Capítulo 31

O Livro do Destino

Jeanne, raivosa, desligou o celular. Achava injustas as acusações de Klaus, ela sabia que seria descoberta, mas esperava que pelo menos já tivesse Tom em suas mãos quando acontecesse.

Planejava engravidar de Tom. Era vital que tivesse sangue Puro no clã Van Helsing para que algum dos descendentes herdasse a característica. Com um Puro no melhor clã de caçadores, os vampiros seriam dizimados.

Mas seu intento estava sendo atrapalhado. Tinha recebido uma ligação de Markus na qual ele lhe havia dito que uma cria de Emmus e o conserte de Amélia tinham sido capturados e que os faria falarem o que sabiam. Um tempo depois, descobriu apenas que Jeanne tinha sido desmascarada.

Ligou para Klaus avisando-o do contratempo, e El apenas a chamou de incompetente. O culpado era ele! Ele que foi lento demais no processo. Esperava apenas que aquele sanguessuga maldito servisse para lhe tirar daquela enrascada. Agora só lhe restava ir para Cluj Napoca, que era o lugar que tinha mais probabilidade de aparecer problemas.

La Rochelle, França...

- Eu vou junto! – disse Bill olhando fixamente para seu mentor.

Bill e Vincent estavam no quarto do vampiro e este arrumava sua mala.

- Não, Bill – ele respondeu – Você estará seguro enquanto pensarem que o Tom é Puro. Se você aparecer lá, eles vão descobrir a verdade.

- Mas se eles pensam que o Tom é Puro, ele corre risco! Não, Vincent, eu não vou deixar o meu irmão correr risco por minha causa. Eu vou.

- Se o que a Alexia nos disse for verdade, então o Tom está seguro. Um Puro pode ser usado como arma, Bill, eles não matariam a galinha dos ovos de ouro. Por isso é essencial que eles não o vejam. – disse o príncipe abrindo uma parede falsa e revelando um arsenal incrível de armas.

- Mas, então... Por que não joga uns contra os outros – Bill falou enquanto brincava com uma arma descarregada.

- Como assim? – Vince perguntou tomando a arma dele – Isso não é brinquedo, garoto.

- É simples – O Puro respondeu fingindo que não ouviu a bronca – Se uma caçadora e um vampiro querem o Puro, o que aconteceria caso o Puro aparecesse? Eles brigariam entre si, e levando em consideração a competição natural entre os Van Helsing e os Dracul, ou eles se mataria, ou o mais forte vence.

- Bill... – Vince parecia assombrado – Você está pensando como um vampiro...

- Se a história estiver certa – Bill balançou os ombros – Os Puros surgiram para lutar contra vampiros. Nesse caso, para eu ter sucesso, precisaria saber pensar como meu inimigo.

Vincent riu. Realmente aquilo fazia sentido.

- Então, Sr. “Eu Penso Como O Meu Inimigo”, me conte o resto do seu plano – disse o príncipe sentando-se na sua cama.

- Não – Bill respondeu simplesmente dando as costas para seu mentor – Se você não vai me levar junto, eu não deixo você usar o meu plano. Boa sorte – Finalizou saindo do quarto.

Vincent riu com a atitude do artista e voltou a se armar.

Berlim, Alemanha...

- Eu não tenho escolha, Emmus. Me dê sua permissão – Meganie implorava no celular.

Tinha levado Madeleine para a casa de Selene e Alexia, a ruiva estava deitada desfalecida no sofá. Conseguiu estancar o sangramento, mas a francesa tinha perdido muito sangue. Ela não sobreviveria.

- Você a tem, Lu, mas não depende só de mim. Preciso falar com Amélia antes e precisamos da aprovação da própria Madeleine – ele respondeu.

- Emmus, ela passou anos querendo isso!

- Porque ela viveria ao lado de Klaus! Mas ele foi destruído e ela não o verá nunca mais!

Era a mais pura verdade, Luisa Isabel sabia disso.

- Vou tentar falar com ela... – disse a loira – Consiga a permissão da Amélia.

