Wyrda

Uma nova cavaleira.


O som dos cascos batendo, a agoniante distância, dois Urgals estavam em sua frente empunhando porretes feitos com grandes árvores.
"Milena...", pensou George, sua irmã tinha apenas quatorze anos, mas ele a havia metido em uma grande emboscada. O vilarejo não era mais seguro para que vivessem, roubar o ovo de dragão do rei Galbatorix foi a pior escolha que tomou.
Ao longe, o garoto já não podia ouvir os passos pesados dos Urgals, apenas gritos e mais gritos, cada vez mais perto, cada vez mais agoniante.

- George! George, você o viu? - Gritava Milena, correndo de um lado para o outro com uma mochila de couro presa as costas, ela fazia volume e parecia pesada, vestia uma calça comprida, suas melhores botas de caça, uma camiseta branca amarelada, na cintura uma adaga e uma saca cheia de moedas, os cabelos dourados voavam graciosamente enquanto a mesma corria.
- George trouxe a desgraça até nós, garota, suma daqui com seu maldito irmão! - Gritou Frederika segurando a filha mais nova no colo, agoniada enquanto muitos dos homens do vilarejo corriam para cercar os dois grandes Urgals.
- Não os encurralem, façam com que fujam! - Gritou a menina indignada, se as pessoas do vilarejo resolvessem ser menos ignorantes, e começassem a ler, certamente saberiam que não poderiam simplesmente matar dois Urgals com tochas!
Com os olhos varreu novamente o local, uma enorme confusão.

"Onde se meteu meu irmão? Onde está George?", pensava a menina enquanto corria, a mochila pesava, e muito. Saia que deveria fugir dali, se um Urgal descobrisse que ali dentro estava o que procuravam, o vilarejo estaria condenado.

- Milena! - Gritou uma vez, e em seguida outra, ela conhecia aquela voz...

- Carlos! - A menina virou-se na direção do amigo -único amigo- e então caminhou até o mesmo.

- Seu irmão está te esperando na estrada... Ele disse para não atrair olhares, e... Bem, este é seu presente de aniversário! - sorriu o menino apontando para o garanhão branco atrás de si, o animal que a garota viu nascer e crescer, seu nome era Felipe, e ele carregava uma sela improvisada sobre seu dorso com uma grande saca presa a ela. - Eu sei que vai partir...
- Eu juro que um dia voltarei, e juro que pagarei por Felipe! - Disse a menina, mesmo sabendo que acabaria não voltando.
- Não faça promessas as quais não poderá cumprir! - Disse o garoto abrindo os braços - Acho que isso é um Adeus!
- Não, isso é um até breve, e isso... - A garota levou os lábios aos do garoto rapidamente, retirando-os em seguida, sorriu suavemente e então o fitou com as bochechas rosadas - É a garantia de que eu vou voltar para você!
E então, sem esperar nenhuma resposta, abraçou o mesmo brevemente e o largou no instante seguinte. Carlos a ajudou a subir no garanhão, e então, a menina retirou a mochila das costas e de dentro dela, o ovo verde kentucky, segurou-o firme com a destra, e com a canhota as rédeas.
- Ei! estão procurando por isso, seus bobões?! - A garota sorriu quando os Urgals esqueceram-se simplesmente de seus opressores e correram em direção a ela, que logo colocou o ovo na mochila e cutucou com os pés a barriga de Felipe que correu em direção a entrada do vilarejo.
- George! Corre! Vamos, vamos, Urgals!- A garota riu, ao ver a cara assustada do irmão ao montar rapidamente no cavalo e disparar atrás dela.
- Adeus, minha velha vida... - A garota fitou a lua no céu azul enquanto ouvia os sons dos cascos e os longos passos dos Urgals.

...

