Wyrda

Fique curado.


Marfhir estava enorme, não poderia mais simplesmente escondê-lo em seu quarto para sempre, precisava arrumar alguma ideia decente. Ninguém poderia vê-lo.
– Oras, Milena, sua tonta, como pôde simplesmente deixar este detalhe passar? - Falava a menina enquanto caminhava pelo quarto.
– Isso é tão a sua cara! - Knabben então, como mágica adentrou o quarto, o elfo parecia ter adquirido tal mania. - Mas eu tenho solução!
– Não estou tão desesperada! - A garota respondeu, o clima pacifico havia passado. Parecia que o elfo tinha prazer em irritá-la.

Milena acabara batendo a porta na cara do rapaz. que gargalhou em seguida.
– Vamos pensar em algo, Marfhir, tenho certeza! - Disse a garota deitando-se na cama macia, o dragão então se enrolou ao seu lado e ambos fecharam os olhos.

"Carlos estava lá, deitado abaixo de uma macieira observando as nuvens como sempre faziam juntos nos fins de tarde.
– Carlos... - Disse a garota suavemente procurado tocar o rosto do mesmo, mas ela parecia feita de fumaça e sua destra atravessou o garoto.
– Isso e apenas um sonho, pequena! - Marfhir então pousou ao seu lado com a mesma postura orgulhosa de sempre,
– Parece tão real... - A garota agachou-se ao lado de Carlos, passando a destra suavemente pelos cabelos bagunçados do rapaz. - Sinto falta dele.
– Eu compartilho os mesmos sentimentos que você. - Disse o dragão simplesmente - É como se eu também sentisse falta dele.
– Quero vê-lo, antes de irmos à Ellésmera!
– Pode ser possível... - Então Marfhir abriu as asinhas e deu um grande e atrapalhado impulso, erguendo-se no céu até simplesmente desaparecer.

Milena aproximou a boca do ouvido direito do rapaz sussurrando simplesmente "Sinto tanto sua falta" antes de ouvir o som de madeira se rachando e em seguida ser simplesmente arrancada do tão agradável sonho."

A cama havia quebrado com o peso da cavaleira e do dragão. A garota levantou sentindo uma leve dor no pescoço e nas partes traseiras, Marfhir apenas se levantou e se espreguiçou como um gato.
Sinto muito, disse o dragão.
Está tudo bem, respondeu a garota sentando-se sobre a cama quebrada.

Com um estrondo a porta foi aberta e Knabben entrou empunhando um toco de lenha.
– O que houve? - Perguntou o mesmo, largando imediatamente a madeira e dirigindo-se para ajudar a cavaleira a se recompor.
– A cama simplesmente quebrou! - A garota levantou-se e caminhou até Marfhir, acariciando-lhe o topo da cabeça, tomando cuidado para não se machucar com os espinhos.
– Se tivesse me ouvido mais cedo... - Começou Knabben antes de ser interrompido.
– O que sugere então, oh, grande detentor da sabedoria élfica? - Perguntou a garota com um bocado de ironia na voz.
– Sugiro que levemos Marfhir para fora de Terim essa noite, e a partir de amanhã cedo, começaremos a treiná-la até que Marfhir possa voar!
– Certo, então, qual é o plano?

...

Naquela mesma noite, Milena só ouvia o som dos cascos de Felipe sob a rua da cidade, sua respiração e seus pensamentos. Marfhir exalava preocupação e insegurança como nunca antes.

O vento gelado da noite chicoteava os cabelos da jovem cavaleia com grande violência, o vestido branco de seda parecia apreciar a liberdade tanto quanto as tiras douradas que mantinham seus cabelos amarrados.

Virou a esquerda, quase caindo do garanhão, Em seguida direita e novamente esquerda, foi assim até chegar ao local marcado, certamente havia se atrasado, mas precisava confundir quem quer que a visse na rua. enrolado em um longo cobertor de couro preso nas costas de Felipe estava Marfhir, o qual soltava pequenos sinais de reprovação ao meio de transporte.
– Primeiro, eu jogo Marfhir para o outro lado, em seguida você! - O elfo se pôs a trabalhar, pegando o dragão enrolado no cobertor de couro procurando passá-lo por baixo dos altos muros de Teirm. Após algum esforço o elfo conseguiu, desenrolando o animal no mesmo instante. Marfhir se esticou e caminhou por alguns instantes, visivelmente aliviado. Em seguida Knabben passou para o outro lado novamente, fitando a garota com certa curiosidade no olhar.
– Qual é o problema? - Perguntou a garota estreitando os olhos escuros devido a precária iluminação do local.
– Nenhum por enquanto - Tais palavras foram ditas em tom tão baixo que Milena mesma duvidou tê-las ouvido. O elfo parecia querer fazer algo, mas o que quer que fosse desistiu de fazer e instruiu a garota a como passar pelo buraco abaixo do muro. Com algum esforço a cavaleira passou seguida pelo elfo que puxou consigo pedaços de couro, uma adaga e uma bolsa a qual, pelo cheiro estava cheia de carne.
– Precisamos nos afastar um pouco, venha! - O elfo agarrou a mão da companheira, guiando-a para perto das arvores, o dragão os seguiu atrapalhadamente, vez ou outra saltitando ou tropeçado em suas próprias patas.

