Wyrda

"Esperança"


A cavaleira dormia tranquilamente enquanto o elfo preocupava-se em checar sua temperatura. "Eu não deveria tê-la beijado naquele momento, eu deveria ter prestado atenção nos movimentos dela..." pensava o elfo, procurando tocar a mente da menina, mas Marfhir havia criado uma barreira em volta da mente da mesma a qual não permitia que ele entrasse.

~~"Milena manejava a espada com grande habilidade, Wyrda era leve, era impressionante, junto à espada e ao dragão ela era invencível. Grandes soldados feitos de sombras, vestidos em brilhantes armaduras com espadas que poderiam simplesmente cortar Marfhir em dois, mas ele os ateava fogo sempre que se aproximavam demais.

Marfhir estava enorme, já sabia voar e agora, cuspia fogo. Era belo, sem duvida, espinhos longos e afiados como dentes de cobra, as escamas brilhavam em diversos tons de verde, azul e amarelo. Suas asas eram longas e espinhos curtos porém afiados formavam-se nas dobras, em suas costas uma cela improvisada, como a que viu uma vez em um livro sobre tais criaturas. O dragão rugia e o chão tremia, Milena estava maravilhada.

No horizonte um grande dragão também feito de fumaça surgiu fazendo com que mais soldados aparecessem no horizonte. A menina ficou angustiada, mesmo com o dragão ao seu lado, se cansaria, não daria conta de tantos.

Quando notou que o enorme dragão negro pairava sobre sua cabeça, pronto para incinerá-la pensou que era tarde demais, mas braços fortes envolveram seu corpo trêmulo e um escudo fora posto sobre sua cabeça.

E lá estava ele, Knabben, com um olhar preocupado.

– Vá! – Sussurrou ele, e de suas costas a garota arrancou uma flecha longa e de tom esverdeado, de suas costas puxou um arco dourado, parecia ter recebido a benção do sol. Com graciosidade a menina ajeitou a flecha e puxou a corda do arco mirando no peito do cavaleiro do dragão de fumaça, um elfo alto, seus cabelos negros estavam presos por uma fivela dourada, sua armadura parecia impenetrável, mas sabia que a flechas a perfuraria.

A cavaleira soltou a flecha.

A flecha perfurou o coração do cavaleiro que então virou cinzas assim como o dragão e os soltados, a batalha estava ganha.
– Você se saiu bem, cavaleira. – A voz doce de Carlos soou próxima a seu ouvido, causando na garota calafrios. A mesma se virou, abraçando-o com força, sentira falta daquele cheiro, sentira falta daquele abraço, daquela sensação que apenas ele a causava. Estava segura ali, seus problemas havia sumido.

Há alguns metros de distancia, o elfo deitou-se sob o chão sujo de sangue seco, e logo, o seu sangue juntava-se ao que manchava o chão. Ele se contorcia enquanto sentia o coração parar de bater. Milena só o notou quando o mesmo juntou forçar para chamá-la.

“Eu não quero sair de perto do Carlos... Eu não... Knabben...”, pensou a garota desfazendo-se do abraço, deixando Carlos para trás enquanto corria para ajudar o elfo.

