O som do vento batendo nas folhas das árvores e algo molhado em suas bochechas fez com que Milena despertasse, sua destra ainda doía, quando a mesma lembrou-se do motivo, levantou num pulo rezando para que tudo aquilo não passasse de um sonho, mas a pequena criaturinha verde-mar estava enroscada a seu lado.
– Isso é mesmo real então... - Suspirou a menina acariciando o topo da cabeça do filhote, cuidando para não machucá-lo. - Como vamos explicar isso para George?
O filhote simplesmente observou a cavaleira com a mesma curiosidade anterior, e sua mente foi invadida com imagens e sentimentos. E de alguma forma, Milena sabia que aquilo vinha do novo amigo.
Inacreditável! - Disse a menina mentalmente,parecia fascinada com o fato de poder simplesmente deixar de lado a história e vivê-la. E mais uma onda de sentimentos a preencheram, ela podia sentir uma conexão com o filhote que não possuía nem mesmo com George.

A garota fitou o céu brevemente, estava escurecendo, e não tinha ideia de quanto tempo havia se passado. Preciso nos manter aquecidos! Quer me ajudar? E gentilmente tocou a mente do dragão com a sua e saiu em seguida caçando galhos curtos.

Quando voltou, com o pequeno dragão carregando orgulhosamente dois pequenos gravetos na boca, Milena os juntos e acendeu uma pequena fogueira, montando ao seu lado uma barraca improvisada. Está com fome? Peguntou a menina agarrando dois grandes pedaços de carne, sabia que George brigaria, mas não poderia deixar o dragão morrer de fome. Com os olhos brilhantes o pequenino abocanhou o primeiro, saboreando-o, era sua primeira refeição. A garota desistiu de seu pedaço de carne, jogando-o para o dragão, sua única saída foi comer pão, satisfeita, a garota se deitou, e ao seu lado o dragão, enroscando-se acima da barriga da garota.

Quando tudo o que podia ver era o fogo dançando sob as sombras, Milena se pegou conversando com o dragão, procurando ensinar-lhe palavras, mostrando-lhe imagens de suas poucas viagens, as palavras que aprendera nos livros, o passado e todos os conflitos que tivera durante a vida. A palma de sua mão direita manteve a cicatriz esquisita e prateada em tom vivo, a qual doía.

– Você é ridículo, George! - Ria Milena, enquanto o irmão fazia um ensopado.

– Eu? Oras, você quem nunca soube cortar estes legumes! - George respondeu fingindo indignação. Então, de repente um suave bater na porta de madeira interrompeu a discussão e dela surgiu uma moça alta e com cabelos cor de cobre, Lohanna, e ao seu lado um garotinho curioso da região. Milena jamais se esqueceria daqueles olhos cinzas amigáveis.

– Você conhece este livro? - Milena apontou para um livro fino de capa azulada com letras em dourado.

– Eu não sei ler! - Respondeu o garoto simplesmente.

– E gostaria de aprender? - Perguntou a menina.

– Tudo bem! - Agora, com entusiasmo, Milena tocou na mão do amigo, e o puxou para as confortáveis almofadas do sofá purpura, onde lhe ensinou tudo o que sabia. Ele era seu único amigo naquele vilarejo, ela o amava.

O dragão estava em frente a garota, de pé e mostrando os pequenos dentes brancos para o nada, por um tempo imaginou que não era nada até ouvir cascos de cavalo batendo contra o chão úmido da região e então, com medo de que isso pudesse colocar ela, o dragão e o irmão em perigo, apagou o fogo e colocou delicadamente o dragão dentro da bolsa do ovo, onde ele se remexeu inquieto enquanto ela empunhava a adaga na destra.

