Mesmo que eu não possa conviver com Hiccup, ao menos ainda posso fazê-lo sorrir.

Hic olhava a neve a sua volta divertindo-se com ela, até que...

– Jack Frost?

X x X

– Jack Frost?

E, de repente. Ele falou.

Falou o meu nome.

Olhei para Hiccup, e ele… Estava olhando para a minha direção, estava olhando para mim. Tentei procurar algo além de mim que chamaria sua atenção, mas não havia nada, apenas eu.

– V-você... Você esta me vendo?

Hiccup continuava me olhando, extasiado. Então moveu a cabeça afirmativamente.

– S-sim...

Sorri sem acreditar. Ele me via! Hiccup me via!

Comecei a rir, não conseguia parar de rir, que sensação incrível! Alguém me via! Após tantos anos, alguém estava realmente me vendo, estava me ouvindo! Alguém estava acreditando em mim após tantos anos! E era Hiccup!

Saltei para cima da cômoda, na verdade, acho que flutuei. Pouco me importava com este ato, no entanto, Hiccup levantou-se da cama quase caindo ao chão tropeçando nos cobertores sem acreditar no que via.

– C-como... Q-quem é você...?

Abri os braços sorrindo.

– Jack Frost! Você mesmo falou meu nome!

Eu só podia estar sonhado. Era a única explicação. Não é possível...

Mas ele estava ali. Jack Frost. De pé sobre a cômoda do meu quarto, com um sorriso enorme no rosto.

E ele era lindo.

Seu cabelo platinado tinha a cor do gelo, reluzia no escuro. Seus olhos tão azuis quanto o oceano brilhavam em meu quarto sem luz. Tinha um sorriso tão doce, parecia tão inocente e gentil.

Não sei quanto tempo o observei, mas acho que o suficiente para parecer um idiota. Jack se moveu um pouco, acho que ele tem motivo para estar desconfortável, mas ainda sorria. Desviei meu olhar para o chão, então o olhei rapidamente outra vez, para ter certeza que ele continuava ali.

– Como você... É inacreditável.

O sorriso de Jack desapareceu instantaneamente.

– Não! Não! Não pense assim!

Encolhi-me um pouco por sua voz se tornar alta. Jack suspirou se acalmando, então se abaixou quase ficando da minha altura.

– Por favor Hiccup, não pense que sou inacreditável, esta bem? Se pensar assim, eu vou desaparecer.

– Não quero que desapareça... – falei quase involuntariamente.

Jack sorriu como antes.

– Ótimo.

Sorri para ele também, ou tentei sorrir. Na verdade, acho que devo ter feito uma careta estranha.

Andei lentamente até ele. Tinha medo que desaparecesse, tinha medo que acordasse em minha cama e ele sumisse. Mas Jack apenas acompanhou meus passos com os olhos. Estava a sua frente. Podia sentir sua respiração gélida. Só estando próximo deste modo, já começava a sentir frio. Afinal, ele é a neve.

Ergui minha mão. Relutante, próximo ao rosto de Jack, queria tanto toca-lo, a cor e o brilho de sua pele me encantava. E... Talvez sentir sua pele, confirmasse a sua existência para mim mesmo calando o meu ceticismo.

Olhei para ele, como se pedisse autorização. E Jack apenas concordou com a cabeça. Ele estava tão incrédulo quando eu o vi. Acho que... Ele também queria que eu o tocasse, se eu o ver fora algo tão surpreendente, não acho que ele deva sentir sempre o toque humano.

Aproximei mais minha mão, quando as pontas de meus dedos tocaram sua pele, foi como um choque. Era tão gélida quanto gelo, na verdade mais gélida que o gelo. Fechei meus olhos e afastei minha mão. Então respirei pesadamente, e abri meus olhos outra vez. Jack me observava, então acompanhou com os olhos minha mão outra vez. Ele quase afastou seu rosto, mas então ficou imóvel. Finalmente, encostei minha mão em sua bochecha. Sua pele era gelada, muito gelada, mas não era tanto quanto a minha primeira impressão. Era possível de se tocar.

Não consegui evitar sorrir. E ele sorriu para mim também, eu acho que... Seus olhos pareciam molhados, lacrimejados. No entanto, não parecia ser tristeza. Ele parecia feliz.

Deixei minha mão subir até seu cabelo sedoso, era engraçado, era como tocar a neve, ainda assim, via os fios de seu cabelo macio entre os meus dedos. Não tinha percebido que Jack fechara seus olhos, o observei por um instante. Então ele abriu os olhos novamente.

Como se o seu olhar fosse um choque, percebi o que estava fazendo e me afastei constrangido. Jack apenas me olhava, não parecia me achar estranho. O que era um alívio.

– C-certo... – falei me virando começando a andar.

O que eu fiz mesmo? Por que fiz isso?

Respirei pesadamente recuperando o ar. Jack era algo sobrenatural, tenho direito de me encantar com ele. Não tenho?

Sentei em minha cama olhando para Jack.

– Você... Jack Frost. Por que veio aqui? Você faz nevar, não é? Então por que veio ao meu quarto?

Jack pareceu pensar um pouco sobre o que dizer.

– Hiccup... – falou finalmente – Para eu te contar, você vai ter que prometer uma coisa, esta bem?

Concordei com a cabeça, estava tão curioso que não me importava de ter de fazer uma promessa.

– Ótimo.

Ele sorriu outra vez.

– Você...

– Hiccup?! Com quem você esta falando?!

Outra vez, quase cai da cama ao ouvir a voz alta de meu pai.

Levantai-me apressado andando até a porta, não queria que ele entrasse no quarto, mesmo sabendo que ele não veria Jack... Acho que ainda assim quero esconde-lo.

–H-hã? O c-celular tocou. A Astrid ligou.

– Sei... Agora desligue o celular e vai dormir filho, tá bom?

– Tá pai.

Ouvi seus passos se afastarem da porta. Suspirei aliviado, acho que fiz outra careta boba.

– Pronto. Ele já foi.

Olhei para Jack e...

Nada. Apenas a janela aberta ventando.

Olhei em volta procurando por Frost.

Corri para a janela procurando Jack com o olhar, olhei para os prédios, para o céu, para a neve...

Não é possível. Será que eu... Eu imaginei tudo... Só pode ser, afinal...

Um pouco de neve passou por meu nariz, e outra vez, comecei a rir.

Jack