Passagem; Episódio 30 e 36

Hospital GRAAD – Junho de 1987

As quatro paredes brancas como a neve que caia naquela noite de fim de ano eram pintadas por dourado, tanto dos raios de luz intrometidos que invadiam pelas frestas da janela selada, como também da urna dourada de sagitário que estava parada no quarto, foscamente brilhando em reverência, quase como uma criatura viva, para sua deusa.

Porém, por mais resplandecente que a beleza da armadura fosse, por mais reluzente que seu brilho era, ainda sim ela ficava de costas para a urna. No fim daquela tarde, um dia depois, de ela estar em seus braços, sentir o vento frio e cortante da morte enquanto caiam daquele penhasco, Saori ainda ficava ali, tendo seus olhos apenas para Seiya, que dormia.

Talvez ela não devesse fazer isso, cabisbaixa, enquanto via o cavaleiro de Pégaso deitado em uma cama confortável, macia. Muito diferente das pedras frias que estavam antes. Nem imaginando que ela estava ali, o olhando, feliz em seus sonhos. Em uma expressão de um repouso caçoador. Como se agora, apenas em o que sua mente imaginava, fosse livre dela.

Por que agora ele dormia calmo assim? Não queria que ele a olhasse assim. Mordeu seu lábio inferior, observando o garoto adormecido, seu coração de humana, batia de uma forma como se quisesse sair de dentro dela, mas seu coração de deusa, sim, de deusa Atena, que era na verdade, suplicava para o tratasse apenas como mais um cavaleiro.

A garota dos cabelos de lavanda lentamente inclinou seu pescoço, sentindo algumas mexas caindo delicadamente por seu ombro, enquanto podia perceber que na expressão pacifica de Seiya, pequenos brilhos do reflexo de sagitário o iluminavam, demonstrando como ele agora estava protegido, em paz. Sem Shaina, Jamian, penhascos ou até ela mesma, para machucá-lo.

Contudo, agora Saori se sentia desprotegida sem o garoto, com olhos soturnos e necessitados pedindo para que mais uma vez se levantasse. Se ela realmente fosse uma deusa, como dizia ser, poderia ser tão egoísta assim? Por que Atena não poderia ser outra? E ela só Saori? Quando pensava nisso percebia. Que diferença faria?

Ele ainda teria a raiva por ela. Pela infância. Pela irmã. Pela Guerra Galáctica. Pelo beijo, cujo ela mesma pedia que não falasse nada, antes mesmo de lhe revelar sua origem divina. Mas, Saori também não sabia se, mesmo tentando mudar, ainda sentia raiva dele. Por ele sentir raiva dela ao invés de outro sentimento. Ou talvez sentisse raiva, por sentir por Seiya, o que não podia sentir por ninguém.

A jovem deusa levantava sua mão, com seus dedos lentamente tocando seu peito, escondendo por onde seu coração batia, implorando novamente que parasse de bater daquela forma. Se lembrava muito bem, na noite passada, no Coliseu, seu coliseu, em ruinas pela fúria do Santuário.

Contava aos quatro, Seiya, Shiryu, Shun e Hyoga, a verdade, toda ela. De Mitsumasa Kido ser o pai deles, de sua ida a Atenas e sobre sua verdadeira identidade, a reencarnação de Atena, mas como o próprio Pégaso fez questão de insultar, ou talvez, falar a verdade, não poderia seguir uma garota mimada e egoísta. Que se dependesse dela para defender o mundo do mal, a humanidade estava condenada.

Seiya deixava claro sua posição, ali ela entendia que talvez ele estivesse certo e que talvez ela tivesse que entender, que aquela noite no planetário, só teve significado algo para seu próprio lado egoísta. Mas da mesma forma, com ele ao seu lado ou não, Saori só queria que ele estivesse de pé, sem beijá-la ou não, ela ficaria feliz por simplesmente vê-lo bem, simplesmente por ele se encontrar em disposição de maltratá-la.

Algum tempo antes...

"Por que sempre eu que me ferro com a parte mais difícil?!" – A voz do cavaleiro de Pégaso rasga aos céus, perguntando aos seus irmãos, enquanto se distanciava com um salto que nenhum humano comum poderia dar, encarregado da tarefa de salvar Saori.

Uma fúria incontrolável passava entre ele.

