Wyrda

Estilhaço - Primeira parte.


Dor. Um poço escuro, a garota estava completamente sozinha. Nunca havia compartilhado com ninguém, mas o que mais a aterrorizava era o escuro. Ela poderia lutar com mil e uma coisas, mas não com o escuro.
Após o que pareceram ser décadas uma silhueta masculina formou-se em sua frente. Ela o reconhecia. O Elfo estava ali.
“Você...”
“Me perdoe.” – Gritou ela em meio ao choro que vinha contendo.
“Eu estava preocupado. Criei um vínculo com você. Não poderia arriscar perdê-la.” – Disse o elfo em um tom o qual a cavaleira nunca ouvira antes. Ele a tomou em seus braços, envolvendo-a em um forte e caloroso abraço. A escuridão se dissipou e a garota despertou.

–Outch! Que dor! – Sussurrou a menina ao notar que o braço lhe incomodava tanto quantos sua perna, mas nada doía mais do que sua cabeça. Não sabia onde estava. Como estava. Então pequenos fragmentos de memórias retornaram. “MARFHIR!” gritou com toda sua força. “MARFHIR!” gritou novamente sendo preenchida por um dor ainda maior do que a de todos os seus membros juntos.

Esperou.

Nada.


“Você acordou! Pelas minhas escamas, Milena! Vou avisar o menino-olhos-tempestuosos! Eu estava tão preocupado, quando caímos aqui, antes de eu desmaiar ouvi você estalando, achei que tinha te matado, mas você ainda está aqui! Sente dor em.. Claro que sente, vamos, divida-a comigo!” Disse o dragão eufórico. Ele irradiava alivio e felicidade, a cavaleira animou-se imediatamente.
“Estou bem, Marfhir, estou bem, e sua asa? Como... onde estamos?” Mas após dizer tais palavras ao dragão perdeu completamente o chão. Carlos estava ali, parado na porta, observando-a com os mesmos olhos. Não, não os mesmo, ele havia mudado.

– Você finalmente acordou! Quando vi aquele dragão... Eu... Eu simplesmente não acreditei! – Disse o garoto. A cavaleira notou algo em sua voz. Ele estava muito mudado. Não era o mesmo Carlos.
– Eu prometi que voltaria. – Disse a menina num tom baixo de voz.
– É bom revê-la. Após tanto tempo, nunca mais mandou notícias, eu havia perdido toda esperança. – Disse o menino não fitando-a diretamente. Ele estava escondendo algo. Poderia ter mudado, mas ele ainda tinha alguns dos velhos hábitos que apenas ela conhecia.
– Eu... – Ela começou mas berros do lado de fora do local invadiram os ouvidos da menina e ela reconheceria aquela voz em qualquer lugar.
– LOREWEAVER, O QUE VOCÊ TEM NA CABEÇA? PODERIA TER MORRIDO! MARFHIR ME COMUNICOU AGORA QUE HAVIA ACORDADO, EU DEVERIA PUNÍ-LA POR SER TÃO CABEÇA DURA, DEVERIA FAZÊ-LA ME LEVAR NAS COSTAS ATÉ ELLÉSMERA, MAS... eu estou tão feliz em vê-la acordada que... – O elfo interrompeu-se ao ver Carlos. – Pode nos dar um minuto?
– Minha casa, você acha que pode sair me dando ordens? – Carlos parecia não gostar do elfo.
–Oras, sinceramente, eu preciso falar com ela! – Esbravejou o elfo – E que eu saiba você não tem mais o direito de ficar com raivinha, você...
– Eu saio! – Gritou o jovem, batendo com força a porta do pequeno quarto em que Milena repousava.
– O que quis dizer com isso? – Perguntou Milena enquanto milhões de coisas passavam-se por sua mente.
– Depois falamos disso. Quero saber como você está, alguma parte dói? – Milena então notou que o elfo era pura preocupação. Ela então se perguntou se no sonho tudo o que ele havia dito era verdade. “Ele se preocupa comigo?”
“Mais do que imagina.”, respondeu Marfhir, e então a cavaleira assustou-se, desde quando estava ouvindo? “Ele não saiu do seu lado durante todos esses dias.”
– Estou bem, Knabben, e... Obrigada, por tudo, desculpe por...- O elfo tocou-lhe os lábios antes que ela continuasse.
– Eu entendo, eu estava nervoso, preocupado, você é nossa última esperança, é tudo o que nos resta, eu temi que tivesse morrido.