- Eu te ligo daqui a pouco... E Lu, boa sorte. – desejou.

- Obrigada... – Meganie desligou o celular e voltou-se para a ruiva.

Ela respirava pesadamente, Meganie tinha feito um curativo no pulso quebrado com o kit de primeiros socorros que Selene e Alexia sempre mantinham em casa por precaução. Mas aquele curativo não adiantaria muito.

- Mad, está me ouvindo? – sussurrou, ouvindo a ruiva afirmar com um murmúrio – Se você ainda quiser ser vampira, eu estou apenas esperando a permissão da Amélia. Você quer que eu te transforme? Mesmo que seja para ficar sem Khristopher?

Os orbes verdes e opacos abriram-se lentamente e focalizaram o rosto de sua conterrânea. Madeleine parecia não ter certeza de sua escolha.

- Você não tem muito tempo, Mad – Meg insistiu, e nesse momento seu celular tocou. Era Emmus.

Enquanto a loira atendia, Madeleine refletiu sobre a sua vida inteira. Aceitando a proposta da vampira, poderia rever a sua família e seu irmãozinho, mesmo que de longe; em contraponto não teria mais Klaus junto de si. Não mais sentiria as mãos suaves percorrendo todo o seu corpo e nem os beijos quentes consumindo-a. Apesar de sua última lembrança ser dolorosa, ela não era capaz de apagar todos os bons momentos que passaram juntos.

Por outro lado, caso morresse naquele momento, sua existência não teria tido razão nenhuma, a não ser servir de alimento para um vampiro. Não aquilo não estava certo.

- Como assim Vincent vai para Cluj Napoca? – ouviu Meganie quase gritar – Eu não estou nervosa! Se eu estivesse nervosa, eu já estaria aí pregando Vincent na cama!... COMO ASSIM SELENE E ALEXIA TAMBÉM FORAM PARA LÁ???!!!.... EU JÁ DISSE QUE NÃO ESTOU NERVOSA!... Emmus Cosidini, quando eu chegar aí eu vou arrancar as suas presas! Se você me disser que a Melanie também foi... Menos mal.

Era tão bonito o modo como se preocupavam uns com os outros e também a liberdade que tinham com o criador.

Vincent... Alexia... Os nomes ecoaram em sua cabeça. Eles a apoiaram. Vincent foi tão amável... Gostaria de voltar a vê-lo.

- Mad... Mad – Só voltou a si quando ouviu seu nome ser chamado. Meg estava ao seu lado – Consegui a permissão. Qual é a sua resposta?

Madeleine fechou os olhos e ofereceu seu pescoço à vampira. Meganie entendeu o recado e sugou o que restava do precioso líquido. Logo depois fez um pequeno corte em seu pulso e derramou seu sangue na boca da ruiva.

Estancou seu sangramento e cobriu o corpo de Madeleine. A nova vampira não despertaria tão cedo.

La Rochelle, França...

Bill caminhou pelos longos corredores até o seu quarto, empurrou a porta de mogno e, ao entrar no recinto, lançou um olhar preocupado para o corpo estirado na cama.

- Como ele está? – perguntou para a mulher sentada próxima à janela que lia um livro.

- Ele acordou bastante agitado – Ariel disse desviando a atenção do livro para o moreno – Tive que sedá-lo, mas ele ficará bem.

Bill assentiu e sentou-se na cama ao lado do irmão, acariciando de leve seu rosto.

- E onde estão Gustav e Georg? – perguntou ainda olhando para Tom.

- Melanie os levou em um passeio pela cidade. Provavelmente só voltarão à noite. – ela respondeu voltando a ler o livro.

Bill, por fim, prestou atenção no livro que a vampira segurava. Na capa, em letras vermelhas, era legível “Wünsch”.

- Desejo... – ele sussurrou para si mesmo.

Ariel ouviu, mas não levantou a cabeça. Bill se perguntou por que ela lia um livro em alemão estando na França.

- A história desse livro é igual à sua, Bill – a morena disse ainda sem tirar os olhos da página.