Logo, não podia mais ver Carlos, mas sabia que ele estava bem.
“Waíse Heill”, gritou a mesma vendo o ferimento no coração do elfo se fechando pouco a pouco enquanto sua energia sumia.
“ Não tem o suficiente para me curar”, sussurrou o rapaz, seus olhos negros pareciam distantes e sem brilho.
“ Me permita ser o suficiente para te curar”, sussurrou a menina em resposta, sentindo Marfhir lhe doar forças. “ ~~
KNABBEN! – A garota levantou tão rapidamente que sua visão escureceu.
– Ei, ei, calma, ok? Não tente me matar novamente – O garoto arqueou a sobrancelha esquerda com um sorriso irritante no canto dos lábios – E por favor, procure não se matar também.
– O que houve exatamente? – A garota passou a destra sobre a testa fitando o elfo que parecia que procurava pelas palavras certas.
– Eu a beijei, você me atacou, me feriu, e tentou me curar. – O garoto retirou a camiseta surrada que usava com um gesto rápido mostrando a cicatriz em seu peitoral. – Parece que conseguiu.
– Eu... eu fiz isso? – A garota se levantou apoiando-se no ombro de Knabben, - Me perdoe, eu... exagerei.
– Eu mereci, você tem o Carlos, não? Eu fui além do que eu deveria ter ido.
– Não o tenho, eu apenas acho que tenho, e acho que, algum dia eu vou poder voltar lá e... – A garota baixou o rosto e o tom da voz, sempre odiava ser sincera consigo mesma quanto ao amado.
– Nada voltará ao normal, você é uma cavaleira de dragão, Milena – A garota fitou o elfo, notando que aquela era uma das poucas ocasiões em que o mesmo a chamaria pelo próprio nome. – Mas isso passa, talvez até possa visitá-lo após o seu treinamento em Ellésmera.
– Tudo bem, agora, poderia começar o treinamento, já tem muito tempo que estamos adiando. – A garota pegou Wyrda apoiada sob a escrivaninha e sob uma filha de roupas uma calça limpa e a camiseta branca surrada e um pouco suja de sempre. – Só me deixe tomar um banho.
– O banho sim, esta roupa não, vista isso – O garoto apontou para a cama, que só agora a cavaleira notou que estava concertada, e sob ela, um vestido verde escuro, nem curto, nem comprido de mais, havia uma fita que dava algumas voltas e servia também como alça, ela tinha um tom diferente de verde. – Vou treinar sua mente, foi pedido de uma amiga. Isso vai facilitar o trabalho dela.
– Não compreendo como um vestido pode me ajudar nisso. – A garota arqueou as sobrancelhas e em sua voz havia uma certa desconfiança.
– É que vamos dar uma volta, e Matheus está lá fora nos esperando. Ele é um rapaz divertido. Seja rápida. – O elfo se retirou do quarto rapidamente enquanto a garota se despia e entrava no banheiro improvisado. A água estava morna, ainda se sentia um tanto cansada devido ao ocorrido no inicio da manhã, o céu estava quase se pondo, a garota então notou que dormira por bastante tempo.

Demorou um pouco mais do que deveria para sair do banho. Sem pressa se secou e vestiu o que lhe foi pedido para que vestisse. As botas de caça jamais ficariam boas com aquele vestido, então caminhou descalça até o quarto de Gwen onde pediu para a mulher um calçado, e esta tinha vários, no final, lhe emprestou um que era necessário amarrar nas pernas com uma faixa delicada de couro, a qual tinha uma decoração belíssima com fio dourado.

No final, soltou os cabelos e então percebeu algo estranho, o dourado estava sumindo dando lugar a um tom azulado, procurou desesperadamente por uma bacia de água, e em seu reflexo conseguiu ver a diferença, até mesmo suas orelhas pareciam mais pontudas.
– O que é isso? – Perguntou-se a si mesma, amarrando o cabelo em um rabo-de-cavalo alto. Sabia que dragões faziam modificações em seus cavaleiros, mas não esperava que isso ocorresse tão rápido, não com ela.

A garota desceu as escadas rapidamente, parando no hall de entrada, deparando-se com o Elfo e o melhor amigo conversando animadamente. Matheus era mesmo muito mais alto que o elfo.

Aproximou-se e saltou sobre Matheus no intuito de derrubá-lo, mas tudo o que conseguiu foi fazê-lo dar um passo para trás. Knabben a puxou para longe do amigo.
– Perto dele, você fica muito menor, procure se afastar dessa gente alta! – Knabben sorriu e caminhou para fora da propriedade do pai da Cavaleira a puxando junto, na rua algumas pessoas caminhavam juntas e riam, homens conversavam animadamente uns com os outros, em um pequeno bar ali perto, dois homens altos e grandes com canecos cheios de cerveja que espirrava para todos os lados pareciam discutir por algum motivo, ao lado de sua casa, a vizinha a qual Milena nem mesmo lembrava-se o nome fofocava com Ana, uma garota baixinha com cabelos castanho-escuros muito brilhantes, esta carregava uma cesta cheia de ervas, haviam boatos na região sobre aquela garota frágil ser uma bruxa, mas Milena duvidava muito disso e Ana parecia nem mesmo saber sobre o assunto.

