Wyrda

Wyrda, a espada.


O coração da jovem cavaleira saltou do peito quando seu irmão pulou em sua frente gritando "boo", o que fez a cavaleira cair sentada no terceiro degrau da escada.
– Cavaleira, você é muito distraída, não espera por nenhuma emboscada, Cavaleiros de dragão nunca estão seguros! E se estivéssemos sob ataque? - O garoto bonito sentado na ponta da mesa deu uma pequena risada e ousou se levantar, apenas para estender a mão para a garota, quando a mesma estava prestes a tocá-la, o mesmo a retirou dando um curto passo para trás. - E confia demais nas pessoas.

Com raiva, e as bochechas visivelmente coradas, a garota rapidamente passou a perna direita pelos pés do garoto bonito, no intuito de fazê-lo cair, E conseguiu, o garoto a fitou atordoado enquanto a mesma passava por ele, sentando-se na cadeira ao lado da de seu pai.
– E o senhor se acha demais. - Com um sorriso orgulhoso a menina apoiou os cotovelos na mesa, e a cabeça nas mãos ouvindo uma gargalhada orgulhosa do pai, Rovell.
– Ela te pegou de jeito, não é Knabben? - Riu George estendendo a mão para o garoto.
– Engraçadinha e orgulhosa, é, você tem futuro garota! - Knabben levantou-se com a ajuda de George e voltou a se sentar, mas desta vez ao lado da cavaleira que o fitou com um ar zombeteiro.
– E quem é você para me dizer se eu tenho futuro ou não?! - A garota agora o fitava com malicia nos olhos, estava gostando de brincar.
– Eu sou um elfo, e eu vou treinar a você e ao seu projeto de dragão! - O garota ergueu a voz sorrindo maroto. Oh, merda, ele havia ganhado aquela.

Não, não havia, Marfhir mordeu sua canela, fazendo com que todos presentes ali rissem enquanto Milena tentava acalmar o dragão.
– Depois eu sou a distraída, Knabben?! Conte-me outra! Aliás, Marfhir parece não gostar de você!

Após todos se sentarem para comer, curtas discussões entre Knabben e Milena ocorreram.
– Se este maldito elfo não se calar por um segundo, acredito que sentar-me na mesa nas horas das refeições será impossível! - Gritava Milena, angustiada com alguns dos comentários do mesmo sobre seus comportamentos.
– Me pergunto como este dragão nasceu para uma garotinha tão irritante! - Retribuía Knabben com um tom de voz mais contido que o da garota.
– E eu me pergunto como pode haver um elfo tão deselegante! - Deixando a comida pela metade, Milena saiu da mesa, caminhando pesadamente em direção as escadas e depois as subiu com cautela, levando Marfhir consigo.
– Você deveria querer ser amigo dela! E não falar coisas assim, isso a magoou! - Disse George, quase que em um sussurro.
– Cavaleiros, meu jovem - Começou Knabben - são obrigados a trabalhar com gente insuportável muitas vezes, é bom que ela aprenda. Mesmo com todo este orgulho, mas vejo que se eu continuar com esta tática não vamos progredir, Lucian me mandou, George, mas, no final, ele acabará sendo o vilão da Cavaleira entre os elfos quando eu levá-la para Ellésmera daqui a dois meses.
– Ela só vai permanecer conosco por mais dois meses? - Rovell levantou-se rapidamente batendo as mãos sobre a mesa com força. - Não pode levar minha filha assim, ela acabou de chegar!
– Ela é uma cavaleira de dragão, e o senhor deveria reconhecer os deveres dela agora, e se afastar daqueles que mais ama, é algo que no momento, asseguro que seja necessário. Agora, se me dão licença, pretendo me desculpar com ela. - Gwen tocou a mão do marido quando Knabben terminava de falar e seguia silenciosamente em direção ao quarto da menina.
– É doloroso para todos nós - Disse a mulher, com os grandes olhos cheios de lágrimas.
– E ainda mais doloroso para ela que só agora soube o que é ter uma família completa. - disse George apertando as mãos contra o próprio rosto.

Knabben encontrou a cavaleira deitada sobre a cama com o dragão deitado ao seu lado. A cama não aguentaria-os muito mais, se o dragão crescesse apenas mais um centímetro, seriam obrigador os dois a dormir no chão.

Quando Knabben colocou o pé dentro do quarto Marfhir pulou da cama, mostrando os dentes afiados para o elfo que recuou, mas então entrou e rapidamente fechou a porta. Milena acordou com o solavanco da cama e se sentou colocando o cobertor grosso em frente ao corpo, havia acabado de se trocar para dormir, e a camisola de seda cor de rosa e curta mostrava muito mais do que uma dama deveria mostrar.
– Saia daqui! Se veio me perturbar até quando quero dormir, retire-se! Não suporto a você ou suas piadinhas! - A garota procurou ignorar a roupa que usava e se mostrar furiosa.
– Na verdade, vim apenas me desculpar pelo ocorrido. - Começou o elfo - na vida de um cavaleiro de dragão, vocês são obrigados a conviver com gente de péssimo comportamento que estão lá apenas para testá-la. Se hoje, você estivesse em um banquete com a rainha Islanzadí, certamente ela a reprovaria, mas, como era apenas eu, não tem muito problema, prometo perdoá-la se me perdoar, Milena-elda!

Milena concordou com a cabeça, ainda desconfortável, suas bochechas acabaram ficando mais vermelhas do que ela gostaria que ficassem.
– Ah, perdão por... Invadir seu quarto, gostaria de caminhar amanhã cedo por Teirm, se quiser me acompanhar, eu me sentiria honrado - Então, para fugir da formalidade, Knabben simplesmente sorriu com o canto dos lábios e caminhou até a porta. Antes de sair do quarto ele se virou e a analisou - Bela roupa de dormir!