“Ele só está preocupado comigo porque eu sou a última cavaleira de dragão que resta. Não há nada de especial, eu já deveria esperar, ele é um elfo e eu uma humana!” agora ela pensava tomando cuidado para que Marfhir não a ouvisse.
– Deixe-me curá-la, por favor. Creio que não vá conseguir mais usar seu braço se deixá-lo assim, e não conseguirá mais correr, suas pernas, você... Aqueles homens, o que fizeram?

Milena contou ao elfo tudo o que se lembrava enquanto o mesmo a curava. Ela sentia-se culpada, mas logo, seus ferimentos não doíam tanto, toda vez que o elfo proferia as palavras na língua antiga seus ferimentos tornavam-se menos dolorosos até que o Elfo esgotou-se deixando apenas ferimentos pequenos e hematomas pela pele da menina a qual tocou-lhe o rosto apenas para abraçá-lo em seguida.
–Vou lhe dar uns dias aqui, recupere-se, eu tenho um assunto pendente, voltarei amanhã pela manhã. Não faça nenhuma loucura até eu voltar, Milena. – O elfo então se desfez do abraço da menina e encaminhou-se para fora do aposento, pouco tempo depois Carlos quem adentrou o local.
– O que acha de darmos uma volta? – Perguntou o menino.

Ela aceitou de imediato e após banhar-se e colocar roupas limpas saiu com o menino pelas conhecidas ruas da cidade. Havia passado um longo tempo fora, e tudo parecia diferente, as pessoas, o clima, ela não estava mais acostumada com aquele sentimento de calmaria.

Carlos logo a fez esquecer, fazendo com ela tudo o que costumavam fazer juntos. As lutas com espadas de madeira, aventurar-se nas árvores colhendo frutos, caçando, e ao final do dia, enquanto ele lhe preparava carne de um coelho o qual haviam pego juntos, ela contava á ele uma história. A cavaleira sentiu seu coração encher-se de alegria e esperança.
– Vamos, venha comer enquanto a comida ainda está quente! – Disse o mesmo puxando-a pela mão, guiando-a até a mesa. Ela estava faminta, aproveitou cada pedaço, há muito tempo não comia nada assim.
– Precisamos conversar sobre algo.- Disse Carlos suavemente.
– Diga então! – Milena encostou sua cabeça no ombro do mesmo,o qual a afastou em seguida.
– Não vou fazer rodeios, eu.. Milena, eu estou noivo. – E foi assim, que o coração da cavaleira se despedaçou.
“É claro que ele não me esperaria...” pensava ela, a angustia, a dor, tudo aquilo formou um grande nó em sua garganta. O dia que passara a fez acreditar que tudo ainda era igual. Eram apenas duas crianças descobrindo o mundo novamente, mas a realidade se mostrou para ela novamente.
–Eu esperei por muito tempo, mas meus pais, eles... eles exigiram tanto e quando parou de dar notícias, quando eu nunca mais ouvi falar de você, achei que tinha morrido! Achei que...
– Eu esperei! – Gritou a menina furiosa- por tanto tempo, meu pai e irmão exigindo ou não, sendo uma cavaleira de dragão ou não! Eu... Eu amava você de verdade!
– Eu também te amava! Mas o noivado, não posso desfazê-lo tão encima da hora, eu achei que estava morta, então... – Ela interrompeu o garoto.
– Não vou odiá-lo, case-se, seja feliz, espero que ela seja uma boa moça. – Sentindo-se desconfortável a cavaleira caminhou até a porta, não poderia chorar, não ali. Precisava ir para longe daquilo tudo.
“Marfhir, podemos ir as montanhas?”, perguntou a menina saindo pela pequena porta de carvalho da casa do velho amigo.