Matheus veio logo atrás, timidamente cumprimentou as duas que acenaram animadamente. Milena fez o mesmo, já o elfo, parecia nem tê-las notado ali.
– Milena! A grande espadachim da cidade, o que houve com você, fazem três dias que não pisa fora de casa! – Gritou Steve, o pai de Matheus. O homem conseguia ser ainda mais alto que o filho, tinha uma barba grisalha e cabelos quase da mesma cor dos olhos castanho-escuro.

“Três dias?”, Pensou a garota sorrindo torto.
– Eu adoeci, mas agora estou bem melhor, obrigada pela preocupação, senhor Nolatari! – A garota aproximou-se do homem apertando a mão do mesmo. Knabben que a seguiu permaneceu em silêncio atrás da mesma.
– E seu amigo? – O homem fitou o garoto que o cumprimentou rapidamente logo que teve oportunidade a puxou para longe, Matheus ainda conversava com o pai, mas logo que se deu conta se despediu gritando algo sobre voltar antes da hora de jantar.
– Vocês deveriam me esperar! – Protestou Matheus.
– Fale isso para este... Garotinho apressado! – Milena puxou o braço, mas o elfo o apertou com ainda mais força.
– Eu preciso te treinar, garota, e não ficar papeando! – O elfo finalmente a soltou e só então a mesma notou que estava em um lugar realmente movimentado.
– Ótimo então, o que quer que eu faça? – A menina o fitou com certa fúria nos olhos, o que fez o elfo desviar o olhar.
– Eu quero testar sua ligação com Marfhir, vocês estão bem longe não? – O elfo abriu um sorriso.

A garota buscou a mente do dragão, mas nada adiantou, pareciam longe demais, e então uma grande pressão invadiu sua mente. Era Knabben, ele conseguia tocar a mente da garota, conseguia ver qualquer parte da vida da mesma, qualquer lembrança, sentimento, mania. A cavaleira sentiu Matheus segurar seus braços para que ela não caísse, mas já havia caído. O elfo vasculhou sua mente.

“Pense em uma muralha, ou em qualquer outra coisa forte o suficiente para me impedir de entrar.”, a voz do elfo soou calma dentro da mente da garota.

Marfhir” pensou ela. E o dragão surgiu, o mesmo dragão de seu sonho, grande e forte, a presença do elfo sumiu quando Marfhir soltou uma enorme parede de chamas.

Knabben fez uma careta de dor.
– Você só precisa mantê-las erguidas. Caso contrário, qualquer um pode invadir sua mente. Vamos de novo. Dessa vez, eu vou entrar com mais força.

...

A cavaleira estava exausta psicologicamente e fisicamente.

Da ultima vez, o elfo conseguira derrubar suas defesas o que a causou grande dor. Mas ela resistiu com cada vez mais força. Seu orgulho acabaria a matando

O sol já se punha, Matheus havia ido para casa, hesitando em deixar a garota sozinha com o elfo.
– Chega! - Gritou a garota mentalmente, fazendo suas barreiras simplesmente crescerem ainda mais, em seguida, ela atacou a mente do elfo com tanta força que o mesmo caiu sentado no chão duro.
– UM AVANÇO! Muito bom, cavaleira! – A garota colocou as mão sob o rosto frio e se encolheu.
– Eu quero ver Marfhir! – Sussurrou a garota. – Eu tenho saudades dele.
– Eu imagino que sim, venha, eu vou levá-la até ele. Mas antes – O elfo retirou a capa negra que até então utilizava. Desabotoou e em seguida a passou pelos ombros da cavaleira mantendo o braço em volta do ombro da mesma. Juntos caminharam para a perto dos muros altos de Teirm, Knabben procurou a falha que havia encontrado para passar o dragão a encontrando rapidamente, a garota foi a primeira a passar, e em seguida ele.

Correndo o mais rápido que podia a cavaleiro encontrou a clareira onde o dragão repousava.

Mas ele não estava lá.
Marfhir?, a voz da cavaleira certamente teria alcançado cerca do raio de um quilometro se tivesse pensando um pouco mais alto e mais forte.