Knabben fechou a porta um segundo antes de uma almofada azulada lhe atingir o rosto.

...

Milena acordou com uma insistente batida na porta a qual julgou não ser nada demais. Depois se arrependeu quando George adentrou o quarto e a sacudiu insistente.
– Eu gostaria de dormir até tarde hoje! - Milena reclamou enquanto coçava os olhos.
– Knabben insistiu em dizer que vocês haviam combinado de visitar a cidade juntos. - George sorriu e em seguida saiu do quarto.
– Malditos elfos! - Murmurou Milena enquanto colocava calças escuras e uma regata branca. Por cima um colete de couro e suas favoritas, as botas de caça. Não colocaria um vestido, não iria e nem queria parecer uma menininha. Os cabelos foram soltos e emaranhados, não teve a mínima vontade de penteá-los ou prendê-los.

George havia dito que o elfo a esperava no estábulo, e a mesma seguiu até o local animada, havia tempo que não visitava Felipe, seu garanhão e presente de Carlos.

Ao chegar lá correu até o garanhão, acarinhando-o.
– Belas roupas, Cavaleira. - Milena simplesmente pulou quando Knabben apareceu montado em uma égua cor de caramelo, seu pelo brilhava e sua crina estava trançada delicadamente.
– Bela égua, como se chama? - Perguntou a menina aproximando-se da mesma.
– Gyeld, um presente de meu pai. - Knabben sorriu docemente. - Ah, tive o cuidado de colocar uma cela em Felipe, ele está feliz em vê-la! Vamos, quero cavalgar!

Sem perder tempo Milena montou no cavalo e juntos, o elfo e a cavaleira saíram do terreno em dispara de direção a praia.

Milena podia sentir a sensação de liberdade, o vento forte batendo em seu rosto, os cabelos voando, e após algum tempo os olhos ardendo, nunca havia corrido tanto perto do mar. Knabben logo a alcançou.
– Vamos lá, Cavaleira, para fora dos portões, eu quero escapar um pouco da civilização! - Então o elfo estimulou a égua a ir ainda mais rápido para o norte, e a cavaleira o seguiu, logo, nenhum dos dois conseguia mais ver Teirm.

Tempo depois, ambos diminuíram o ritmo parando pouco depois, Knabben desmontou soltando a égua que logo desapareceu, Milena fez o mesmo, mas Felipe permaneceu ao seu lado.
– Ela gosta da liberdade. Vai voltar na hora certa, vamos caminhar um pouco. - O elfo estendeu a mão para a cavaleira e hesitante a mesma a aceitou. Juntos caminharam à beira mar. A água salgada molhava as botas da garota. Conversaram sobre muita coisa no caminho, a garota contou ao elfo sobre sua vida ao norte em Alagaësia, sobre seu irmão, suas angustias, sobre tudo, já o elfo, pouco mais reservado, deixou escapar alguns fatos sobre sua vida. O mesmo era cento e trinta anos mais velho que a garota, mas ainda assim, era jovem comparado aos outros elfos, e falou também sobre como foi acidental o fato de ele ter sido designado para buscá-la e treiná-la brevemente.
– Sabe usar uma espada? - Knabben então parou obrigando a cavaleira a parar também.
– Eu costumava treinar com... um amigo - Milena sentiu lágrimas se acumulando em seus olhos, Carlos fazia falta, ela gostaria que o mesmo pudesse estar ali naquele momento.
– Será que este amigo era bom? - O elfo sorriu - Também tenho um presente para você! O que é uma cavaleira de dragão, sem sua espada?

Do cinturão o garoto tirou uma espada, sua lâmina era transparente e fina, sobre ela, desenhos e algumas escrituras, certamente magia dos elfos. A empunhadura branca como a neve coberta de pedrinhas coloridas, e cada uma delas possuía um brilho sem igual. Sem saber como reagir a cavaleira simplesmente estendeu a destra, e ao tocar a espada, todo o seu corpo estremeceu, e um brilho muito forte cegou sua visão, mas logo este cessou, e em suas mãos pode ver que a lâmina antes transparente, agora era verde-água.
– Agora, a cavaleira tem sua espada - Knabben tocou o ombro da amiga que em seguida o abraçou.
– Destino... Wyrda, este será o nome da lâmina, porque foi por obra dele que veio para cá. Foi por obra dele que me tornei o que sou.

Antes do final da tarde Knabben ensinou alguns movimentos de espada, e Milena os aprendeu com facilidade, surpreendendo o elfo com suas habilidades, mesmo sendo tão jovem. Toda vez que milena investia ele acreditava ter mais dificuldade para se defender. Ela estava decorando o seu estilo de luta e logo, seria impossível combatê-la porque em sua defesa haviam falhas e ela logo as encontraria. Sem perder tempo, o elfo trapaceou, e a garota acabou perdendo o equilíbrio. Mas antes de cair no chão, Knabben largou a espada e passou os braços em volta da garota, não deixando que esta caísse. A fitou por alguns segundos, podia sentir sua respiração ofegante e o hálito doce, e então a puxou de volta e se afastou passando a destra pelos cabelos negros caídos sob seus olhos, puxando-os para cima.
– Se não nos apressarmos... Vamos ficar para fora. - Disse o garoto quando a égua Gyeld se aproximou lentamente. Ele montou na mesma e sem olhar para trás partiu deixando a cavaleira para trás por pouco tempo.

Knabben e Milena conseguiram chegar na hora. Antes de ir para casa resolveu visitar o amigo Matheus em sua casa contando ao garoto sobre seu dia. Naquela noite, voltou tarde para casa.