Years Of Love

Um Floco de Neve Despercebido


Levantei-me da cama correndo até a janela sentindo-me a pior pessoa do mundo. Por que agi assim?! Por que disse isto?! Como pude ser terrível o suficiente para magoar alguém como Jack?!

– Jack! Jack!

Gritei inutilmente pela janela. Não havia nada, nem a neve descia do céu mais, mal sentia o vento passando por mim. Era como se todo o inverno ficasse triste por Jack.

X x X

Fiquei parado em frente à janela observando a pequena cidade ser aos poucos coberta por centenas de pequeninos flocos de neve.

Quando vou falar com ele outra vez...?

Quando você briga com um amigo pode simplesmente ignora-lo por alguns dias e então conversar com ele na escola quando as coisas parecerem mais calmas... No entanto, eu não sei quando verei Jack novamente. Não sei onde encontra-lo e também não posso simplesmente ligar para ele.

– Jack!

Chamei-o outra vez, sem resultados.

– Jack! Me responda!

Meu coração começou a bater mais rápido e senti que estava começando a ficar desesperado. Não quero, e também não posso perder Jack.

– JACK!

– O que foi?

Olhei para cima assim que ouvi a voz familiar de Jack. Normalmente, sua voz me parecia amigável e gentil, mas, agora, simplesmente soava sem emoção alguma. Jack estava de pé sobre a ponta de meu telhado com o capuz cobrindo sua cabeça segurando o cajado em uma das mãos.

– ... Pode vir aqui?

– Não.

Suspirei pesadamente, não podia culpa-lo por agir assim, afinal, eu que fora estupido com ele primeiro.

– Certo...

Olhei para a parede planejando como subiria até o telhado, acho que posso ir até lá, o formato de minha janela e do telhado colaborariam com isto. No entanto, se eu me desequilibrar... Olhei para o chão tentando calcular a altura, meu quarto fica no segundo andar... Ao menos, se eu cair, caio sobre a neve. Sim, isto fara uma grande diferença Hiccup...

Coloquei um pé sobre a janela segurando-a sobre a parte mais alta. Jack observava-me, parecia-me inquieto com o que eu estava fazendo, mas não disse nada. Aos poucos coloquei todo meu corpo para fora do quarto, segurei-me com toda a pouca força que tenho e policiei-me para não olhar para baixo. Após muito cuidado e meu coração quase disparar para fora de meu peito, consegui subir sobre o telhado coberto de neve. Jack agora estava sentando sobre a chaminé olhando-me, ignorei-o por um minuto enquanto recuperava o folego.

Olhei para trás e para baixo lembrando do quão alto subi. Até que fiquei orgulhoso, mas lembrei que sobreviver a escalada até o telhado não era meu maior desafio.

– O que você quer?

– Eu... – comecei a falar tentando formar uma frase enquanto levantava-me limpando a neve de minhas roupas, nem lembrei-me que apenas vestia um pijama velho azul com desenhos em branco de bonecos de neve. – Desculpe pelo que eu disse.

– Não sei por que esta se desculpando.

Falou virando-se para o lado. É admirável como ele equilibra-se facilmente sobre tanta neve de pés descalços.

– Eu não queria dizer aquilo, serio... Jack olhe para mim.

– Não.

Bufei irritado, lentamente tentei andar sobre o telhado. Meu equilibro é terrível, ainda mais sem tênis sobre a neve a qual esta sobre telhas. Desajeitadamente cheguei até o topo do telhado estremecendo com o vento, acredito que Jack o controlava, queria manda-lo parar com este frio terrível. Tento ignorar a ideia que esteja fazendo ventar tanto propositalmente.

– Jack, pare de me ignorar, ok? Eu só falei besteira por que estou cansado e preciso mesmo dormir.

– Hmpft...

Ele realmente esta me irritando e, infelizmente, assim como meu pai, eu sempre fui muito teimoso.

– Hmpft nada! Por que você não me escuta?! Eu já me desculpei com você Jack!

