Eu estou apaixonado por Jack Frost.

Simples assim, e é por isto que sentia-me mau por estar com Astrid em sua frente, pois não queria que ele deixasse de ficar ao meu lado graças a ela. Não queria que ele pensasse que estou com alguém, pois é com ele que quero ficar, com Jack. Não o queria por perto pois não conseguia admitir que estou apaixonado.

Por alguma razão, enquanto nos beijávamos, tinha a impressão estranha de que a lua brilhava mais sobre nós naquele momento.

X x X

Por algum tempo, apenas ficamos próximos um do outro, encostamos nossas testas enquanto eu recuperava o ar após o beijo demorado, o que não parecia ser um problema para Jack. Ele já não chorava mais, estava sorrindo acariciando meu rosto. No entanto, ainda podia ver um pouco de tristeza em seus olhos que agora estavam apenas lacrimejados sem mais lágrimas.

Seus olhos azuis brilhavam ainda mais com o reflexo da luz da lua. Naquela hora, a lua parecia brilhar ainda mais, como se quisesse dizer algo. Jack pareceu pensar o mesmo que eu e virou seu rosto em direção à lua cheia. Nunca pensei que podia vê-lo ainda mais bonito, mas ele estava, com o brilho prateado da lua em seu rosto. Ele sorria, pensando em algo que talvez eu não entendesse.

– Eu não vou esquecer-me de você Jack.

Jack voltou a olhar para mim.

– Muito menos deixa-lo de lado. Eu só... Estava confuso. – Jack prestava atenção em que eu falava, olhando-me com ternura. Era tão bom ter seu olhar gentil novamente, não havia raiva mais, o pequeno resquício de tristeza que ainda restava sumia aos poucos. – Apenas, seja paciente comigo, por favor.

– Eu vou ser.

Jack beijou minha testa e, pela primeira vez no dia, senti que tudo estava bem.

– Jack...

– Sim?

Pensei novamente no que iria falar, arrependendo-se de ter aberto a boca. Eu realmente tinha que estragar um momento que parecia tão bom entre nós?

– Você... Você falou sobre outra pessoa que o esqueceu... – Jack desviou seu olhar e o arrependimento já começou a tomar-me – E-esta pessoa via você? Ham, não precisa responder, desculpe, vou ficar quieto e...

Jack segurou minha mão com delicadeza começando a andar guiando-me pelo telhado, era desconfortável por que às vezes Jack parecia esquecer que não sou tão incrível quanto ele, manter-me de pé sobre a neve é algo extremamente complicado para mim. Andamos até a chaminé, para a minha surpresa, sem tropeços. Jack ajudou-me a sentar apoiando minhas costas na pedra fria então sentou ao meu lado. Estremeci novamente com o frio, o vento havia diminuído um pouco, mas continuava congelante. Queria que Jack me abraça-se para que o frio se fosse, mas não podia esquecer que Jack é a própria neve, provavelmente, em algumas horas eu ficaria completamente congelado.

Enquanto estava imerso a meus devaneios sobre o inverno, Jack olhava para suas próprias mãos parecendo pensar em como me contaria, ou, mais provavelmente, em como me mandaria calar a boca.

– Ele me via... Mas, faz muito tempo...

O ouvia atentamente enquanto Jack observava a neve sobre o telhado sorrindo parecendo constrangido, algo completamente raro considerando sua personalidade mais do que extrovertida.

– Sim, era um garoto. Na verdade ele... – e se calou novamente, ficando em silencio por um tempo pensando no que diria. – Ele era parecido com você. Tinha olhos verdes, pele clara, muitas sardas... No entanto, suas mãos estavam sempre ásperas graças ao trabalho na oficina.

– Oficina? Ele já trabalhava? Tipo, era um adulto?

Perguntei surpreso enquanto o escutava, um adulto via Jack? Er, não conseguia imagina-lo namorando um cara mais velho, Jack seria como a garota na relação e...

– Hahaha! Não!

– Ah...

Murmurei corando.

– Ele era aprendiz em uma oficina, mas na verdade o que gostava mesmo era criar suas próprias invenções.

– Certo...

Olhei para o chão quieto, realmente, eu não sei quando calar a boca. Jack riu outra vez então voltou a falar.