O dragão nada respondeu. Ele compartilhava da dor dela, sentia o mesmo que ela. Seu coração estava tão partido quanto o dela.

Knabben p.o.v

Observar Carvahall das montanhas fazia com que esta ficasse minúscula, pequenos pontinhos brilhantes ao longe, mas algo parecia errado, outros pequenos pontinhos brilhantes aproximavam-se rapidamente. Com sua visão aguçada o elfo viu. Criaturas grandes vestidas de preto como... Não poderia ser. Não seria possível. Ra’zacs

Milena p.o.v

Achou estranho o fato de conseguir ouvir passos apressados ao longe, sua cabeça girava, não conseguia sair dali, tinha a impressão de que algo aconteceria.
De repente, os passos pararam.
Ela ouviu um farfalhar nas árvores, e então saltou para a direita, impedindo uma flecha de atingir sua face e então avistou um bico longo e olhos cruéis.
“Não é possível, Eragon não os havia exterminado há muito tempo?”
“O que são?... Ra’zac”
“Vamos Marfhir! Vamos!” A garota trêmula montou no dragão rapidamente. O qual foi ferido na asa direito por uma flecha, Milena, com magia a retirou enquanto o dragão soltava poderosas rajadas de vento nos montros.
O vento estava úmido, contudo,quente, mas ainda assim, Milena sentia frio. Os Ra’zac moviam-se rapidamente, ainda mais do que imaginava. Um deles a seguia montado em uma criatura. “Um dos mais velhos... Quantos ainda restam?” Contou oito ao total. O desespero tomou conta e a menina seguiu para a praia. Mar. Eles recuariam, se a perseguiam, não sabiam sobre Carlos então não haveriam reféns.
O que voava a alcançou rapidamente e se lançou sobre o dragão, que muito ocupado para impedir lutava contra a criatura alada a qual Milena não recordava o nome, estava desesperada demais para lutar. Não tinha um plano, nada, nenhuma idéia maluca.
“Onde está Knabben?”, Perguntou Marfhir e Milena varreu o local procurando pelo elfo, mas não o alcançou, notou varias mentes alertas, pequenas, fracas, assustou-se, perguntando-se como nunca havia reparado nisso.
O Ra’zac então equilibrou-se no dorso do dragão e então passou uma de suas afiadas garras sob o rosto pálido da cavaleira. Sangue escorreu do corte, e a cavaleira pode ver de perto o brilho cruel dos olhos negros da criatura.
Estremeceu de dor. Marfhir recebera um forte golpe. Sua visão falhou.
“Não podemos acabar assim, Marfhir!”, gritou a menina em pensamento e então ergueu a mão com a Gedway Ignasia em direção ao Ra’zac. Fechou os olhos com força antes de gritar “Blothr” e uma imensa luz pálida sair de sua mão delicada. Respirou profundamente. Estava tonta.
– Brisingr – Sussurrou e então empurrou o Ra’zac em chamas e paralisado para cima de seus irmãos.
Marfhir havia abocanhado a criatura alada e agora esta caia em zigue-zague, tombando finalmente em uma árvore.
