– Você quer tanto assim ver aquele garoto? - Começou Knabben quando Milena o contou seus planos. - Ele não importa mais! Olhe o futuro que tem pela frente, se recusa-se a ver, ao menos tente imaginar! Você é uma cavaleira de dragão, é brilhante, poderosa, bonita, pode persuadir qualquer homem com um pouco da inteligência que tem! Você ainda insiste em um amor de infância?! Oras, Milena, você precisa de um homem, não de um menino do lavrado!

Irritada, Milena jogou-se do galho onde estava sentada havia algum tempo e aproximou-se do elfo com as bochechas vermelhas de raiva.
– Escute aqui, "Menino do Lavrado" não use estas palavras como se fosse uma desonra, seu grande idiota! EU já fi uma garotinha do lavrado, não se esqueça e Carlos é mais corajoso que você! Ele luta pelas pessoas ao redor dele, ele trabalha não apenas por ele mesmo, ele quem sustenta a família dele com o trabalho duro, e ainda arruma tempo para ajudar os outros ao seu redor, no inverno todos nos reuníamos na casa dele, onde ele fazia sopa e nos oferecia cobertores! Quando houve uma grande seca, ele quem procurou soluções, ele salvou a todos com suas artimanhas, quando os lobos resolveram atacar as crianças da vila, ele foi o primeiro a se oferecer a ir, e só tinha oito anos, ele é meu contador de histórias favorito! Ele sabe lutar tão bem quanto eu, ele é um pouco bobo, mas todos sabemos que podemos depender e confiar nele. Ele tem um coração bom e puro, então, pense muito bem antes de falar que o meu garotinho do lavrado não é um homem ou que o que ele faz não é importante!
– Como quiser. - O elfo baixou o rosto e se impulsionou para trás, mas a garota ainda o segurava, então este puxou mais forte e ela o soltou. - Arrume suas coisas, partiremos hoje pela tarde para Ellésmera.

Não poderia dizer que estava completamente feliz com a decisão, sentiria falta da família, dos amigos que fizera ali, das noites confortáveis, da segurança, dos abraços carinhosos do pai, mas também queria poder lutar contra toda a injustiça do rei tirano, queria poder defender a todos, queria orgulhar seus pais e amigos, queria que todos pudessem viver em um lugar onde as regras e leia não fossem tão cruéis, onde os impostos não fossem abusivos, onde não houvesse algum privilégio só porque a pessoa nasceu em um berço de ouro, onde houvesse justiça de verdade. Queria a liberdade, queria não precisar se esconder.

...

Horas mais tarde, com a notícia dada e pertences arrumados, a mesma colocou-se a caminhar com o irmão pela cidade, despedindo-se dos novos amigos, não dizia que iria para a capital élfica, mas sim que iria em busca de conhecimento, aliás, a fama de aventureira se espalhou após a derrota pública do melhor espadachim da cidade. A mais cruel foi a despedida de Matheus, que fez questão de acompanhá-los, no final o garoto só poderia levá-los até os limites da cidade.
– Eu nunca passei tanto tempo longe de casa, e agora... - A garota estava confortável nos braços do irmão mais velho.
– Você passou quatorze anos longe daqui, minha querida. - O garoto sorriu beijando-lhe o topo da cabeça
– Não digo daqui, você sabe... Eu sinto falta de tudo! Da normalidade das coisas, da leveza... - Então a garota suspirou e em seguida sentiu os braços do irmão a apertando ainda mais.
– Eu sempre quis ser um cavaleiro, mas, agora eu vejo que ele nasceu para você, sinto inveja, tenho que admitir, mas é uma inveja boa, e saiba, meu amor, que eu estarei aqui, para o que for! - Apenas com aquelas palavras o coração da menina se aqueceu e para a alegria de George, pode ver felicidade nos olhos de sua garotinha. - Mas eu nunca imaginei a dor que isso deve lhe causar, carregar o mundo nas costas, sabe eu...
– Ai está você! - Knabben caminhou até onde Milena e George abraçavam-se e então a fitou com certo ódio, e antes de sair dali do mesmo jeito com o que apareceu, simplesmente disse - É hora de ir.
– Até logo, Knabben! - George gritou acenando e o elfo apenas repetiu o gesto. - E quanto a você... Não posso deixá-la ir, mas você precisa certo? Eles crescem tão rápido! - George fingiu limpar uma lágrima dos olhos e isso arrancou uma gargalhada da irmã. - É ótimo ouví-la gargalhar outra vez, mas, creio que seja hora de deixá-la partir. Eu a amo, nunca se esqueça disso, e boa sorte, minha querida!
– Eu também o amo, George! - A garota o abraçou mais uma vez, beijando-lhe a bochecha antes de montar em Felipe, o garanhão estava com algumas sacolas de couro sob seu dorso e após a menina subir, não pareceu nem um pouco incomodado. Felipe então começou a seguir a égua de Knabben com tanta rapidez que logo, estavam lado-a-lado, partindo para muito longe de Teirm, seu lar.