Por um instante só pode ouvir sua respiração, até uma sobra de um homem sobre um cavalo surgiu no horizonte, a menina correu para trás de uma árvore e esperou, esperou, e rezou para que este passasse reto, mas quando chegou perto o suficiente o cavalo parou, e ele desceu da sela, parecia ter algo grande nas costas e sobre a montaria. Passos calmos, silenciosos, porém firmes, ela reconheceu quem era, George, imediatamente largou a mochila e saltou sobre o irmão mais velho.
– Precisamos ir! Acho que alguns soldados podem desconfiar da minha demora! - Disse George com um sorriso. - Vamos desmontar o acampamento rápido!
– Tudo bem, sejamos rápidos! - Enquanto um apagava os rastros, o outro desmontava e guardava tudo, amarrando sobre os cavalos.
– Onde está o ovo, Milena? - Perguntou George, Milena sabia que ele gostava de carregá-lo, lhe dava mais segurança, mas ela não sabia o que falar! "O ovo de dragão que você tanto tentou fazer chocar, chocou, e eu sou a Cavaleira deste dragão! Hahaha! Não é incrível?" Não, ela precisava pensar!
– Então... Eu levo ele! Não tem problema! - Respondeu a menina com a voz trêmula.
– Você não o perdeu, perdeu? - George parecia aflito, e agradeceu por estarem no escuro, assim, não precisava ver a expressão furiosa dele.
– Não! Nunca! Eu sei como este ovo é importante, mas... Eu... Você deve estar cansado, não deve levar tanto peso! - Com uma resposta dessas, qualquer um poderia apontar que, Milena estava mentindo.
– O que aconteceu? - Perguntou George, se aproximando da irmã com cautela. - Milena?
– O ovo chocou, George! O... O d-dragão! E-ele nasceu para mim! Eu não queria mas... - Gaguejando a menina se jogou sobre o irmão, talvez ele estivesse furioso, talvez magoado, ou frustrado, mas ela não podia mudar o passado por mais breve que ele fosse, mas de repente, a mesma sentiu os pés fora do chão e os braços do irmão ao seu redor, apertando-a com força, aquela, com certeza era tudo o que ela menos esperava.
– Você? Como pode? Minha irmã mais nova é uma cavaleira de dragão! Onde está a Gëdway Ignasia? Deixe-me ver o dragão! Eu mal posso acreditar nisso, você... precisa do treinamento dos Elfos, terei de levá-la à Ellésmera para receber seu treinamento, minha querida! Os elfos não reagirão bem... Mas...
– Espere! - Disse a garota - Ele precisa crescer e aprender! Não quero que ele se envolva neste mundo de guerra! É tudo o que peço, não para mim, mas, para ele! Eu não me importo de treinar a luta, a velocidade ou seja lá o que for preciso, só deixe meu dragão ter uma infância!
– Vamos para Teirm! De lá enviarei uma carta para um amigo elfo... Eu sei que posso confiar nele, mesmo sendo um elfo, então, eu creio que o treinamento dele seja o inicio que precise! - George finalmente colocou a garota no chão, e, em silêncio, terminaram suas tarefas e montaram nos cavalos, seguiram para Terim, por um caminho mais longo, porém, mais seguro, não teriam o azar de esbarrar com nenhum soldado do império.

...

Mais de uma semana se passou, com um pouco de economia, George e Milena alimentavam o dragão como podiam. Não era o suficiente, mas o pequeno animal parecia feliz dentro da mochila de Milena. Os dias assaram rápido, acordavam todos os dias no mesmo horário e cavalgavam, depois paravam para um pequeno lanche e só voltavam a aparar ao final da tarde para jantar e descansar. A partir daquele momento, George parecia conversar bem mais, a esperança em sua voz ao falar do futuro que imaginava, do futuro que esperava.

Ele ao menos esqueceu Lohanna – Dizia a menina ao dragão, e isso a deixava feliz, mas, ela teria mesmo a capacidade de mudar toda a história? Ela seria a diferença? Como?

...

Aos portões de Teirm, ao final da tarde, Milena observou a arquitetura, era magnífica, uma bela cidade litorânea, ao seu ver, as defesas também eram de seu agrado. "Isso sim é interessante!" pensou a menina enquanto disfarçava o dragão, enrolando-o no cobertor de couro, ninguém suspeitaria dela!

Ao passar pelos muros da cidade litorânea, Milena apreciou a vista do pôr do sol e suspirou quando George disse que seu pai estava perto, relutante a menina desceu do cavalo e retirou a capa que cobria seu rosto, os cabelos dourados e embaraçados escorreram pelos ombros sujos. Os dois fediam muito.
– Irmão, preciso de um par de luvas para esconder as mãos. - Disse a menina baixo, esperando que ninguém ali pudesse ouví-la.
– Mais tarde eu sairei para comprar! Ah, olhe só, chegamos! - O garoto parecia entusiasmado, já Milena sentiu o estomago revirar, não queria entrar, tinha apenas vontade de sair correndo e voltar para seu antigo vilarejo e para o amigo Carlos, havia tempo desde que não pensava nele, "o que será que ele está fazendo neste momento?", se perguntava ela enquanto apreciava a casa grande ao final da rua larga. Era branca, com grandes janelas, o vidro destas mostrava o reflexo da menina enquanto passava de tão limpos, as cortinas vermelhas voavam quando o vento nelas batia e o quintal era certamente o mais bem cuidado da cidade - ela não manteve este pensamento por muito tempo -, atrás havia um grande estábulo, um homem alto com barba e cabelos ralos e grisalhos montava em um garanhão negro e gordo, era um dos mais belos cavalos que Milena havia visto na vida. Uma música animada invadiu os ouvidos da menina e ela percebeu que vinha de algum lugar ali perto, se tivesse a chance, iria procurar quem quer que a estivesse tocando mais tarde.