A clareira iluminada apenas pela luz da lua foi escolhida como novo lar do dragão, juntos, Knabben e Milena construíram uma pequena moradia para animal, a qual o protegeria do frio. O céu estava se torando laranjado e indicando que o sol logo nasceria quando conseguiram finalmente terminar o pequeno esconderijo. Knabben espalhou carne e tomou alguma distancia enquanto a cavaleira despedia-se do dragão prometendo voltar a vê-lo todos os dias.
– Acho que é hora de voltarmos - Sussurrou a garota, deixando a voz morrer lentamente, estava tão cansada que poderia dormir o dia inteiro.
– Não, eu quero lhe mostrar algo!- Mais uma vez o elfo agarrou a mão da companheira, caminhou calmamente por entre as árvores e quando uma brisa úmida tocou o rosto de Milena ela pode notar que ele a estava levando para perto do mar.

Aquele som das ondas era agradável, o vento úmido e gelado o qual faz seus olhos arderem também parecia alegrá-la naquele momento.
– Eu gosto do mar. - Comentou Milena sentando-se sobre a areia. Knabben acabou fazendo o mesmo.
– Ele possui uma beleza incomparável. - O elfo então fixou os olhos na garota que acabara de apoiar a cabeça em um seus ombros, o mesmo então levou a destra aos cabelos desta, acariciando-os.

Durante algum tempo, apenas o que se pode ouvir foram os pássaros acordando e as ondas... Calmo, tudo tão calmo que fazia com que a cavaleira tivesse vontade de permanecer ali para sempre, longe de tudo. Logo a escuridão deu espaço a luz do sol que fixou-se no horizonte.
– Por que Carlos é tão importante? Por que sente tanta falta dele? - A voz de Knabben soava calma, mas a cavaleira poderia notar no olhar do mesmo certo desconforto.
– Eu o amo. - A garota conseguiu sentir as bochechas queimarem, mas não se importou e continuou: - Ele foi meu primeiro amigo depois de meu irmão, George, ele foi tudo, e agora, tenho certeza de que está noivo de uma bela e prendada moça, bem diferente de mim!

De repente uma enorme tristeza formou um nó na garganta de Milena, fazendo com que esta se encolhesse. Knabben retirou as mãos do cabelo pra então envolver os ombros da jovem em um gentil abraço.
– Se é diferente de você, suponho que ele esteja infeliz. - O elfo então sorriu tão docemente que por um segundo Milena acho que tal momento fosse parte de um sonho.
– Quem sabe... Mas agora, com Marfhir eu duvido que eu vá algum dia conseguir voltar a vê-lo. Eu me dei esperanças falsas. - Um lágrima solitária rolou do rosto da menina.
– Mas agora você tem a mim!
– É o que parece. - A garota então procurou levantar-se mas Knabben lhe agarrou o braço, puxando-a de volta para si por apenas alguns instantes até permitir que a mesma se levantasse, repetindo o ato.
– Amanhã volte aqui duas horas após o nascer do sol, vamos começar a treinar de verdade. Ah, cavaleira - Primeiro tudo o que a cavaleira viu foi o elfo a puxando com certa violencia, e a segundo os lábios do mesmo contra os seus. "Nojento", pesou Marfhir, compartilhando a mesma ideia que a cavaleira.

Quando o elfo a soltou a mesma agarrou Wyrda que até o momento estava presa em sua cintura e atacou Knabben com fúria o qual não perdeu tempo para sacar sua espada também.
– Quem lhe deu o direito?! - Perguntava a garota toda vez que investia contras o elfo que agora demonstrava certa dificuldade para se defender.
– Eu não preciso de direitos para beijar uma moça! - Respondia o elfo.

Mais uma serie de golpes os quais a cavaleira simplesmente improvisou, mas que foram bons o suficiente para causar um pequeno corte na bochecha de um elfo. Movimentos habilidosos, porém um tanto fracos, a menina sentiu sua defesa cair, mas o ódio era seu combustivel e logo, a espada de Knabben atingia um monte de areia há quase 500 metros de distância.
– Precisa de direitos para me beijar, eu não permiti! - A garota apontou a ponta da lâmina para o pescoço do elfo que parecia não ligar.
– Não preciso de permissão alguma para beijar quem... - Então o mesmo deixou a frase pairar no ar quando a cavaleira lhe fez um grande corte no peito e o mesmo caiu na areia fofinha.