Até a sensação que amava, de correr mais rápido do que qualquer outro homem, saltar mais alto do que o ser humano mais extraordinário poderia fazer, virava uma encheção de saco para o garoto. Sentir os ventos atingindo seu corpo, enquanto a armadura lhe dava poder, apenas para pegar a garota mimada que se dizia Atena.

Sim, ele percebia que Saori Kido mudava sua atitude a um tempo atrás, mas, os últimos eventos desandavam qualquer ponto positivo que a garota conseguia com ele. Mitsumasa Kido ser seu pai? Ela ser Atena? O beijo simplesmente ignorado no planetário? O último merecia realmente ser esquecido, mas os outros já era demais.

Porém, ali estava ele, voando entre os prédios da cidade, enquanto corvos em meio a noite levavam ela para longe dele, quer dizer, longe dele e de seus irmãos. Ele não queria fazer isso, gritava para si, ela não era Atena, marcava em sua mente, mas então por que não podia se afastar dela? Parar de correr atrás dela?

Ao mesmo tempo que seu coração de cavaleiro, ele dizia que se arrependeria pelo resto da vida se não a defendesse, seu coração de garoto, berrava em suas batidas fortes sobre como ele se odiaria não ao menos trocasse uma última palavra com Saori. Porém, Seiya era mais uma pessoa de ação do que emoção, e ele não deixaria que sentimentos falassem acima do que era apenas uma obrigação.

Ele era um corajoso cavaleiro e ele apenas faria isso por ser um corajoso cavaleiro. Que não importaria o obstáculo, salvaria ela. Salvaria aquela maldita garota mimada.

Novamente, no hospital...

Talvez fosse por apenas ter treze anos que ela falava para si que não compreendia sua missão, que não podia a compreender, todavia, mesmo com tudo que dizia para si, tinha noção que Seiya era quem a fazia perceber isso. Parecia que o cavaleiro era uma trapaça do destino, que estava lhe mostrando que não importava a deusa que fosse, ainda era uma garota. Uma garota apaixonada. Talvez, em uma visão de sacrilégio, uma deusa apaixonada.

Não adiantava, o Pégaso bateu suas asas brancas e quando ela percebeu o quão belo isso era, o quão belo era ser um humano e poder amar... o resultado foi refletido em seu coração. Vindo de um sentimento que a sufocava e a humilhava por dentro. Isso era revoltante, e quando Saori percebia isso, entendia o que Seiya pensava.

Seu vestido branco, arrastando contra o chão, enquanto seus passos silenciosos demonstravam a coragem que ela tinha em se aproximar dele. Os cabelos roxos, deslizando para baixo, agora que ela tinha coragem de inclinar seu rosto contra o dele da mesma forma como tentou fazer no abismo. Eles se encontravam novamente, olho a olho.

A mão da reencarnação de Atena, tocou a face de seu cavaleiro, quente, como se estivesse febril, ou talvez, na imaginação da garota, corado ao seu toque, que enquanto o adormecido Seiya ficaria confortável com sua mão roçada em sua face. Eles estavam próximos assim antes de Jamian os interromper, estavam próximos assim naquele dia entre as estrelas. Novamente nesse cenário, com o sol, astro rei e a armadura de sagitário sendo as testemunhas do que fariam em segredo.

Algum tempo antes...

"Espere aí! Não ponha suas mãos sujas nela!" – Outra vez a voz dele rasgou entre a noite, porém, agora sim berrava com uma fúria admitida ao ver a cena entre as montanhas.

Saori, adormecida, os corvos a levaram até um homem. No momento em que ele quase pôs sua mão na menina, fez algo nascer dentro de Pégaso.

"Quê?! Quem é você?" – A voz esganiçada, característica de aparência dele. Um homem careca, com longo nariz curvado e uma armadura, infelizmente para Seiya, uma de prata. Ele perdeu o elemento surpresa que seria essencial por se deixar levar o maldito sentimento, que afirmava não colocar acima de sua obrigação.

Pelo menos serviu para assustar o oponente.

"Eu sou Seiya, o cavaleiro de Pégaso!" – Sua pose era realmente como a de um cavaleiro medieval, que vinha para salvar a princesa em desespero, o que no caso, Seiya dizia para si mesmo que não era o caso. – "Estou aqui por causa dela!" – Continuava, pensando no que fazer agora, pela batalha contra Misty, Asterion e Moses, sua armadura estava novamente em frangalhos e entre ele e Saori, tudo o que menos queria era outro inimigo de prata.