Cavalgaram por tanto tempo que o traseiro de Milena começou a doer, Marfhir que os seguia do alto havia reclamado da pouca velocidade umas oito vezes, perguntando-se poque não poderia levar sua cavaleira.
"Você é pequeno demais, Marfhir!", respondia a garota toda vez que ele perguntava, e toda vez ele bufava impaciente.

A noite chegou rapidamente, e logo, a cavaleira e o elfo colocaram-se a buscar lenha para uma fogueira, quando já tinham o suficiente, Milena colocou-se a esquentar um pouco da comida que sua madrasta a havia preparado.
– O primeiro turno é meu. - Disse a garota que sabia que não conseguiria dormir a noite toda.
– Ok - Foram as únicas palavras do elfo, durante toda a viagem, a menina julgava que o mesmo estivesse furioso graças a conversa de mais cedo.
"O que fiz de errado? Defendi Carlos? Oras, ele não tinha o direito! Não vou me desculpar!", falou à Marfhir que caçava. Podê vê-lo matando um coelho e o comendo em seguida, logo, o dragão repousava ao lado de sua cavaleira que encostou-se em seu peito e permaneceu ali onde se afogou em pensamentos.

...

A noite passou depressa, quando Knabben acordou, deparou-se com a garota fitando os galhos das arvores, encantada com um feixe de luz.
– Vamos indo. - Disse o elfo juntando tudo o que haviam espalhado na noite anterior. Ainda estava furioso, como a garota poderia ter falado com ele daquela forma? Ela não conseguia entender que agora não era o melhor momento para romances? Ou seria ele? Ignorando tudo isso, o mesmo montou em sua égua e partiu, deixando a garota para trás, mas apenas por alguns segundos.

O som dos cascos batendo, o vento gelado no rosto, o sol nascendo, o perfume das árvores, a sensação de liberdade... O elfo adorava aquilo, e por algumas horas, enquanto corria deixou-se aproveitar apenas aquilo, seu sossego apenas acabou quando a cavaleira passou a correr ao seu lado e logo o passou sorrindo vitoriosa gritando algo que ele não conseguiu entender. Em seguida, Marfhir passou voando por cima, e então, quando entraram em um campo aberto, a cavaleira fez algo extremamente arriscado, soltou suas mãos do cavalo, mas como se não fosse o suficiente olhou para o dragão que mantinha o ritmo. Ela era louca? Logo, colocou um dos joelhos sobre o dorso de Felipe, o outro. "Céus, o que ela acha que vai...", logo de a mesma estava de pé sobre o garanhão com um equilibrio assustadoramente incrivel, e como se tivesse planejado - e o elfo apostava que tinha- uma falha nas árvores grande o suficiente para que Marfhir pudesse voar exatamente sobre a cabeça deles por alguns metros, Milena estendeu os braços para cima graciosamente para então gritar:
– MARFHIR! AGORA! - E então o dragão agarrou suas mãos e a puxou de cima de Felipe que continuou a correr, atordoado, mas continuou.

Marfhir a puxou para cima com suas garras quase perfurando a pele clara. Mas a cavaleira não parecia ligar, ela gritava tão alto que o elfo desconfiou que a mesma ficaria rouca.
– Você vai cair! Marfhir, pouse! - Gritava o elfo, mas cavaleira e dragão já estavam muito distantes para ouvir.
"Deixe-me tentar subir, meus braços estão incomodando!", pensou a cavaleira.
" Não sei se consigo ajudar em muita coisa", respondeu Marfhir.
" Abaixe um pouco, tem um campo aberto logo a frente, se eu cair não vou me machucar!", pediu a menina.
"Cuidado!", pediu Marfhir e então sentiu a menina agarrando-se em suas escamas, apoiando as mãos e pés, parou por um instante, e sentiu os cabelos açoitando-lhe o rosto, logo voltou com energia a mais. Fitou pequenos espinhos a sua frente e agarrou um, sua mão escorregou, e justo quando Marfhir bateu suas asas, escorregou a outra mão e em seguida sentiu a terra sob suas costas, viu pontos vermelhos dançarem sob sua visão que vacilou uma vez, duas, e então não suportou e tudo o que viu foi a noite, mas antes de deixá-la a envolver, ouviu o elfo, e apenas ele gritando seu nome várias vezes.