Os dois jovens imundos abriram os portões de ferro e adentraram o local, de mão dadas e Fimmy e Felipe ao lado. Milena quem bateu na porta, e quem atendeu foi uma mulher alta de longos cabelos negros, os olhos eram castanhos e era de longe a mulher mais elegante que Milena havia visto na vida, o vestido era simples, o tecido azul combinava perfeitamente com o tom pálido de sua pele.
– Como posso ajudá-los? - Perguntou a mulher, com um tom de voz doce. E então George deu um passo a frente e a cumprimentou.
– Eu sou George e está é... - Mesmo antes de que terminasse a mulher puxou os dois garotos para dentro e então pediu para que um garoto baixinho de cabelos castanho-escuros tratasse dos cavalos e os levasse para o estábulo. Em seguida abraçou George e então fitou Milena fixamente antes de abraçá-la também, sem compreender, a menina fitou o irmão.
– Eu sou Gwen, eu previ que chegariam, só não tinha certeza de quando, oh céus, eu sou tão atrapalhada! Eu sou...
– Esposa do papai? Você é minha mãe? - Milena ousou perguntar, e em seguida ciusa sentada em um sofá, mantendo o tom de voz normal, por mais que quisesse chorar ali mesmo.
– Não querida, eu não sou sua mãe, sinto muito, não tenho tido noticias dela tem alguns meses, mas, sim sou esposa de seu pai, eu estava preocupada! George, como você cresceu desde a última vez! E o ovo? Está com ele ai?
– Eu falarei sobre o ovo depois, não quero repetir a mesma história várias vezes, eu preciso que papai venha aqui, ele deve explicações a minha irmã! - George disse docemente e então se levantou num pulo. - Eu vou chamá-lo.

Após George sair, um clima estranho dominou a sala, Milena simplesmente observava Gwen, enquanto a mulher fazia o mesmo.
– Quer tomar um banho, querida? Eu tenho certeza que algum de meus vestidos servirá! - Gwen disse timidamente, procurando ser gentil.
– Eu quero conhecer logo meu pai... Eu passei a vida inteira pensando que ele estivesse morto e agora... - Milena parecia prestes a chorar, mas Gwen se sentou ao seu lado e passou as mãos delicadas e cheias de anéis por seus cabelos oleósos.
– Eu entendo, mas certamente vão comentar na rua sobre seu vestuário tão masculino, costuma usar sempre calças e botas de caça? - A mulher sorriu.
– Só quando preciso fugir de Urgals e conhecer um pai desconhecido! - Brincou Milena dando uma breve risada passando a destra pela franja, colocando-a para trás das orelhas. Gwen percebeu a marca na palma e a virou, em seguida largou a mão da menina e as colocou sobre os lábios cuidadosamente pintados.
– O ovo... Foi chocado! Seu irmão falou com alguém? Ou comentou sobre alguém? - Gwen levantou-se alcançou uma tigela cheia de água.
– Ele falou algo sobre um elfo ao qual ele confia! - Respondeu Milena recolhendo a destra.
– Lucian... Vou enviar à ele uma mensagem, dê-me licença! - E ao mesmo tempo que Gwen saiu, o homem grisalho adentrou a sala fitando a menina sentada em seu sofá. Um misto de raiva e alegria encheu o coração da pobre Milena. Nem pai nem filha sabiam o que fazer, e então, milena se levantou, correndo para abraçá-lo pensando por um momento que não seria retribuída, mas foi, o homem alto a retirou do chão, tomando a menina no colo. Por um instante, apenas os soluços de milena puderam ser ouvidos, e então o homem abraçou George também.
– Meus dois amados filhos... Oh, eu sinto tanto por tê-los abandonado, mas como eu havia explicado para George, minha Milena, os meus motivos foram o medo, o meu medo e o de sua mãe, Even era uma moça complicada e misteriosa, no final, teve de voltar para sua terra natal e lutar contra o rei Galbatorix, e eu fiz o mesmo, só que eu tinha um filho e um ovo de dragão, e eu fiz este filho roubar este ovo, depois eu tive uma filha, e enquanto Gabatorix caçava este ovo, eu e sua mãe criávamos vocês, quando Galbatorix descobriu nossa localização em Aberon, tivemos de correr e escondê-los o mais longe possível,e em seguida nos esconder, naquele vilarejo, sua mãe e eu conhecíamos pessoas que zelariam por vocês e então, nós partimos, enviei inúmeras cartas para seu irmão que só depois de quinze anos conseguiu me perdoar e perdoar a sua mãe, e é uma pena que ela não esteja aqui hoje, há três meses não temos notícias dela! Absolutamente nada! Espero que compreenda meus motivos e perdoe seu velho pai.
– No início eu o odiava, papai, odiava com todas as minhas forças mas, agora, e aqui, vejo que tudo esse ódio não me levaria a lugar algum, eu posso entender seus motivos e posso perdoá-lo! - A garota sorriu e então Rovell, seu pai a soltou colocando-a no chão.
– Agora digam-me, e o ovo de dragão? Como ele está? É uma pena não ter chocado para você, meu filho, seria uma grande honra ter um filho cavaleiro de dragão! - Rovell comentou com um sorriso no rosto enquanto sentava-se em uma cadeira larga e acolchoada.
– A questão papai, é a seguinte, você se sentiria honrado tendo uma filha cavaleira de dragão? - E então a menina estendeu a destra, mostrando a marca na palma da mão enquanto George retirava da mochila um cobertor e do cobertor, um pequeno dragão verde-mar enquanto os três - Milena, George e o dragão- fitavam Rovell esperando por uma reação.