Years Of Love

Um Floco de Neve


Ele começou a andar até mim, eu quase pude abraça-lo, tinha certeza que ia conseguir o faze-lo. No entanto, ele simplesmente passou por mim. Como qual quer outro, atravessou meu corpo sem perceber nada verificando os cadernos em sua mochila. Jack Frost, o quão iludido e idiota você pode ser?

X x X

Sentei na janela apoiando meu cajado sobre meus ombros. Por que mesmo estava tão animado? Já devia ter me conformado com minha existência solitária, ninguém nunca me veria. Talvez o Homem da Lua só quisesse que eu soubesse por que virei um guardião. Apenas isto Jack, nada mais mudou.

– Hiccup! Já esta acordado?!

Ei! É Stoico! Haha, sua voz é igual a qual me lembro.

– Estou pai...

– Hiccup?!

– Pai eu já acordei!

Ri da expressão frustrada de Hiccup enquanto arrastava-se até o banheiro batendo a porta. Olhei para fora da janela, à lua já tinha sumido há algum tempo dando lugar ao sol que aos poucos aparecia. Queria poder entender o que esta acontecendo. Homem da lua, por que você deixou-me ver minhas memórias, sabendo que eu reconheceria Hiccup?

Hiccup descia a escada desanimado, parecia tão entediado. Flutuei até a janela da cozinha, havia uma mulher levantava-se de sua cadeira, maquiada com seu cabelo castanho preso a um coque elegante. Quem é ela...? Não me lembro dela...

– Mãe? Você ainda esta em casa?

Mãe?! Mas... Pelo que eu me lembro, a mãe de Hiccup faleceu quando ele era menor... Seu nome era... Valhallarama? Como ela... Ah, vamos Jack, estamos em outro século, não são as mesmas pessoas.

– Eu me atrasei um pouco hoje.

– Ah... Mãe, você...

Ela beijou a testa de Hiccup, interrompendo sua fala.

– Tenho que ir querido, tenha uma boa aula.

Falou andando rapidamente até a porta com os saltos finos ecoando pela casa enorme. Hiccup a observou sair, eu queria poder entender seu olhar. Como antes, ele parecia vazio. Detesto ver como as famílias funcionam hoje em dia, os pais nunca ficam em casa, e quando ficam, preferem trabalhar a ficar com seus filhos. Pelo jeito, Hiccup deve viver deste modo, pois não me parecia surpreso por ela o deixar sozinho na cozinha.

Stoico apareceu poucos minutos depois, colocando um casaco pesado de inverno.

– Nem acredito que cancelaram a conferencia de hoje! Ei filho, quer uma carona?

– Ah... Não precisa não pai. Meus amigos já estão vindo para cá para irmos juntos a escola.

– Oh... Se prefere ir congelando na neve com seus amigos do que confortável em um carro com seu pai...

Hmpft, como se a neve fosse ruim velhote.

– N-não, não quis dizer isso! É só que... Nós combinamos, eles ficarão bravos se eu os mandar dar a voltar.

– Tudo bem Hiccup, só estou brincando.

Falou Stoico rindo, nunca o vi rir em minha outra vida.

Ouvi palmas do lado de fora da casa. Hiccup levantou-se rapidamente colocando um casaco pesado de inverno e sua mochila sobre os ombros.

– Hiccup, feche seu casaco.

– Não precisa pai.

Falou enquanto abria a porta, foi recebido por um coro composto por um casal de gêmeos loiros, um garoto gordo loiro e uma garota loira gritando um oi seguido por reclamações como '' estava demorando demais '', '' vamos logo seu lerdo'' e '' só por que mora mais perto não tem direito de dormir mais ''.

– Já estou indo! – resmungou saindo de dentro de casa.

– Hiccup!

Chamou Stoico outra vez, o que fez Hiccup parar de andar e olhar para ele.

– Sim, pai?

– Feche o casaco.

Hiccup bufou insultado.

– Pai eu não sou criança!

– Hmrum, agora feche o casaco se não Jack Frost vai congelar o seu nariz.

Sorri satisfeito.

– Hmpft, ele é só um mito para crianças.

– UM MITO?! NÃO SOU UM MITO! Seu pirralho... – bufei irritado, na mesma hora bati o cajado no chão fazendo com que ao primeiro passo Hiccup caísse de cara na neve.

– Hmrum, agora estamos empatados!

Na verdade acho que nem precisava fazer isto que ele já cairia na neve por si só.

– Oh, Hiccup!

A garota loira correu depressa até ele ajudando-o a se levantar sem parecer muito delicada, na verdade, acho que com um empurrão ela poderia quebra-lo.