Desesperado, o elfo desmontou da égua e correu até a cavaleira que mal se mexia, seu coração apertou e então a única coisa que pôde fazer foi a tomar nos braços e gastar toda a energia que tinha enquanto assistia Marfhir voar desajeitado para perto. Quando o dragão pousou aflito e desnorteado ao lado do elfo, uma rajada de vento os atingiu.
– Waíse Heil - Disse o elfo procurando curar o interior da cavaleira mesmo que o feitiço tivesse sido usada de forma mal pensada. Sentiu-se cansado, mas nada que pudesse impedí-lo de carregar a garota para um local coberto. Ajeitou a menina no chão com sua capa e então sentou-se perto da mesma, apoiando a cabeça da mesma sob suas coxas. Tirou de frente dos olhos da mesma uma mecha de cabelos. Sorriu ao ver que parecia melhor e tentou lembrar-se do motivo pelo qual estava enfurecido com a mesma.
– Você é louca? O que estava pensando? - E elfo então passou algum tempo ali, fitando a garota adormecida enquanto Marfhir lhe explicava o porquê de terem tentado aquilo. Mesmo que tivessem tempo de sobra, queria mover-se logo, nunca se sabe quando urgals ou soldados do império poderiam aparecer.

...

Milena acordou confusa, sobre o dorso de Felipe, mas as mochilas não estavam ali, e sim na égua ao seu lado, e só então notou sua cabeça apoiada sobre algo quente, Knabben.
– Finalmente! Achei que nunca mais acordaria, garota! - O elfo não tirou os olhos do horizonte, mas a cavaleira pôde ver um sorriso. - Se queria voar, tivesse feito direito, mas o que fez foi loucura!
– Ao menos... Você voltou a falar comigo! - A garota riu da expressão que o elfo fez ao fitá-la.
– Fez aquilo para chamar minha atenção? - Agora, nem ligava mais para o horizonte, estava mais interessado nos olhos grandes olhos cor de mel.
– Óbvio que não, você acreditou mesmo? - E então a menina gargalhou fazendo o elfo a fitar com uma expressão ainda mais confusa. - E queria... fazer um teste, mas não acho que tenha porte físico o suficiente, nem eu, e nem Marfhir, nós precisamos trabalhar nisso!
– Você não tem medo de voar?- Perguntou o Elfo voltando a fitar o céu que escurecia.
– Ninguém tem medo de voar! Nosso medo é de cair, mas posso dizer que nem disso eu tenho medo! Sabe... Eu achei que daria certo, mas calculei mal!
– Descanse mais um pouco, logo, chegaremos ao lago Woadark ai lhe obrigarei a tomar um banho! - O elfo passou a destra sobre a bochecha suja da garota, a limpando e relutante a garota novamente descansou a cabeça sob o peito do amigo, adormecendo ali, sentindo seu cheiro suave misturando-se com as árvores.

...

Cinco dias depois, chegaram a Daret, mudar a rota era mais seguro do que atravessar o deserto Hadarac mesmo que Gil'ead não estivesse muito longe. Depois de tanto tempo na companhia um do outro, o elfo e a cavaleira acabaram por ficar amigos. Ao ver o mural de avisos no centro de Daret, onde repousava um cartaz com sua foto. "Um condado? Uau!", a garota sorriu sabendo que valia uma vida longa e confortável. Puxou a capado elfo que lhe ensinava como disfarçar-se. Afinal, concentrou-se em mudar a cor dos olhos e cabelo para uma cor tão escura quanto a noite. Os dois então seguiram para um estábulo,onde colocaram os cavalos, e então a menina colocou a capa sobre a cabeça e seguiu Knabben até uma estalagem que aparentava ser aconchegante.
– Um quarto, por favor. - Pediu Milena para uma velha senhora que procurava algo sobre o balcão.
– O que um jovem casal faz viajando por estas estradas? - Perguntou a senhora.
– Visitamos parentes distantes - Então Knabben tirou o capuz fazendo o mesmo com a garota que esboçou um sorriso amarelo - Eu sou Feólin, e ela é minha esposa Lissandra.
– Nem, temos um quarto vago, é bastante confortável apenas subam as escadas, é o primeiro a direita! - A senhora sorriu, quando a jovem cavaleira lhe mostrou algumas moedas.
– A senhora sabe de algum lugar aqui onde possamos beber algo? - Perguntou o elfo sorrindo simpático.
– Há uma taverna por perto, posso pedir para que meu filho os leve! - Sugeriu a velha.
– Ótimo, vamos nos acomodar nos quartos e em instantes voltamos! - Milena sorriu, sincera desta vez e então tocou os dedos longos e gelados do amigo, guiando-o até o quarto que lhe fora indicado.
– Ei, não podemos sair assim! - A garota disse, colocando uma das mochilas sobre uma cadeira pequena.
– Podemos e vamos! Acho que você concorda que depois de tudo isso, merecemos um pouco de diversão! - O elfo sorriu e como resposta a menina arqueou a sobrancelha e suspirou.
– Para um elfo, você é um tanto irresponsável! - A menina pegou então um vestido, que sua madrasta a havia dado de presente. Expulsou o elfo do quarto e trocou-se, prendendo os cabelos longos em uma trança frouxa, suspirou e vestiu a capa saindo do quarto. Quando o amigo estendeu o braço e a cavaleira o aceitou, sentiu Marfhir tocar seus pensamentos de longe, a pedindo para ter cautela.
– Vocês devem ser o casal que devo acompanhar até a taverna de Noely! Vamos logo, ou não sobrará bebida! - O garoto alto com cabelos até os ombros amarrados sutilmente para trás em um rabo de cavalo sorriu para o "casal", e só então Milena notou os olhos verde-esmeralda, as roupas mesmo simples lhe caiam bem, o achou um jovem bonito e imaginou que em seu antigo lar, as garotas da cidade fariam ila para casar-se com ele. Riu de si mesma e acompanhou o elfo para fora da estalagem.