– Sabe, agora tudo é muito simples, um celular tem a função de cartas, radio, TV... Uma geladeira tem a função de um poço fornecendo agua facilmente, de um freezer... Mas naquela época, qualquer ajuda era bem vinda, então ele sempre tentava criar coisas que facilitariam a vida das pessoas.

– Ham... Que ano é isto? 1900?

Outra vez, recebi gargalhadas de Jack.

– No mínimo 300 anos atrás!

– A-ah... Agora pare de rir de mim!

Jack sorriu para mim.

– Esta bem mau humoradinho, vou parar.

– Bom mesmo.

Falei determinado ignorando minhas bochechas ficarem ainda mais quentes.

Trezentos anos? Nunca imaginei que Jack já vivera tanto tempo. Senti meu peito apertar-se só de imagina-lo sozinho, sem ninguém para conversar, sem algum familiar ou algum amigo para entretê-lo, e, principalmente, sem carinho algum, sem qualquer toque de mãos, sem qualquer abraço carinhoso quando sentia-se sozinho... Um pouco de culpa se estalou em mim, eu devia ter conversado com Jack quando ele chamara minha atenção, imagine o quanto necessitava relacionar-se com alguém. Principalmente, senti culpa por não tê-lo abraçado outras vezes.

– Mas, foi antes de eu virar... Jack Frost...

– Antes?

– É, eu não fui sempre... – Jack olhou para suas próprias mãos, pálidas, gélidas e sem vida. – Assim...

Calei-me o olhando, então coloquei minhas mãos por cima das mãos frias de Jack. Ele olhou-me com um sorriso fraco que prontamente retribui. Jack olhou para a neve sobre o telhado voltando a contar-me sua história.

– Eu tinha uma família! Bem, meu pai não convivia comigo mais, acho que foi para a guerra, de qual quer modo, eu tinha uma mãe e uma irmãzinha mais nova.

Falava sorrindo melancólico e nostálgico. Sorri também, mesmo que sua imagem parecesse-me triste.

– Vivíamos em uma aldeia pequena como camponeses. E eu... Eu era completamente normal, não havia nenhum problema em mim. Eu era apenas um garoto de cabelos e olhos castanhos que sempre conversava e brincava com todos que encontrava.

– Jack... Você não tem nenhum problema...

Falei acariciando a mão de Jack, detesto que ele pense desta forma. Jack provavelmente é o ser mais incrível que já conheci e jamais conhecerei em minha vida, por que tem que considerar-se um erro da natureza?

– Tenho... Problemas são ignorados e evitadas, assim como eu.

Queria dizer algo para consolar-lhe, mas não conseguia pensar em nada, meu coração doía ao saber que ele pensava deste modo.

– Eu podia conviver com todo mundo e foi assim que o conheci, o garoto de cabelo castanho. Era a pessoa mais desajeitada e meiga que eu já havia conhecido. Ele era lindo, inteligente cheio de grandes ideias que muitas vezes não sabia como por em prática.

Não consegui não incomodar-me com isto. Ele era mais bonito e mais inteligente que eu? Ergh, vamos Hiccup, desta vez, não fará mais perguntas idiotas.

– Mas... Um dia eu resolvi que iria leva-lo para patinar comigo... Queria tanto não ter feito isto... – ele calou-se por um momento sussurrando a ultima frase até tomar coragem para voltar a falar.

– O gelo já estava derretendo, eu devia saber disto... Quando ele estava patinando, o gelo rachou-se e eu o salvei.

Tentei sorrir para consolar a Jack.

– Isto é incrível Jack, ele deve ter ficado muito grato a você.

– É... Mas eu morri após isto.

O olhei espantado e confuso, Jack suspirou levando seu olhar até mim.

– Quando o tirei da área onde o gelo estava fino, nem percebi que estava exatamente sobre ela. O gelo rompeu-se e minha vida foi sugada pela agua... Após isso, eu acordei sem recordar-me de nada. Não sabia de onde vinha ou quem eu era, o que fazia e por que estava sobre aquele lago congelado. Eu apenas sabia meu nome.

– Mas... Você falou que não se lembrava de nada...

– E não lembrava, foi a Fada que deixou que eu visse minha história.

– Fada? Ver? Não seria ler?

Perguntei completamente confuso. Jack sorriu e olhou para mim.

– É mesmo, eu não contei-lhe sobre eles. Sabe, eles existem, a Fada, o Noel, o Sandman e o Coelho que alias é bem irritante.

– E-existem? Hmpft, não brinque comigo Frost!