Poucos segundos depois de a fúria passar a garota então notou que havia ferido o amigo gravemente. Rasgou do vestido uma grande tira limpando o ferimento de Knabben, mas apenas aquilo não era suficiente.
– Waíse heill - Sabia bem que não conseguia usar magia, mas precisava tentar. Ela juntou toda a sua foça, toda a sua raiva e amor ao garoto, todo o seu sentimento de culpa e todo o seu arrependimento que uma luz verde quente saiu de sua mão direita e em seguida, tudo o que a garota conseguiu ver foi uma forte luz branca embaralhando sua visão, e seus pensamentos fazendo a garota perder a consciência.

[ Carlos]

O garoto estava exausto, deitou-se na cama e tentou pregar os olhos, mas sua mente estava perturbada. Pensamentos não paravam de surgir na cabeça do garoto, mas não eram pensamentos quaisquer, eram sobre... Ela... Isso não havia começado naquela noite, mas sim quando viu a garota partir em direção ao horizonte, criando uma saudade desenfreada que não parava de crescer a todo instante que passava sem a mesma. Milena surgia em sua mente como um furacão, porém ficava ali, como uma maré calma, trazendo boas lembranças e trazendo esperanças e sonhos... Finalmente conseguiu pregar os olhos, mas nem isso era o suficiente para tira-la de sua mente... Sonhou com lembranças...

~~ O garoto estava no galpão, como de costume, tratando dos animais que sua família possuia. Era um garoto alto, um pouco forte devido ao trabalho pesado da fazenda. Seus olhos cinzas amavam analisar o ambiente ao seu redor, como se cada mínimo detalhe fosse uma enorme coisa para ser estudada. Seus loucos e bagunçados cabelos castanhos brilhavam quando os tímidos raios de Sol se entrometiam pela pequena abertura das janelas. Milena, sua... hum... Amiga, digamos assim, pela qual o garoto possuia uma "queda em segredo", apareceu na portão, olhando-o fixamente com os olhos cor de mel. Ela era naturalmente rosada, possuia bochechas grandes e vivia com o sorriso de criança que tanto atraia o garoto,
– Hey, Carlos! - Disse a mesma, com os cabelos loiros caindo pelo ombro direito e segurando sua pequena espada de madeira com a destra.
– O-oi... - Falou o garoto, tentando esconder a vergonha e manter os olhos fixos na garota.
–Ainda não acabou? Poxa, Cacá! A gente tinha combinado! -Disse ela cruzando os braços e inflando as bochechas com o ar, fazendo um biquinho forçado. Ele não resistia àquele jeitinho que só ela tinha...
– D-desculpe, acabo em alguns minutos... -Fez uma pequena pausa e então a fitou com os olhos acinzentados novamente.
– Q-quer me ajudar?

Despertou em um sobressalto, ouvindo uma de suas cabras balir de dor. Olhou rapidamente pela janela e viu um vulto preto cercando o rebanho, identificou imediatamente o que era, sabia que era loucura, mas não iria voltar àquela vida de roubos para sustentar a pobre família novamente. Trocou de roupa o mais rápido que pode, colocando a mais resistente que possuía e sacando sua espada. Desceu até a cozinha, ateou fogo em uma tocha, pegou um frasco com água benta, derramando-o na espada e foi enfrentar a noite. Estava com frio, pouca visão, tremendo de medo, mas deveria proteger seus queridos animais. Viu um vulto novamente no canto do olho, agitando a tocha para obter visão. O rosto era pálido como a neve, garras um tanto deformadas, porém afiadas e letais, olhos vermelhos, sedentos por sangue e presas avolumadas e a mostra, aquilo, de fato, era uma vampira. O garoto investiu contra a mesma, atacando pela direita, mas a maldita era rápida, desviou-se com facilidade e o atacou pela lateral, perfurando a pele do garoto e o fazendo sangrar. Aquilo fez a vampira urrar de prazer, dando-a mais sede por sangue. Ela atacou pela esquerda, mas o garoto foi rápido, desviando-se com um pulo e ficando a espada no braço da inimiga, cortando-o. Sentou-se de joelhos, arfando enquanto estancava o ferimento com a destra e lutava com a canhota, havia aproveitado o tempo que a vampira levou para superar a dor. Ela investiu novamente, desta vez tentando pular sobre o garoto. Ele desviou-se para a esquerda e observou a vampira cair no chão, sem ter o outro braço para se levantar. Caminhou até a adversária e com um golpe decapitou-a, pegando a cabeça e entrando na casa. Colocou o troféu em cima da mesa e deixou o corpo na neve, não queria ser perturbado novamente... Desabou na cama, mas desta vez, teve um sono sem sonhos.