Em pouco tempo ouviam uma música tão animada que dava a menina vontade de dançar, bebiam uma ótima cerveja, não que a garota tenha bebida muita. Notou então que fora ela, só mais uma moça estava no local, mas esta ocupava-se servindo as várias mesas. Sentiu-se envergonhada, mesmo que em Teirm, algumas moças também frequentassem tavernas.
– Não beba tanto! - A garota gritou quando Knabben virava outra e outra, mais outra e outra caneca goela abaixo. - Você vai ficar bêbado!
– Não com tanta facilidade! E vou lhe contar um segredo - O garoto aproximou-se do ouvido da amiga e sussurrou - A cerveja dos anões é muito melhor!
– Pouco me importa! - A garota se levantou, mas o elfo a puxou e passou a dançar animadamente enquanto a garota tentava desajeitadamente seguí-lo, mas ele ia rápido demais.
"Por que não?", a garota virou uma caneca, e outra, logo, acompanhava os passos do elfo. Um instante via o rosto do elfo, outro de um homem barbudo, estranhava, mas continuava, logo, de outro homem e outro, um diferente do outro. Estava gostando daquilo, outra caneca, e outra, mais dança, sues pés moviam-se sozinhos.
– Ei, solte ela! - Pode ouvir Knabben gritar e em seguida o mesmo puxar seu braço direito, mas tudo oque Milena fez foi rir e só então notou como o elfo estava bonito naqueles trajes simples e subitamente teve vontade de abraçá-lo.
"Vamos, pés!", mandou ela, mas tudo o que fez foi jogar-se sobre o elfo que a agarrou e então falou algo, mas ela não prestou atenção, então o puxou para dançar, no inicio ele se recusou confuso, mas logo a acompanhou.
– O que estamos fazendo exatamente? - Perguntou o elfo para a menina que da de ombros e continua a dançar animadamente.

Mais tarde, quando a menina não suportava mais ficar de pé e o amigo soluçava, a mesma estendeu os braços e não entendendo o mesmo a abraçou e ela sussurrou "casa", e então o mesmo a tomou nos braços e fez o caminho de volta para a estalagem.

Ao adentrarem o quarto Knabben fitou a garota que parecia desnorteada, logo a mesma se aproximou e passou os braços em volta do pescoço do amigo.
– Obri... gada! - Tentou dizer a garota e então fitou os olhos negros do menino e então disse sem pensar: - Você é bonito
– Uh? - Mas antes de pensar em quê responder a mesma, ela tocou os lábios do elfo gentilmente com os seus, movimentando-os suavemente mas, ao perceber que o mesmo não a retribuía desistiu e se afastou com uma expressão triste.
– Eu não sou o Carlos - Disse o elfo.
– Eu sei. - Disse a garota, tendo consciência de que nunca mas veria o Carlos na vida, mas antes de se arrepender ou pensar direito, Knabben a beijou, não suavemente, causando na garota arrepios, nunca beijara ninguém além de Carlos, e na praia, havia sido muito diferente. Agora ela beijava o garoto que viajava com ela por seis dias, sentia-se suja, mas isso não durou, o elfo a apertou contra si com tanta força que a mesma achou que ele fosse quebrá-la no meio, mas não queria sair dali tão cedo, e também, não queria parar de beijá-lo.