– Vamos Marfhir, temos que dar uma lição nestes “caça-dragões”!- Gritou a menina enquanto o dragão aumentava a proximidade com a copa das árvores. O primeiro Ra’zac Milena atingiu com sua espada, decepando-lhe justo quando este saltava em sua direção. O segundo segurou-a por trás fincando-lhe firmemente uma adaga nas costas machucadas. A dor atingiu-lhe mais uma vez, o local latejou milhões de vezes em um único segundo e o mundo pareceu ficar em preto e branco. Não conseguia mais usar o braço esquerdo, pois isso cortava mais ainda suas costas, então trocou a espada de mão e a jogou em direção a Ra’zac que a havia ferido. Ele a bloqueou, a menina investiu uma segunda vez com mais força, ele a bloqueou então foi a vez do Ra’zacINVESTIR, o qual rasgou o fino tecido que cobria seu corpo, fazndo um corte na mesma que ia do ombro direito até o início do seio esquerdo. O sangue escorreu mais uma vez, mas foi a última. Milena havia cravado Wyrda no centro da cabeça deformada do Ra’zac que caiu.
Só então, Milena notou que faltavam cinco daqueles monstros.
“Emboscada?” perguntou ela à Marfhir.
“Garanto que...” mas antes de completar sua fala alcançou a mente agitada de Knabben á alguns metros. Pediu passagem, a qual ele cedeu após algum esforço. Mas foi fácil demais, ele não permitiria a não ser que...
“Eles o pegaram! Vamos, Marfhir!” Gritou a garota irradiando puro desespero. Não poderia perder o elfo.
Marfhir então virou-se, havia conseguido localizar a exata posição do elfo que estava tão agitado que nem se preocupou em erguer barreiras mentais e impedi-lo, apenas gritava freneticamente para que ficassem longe.
“Mantenha Milena longe daqui! Mantenha-a... Urgh” então sua mente se enfraqueceu e mesmo com a pálida luz da lua Milena viu: Knabben caído ao lado de outros dois Ra’zacs, os três restantes chutavam-no e feriam-no com suas garras e bico, arrancando-lhe a pele dolorosamente.
Milena pode sentir o sangue ferver e sua cabeça dar milhões de voltas. Seu mundo desabou no momento que viu os olhos do elfo. Sempre tão belos, misteriosos, profundo, mas agora, estavam quase sem brilho algum.
– Knabben... – Sussurrou a menina logo então Marfhir girou abatendo um dos Ra’zac com sua calda, cravando no peito do mesmo um longo e afiado espinho, Milena então tratou de se levantar, e correndo em direção a calda de Marfhir saltou em direção à um dos Ra’zac acertando-o com grande força usando Wyrda para terminar o trabalho e matá-lo. O Ra’zac restante então segurou Knabben, ameaçando-o com suas garras. Iria decepá-lo. Com raiva acumulada, Milena ergueu novamente a mão com a Gedway Ignasia e gritou:
– JIERDA! - logo que a magia atingiu o Ra’zac, sua cabeça lançou-se para longe de seu corpo e um leve cansaço invadiu o corpo da jovem logo que a adrenalina abandonou-a.