– E do que adianta?! – Jack finalmente virou-se para mim, sua voz estava mais alta e mais irritada. Podia sentir o vento mais forte e congelante passar por nós - Você vai continuar com aquela garota estupida!

Nunca o vi daquele jeito, e nem conseguia imagina-lo assim, ele estava muito irritado e estava gritando comigo.

– Q-que?

– Vai acabar do mesmo jeito! – falou descendo da chaminé andando sobre o telhado até minha frente – Pela segunda vez, vai encontrar outra pessoa, por que você não precisa de mim! Você vai preferir outra pessoa melhor e vai seguir sua vida até nunca mais lembrar do meu nome! E eu?! Eu vou continuar vagando por ai sozinho, inútil como qual quer floco de neve que passa despercebido aos olhos de todas as pessoas!

Calei-me o olhando, ele estava irritado, sua voz e sua expressão mostravam isto, mas, seus olhos estavam marejados e magoados.

– Jack...

Jack calou-se parecendo perceber o que dissera.

Minha cabeça trabalhava desesperadamente tentando absorver e entender tudo o que Jack dissera. Outra pessoa? Jack fora apaixonado por alguém e esta pessoa o deixou, eu sempre achei que ninguém nunca o havia visto além de mim... Mesmo sem saber quem era, amaldiçoei seja quem fora que o abandonara. No entanto, a principal frase que ficava na minha cabeça...

‘’ Você vai continuar com aquela garota estupida!’’

Jack... Ele... Ele gosta de mim...? Ele realmente queria ter uma relação comigo? Senti meu peito esquentar, eu... Estou feliz? Por que estaria?

Tentei dizer algo, mas nada saia de minha boca. Jack continuou parado por meio segundo, então virou-se.

– Desculpe, adeus.

Apoiou o cajado sobre o chão, preparando-se para ser carregado junto ao vento pelo céu, para longe de mim.

– Não! – por um impulso corri até Jack agarrando seu braço com todas as minhas forças, não o deixaria ir.

– Hiccup!

– Não! Você não vai ir embora, entendeu?!

Jack puxou o braço virando-se para mim.

– Por que esta fazendo isto?! Você nem me quer por perto!

– Eu quero!

– Se realmente me quer por perto por que ignorou-me pela manhã e me mandou ir embora à noite?!

– É-é que...

– Que?!

– É que... E-eu não consigo explicar!

Como posso responder a Jack se nem eu mesmo consigo entender o que sinto...? Por mais que me esforçasse nenhuma resposta parecia lógica ou ideal.

– Ótimo. Continue feliz com Astrid, adeus.

Algumas lágrimas desciam de seu rosto quando virava-se de costas para mim, novamente, um pânico de perde-lo instalou-se em mim.

– Jack!

O puxei novamente para que vira-se para mim, ele estava prestes a protestar quando...

Eu o beijei.

Não sei como, e nem por que, mas inclinei-me para frente segurando o blusão de Jack e o beijei. Inicialmente, ele não reagira, não se movera e nem falara nada. Eu já tinha certeza que seria rejeitado, até que senti seus lábios responder aos meus. Suas mãos passaram por minha cintura aproximando-me de si. Seus lábios eram gelados, causavam-me arrepios enquanto seu gosto misturava-se ao gosto amargo das lágrimas que antes corriam por seu rosto. No entanto, eu gostei, muito. Parecia certo, parecia completamente certa e perfeita nossa união.

Naquele momento, eu finalmente pude responder a todas as minhas duvidas deste dia.

Eu estou apaixonado por Jack Frost.

Simples assim, e é por isto que sentia-me mau por estar com Astrid em sua frente, pois não queria que ele deixasse de ficar ao meu lado graças a ela. Não queria que ele pensasse que estou com alguém, pois é com ele que quero ficar, com Jack. Não o queria por perto pois não conseguia admitir que estou apaixonado.

Por alguma razão, enquanto nos beijávamos, tinha a impressão estranha de que a lua brilhava mais sobre nós naquele momento.