Years Of Love

A Nossa História


– Eu... Eu quero falar sobre a nossa história.

– Nossa história...?

– É. A nossa história de daqui alguns dias e a nossa história de trezentos anos atrás.

XxX

Ergui as sobrancelhas sem entender o que Hiccup queria dizer. Trezentos anos atrás...? Meu peito apertou-se enquanto minha mente formulava a terrível hipótese de que talvez Hiccup não quisesse namorar com alguém que esta vivo há tanto tempo, portanto, quer que tudo se acabe. Tentei disfarçar meu pavor tomando coragem para falar.

– Sim...?

Minha voz saíra rouca e bizarra, graças a minha incapacidade de lidar com problemas (ou futuros problemas). De qual quer modo, Hiccup não pareceu notar minha fraqueza continuando a falar, parecendo tentar escolher bem as palavras.

– Antes mesmo de acreditar em você, de conversar com você, acho que eu já o conhecia... Poucas semanas antes de ver você de verdade eu já conhecia seu rosto. – ele olhou para o lado mexendo nervosamente em um fio solto do cobertor – Eu o achei tão familiar, mas não sabia de onde o conhecia... Nos meus sonhos eu interagia com um garoto muito parecido com você, porém ele tinha olhos e cabelos castanhos. Eu nunca lembrava de todo o sonho, e as poucas coisas que lembrava sempre estavam borradas e confusas. Mas quando eu percebi, percebi que realmente era você após ouvir a sua história, tudo pareceu mais claro. Foi... Foi como lembrar do passado. Eu acho que... Que... Aquele cara que você conheceu, era eu ou minha outra encarnação...

Aos poucos tentei compreender o que Hiccup falava.

– Você... Se lembra...?

– Sim.

Pensei na possibilidade de ser uma brincadeira cruel de Hiccup, mas, como de costume, ele me surpreendeu.

– Eu lembro. Lembro de quando conheci você em um inverno terrível, onde me deu um dragãozinho de madeira. Lembro de quando você conheceu meu pai e que em seguida levou um soco por isto. Lembro de sua mãe ser agradável comigo, lembro que costumávamos nos encontrar na floresta, lembro que você sempre tentava me convencer a patinar...

Sorri encantado ouvindo Hiccup falar. Ele realmente... Ele realmente se lembra. Não tenho ideia de como e acho que nem preciso saber, o importante é que... É ele. É meu garoto, meu pequeno, o mesmo de centenas de anos atrás.

– Lembro da sua irmãzinha, ela sempre estava sorrindo como você. Lembro também que você tinha muitas sardas por causa do trabalho na fazenda abaixo do sol forte, lembro que suas mãos eram ásperas graças a isto também, lembro que...

Abri meus braços abraçando Hiccup com todas as minhas forças.

– J-Jack!

Resmungou esmagado, batendo de leve em minhas costas.

– C-certo... J-Jack... Eu não consigo respirar...

Comecei a rir soltando Hiccup. Ele recuperou o ar fazendo uma careta engraçada, no instante seguinte seus olhos quase soltaram das orbitas olhando-me assustado e ao mesmo tempo preocupado.

– Jack! V-Você esta chorando?!

– Não, não estou não.

Falei ainda rindo passando uma mão por meus olhos, secando lágrimas impertinentes. Ah, acho que estou chorando mesmo, e ainda por cima estou rindo ao mesmo tempo...

– P-por que você esta chorando? Esta tudo bem? Jack?

Hiccup aproximou-se engatinhando até mim preocupado, acariciou meu rosto segurando uma de minhas mãos. Continuei rindo tentando evitar as lágrimas. Vai ser difícil tranquilizar Hiccup neste estado... Ahh, como posso explicar a ele? Como posso explicar a ele o quanto eu estou feliz? De algum jeito, de algum modo, vencendo uma batalha contra o tempo, eu sei que Hiccup sempre me amou, mesmo quando eu o deixei há décadas atrás.

– E-estou bem, estou bem, não se preocupe.

Sorri para Hiccup que ainda me olhava com preocupação tentando limpar minhas lágrimas.

– Eu fiz alguma coisa?

– Não, não. Você não fez nada pequeno, esta tudo bem... – beijei a mão de Hiccup que continuava a me observar com um olhar aflito – Vem, você vai congelar assim.

O guiei de volta para baixo dos cobertores. O que não necessitou muito esforço, ele realmente devia estar com frio, pois rapidamente acomodou-se abaixo das cobertas. Quase tive vontade de fazer a neve diminuir para ele. Hiccup continuava agarrado em meu braço, olhando-me com um olhar pedinte, logo entendi qual era seu objetivo. Ele realmente queria que eu deitasse abaixo das cobertas com ele. Ah Hiccup, é bom que perceba o grande ato de paixão que estou prestes a realizar por você. Respirei pesadamente então tentei me acomodar ao lado de Hiccup, abaixo daqueles cobertores terrivelmente pesados e quentes. Não entendo como humanos podem preferir isto que ao frio, é tão mais livre, já isto... É como colocar um peso em minhas pernas e meus braços. Ele pareceu satisfeito com este fato abraçando-se á minha cintura.

– Por que esta chorando...?

Perguntou outra vez com seus brilhantes olhinhos castanhos. Acho que finalmente consegui fazer as lágrimas pararem, apesar de ainda sentir meus olhos lacrimejados.

– Por nada... Eu só... Só estou feliz, muito feliz.

Expliquei fazendo um carinhoso cafuné nos cabelos sedosos de Hiccup que sorria para mim.

– Esta?

– Estou.

– Ah! Astrid terminou comigo também!

Era cômico ver sua alegria ao anunciar isto.

– Quero dizer... Eu ia terminar com ela, mas então ela apareceu e terminou comigo.

– Sei...

Hiccup continuava sorrindo satisfeito.

– Você falou sobre Astrid, aquela noite, sobre eu o trocar por ela. Agora não a mais Astrid! De agora em diante, será apenas nós dois e esta será a nossa história, nós dois, juntos!

Ele realmente ia me fazer chorar outra vez. Novamente senti meu peito apertar-se ao ouvi-lo, ele realmente fez isto, ele ia terminar com ela o mais rápido que pode por... Por minha causa, por que eu reclamei dela para ele...

Sorri também, abraçando a cintura de Hiccup encostando meu queixo sobre sua testa.

– Ah baixinho... Eu te amo tanto...

Pela primeira vez, Hiccup não reclamou de eu tê-lo chamado de baixinho, aconchegando-se em meu peito murmurando um '' Eu também te amo '' sufocado já que seu rosto estava apertado contra o meu moletom.

. o .

Fazia algumas horas que Hiccup e Jack haviam ido embora, eu estava organizando as ultimas coisas que precisava para poder, finalmente, tirar um breve cochilo. Como uma guardiã, não preciso realmente dormir, quero dizer, não tanto tempo quanto os humanos, mas dormir por algumas poucas horas me deixa muito mais disposta e relaxada. Despedi-me das fadinhas andando calmamente, apenas neste dia conheci Hiccup e finalmente pude falar com ele, organizei a grande maioria dos dentes novos e ainda consegui um canino perfeito! Sentia-me completamente satisfeita com o que realizara. Bocejei cansada, estava pronta para aninhar-me e cochilar quando senti um fraco raio de luz extremamente incomodativo passar por meu olho esquerdo.

– Não pode ser...

Virei-me olhando para o céu. Uma majestosa e única mistura de cores dançava por ele. Acho que os humanos a chamam de aurora-boreal, já nós guardiões a conhecemos como '' Noel tem algo a dizer , e provavelmente é algo extremamente importante e preocupante ''.