- Eu nem acredito, eles não entraram na Espinha! - Disse a garota sorridente, enquanto caminhava em meio as árvores escuras acompanhada pelo irmão, a noite os cercava, mas nem um dos dois parecia ter algum problema com a escuridão.
- Aqui entram poucas pessoas! Faça silêncio, você sabe que aqui... Escute! - O garoto se aproximou do cavalo da irmã e desmontou. A garota fez o mesmo e amarrou Felipe na árvore mais próxima. Fimmy, a égua de George não parecia precisar ser amarrada, ela era muito mais corajosa que muitos homens, e era leal como nenhum outro animal.
- Isso são... Fadas? - Os olhos da garota brilharam. Sabia muito bem que nem sempre eram boas, eram vingativas e más, confundiam sua mente.
- Shiii! Não queremos que elas nos escutem! - Disse o garoto, então retirou de cima de Fimmy dois cobertores grossos, e os arrumou no chão. - Vai sentir saudades de casa?
- Talvez - Repsndeu a menina simplesmente tirando o ovo da mochila e o entregando ao irmão. - Está com fome?
- Não... Olha, sabe que agora não vamos conseguir tanto luxo ou conforto.
- Eu sei, mas, eu não preciso disso para viver, irmão, apenas de você e, alimento o suficiente para manter minhas energias. Nunca gostei de usar vestidos mesmo! Ou de...
- E Carlos? - Perguntou George simplesmente, Milena julgou que o irmão certamente saberia sobre ele.
- E Lohanna? - Perguntou a menina.
- Que bela comparação! Ela morreu para mim. - E Milena sabia o porquê. A mulher alta com cabelos cor de cobre o havia deixado, para casar-se com um homem mais rico e mais rude.
- Ela vai ter o tratamento que merece! - A garota sussurrou amaldiçoando-a por ferir o coração do irmão, e em seguida pousou a destra sob o ombro do mesmo - Olha, você tem apenas dezessete anos, existem muitas moças jovens e bonitas por ai!
- Você o beijou? - Perguntou George com um sorriso maroto nos lábios.
- Quem? - imediatamente a garota corou, não esperava pela pergunta do irmão, fora pega desprevenida.
- Carlos. Ahá! Você o beijou! Eu sabia! - E então o mesmo puxou a garota para seu colo, a fazendo cócegas.
- N-não é nada... disso! - Procurava dizer em meio as risadas abafadas.
- Vai, admite logo, vocês viviam juntos! - O garoto finalmente a largou, e cambaleando, Milena saiu do colo do irmão.
- Ok, ok, eu o beijei, mas e dai? Nós nunca mais vamos voltar, certo?
- Você deu falsas esperanças a ele...
- Não, ele será um bom homem, vai conseguir se casar com uma mulher maravilhosa, terá filhos e será muito mais rico do que qualquer rei! Eu dei falsas esperanças a mim mesma, mas esquece, vamos dormir, sim?
- Tudo bem. - George se deitou sob um dos cobertores e bateu ao seu lado duas vezes e Milena se deitou ali os cobrindo em seguida com o segundo cobertor. George agarrou o ovo e logo, os dois estavam dormindo.

...

Três dias haviam se passado, a floresta os cercava, Felipe cavalgava na frente, iam em direção a Narda, para de lá pegarem suprimentos.
- Irmã. - Chamou George - Eu quero te falar logo, para que tenha tempo de refletir sobre isso.

Milena o fitou curiosa, acenando positivamente com a cabeça, para que o mesmo continuasse.
- Espero que não se zangue, ou entristeça, o que tenho a dizer não é agradável - O garoto então tomou uma posição mais confortável sobre o dorso de Fimmy - Papai não está morto.
- O que? - Milena por um momento pensou que o mesmo estivesse apenas brincando, mas não, ele estava sendo sério, o conhecia o suficiente para saber disso. Agora, fitando-o com mais atenção arqueou as sobrancelhas, mas antes de que pudesse dizer algo, o ojvem simplesmente começou a falar:
- Olha, ele teve seus motivos, mas para isso eu vou precisar te explicar toda a história de Alagaësia, e isso, minha amada, está além do meu alcance, então, vou ser breve. Nosso pai tinha grandes problemas com o império, ele fazia parte dos rebeldes que lutam contra Galbatorix, os Varden, ele era um bravo guerreiro, mas agora, ele não passa de um comerciante em Teirm, e ontem, eu enviei à ele uma carta explicando nossa situação, a minha situação, e para te proteger, vou deixá-la com ele, e voltar para Farthen Dûr, o ovo que eu carrego, você sabe que é um filhote de dragão e também sabe que eu tentei fazer com que ele chocasse para mim, não funcionou, então, eu tenho de levar de volta, depois eu volto para buscá-la se quiser ficar, não haverá problemas, não hesitarei em perdoar o velho. Por nos abandonar, por ter nos procurado tão tarde, e por... Por exigir tanto de nós dois.