– Não estou! Sabe, a Fada iria adorar conhece-lo, acho que vou apresentar-lhe a ela um dia.

– Certo... Papai Noel, Fada e o Coelho são reais...

– E o Sandman!

Falou Jack sorrindo enquanto minha cabeça girava.

– E-e o Sandman... Certo... Quem é o Homem da Lua? Eu não conheço este mito.

Jack olhou-me por um minuto fazendo-me perceber o que dissera.

– Mito não! Folclore! Crença! – Jack ergueu uma sobrancelha escutando-me – Q-quero dizer...

– Eu entendi. De qual quer modo, vocês, humanos, não o conhecem.

Falou erguendo seu olhar para a lua cheia, o que fiz também tentando entender o que dissera.

– Ele... Fala?

– Não. Mais ou menos... Quando eu comecei a viver como Jack Frost, quando acordei pela primeira vez, ele disse-me meu nome e eu sabia que tudo estava bem... Ás vezes eu queria que falasse, eu poderia entender por que eu...

De repente Jack simplesmente calou-se interrompendo a própria frase.

– Você...?

– Nada.

Ergui a sobrancelha desconfiado.

– Jaack...

– O que?

– Você poderia entender o que?

– Nada

Levantei-me teimoso apontando para Jack.

– Conte!

– Sabe, você fica muito meigo quando esta bravo.

– Jack!

– Hiccup!

Estava andando até Jack para dar-lhe uma bronca quando meu desequilíbrio desastroso finalmente manifestou-se, deslizei na neve tão facilmente quanto os próprios flocos de neve. Fiquei tão desesperado que se quer consegui segurar-me na calha ou em alguma telha. Fechei meus olhos enquanto toda a minha vida passava por minha mente até que... Simplesmente parei de cair.

– Hic, você se machucou?!

– H-ãn?

Era a voz de Jack...? Jack morreu também...? Abri lentamente meus olhos, temendo qual quer que seja a vida... Ou morte... Que teria após parar de respirar.

– J-J-Jack?

– Sim?

– N-nós morremos?

– Não.

– C-certo...

Ergui um pouco meu olhar além de Jack. Via o céu escuro e pequeninos flocos brancos de neve descerem do céu negro da noite até mim.

– E-eu morri?

– Não!

Respondeu Jack rindo de mim. Olhei para os lados confuso, então para baixo, e, neste momento, quase senti meu coração parar de bater ao ver a altura que flutuávamos.

– AHH!

– Hic! C-Calma! –Jack tentou falar enquanto eu debatia-me desesperado abraçando-me ao pescoço de Jack.

– AHHHH! QUERO DESCER! QUERO DESCER!

– Hic! Para se não você vai cair! Argh, ESTA BEM, ESTA BEM, VAMOS DESCER, VAMOS DESCER, FIQUE CALMO, OK?

Tentei respirar segurando o blusão de Jack com todas as minhas forças escondendo meu rosto em seu peito. Não ousei se quer pensar em abrir meus olhos até sentir que Jack colocara-me sentado em minha cama.

– Hiccup? Não estávamos voando mais. Pode abrir os olhos...

Continuei abraçando Jack tomando coragem para abrir demoradamente meus olhos. Estávamos em meu quarto escuro de sempre, finalmente, não sentia mais aquele vento congelante. Olhei para Jack que me observava preocupado, estava ajoelhado em minha cama com um de seus braços em volta de minha cintura.

– Tudo bem...?

– S-sim...

Jack olhou-me de cima a baixo procurando algum ferimento.

– Jack. – respirei profundamente para recuperar o ar e conseguir falar com confiança – Estou bem. Não se preocupe

Falei colocando minha mão sobre o rosto de Jack para que me olhasse.

– Claro. Estou vendo pela sua palidez.

– Isto é o frio.

Falei como a primeira desculpa que pensei.

– Ah... Desculpe.

Ótimo. Acho que teria sido melhor falar que estava desmaiando.

– Deite, assim vai se esquentar.

Não discuti considerando que não sentia meus dedos ou a ponta de meu nariz. Desloquei-me para baixo dos cobertores enquanto Jack me tapava, era engraçado pensar se ele conseguia entender por que usávamos os cobertores. É meio triste imaginar que nunca poderíamos passar uma tarde de inverno juntos jogando videogame tapados por um cobertor quente... Sim, esta sempre fora minha visão de um encontro perfeito, no entanto Astrid nunca concordou muito... Céus, Astrid! Argh, não! Pensarei apenas amanha o que farei em relação a ela. Hoje será apenas Jack.