– Você esta bem?

– E-estou... Não sei no que tropecei...

– Oh, pobrezinho – disse a loira rindo beijando sua bochecha.

– Er... Astrid, não faça isso aqui...

– Oras não seja tímido Hiccup! Seu pai sabe que namoramos!

Namoram...?! Sentei sobre o muro os observando. Ele não lembra mesmo de mim... Sentia meu coração se despedaçar aos poucos. Por que mesmo resolvi ficar aqui? Respirei pesadamente.

Não tenho por que ficar com ciúmes e muito menos decepcionado por isto. Não é o mesmo Hiccup, ele não me conhece, não me vê e se quer acredita em mim.

Hiccup olhou constrangido para Stoico que sorria em frente à porta mexendo a cabeça positivamente concordando com Astrid.

– Hmrum.

– C-certo... Então... Nós já estamos indo.

– Usem os casacos heim! Lembrem-se...

– Jack Frost. Nós sabemos pai. – Hiccup respondeu entediado andando ao lado de Astrid para fora do pátio.

– Jack Frost? Ele é só um mito idio... Ahh!

– Astrid?

Astrid passava suas mãos por seu cabelo tentando limpar a neve.

– HAHAHAHAHA! – gargalhavam alto os gêmeos, sorri para eles. Já estou gostando destes dois.

O garoto gorducho ria baixinho enquanto Hiccup tentava não rir colocando sua mão sobre a boca.

– Quem fez isso?! – Astrid olhou furiosa para os três.

Os gêmeos ergueram as mãos como se tivessem sido repreendidos por policiais.

– Desta vez não fomos nós.

Astrid olhou para o outro garoto que sorriu tímido.

– E-ei Astrid, sabe que eu não faço estas brincadeiras.

Astrid bufou irritadíssima com seu cabelo pingando a neve derretida.

– Ótimo.

Falou recomeçando a andar pisando com força como se o chão fosse o culpado. Os quatro que sobraram riram baixinho outra vez.

– Ei! Querem andar logo?!

Hiccup a olhou.

– J-já estamos indo!

– Bom mesmo. – falou como se fosse um general dando uma ordem, logo voltando a andar.

A gêmea loira fez uma careta começando a andar ao lado de seu irmão.

– Às vezes ela me assusta.

– Pode crer mana.

O garoto gordinho foi ao lado de Hiccup falando baixo.

– Ei Hiccup, sinceramente, como pode aguentar ela?

– Eu também gostaria de saber – falei colocando meu cajado sob meus ombros andando sobre o muro até os dois.

Hiccup ia responder, estava abrindo sua boca, no entanto Astrid gritou a frente.

– EU OUVI!

Os dois calaram-se se encolhendo, o garoto maior sorriu corado.

– F-foi uma brincadeira Astrid.

– Hmrum.

Suspirei enquanto os dois corriam para alcançar o resto do grupo. O que eu podia fazer? Ele não se lembra de mim e tem uma namorada, e eu apenas consigo parecer um tolo o observando e remoendo o passado...

Certo Jack Frost, relembraremos seu ultimo pensamento da ultima vez que viu Hiccup, ''... e eu apenas consigo parecer um tolo o observando e remoendo o passado''. Então por que mesmo esta sentado na janela do quarto dele?

Já deve ser onze horas da noite, ainda assim, ele não parecia ter sono, e apenas encarava a parede branca. Seus pais chegaram em torno das dez e meia, Hiccup já estava no quarto e eles apenas foram dormir sem desejar uma boa noite evitando fazer barulho pelo corredor. Talvez achassem que ele estava dormindo?

Não entendo qual o problema dele, o Hiccup que me lembro era tão sorridente e animado... Agora ele apenas parecia... Monótono...? Triste...?

Levantei-me da janela colocando minha mão sobre o vidro que aos poucos era tomado por uma camada de gelo. Logo se formou o desenho de um floco de neve perfeito. Hiccup ergueu seus olhos, percebendo a mudança na janela.Foi engraçado ver a sua expressão sentando-se tentando entender como aquilo aconteceu.

Movi meu cajado sobre o ar, um vento frio invadiu o quarto pela janela carregando flocos de neve que rodearam Hiccup. Um pouco dela passou por seu nariz, e, finalmente, ele sorriu e então começou a rir.

Sorri também. Detesto ver as pessoas tristes, provavelmente, esta é a função da neve e a minha função. Fazer as pessoas sorrirem.

– Esta bem melhor assim!

Mesmo que eu não possa conviver com Hiccup, ao menos ainda posso fazê-lo sorrir. Hic olhava a neve a sua volta divertindo-se com ela, até que...

– Jack Frost?