"Seiya?!" – O cavaleiro inimigo respondeu, com uma expressão de incredibilidade que acentuavam a seus traços tortos, deixava apenas mais claro o quão feio ele era. – "Impossível! Misty não tinha te matado?"

"Era para ter sido assim, mas agora ele está enterrado na praia." – Pégaso apenas deu um passo para sua batalha, enquanto em meio à noite, corvos sorrateiros como os que levavam Saori, pousavam nas encostas das montanhas rochosas.

"Isso é impossível!" – O cavaleiro de prata argumentou, porém, não se mostrava tão intimidado quanto Seiya pensava. – "Mas... já que está aqui, serei eu quem vai te mostrar o verdadeiro poder de um cavaleiro de prata!"

"Hã?" – Seiya não entendeu, até ver. Entre a escuridão, as aves negras surgiam em meio a noite indo em sua direção.

"Preste atenção, Seiya! Hoje conhecerá o poder dá pluma negra de Jamian, o cavaleiro de Corvo!" — O orgulho com que Jamian exibia sua constelação só era mais estranho para Seiya, do que a excentricidade em suas técnicas, com corvos que voavam contra o Pégaso.

"Meteoro de Pégaso!" – Não demorou para o cavaleiro de bronze agir, não poderia demorar, não estaria focado na batalha, com a vida de Saori em jogo. Enquanto seu punho se fechava e chamas azuis brilhavam como fogo de verdade, um soco era erguido enquanto Seiya anunciava seu contra-ataque.

Centenas de punhos, que na verdade, eram apenas um único, cortavam o ar, atingindo as aves negras enquanto um show de luzes azuis, semelhantes a meteoros, eram lançados contra Jamian e seus corvos, que estranhamente, eram rapidamente derrotados, deixando suas penas pretas voando pelo campo de batalha.

"Esse foi o poder da pluma negra?" – O orgulhoso cavaleiro perguntou, entendendo que em breve sua distância entre ele e Saori estaria terminada. – "Seus corvos nem conseguiram me atingir."

"Hehehe! Será mesmo, Seiya?" – Jamian se orgulhava novamente, enquanto a chuva de penas negras ficava maior e estranhamente para o Pégaso, mais pesada.

"O quê?" – Seiya indagava, sentindo que o pior vinha. Até perceber, que não era coisa de sua cabeça, as penas eram pesadas como toneladas e também estavam aderidas a seu corpo. – "Que droga é essa? Urgh... as penas... estão grudando em mim..." – Ele tremeu, a força de suas pernas cedendo, caindo de joelhos enquanto seu corpo é pintado ao negro da noite. – "São tão pesadas... quanto chumbo... não consigo... me mover... ne-nem... res-respirar..."

Em segundos, o cavaleiro de bronze caia ao chão, coberto em penas dos corvos de Jamian. Novamente, percebendo a distância entre ele e Saori... criando um desespero em meio ao seu sufoco. O cavaleiro de prata o chutava enquanto não podia se defender, novamente a derrota se aproximava.

Ele podia ouvir... o bater de asas, os corvos a levavam novamente.

Era bastante... para fazê-lo se levantar mesmo com as botas de prata de Jamian o atingindo. Implorava por seu cosmo queimar, cada vez mais, que explodisse de uma vez só, como um milagre... e no pensamento de que se não fosse por Atena, ao menos por Saori, ele se libertava de sua prisão em uma explosão da própria energia.

Com um berro de coragem, enquanto sua fúria era transmitida nas penas que voavam para longe do cavaleiro como se fossem intimidadas por seu poder. A batalha continuaria, até que ele tivesse novamente Saori ou que seu coração parasse de bater.

Novamente, no hospital...

Quando ela parou, centímetros dele... seus cabelos, agora tocavam a face do garoto, assim como outras partes de seu corpo, ela podendo sentir sua respiração contra sua face. Saori se obrigou a parar, pensando no que Seiya falaria, como ela era uma garota mimada por escolher fazer aquilo ao invés de ser quem deveria ser. Não podia definir a angustia.