- E como ele termina? – O puro perguntou temeroso... Tinha algo diferente naquele livro. Como se sua vida estivesse ali, a alguns metros de si.

- A história ainda não foi concluída, falta uma decisão a ser tomada – ela respondeu misteriosamente.

Quando Bill ia abrir a boca para perguntar que decisão era aquela, alguém bateu na porta, entrando em seguida ao receber a permissão.

- Bill, se quiser vir comigo é melhor se apressar – Vince disse com um sorriso arteiro.

Ariel olhou para a página em branco do livro, algumas letras apareciam... A história estava chegando ao final. Não podia interferir, mas em seu íntimo, rezava para que Bill não fosse. Foi com pesar que viu o Puro ir até o armário e separar algumas peças de roupa.

- Elena vai te mataaar – ela cantarolou para Vincent.

- Bill já tem um plano, Ariel, e isso é uma coisa que eu não sirvo para criar. Além do mais será bom para o treinamento dele assistir uma batalha real. – Vince defendeu-se.

- Isso se ele sobreviver. Você não sabe como essa historia vai terminar – Ariel respondeu com um olhar de “eu sei”.

Então os olhos do príncipe focalizaram o livro nas mãos dela.

- Vamos, Bill – ele disse meio que em choque.

O Puro, que acabava de arrumar suas coisas, seguiu o vampiro, fechando a porta ao sair.

Nenhum dos dois foi capaz de perceber as lágrimas tintas correndo pela face da princesa.

Minutos depois da saída dos dois, a porta abriu-se novamente dando passagem a um belo homem de porte perfeito, pele pálida, cabelos negros absurdamente longos e intensos olhos violeta.

Emmus sentou-se frente à sua “prima” e encarou seus olhos.

- Conte-me – ele pediu.

Bucareste, província muntena, Valáquia, Romênia...

Alexia levou três horas para chegar á Bucareste, capital romena. Não quis esperar pelo próximo vôo, então resolveu ir correndo. Estava psicologicamente cansada, então resolveu arar em um hotel, o único que conhecia por já ter pernoitado na cidade uma vez que estava em missão com Vincent.

- Olá – a recepcionista cumprimentou-a educadamente – Posso ajudá-la.

- Oi... Eu sou Alexia Ravenshelter, eu... – não teve tempo de terminar a frase, foi cortada.

- Sim, a Srta. tem uma reserva. Quarto 483 – a mocinha disse entregando-lhe as chaves.

Alexia aceitou as chaves sem entender nada. Não tinha feito reserva nenhuma, o que estava acontecendo?? Esperava encontrar as respostas no quarto. Tomou o elevador até o 5º andar e procurou o quarto, encontrando-o no meio do corredor. Ao abrir a porta, encontrou-o impecavelmente arrumado.

Caminhou até a cama, onde encontrou um papel com seu nome. Desdobrou-o e começou a ler. A caligrafia era linda.

“Alexandra, eu sabia que você viria atrás de nós, por isso tomei a liberdade de reservar este quarto para você, espero que não fique brava. Vincent me garantiu que esse era o melhor hotel de Bucareste.

Se estiver lendo, provavelmente eu e Selene fomos capturados, mas não entre em pânico, já esperávamos por isso. Além do mais, Markus é inteligente demais para nos destruir, ele sabe que sabemos de coisas que o interessa, e não vai descansar até descobrir.

Como eu esperava pela nossa captura, eu deixei uma coisa preciosa para trás. Embaixo do travesseiro tem um presente do Bill: um pouco do sangue dele. A ideia era usar como arma para proteger Elena, mas podemos fazer melhor do que isso.

Vincent provavelmente está atrás de você, eu te aconselho a esperá-lo, sozinha você será um alvo fácil. E por favor, não deixe de jeito nenhum o sangue cair em mãos erradas.

Boa sorte

Kirian”.

Alexia deixou o bilhete de lado e tateou embaixo do travesseiro á procura do frasco de sangue, encontrando-o intacto. Escondeu-o dentro do cano alto de sua bota e deitou-se na cama. Seguiriam o conselho de Kirian: esperaria Vincent.

Continua...