Após tapar-me até acima de meu nariz ergui meu olhar para Jack.

– Melhor?

– Hmrum!

– Consegue respirar ai?

– Claro.

– Certo, abaixo de seis cobertores consegue respirar, mas abaixo da neve não. Humanos...

– Ei, você já foi um também.

Jack deu de ombros.

Revirei os olhos, realmente, ele é impossível.

– Vai ficar bem se eu for embora?

– Vou... – respondi após ficar em silencio por alguns instantes.

Jack estava acariciando minha cabeça brincando com meu cabelo, acho que já me acostumei com seu toque frio...

– Mas não quero que vá embora.

Jack sorriu.

– Eu também não quero ir. Mas você tem aula amanhã, não é?

– Ah dane-se você Jack Frost.

Jack gargalhou outra vez. Ignorei-o revirando os olhos.

Ficamos conversando um bom tempo, sobre... Tudo. Perguntei para Jack onde mora e onde vive, mas ele me disse que não mora em lugar algum, apenas permanece em certas cidades por algum tempo durante o inverno, dormindo nas arvores e nos telhados, até mudar-se para o próximo estado ou o outono iniciar-se. Era triste imagina-lo sozinho, eu falei-lhe que podia dormir em minha casa, mas Jack disse que preferia ficar ao ar livre, ficar em uma casa por muito tempo fazia com que se sentisse preso. Então era a vez de Jack perguntar, ele queria saber sobre minha família. Não havia muito para contar, meu pai é chefe de uma empresa de importação e minha mãe advogada. Meu pai adora gabar-se sobre nossas origens vikings, temos alguns diários antiguíssimos de supostos netos de vikings da nossa família. Quando eu era criança meu pai adorava ler os diários para mim, às vezes ele passava horas lendo sozinho na sala a noite, agora, já não tem mais tempo para coisas deste gênero... De qual quer modo, meu nome fora inspirado em um dos vikings citados no diário, Hiccup Haddock II, assim tornei-me Hiccup Haddock III. Não conseguia entender por que Jack perguntara sobre minha família, não a nada de interessante nela...

Continuamos conversando por pelo menos mais duas horas e meia, até que eu percebi que estava lutando contra minhas pálpebras que pareciam mais pesadas do que nunca.

– Certo Hic, vá dormir agora.

– Não... Não estou com sono.

Jack ignorou-me levantando-se arrumando meu cobertor até meus ombros a qual eu já havia bagunçado enquanto conversávamos.

– Jack...

– Não comece. Eu sei que você precisa dormir, humanos tem que dormir no mínimo dez horas e você vai dormir a meia noite e meia, então vai dormir apenas...

– Precisamos dormir oito horas por dia Jack.

– Oito? Certo, então se você dormir agora...

– Já entendi. Pode parar.

– Só queria argumentar com dados.

– Certo...

Não consegui terminar de falar bocejando ruidosamente, Jack ria baixinho enquanto eu o repreendia fuzilando-o.

– Pare de agir como uma criança teimosa e vá dormir.

Queria discutir mais, no entanto meu sono não permitia. Acomodei-me na cama novamente puxando o cobertor até um pouco acima de meu nariz deixando apenas meus olhos para fora do cobertor para poder observar Jack.

– Você... Vai voltar amanha?

Perguntei receoso, era mais confortável perguntar algo assim sabendo que Jack não veria minhas bochechas rosadas.

– Você quer que eu volte?

O olhei feio enquanto Jack sorria travesso.

– Se continuar perguntando coisas assim, não.

Jack riu, então se aproximou beijando minha testa. Fechei meus olhos ao sentir seus lábios frios em minha pele quente. Deixei que suas mãos afastassem o cobertor de meu rosto e seus lábios tomassem os meus. Fora um beijo demorado de despedida, quase melancólico pelo jeito que nos separamos lamentando a falta do gosto um do outro. Jack sorriu para mim uma ultima vez, então, fora embora.

Não lembro-me de ter passado por alguma noite com mais reviravoltas que esta... Fechei meus olhos relembrando o que acontecera durante meu dia. Por fim, o sono tomou-me por completo e acabei adormecendo com a imagem de um sorriso brilhante de Jack Frost.