Knabben estremeceu ao ir de encontro com o chão molhado. Milena correu em sua direção e abraçou-o tomando seu rosto entre as mãos frias e suadas. Seus olhos permaneciam sem brilho, mas focavam-se em seu rosto. Pequenos ferimentos estavam espalhados por seu corpo, a menina então viu que a energia do colar havia acabado, não conseguiria curá-lo o suficiente para que vivesse sem se matar. Em meio a seu desespero Marfhir doou-lhe tanta energia que Milena achou que mal poderia suportar. O dragão tombou entre as árvores, fraco demais para ficar de pé.
“Eu ainda tenho o suficiente para viver. Cure-se, Cure-o.” sussurrou o dragão antes de entregar-se a escuridão absoluta. Uma grande lágrima formou-se em seus olhos cor de esmeralda e agora ela escorreu livremente pela face escamosa do dragão. Então Milena notou que também estava chorando. Seu rosto estava completamente molhado. Mas não havia tempo. Correu para Knabben e virou-o, despiu-o por completo. Ele possuía um corpo lindo, mesmo com tantos ferimentos, permanecia maravilhoso, Milena tocou-o e o mesmo estremeceu, próximo a mão da jovem cavaleira um grande corte, o mais perigoso permanecia inchado e coberto de terra. Milena alcançou em seu cinto um pequeno cantil cheio de água o qual despejou no ferimento, lavando-o, em seguida gritou “Waise Heil” e logo o ferimento fechou-se lentamente, Milena pode ver as veias voltando a seus lugares e conectando-se novamente, sentiu parte da energia abandonando-a. O ferimento em suas costas a incomodava muito. Arrancou a adaga mas não se preocupou, se houvesse atingido algum órgão vital ela já estaria no chão. O próximo ferimento de Knabben que a preocupava era na coxa direita, um dos ossos haviam sido fraturados e ela não conseguiria arrumar de forma alguma, não se quisesse curar o pescoço e asas de Marfhir também. Ela recuperou parte dos músculos e todas as veias que ali passavam, em seguida arrumou uma atadura improvisada e amarrou com seu vestido o qual rasgou várias tiras. A próxima era no pescoço, não tão profunda, mas o sangue escorrendo a incomodava. Ela curou e então setiu a destra de Knabben sobre a sua, foi a vez da menina estremecer. O sol então começou a nascer e ela ficava cada vez mais cansada, a cada novo ferimento mais e mais energia esgotavam-se. Até que por fim apenas alguns ferimentos restavam. A menina dirigiu-se até Marfhir que dormia tranquilamente. A respiração quente acalmou a menina que curou seu pescoço, aquilo havia demorado tanto que quando terminou o sol já estava alto, ela dirigiu-se para as asas e as curou completamente, ela então voltou cambaleando para Knabben, o mesmo estava coberto com o casaco fino que Milena usava antes, ela sabia que aquilo não seria o suficiente para aquecê-lo então dirigiu-se para mais fundo na mata até finalmente achar gravetos e alguma lenha secos, voltou para a posição inicial, guiando-se pela respiração de Marfhir que era alta. Matou um cervo e dois coelhos arremessando Wyrda na direção destes. Um cervo era pouco para Marfhir, mas Milena não tinha capacidade de pegar mais. Voltou para perto de Marfhir, onde esticou o cervo e perto de Knabben acendeu uma pequena fogueira, onde após limpar a carne dos coelhos, os assou.
Milena lutava contra a vontade de adormecer. Ela mantinha os olhos abertos com cada vez mais dificuldade, o sol estava se pondo e a luz acabando, ela havia recolhido bastante lenha para a noite, então ficou tranqüila. Marfhir havia acordado duas vezes e Milena havia curado mais alguns ferimentos de Knabben com a energia que acumulava e agora estava exausta e pálida, mal conseguia manter-se de pé, mas esforçou-se quando Marfhir estremeceu e depois soltou um grunido, aquilo a agoniava, acariciou o dragão durante um longo tempo até que ele aquietou-se, a menina então voltou para o lado do elfo que estava encolhido no chão duro e frio. Apoiou a cabeça deste em seu peito enquanto abraçou-o. Ela estava com calor e seu corpo estava quente, ele logo se esquentaria também, mas algo a surpreendeu, o elfo ergueu um dos braços e a abraçou. A garota paralisou enquanto ele levou vagarosamente uma das mãos a face dela. Ele então ergueu o rosto e abriu os olhos lentamente. Milena sentia sua respiração pesada e ele parecia sentir dor enquanto o fazia. Ele se aproximou e a puxou ainda mais para si. Milena notou então o que ele pretendia, notou o quanto o rosto do jovem elfo era jovem e por fim, notou seus olhos escuros fitando-a de uma forma diferente, havia algo a mais naqueles olhos daquela vez. Então eles se fecharam e ela repetiu o gesto enquanto ansiava pelo contato dos lábios, eles estavam tão próximos, ela sentia o calor que a pele dele irradiava, o alito quente sobre o seu, a respiração sob a sua, ela se arrepiou completamente quando os lábios se tocaram, sentiu todo o universo a sua volta, todas as mentes pequenas e grandes, toda a energia que fluía de cada objeto ali, umas maiores que as outras, mas notou principalmente o contato de seus lábios contra os do elfo. A mão que segurava seu rosto juntou-se a que a abraçava em suas costas, tentando desesperadamente aproximá-la mais e mais. A dor nas costas da jovem pareciam nada naquele momento e ela então aproximou mais o elfo de si, puxando-o contra seu corpo também. Logo que as línguas se tocaram ela sentiu um grande arrepio, aproveitando cada novo toque, cada sensação que um proporcionava ao outro.