Quando ele terminou, a garota sentiu os olhos arder, por toda sua vida, achava que era uma simples orfã, vivendo com seu irmão mais velho, um jovem promissor, um talentoso comerciante desde que tinha apenas 5 anos. Obviamente teve alguma ajuda de todo o povo do pequeno vilarejo onde moravam, mas ele sempre sabia o que fazer para alimentá-los e dar uma vida um tanto luxuosa.
- O nome... - Disse a menina, e o irmão a olhou sem compreender - Qual é o nome dele? Qual é meu nome?
- Você é Milena Loreweaver, filha de Rovell Loreweaver e, sua mãe era Even, uma elfa, mas dela... Eu nunca tive noticia alguma!
- Ela... Deve ter seus motivos, George... Eu... Vamos cavalgar! - Era óbvio que a menina queria simplesmente chorar, a decepção era grande mas não queira deixar que o irmão a visse de tal forma, então, simplesmente cutucou a barriga de Felipe e disparou na frente, deixando que lágrimas se derramassem de seus olhos.

...
- Irmã, vou deixá-la aqui, certamente chamaremos muita atenção juntos, até porque você é uma criança, irei até Narda e comprarei o necessário. Você me espera aqui? - George acabava de prender o saco ceio de moedas em seu cinturão de couro, e agora, montava em Fimmy.
- Tudo bem, cuidarei do acampamento e do ovo! - Respondeu a menina, que agora, caminhava até o mesmo, com a intenção de beijar-lhe as bochechas. Mas era muito alto para que conseguisse então apenas sorriu e acenou.
- Volto em dois dias. - Disse o garoto simplesmente beijando o topo da cabeça da irmã. - Qualquer outro que não seja eu a aparecer aqui, mate-o! Não posso levá-la, tenho medo de que lá algo de ruim possa nos acontecer, e duas crianças viajando...

- Eu entendo - Interrompeu-lhe a garota afastando-se. -
Tome cuidado!

E então, Fimmy partiu, levando George para longe.
- Bem, somos apenas nós, Felipe! - A garota então sentou-se perto de uma árvore, agarrou um livro que guardava dentro da mochila e o leu por um longo tempo.

Quando a leitura tornou-se entediante, a garota levantou e abriu a mochila onde o ovo repousava, e por pura curiosidade o tocou, a casca era lisa e o verde era lindo, a garota então o tomou em mãos, parecia pouco mais pesado do que antes. Então... Ela ouviu um pequeno ruido, parecia ter saído de dentro do ovo.
- O que será isso? - Perguntou a si mesma, e então bateu na casca do ovo levemente ouvindo em seguida um barulho oco. Então uma pequena rachadura surgiu na casca - POR TODOS OS DEUSES! GEORGE VAI ME MATAR! EU QUEBREI O OVO, EU MATEI O DRAGÃO!

Já com os olhos cheios de lágrimas e desespero, ela passou a barra da blusa pelo ovo, rezando para que aquilo fosse apenas sujeira, sem resultado, colocou o ovo novamente na mochila. E agora, um pequeno rugido soou, e ela tinha certeza agora que vinha de dentro daquele ovo.
- Para mim? Você vai nascer para mim? - A garota se aproximou novamente da mochila, e quando foi ver, parte da casca do ovo havia caído. A garota tocou o ovo, e uma pequena cauda saiu de dentro deste, era verde-mar e com pequenos espinhos que não pereciam machucar. A garota arquejou e caiu sentada no chão duro. Uma pequena criaturinha com olhos verdes claros, um pequeno corpo verde-mar caminhava para fora da mochila em direção a garota. Seus olhos curiosos a examinavam enquanto ele procurava se equilibrar.
- Ah... Ah! AH! Não! Volte para o seu ovo! - A garota disse gentilmente, o dragão parou, tossiu, a fitou novamente e continuou a se aproximar. As pequenas garras deixavam marcas na areia. - V-você... Oras, venha cá! Vou colocá-lo dentro daquela mochila, George saberá o que fazer!

Milena então levantou-se e se aproximou do pequeno dragão que recuou assustado, a menina sorriu docemente e então levou a destra até sua cabeça, apenas para lhe fazer carinho, provar que era amiga, e ao tocar uma grande dor percorreu seu corpo, ela tocou a destra, e um simbolo prateado havia sido feito nesta, ela sentia uma dor como nunca havia sentido antes. A garota caiu sentada, apoiou-se sob uma árvore, mas nada pode fazer, a escuridão a envolvia sua visão e a última coisa que viu foi o pequeno dragão se enrolando ao seu lado.