Milena!, a voz do dragão era firme agora, parecia mais grossa, e a cavaleira sentiu uma onda de conforto invadir sua mente e em seguida pode ouvir o bater de asas, passos, bater de asas e passos. Era Marfhir se aproximando.

Quando o dragão surgiu entre as árvores a cavaleira levou um susto, ele estava bem maior que há três dias atrás. Sem se importar com os espinhos abraçou o pescoço do dragão, fazendo um pequeno corte no braço. O apertou, não havia sensação como aquela, Marfhir não era mais seu filhote pequenino.
“Marfhir, que saudades!” – Disse a garota soltando o dragão, várias imagens invadiram a mente da mesma, ele a contou sobre as palavras novas que aprendera com Knabben, sobre como o elfo havia tentado ensiná-lo a voar, como o elfo fora gentil lhe ensinando a caçar com mais precisão. Milena sorriu. Em seguida a imagem da praia, após a menina desmaiar, Knabben a havia carregado para junto do dragão novamente, lá ele havia doado forças a cavaleira para que ela se recuperasse mais rápido e mesmo assim, dormiu por três dias. A garota corou quando se viu sob os cuidados do elfo, ele fora tão cuidadoso que fez com que se sentisse culpada por todas as vezes em que fora estúpida com ele.
– Knabben, obrigada! – Foi o que o elfo pode ouvir antes de a menina saltar sobre o mesmo o abraçando com certa força. – Obrigada por tudo – a garota sussurrou próxima ao ouvido do mesmo. Knabben retribuiu o abraço e eles ficaram assim por algum tempo, antes de Milena voltar sua atenção para o dragão novamente.

A cavaleira e o dragão conversaram por horas e horas. As poucas coisas que conseguiam ver era o que a luz da lua os permitia. A garota se deitou sob o peito do dragão que fazia um barulho gostoso, como um gato ronronando. Logo, adormeceu ali.
– Está na hora de irmos, Cavaleira. – O elfo se aproximou da garota quando Marfhir começou a embrulhá-la com as asinhas.

Marfhir desaprovou e mostrou os dentes soltando fumaça pelo nariz. Ameaçou rugir, mas parou quando a cavaleira se moveu um pouco para o lado, agarrando sua pata direita.
Não posso deixá-la aqui, Marfhir!, disse Knabben ao dragão, mas este recusava-se a deixar o elfo se aproximar.

Não!, rugiu Marfhir, não é justo ela ficar sempre tanto tempo longe de mim!

Knabben sabia que o dragão não mudaria de opinião tão fácil. E ele entendia muito bem isso, mas daquele jeito, a mesma acabaria pegando um resfriado.
Deixe-me ao menos cobri-la, pediu o elfo que rapidamente ajeitou a capa sobre a garota e observou Marfhir cobri-la com sua asa antes de partir em direção a praia.

Naquela noite a cavaleira sonhou, sonhou com Carlos.

Ele lutava bravamente contra uma vampira a qual causava em Milena calafrios. Toda vez que ela o atacava, a garota queria estar lá apenas para protegê-lo, gostaria de poder impedir que ele se ferisse, mas não conseguia, não podia.

Quando Carlos a matou e voltou para casa Milena a seguiu, seu coração apertou quando o mesmo dormiu, ela o observou acarinhando os cabelos do mesmo, mas ele nem mesmo parecia notar.

Ela queria curar a ferida do mesmo, que, despreocupado como sempre nem se preocupou em limpá-la.

A menina acordou no meio da noite com o dragão a fitando preocupado, seus olhos estavam cobertos de lágrimas.

Se este sonho for real, Marfhir, eu ainda tenho esperanças de voltar, e voltar para ele, pensou a garota com ânimo renovado, eu tenho uma esperança de que algo poderá voltar ao normal!

Milena se levantou e o dragão a seguiu, não sabia como, mas sabia que Knabben estava na praia, ela queria aprender logo, queria conseguir chegar em Ellésmera o mais rápido possível, e queria partir de Ellésmera o mais rápido possível, se ela treinasse, estudasse, e melhorasse com afinco certamente poderia correr para os braços do amado o mais rápido possível.
Você vai conseguir pequena, disse o dragão caminhando atrapalhadamente ao lado da cavaleira.