Knabben p.o.v

O elfo, a contra gosto separou seus lábios dos da cavaleira, então fitou o rosto da mesma. Ela ainda estava com os olhos fechados, os lábios permaneciam vermelhos e as bochechas levemente coradas combinavam com eles. Os cabelos agora estavam da cor das escamas de Marfhir, ele estranhou aquilo e perguntou-se como seria possível. Seu corpo inteiro doía, a luta contra os Ra’zac havia acabado com ele, cada novo movimento lhe proporcionava uma outra onda de dor, sentia-se culpado por ter beijado a cavaleira, ela certamente amava outro, mas ele não poderia se negar tal coisa. Mesmo com “Aquela-que-não-se-deve-pronunciar” ele nunca havia provado tal coisa, apenas com um toque, todas as suas dores pareceram sumir e tudo a sua volta pareceu virar poeira. O apego pela menina, os meses viajando juntos, toda aquela coisa de querer protegê-la, o ciúme descontrolado, a vontade de sempre estar com ela, todos os bons sentimentos, toda a vez que ele se via sendo melhor por ela só podiam significar que ele havia passado dos limites. Gostava dela de verdade, e nunca imaginou que isso poderia ocorrer, quando concordou em ajudar a nova cavaleira jamais imaginava uma jovem tão espirituosa, tão alegre ou teimosa, e talvez, nenhuma tão bela, queria afastá-la porque sabia que no fim isso ocorreria, mas nem com provocações ele conseguiu. Ele estava com medo, mas não ligava mais, ela estava ali, o fitando confusa enquanto ele tinha todas as respostas. Não estavam bem, e também não era o momento de falar nada ou tirar conclusões.
Mas Knabben sabia, quanto mais pensasse, mais ele teria certeza do que sentia.
– Não se mova muito – Milena endireitou-se enquanto Knabben procurava abraçá-la de uma forma melhor – alguns ossos seus estão quebrados, tentei concertar, mas...
– Eu estou bem. – O mesmo a interrompeu, ele realmente estava – a dor está mais suave e...
– Você sempre está lá para mim. Eu quero estar ao menos uma vez para você. – “Mal sabe ela de que já me curou de males maiores sem perceber...”, pensou o elfo enquanto observava os olhos da mesma... Eles pareciam sem brilho... Seu rosto estava tão pálido...
– Você... Você está bem? – Ele a fitou, o ferimento do rosto não parecia grave, nenhum dos arranhões ou hematomas também, até que sentiu um liquido quente escorrer pelos dedos então eles tocaram uma parte inchada e logo a menina contorceu-se de dor suprimindo um grito.
– Está ferida! – Ignorando a dor e os ossos quebrados Knabben tentou se levantar, mas sua cabeça girou, ignorou mais uma vez e sentou-se virando a menina suavemente. Nas costas dessa o ferimento estava porcamente enfaixado , o tecido estava coberto de sangue e sujeira, inchado, dava para ver e a pele ao redor estava completamente roxa. Ela havia perdido muito sangue, e então novamente a cabeça de Knabben deu voltas, porque a pontada no coração e o desespero dele superavam qualquer dor. Ela poderia morrer.
– Eu preciso... – Ele tocou uma árvore próxima até que suas folhas murcharam e caíram, a arvore então escureceu e secou. Ele ainda não tinha energia o suficiente, tentou esticar-se mais, porém Milena tocou seu rosto suavemente.
– Eu estou bem... – Ela susurrou apenas para cair nos braços do elfo, pálida e gelada.