Novamente, apenas sua mão tocava seu rosto, conforme se levantava, a noite do planetário deveria ser a única cujo o erro ficaria marcado por um menino e uma menina. Agora, eles seriam cavaleiro e deusa. Talvez ela fosse uma deusa quebrada, talvez maculada, por tê-lo beijado antes, talvez por sentir dor com a desventura de se apaixonar, de estar com quem ama.

Era uma cicatriz. Ficaria manchada em sua história que nunca foi contada, querendo apenas que tudo ficasse em expectativas e emoções esquecidas. Sonhos que até mesmo para uma deusa, uma menina de fortuna, uma garota mimada, seriam impossíveis. Apenas vontades.

Algum tempo antes...

"Urgh..." – Setniu a dor de sentir não apenas sua carne rasgada, mas seu braço, seu osso, rachado entre o peso dela, algo que não o incomodaria muito em outras situações e a racha seca. Foi rápido. Se libertou das penas de Jamian, jogou seus meteoros contra os corvos, viu Saori cair e então a agarrou entre seus braços em desespero de ver apenas uma gota de sangue dela ser derramada. – "Acho que meu braço já era."

E então ele estava ali, com seu sangue caindo invés do dela. Percebendo e se amaldiçoando por estar definitivamente apaixonado pela garota de cabelos longos e roxos, agarrada por seu único braço útil no momento. Ele estava apaixonado pela neta mimada, pela garota mimada, Saori Kido. E corvos, Jamian... tudo não importava, seus olhos castanhos, cansados, cerrados em exaustão, queriam apenas admirá-la um pouco.

Seiya não era muito fã quando locais ficavam quietos demais, porém agora, o silêncio era o som perfeito. Ali estavam eles, sobre as estrelas, os astros e ele a tinha entre seus braços, na realidade, apenas um braço. O cheiro dela era tão bom, ela era tão bonita para Pégaso, até quando estava pacificamente adormecida.

"Foi mal, Jamian, mas nossa luta terá que ficar pra outra hora." – Pégaso falou, evidentemente cansado, mas não havia jeito, era lutar, ou ficar com Saori e ele escolhia a segunda opção, tanto por evitar um confronto, como pelo conforto.

"Acha mesmo que vai escapar com essa desculpa esfarrapada?" – Outra voz rosnou, aguda, mas tensa, que causava um pavor para o cavaleiro de bronze, apenas ao ouvi-la. – "Faz tempo que não nos vemos, Seiya. Diferente da última vez, hoje estou usando minha armadura, conforme prometi. Prepara-se para um duelo de verdade." – Shaina disse, deixando o garoto e a garota entre ela, Jamian, um paredão de rochas atrás e um abismo a frente.

Shaina? – É, agora Seiya poderia dizer que ele foi o mimado, poderia ter fugido dali assim que teve Saori ou quem sabe ao menos ter desferido um golpe em Jamian, bem, não importava, agora ele tinha Shaina para lidar também. – "Não posso lutar com um braço quebrado! E muito menos contra você!" – Ele vociferou para a amazona. Novamente o Pégaso pensava os tipos de situações que a garota de cabelos lavanda o colocava.

"Então não poderá escapar. Hehehe..." – Jamian disse.

"Caiu em nossa armadilha, Seiya." – Shaina concordou. – "Estou de um lado, Jamian está bloqueando sua saída... e você está com um braço quebrado. Entenda sua situação. Na sua frente, um abismo onde não pode se enxergar o fim, eu não gostaria de estar em seu lugar, sabia?"

"Se-- Seiya?" – Era impressionante, como aquela voz poderia irritá-lo, mas agora, também conseguia deixa-lo encantado. Seiya involuntariamente sorriu, enquanto seu coração batia com força, enquanto sentia ela se recostar em seus braços.

"Está..." – O cavaleiro de Pégaso começou a falar, suspirante, até perceber, que agora Saori havia desperto. – "Está acordada?" – Perguntou, agora falando como sempre fazia, tendo uma dose de desprezo, mas na verdade, apenas queria ouvir a voz dela.

Não respondeu... apenas o olhou, e por um momento, o Pégaso pensou que talvez, Saori o encarasse da mesma forma que ele, com a mesma maldita ternura que não conseguia evitar.

"Seria melhor se não tivesse acordado. Estamos em uma situação complicada, Saori." — Não a queria acordada, sinceramente, a queria como estava, descansada em seu peito. Em seus braços. – "É tudo ou nada. Está disposta a se arriscar do meu lado?"

