazia o beijo simples se tornar apenas poucos segundos mais longo que o primeiro.

"Ahn, eu... senhorita..." - Ele se tornava bobo, se sentia idiota, e carregava em suas costas o peso de ter feito o maior erro de sua vida, deslizando seus dedos da cintura de Saori, ao mesmo tempo que a garota escapava os seus do pescoço de Seiya, os dois se olhavam estranhos. - "Isso foi..." - O olhar dela era preocupante, e Pégaso ficava com mais encargo de consciência. - "Idiota."

"Não..." - Ela cortou, dando um passo atrás, levando seus dedos contra seus lábios. - "Apenas imprudente, porém..." - Sorrindo para o cavaleiro, ela assentiu. - "Nada que não podemos fingir que não aconteceu, certo, Seiya?"

"Certo, Srta. Saori." - Pégaso falou, caminhando até sua armadura, ficando de costas para ela, enquanto sorria para si mesmo, mas em sua mente se amaldiçoava pela idiotice, colocando a grande caixa em suas costas. - "Nada aconteceu..." - Os dois ficaram quietos e a porta pela qual entrava antes se abria com a passagem para noite de neve. - "Boa noite, Saori."

"Boa noite, Seiya." - A garota agradeceu, enquanto o mesmo se virava, se afastando dela, em uma cena que ficaria na cabeça de ambos, secretamente. Os dois sem sombra de dúvida se conheceram melhor naquela noite, sobre as estrelas.