"Eu confio em você, Seiya." – Essa frase, o conforto que sentiu, enquanto admirava seu belo rosto. Foi o que o Pégaso precisava ouvir. Era como se ele e ela fossem iluminados e isolados do mundo, enquanto Jamian, Shaina, tudo era esquecido na escuridão. Ele nunca admitiria, mas vê-la assim, também trancada em seu olhar, era bom.

Não conseguiam parar de se encarar, de admirar um ao outro. Seiya nunca pensou que poderia chegar nessa conclusão, mas os cabelos dela eram mais macios do que pareciam. Seu sorriso parecia ficar mais encantador quanto mais olhava. E o fato dela confiar nele, foi o que fez cometer seu próximo ato.

"Agora, se segure bem em mim!" — O mundo real ainda existia, e ele ainda estava nele. A paixão em seus olhos se tornou coragem que ele tanto autoproclamava ter, em compensação sentiu Saori abraça-lo, demonstrando a confiança que dizia ter por ele. E querendo esconder o sorriso, esconder que se apaixonara por aquela garota mimada, ele saltou e direção a escuridão. Deixando, da forma que queria, Shaina, Jamian e tudo mais para trás.

Escolhendo a queda do abismo, Seiya pode sentir seu braço se apertando contra a cintura de Saori, sentiu o abraço dela nele, ficando mais forte e o vento mais violento. Os cabelos roxos dela escorriam por seu rosto e o Pégaso percebia que aquela queda poderia ser eterna, ao menos, foi isso que pensou... antes de a realidade se chocar contra ele como um monte de rochas frias.

Novamente, no hospital...

E depois daquela queda no abismo o Cavaleiro de Pégaso... sentia uma chama fraca, talvez uma fagulha de força... como se o poder e os sentidos arrancados de seu corpo por aquelas malditas rochas fossem resgatadas por pouco... aquele calor da fagulha que o fazia acordar, em uma cama de hospital, na verdade, se revela uma mão, calorosa e macia.

Seiya acordou, tendo a visão dos cabelos lavanda, de seu rosto marcado com um sorriso terno, com as paredes do quarto onde estava pintadas de dourado... ele sabia que devia sentir dor, por seu braço ou por sua cabeça que tinha certeza que batera contra as pedras, mas era aquecido com o olhar e o toque de Saori, tudo o que queria sentir.

Era o mesmo olhar. Saori podia jurar antes de ver os olhos castanhos a olhando com uma inacreditável paixão, aquele olhar de incomodo que Seiya tinha quando estava com ela. Pensava novamente, seria melhor ver ele calmo em sonhos? Ou ferido e acordado? Seus lábios se abriram para tentar agradecer, mas sua voz não saia e a deusa sabia, que ele entendia a mensagem. Ele sempre entendia.

Aproveitando-se da falta de dor, nem sentindo o braço que ainda não percebia que estava enfaixado, o garoto dos olhos castanhos se sentou com o olhar incomodado, ficando frente a frente com Saori. Ele via o cenário se repetindo de novo. Raiva virava amor, mas agora, não seria assim.

Tanto por parte dele quanto dela, eles não deixariam assim. Saori podia dizer para si desde de quando o Pégaso chegava em sua mansão, ela gostava dele.

E não sabia se o cavaleiro sentia o mesmo, mas ela o amava, não como um protetor, sim um amor para toda sua vida e foi preciso assisti-lo estar em uma cama de hospital para perceber.

Com isso ela também percebia o que ela tinha que ser, não querer... com a mão ainda a seu rosto, o acarinhando, ela teve a coragem para deslizar, lentamente cruzando o caminho até seus cabelos castanhos e ainda mais bagunçados pelas horas de sono.

Seiya, vidrado nos olhos azuis, viu que devia se afastar, devia dizer a garota mimada que ela era uma garota mimada. Enquanto o segundo braço corria por seu corpo, com as duas mãos dela o puxando em sua direção. Desta vez... a garota se contentou com um abraço. Ela se contentou em ser quem era, Atena.

E Seiya? Enquanto sentiu apenas a face de Saori ao lado da sua, preso no abraço dela, enquanto o sono voltava a domá-lo, enquanto suas forças se acabavam mais uma vez, como se acordasse apenas para viver aquele momento, enquanto seus olhos se fechavam para adormecer, que ele percebeu que sentiria falta da garota mimada.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.